Chico Xavier achava que o Espiritismo original era um "pecado"

Francisco Cândido Xavier sempre foi um católico. E dos mais ortodoxos. Fora a aparente inclinação para a paranormalidade, ele era um católico tão ultraconservador quanto os católicos que lhe foram seus piores críticos, como, inicialmente, Alceu Amoroso Lima e, também, Gustavo Corção.
Devemos nos lembrar que Alceu Amoroso Lima, discípulo de Jackson de Figueiredo no Centro Dom Vital, aos poucos amenizou seu conservadorismo, virando um humanista defensor da redemocratização do Brasil, coisa que Chico Xavier nunca fez, supostamente por acreditar em algo "mais grandioso", reservado para um futuro ainda mais remoto, o tal "reino de amor" do projeto "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho".
Supostamente, muitos irão pensar que Chico Xavier estava "paciente" com os arbítrios da ditadura militar, por, em tese, crer que algo bem melhor viria ao longe, como uma luz no fim de um longuíssimo túnel. Mas não é assim. Chico era ultraconservador e o que ele queria era uma sociedade igrejeira, à qual atribuiu o destino futuro que ele queria do Brasil.
Chico Xavier nunca gostou do Espiritismo original. Para os padrões da religiosidade conservadora brasileira, a Doutrina Espírita francesa era "científica demais", muito diferente da formação rural, conservadora e moralista que o "médium" teve em sua vida.
Daí que, quando o Espiritismo lhe foi apresentado (mesmo em sua forma igrejeira, mas através da literatura kardeciana que, mesmo via "Federação Espírita Brasileira", não poderia deturpar demais as traduções dos livros de Allan Kardec), Chico Xavier considerou a nova crença um "pecado".
É o que o sítio O Franco Paladino, no texto "E Por Falar em Chico Xavier", mostrou, descrevendo um fato biográfico do "médium", extraído de fonte não creditada - mas que verificamos ser uma entrevista no livro No Mundo de Chico Xavier, de Elias Barbosa - , e comparando com o que Kardec escreveu no livro Obras Póstumas.
E POR FALAR EM CHICO XAVIER
Como foi sua iniciação no Espiritismo? É ele mesmo quem nos conta:
“Logo após os meus primeiros contatos com o Espiritismo, voltei à Igreja de Pedro Leopoldo, e, ajoelhado no confessionário, diante do sacerdote, contei-lhe tudo e pedi sua bênção.
“O padre Sebastião Scarzelli, fazendo o sinal da cruz, declarou-me: - Eu te abençôo, meu filho, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Que a Virgem Maria, a Mãe Santíssima o acompanhe e ampare sempre...”
E como foi a iniciação de Allan Kardec no Espiritismo? É ele mesmo quem nos conta:
“Foi em 1854, que, pela primeira vez, ouvi falar das mesas girantes. Quem me deu essa notícia foi o magnetizador, Sr. Fortier, meu amigo, com quem me encontrei duas vezes, sendo que, na segunda, ele foi mais categórico: “- Temos uma coisa muito mais extraordinária: não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale. Sim, interrogada, ela responde”
“- Isto agora é outra questão, respondi. Só acreditarei, quando vir este fato e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e, além disso, possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé (...)
“Depois, o Sr. Carlotti (outro amigo meu), contou-me coisas surpreendentes. Longe de me convencer, aumentou ainda mais as minhas dúvidas (...)
“Foi, em casa do Sr. Bodin, que comecei meus estudos sérios de Espiritismo, usando o método experimental” (“Obras Póstumas” - A minha primeira iniciação no Espiritismo - 19ª edição da F.E.B., págs. 265 a 271).
Segue o depoimento completo de Chico Xavier acima reproduzido, no parágrafo completo publicado no livro de Elias Barbosa, No Mundo de Chico Xavier. Antes de mostrarmos o depoimento completo, chamemos a atenção para o aparente deslumbramento do "médium" com o Espiritismo e sua contraditória apreciação à obra kardeciana, que lhe chegava às mãos pela tradução da FEB por Guillon Ribeiro.
Vale lembrar que Chico Xavier estava com 17 anos (1927) em razão do ocorrido, e certamente ele queria abraçar o "espiritismo" sem romper com o Catolicismo, pelo qual sempre sentiu fortíssima devoção, até o fim da vida. Além disso, embora a "aventura espírita" lhe agradasse muitíssimo, Chico recorreu ao confessionário por pressentir que o Espiritismo original era um "pecado" (que, com o tempo, Chico "amenizou" com suas ideias igrejistas).
Devemos admitir também, com toda certeza que, em que pese o suposto acolhimento das ideias de Kardec, o "médium" mineiro nunca foi com seu cientificismo, como a obra chiquista comprovou ao longo do tempo, sempre preferindo a supremacia da Fé, contrariando as recomendações originais do pedagogo francês:
"Logo após os meus primeiros contatos com o Espiritismo, voltei à igreja de Pedro Leopoldo, ainda uma vez, para dar-lhe notícia de minha nova situação. Só podia vê-lo, nesse dia, no confessionário. Para lá me dirigi. Ajoelhei-me, como sempre fazia, e contei-lhe tudo o que se passara, a cura de minha irmã, minha emoção ao conhecer as ideias espíritas, os livros de Allan Kardec que estava lendo, as melhoras do meu estado íntimo.. Ele não me condenou, disse apenas que não ler até aquela ocasião qualquer obra do Espiritismo e por isso nada podia dizer... Disse-me que a Igreja não aprovava o Espiritismo e que eu ainda era muito jovem para assumir compromissos e tomar decisões. Eu respondi a ele que apesar de respeitá-lo muito, ia estudar o Espiritismo e dedicar-me à mediunidade. Ele permaneceu calado. Então, disse a ele que eu não queria separar-me dele, que fora sempre tão bondoso comigo, deixando-o contrariado. Pedi a ele que me desse a mão, e ele me estendeu a mão direita. Depois de beijá-la, pedi a ele que me abençoasse. Ele então me disse: 'Seja feliz, meu filho. Eu rogarei à nossa Mãe Santíssima para que te abençoe e te proteja'... Levantei-me e saí, mas sabendo que havia tomado a decisão de praticar a mediunidade, quando cheguei à porta de saída, voltei-me para vê-lo, ainda uma vez e notei que ele, mesmo de longe, me acompanhava com o olhar e me sorria".