Chico Xavier fez juízo de valor perverso, deixando de seguir seu próprio conselho


CHICO XAVIER PODERIA TER SIDO RÉU POR DANOS MORAIS. SORTE QUE AS VÍTIMAS DE SEU JUÍZO DE VALOR ERAM MUITO POBRES.

"Não julgueis, seja quem quer que fosse". Era o que sempre disse Francisco Cândido Xavier, pegando carona na literatura kardeciana e no Novo Testamento, ambos citando a frase de São Mateus: "Não julgar para não ser julgado". No entanto, um episódio muitíssimo grave flagrou Chico Xavier fazendo juízo de valor e, a reboque, cometendo uma série de perversidades.

No livro Cartas e Crônicas, de 1966, Chico Xavier acusou as vítimas do incêndio criminoso que atingiu o Gran Circo Norte-Americano, na cidade de Niterói, em 17 de dezembro de 1961, de terem sido cidadãos da Gália que adoravam ver cristãos sendo devorados pelas chamas ou por feras famintas, no século II.

Sem que os seguidores do "médium" percebessem, ele cometeu várias crueldades, aqui enumeradas:

1) Chico Xavier atribuiu a suposta encarnação antiga das vítimas do incêndio no circo em Niterói sem fazer qualquer fundamento teórico, o mínimo sequer. Atribuiu no achismo, no juízo de valor, sem a menor necessidade de lembrar encarnação tão distante, o que revela um oportunismo sensacionalista feito por tal atribuição;

2) Chico Xavier, tão considerado "símbolo maior da humildade" conhecido como "o médium dos pés descalços", ofendeu pessoas humildes, acusando-as de terem sido sanguinárias em outra vida. As pessoas já sofreram muito pela tragédia de 1961, sendo as sobreviventes emocionalmente abaladas cinco anos depois, e vem o juízo de valor que sugere que as vítimas da tragédia "pagaram por merecer". E as pessoas só foram ao circo para se divertirem e terem alguma alegria!

3) Chico Xavier, vendo que poderia ser condenado por seu maligno juízo de valor, atribuiu sua opinião pessoal a Humberto de Campos, o autor que o "médium" nunca perdoou pela resenha negativa a Parnaso de Além-Túmulo, e que teria se apropriado do nome do autor por revanchismo e chegou a seduzir o filho do autor maranhense para intimidá-lo a continuar recorrendo de ações judiciais, episódio que citaremos mais tarde. Desde 1945, o nome de Humberto deu lugar a Irmão X para evitar problemas judiciais.

4) Atribuir encarnação antiga é falta de misericórdia, porque, se isso fosse verdade, os cidadãos que foram ver o espetáculo circense já superaram a antiga perversidade. Mas lembremos que essa atribuição de encarnação antiga não possui provas e nem o menor fundamento teórico, feito apenas a partir de uma especulação de ordem pessoal da mente de Chico Xavier.

Neste caso, até o ex-empresário José Datrino, que depois virou Profeta Gentileza e foi tido como "louco", foi mais feliz que Chico Xavier, porque não fez julgamento de valor e foi amparar várias famílias, oferecendo ajuda e consolação.

Outro agravante se deu décadas depois, após o falecimento do "médium". O também "médium" e médico de São José dos Campos, Woyne Figner Sacchetin, escreveu o livro O Voo da Esperança e creditou ao "pai da Aviação", Alberto Santos Dumont. Ele fez acusações contra as vítimas do acidente com um avião da TAM, Voo 3054, 199 mortos e 13 feridos (12 dos mortos e todos os feridos em solo), numa mal-sucedida decolagem no Aeroporto de Congonhas, São Paulo, em 17 de julho de 2007.

A acusação era semelhante: gauleses sanguinários do Século II. Algumas famílias se sentiram ofendidas com a acusação de Woyne e resolveram processá-lo por danos morais. Entre as medidas da Justiça, além da indenização aos familiares, foi a retirada do livro, publicado em 2009, de circulação. Infelizmente, alguns oportunistas comercializam as poucas cópias do livro que já foram vendidas, como "polêmica raridade".

Imaginemos então se os familiares das vítimas do Gran Circo Norte-Americano resolvessem ir à Defensoria Pública e tivessem processado Chico Xavier e a "Federação Espírita Brasileira" por danos morais. Por sorte, as pessoas eram muito humildes e talvez nem tivessem consciência da existência do ofensivo livro.

Fiquemos por aqui mostrando os trechos das obras de Chico Xavier e de Woyne Figner Sacchetin, que provam esse perverso juízo de valor feito ao arrepio da Ciência Espírita e dos Direitos Humanos:

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A TRAGÉDIA NO CIRCO

Por Francisco Cândido Xavier - Cartas e Crônicas - Creditado ao suposto espírito Irmão X (suposto pseudônimo de Humberto de Campos) - FEB Editora, 1966.

Naquela noite, da época recuada de 177, o “concilium” de Lião regurgitava de povo. Não se tratava de nenhuma das assembléias tradicionais da Gália, junto ao altar do Imperador, e sim de compacto ajuntamento.

Marco Aurélio reinava, piedoso, e. Embora não houvesse lavrado qualquer rescrito em prejuízo maior dos cristãos, permitira se aplicassem na cidade, com o máximo rigor, todas as leis existentes contra eles.

A matança, por isso, perdurava, terrível. 

Ninguém examinava necessidades ou condições. Mulheres e crianças, velhos e doente, tanto quanto homens válidos e personalidades prestigiosas, que se declarassem fiéis ao Nazareno, eram detidos, torturados e eliminados sumariamente.

Através do espesso casario, a montante da confluência do Ródano e do Saône, ultiplicavam-se prisões, e no sopé da encosta, mais tarde conhecida como colina de Fourviére, improvisara-se grande circo, levantando-se altas paliçadas em torno de enorme arena.

As pessoas representativas do mundo lionês eram sacrificadas no lar ou barbaramente espancadas no campo, enviando-se os desfavorecidos da fortuna, inclusive grande massa de escravos, ao regozijo público.

As feras pareciam agora entorpecidas, após massacrarem milhares de vítimas, nas mandíbulas sanguinolentas. Em razão disso, inventavam-se tormentos novos. Verdugos inconscientes ideavam estranhos suplícios.

Senhoras cultas e meninas ingênuas eram desrespeitadas antes que lhes decepassem a cabeça, anciães indefesos viam-se chicoteados até a morte. Meninos apartados do reduto familiar eram vendidos a mercadores em trânsito, para servirem de alimárias domésticas em províncias distantes, e nobres senhores tombavam assassinados nas próprias vinhas.

Mais de vinte mil pessoas já haviam sido mortas.

Naquela noite, a que acima nos referimos, anunciou-se para o dia seguinte a chegada de Lúcio Galo, famoso cabo de guerra, que desfrutava atenções especiais do Imperador por se haver distinguido contra a usurpação do general Avídio Cássio, e que se inclinava agora a merecido repouso. 

Imaginaram-se, para logo, comemorações a caráter.

Por esse motivo, enquanto lá fora se acotovelavam gladiadores e jograis, o patrício Álcio Plancus, que se dizia descendente do fundador da cidade, presidia a reunião, a pedido do Propretor, programando os festejos.

- Além das saudações, diante dos carros que chegarão de Viena – dizia, algo tocado pelo vinho abundante -, é preciso que o circo nos dê alguma cena de exceção... O lutador Setímio poderia arregimentar os melhores homens; contudo, não bastaria renovar o quadro de atletas...

- A equipe de dançarinas nunca esteve melhor – aventou Caio Marcelino, antigo legionário da Bretanha que se enriquecera no saque.

- Sim, sim... – concordou Álcio – instruiremos Musônia para que os bailados permaneçam à altura...

- Providenciaremos um encontro de auroques – lembrou Pérsio Níger.

- Auroques! Auroques!... – clamou a turba em aprovação.

 - Excelente lembrança! – falou Plancus em voz mais alta – mas, em consideração ao visitante, é imperioso acrescentar alguma novidade que Roma não conheça...

Um grito horrível nasceu da assembléia;

- Cristãos às feras! cristãos às feras!

Asserenado o vozerio, tornou o chefe do conselho:

 - Isso não constitui novidade! E há circunstâncias desfavoráveis. Os leões recémchegados da África estão preguiçosos...

Sorriu com malícia e chasqueou:

- Claro que surpreenderam, nos últimos dias, tentações e viandas que o própio Lúculo jamais encontrou no conforto de sua casa...

Depois das gargalhadas gerais, Álcio continuou, irônico:

 - Ouvi, porém, alguns companheiros, ainda hoje, e apresentaremos um plano que espero resulte certo. Poderíamos reunir, nesta noite, aproximadamente mil crianças e mulheres cristãs, guardando-as nos cárceres... E, amanhã, coroando as homenagens, ajuntá-las-emos na arena, molhada de resinas e devidamente cercada de farpas embebidas em óleo, deixando apenas passagem estreita para a liberação das mais fortes. Depois de mostradas festivamente em público, incendiaremos toda a área, deitando sobre elas os velhos cavalos que já não sirvam aos nossos jogos... Realmente, as chamas e as patas dos animais formarão muitos lances inéditos...

- Muito bem! Muito bem! – reuniu a multidão, de ponta a ponta do átrio.

- Urge o tempo – gritou Plancus – e precisamos do concurso de todos... Não possuímos guardas suficientes.

E erguendo ainda mais o tom de voz:

- Levante a mão direita quem esteja disposto a cooperar.

Centenas de circunstantes, incluindo mulheres robustas, mostraram destra ao alto, aplaudindo em delírio.

Encorajado pelo entusiasmo geral, e desejando distribuir a tarefa com todos os voluntários, o dirigente da noite enunciou, sarcástico e inflexível:

- Cada um de nós traga um... Essas pragas jazem escondidas por toda a parte... Caçálas e exterminá-las é o serviço da hora...

Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes e, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria.

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Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento... Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo. 

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TRECHO DO LIVRO 'O VOO DA ESPERANÇA'

Por Woyne Figner Sacchetin - Creditado ao suposto espírito de Alberto Santos Dumont - São Paulo, Lachatre, 2009

A lua cheia começa a soluçar lágrimas de prata e as estrelas daquele lindo céu ficam envergonhadas diante das cenas de selvageria e horror. O sol encontrou mais de duzentos seres humanos bêbados, dormindo, exceto um deles, Iccius, o comandante, que não participara dos atos de selvageria, distribuía jarros de água às mulheres que jaziam feridas sobre as pedras da estrada, enquanto os soldados bestiais roncavam como animais. Iccius tomou um pedaço de couro de carneiro e, com a lã, limpava o rosto de cada uma das mulheres. Muitas delas soluçavam. As estrelas, nos seus olhos de luzes, gravaram, pelos séculos afora, aquelas cenas. A lua, como imensa arca do amor de Deus, guardou aqueles nomes, aqueles atos, aquelas cenas, aqueles gritos, gemidos e soluços por vinte séculos. A justiça viria mais tarde...

O dia, no início de inverno na Gália Cisalpina, onde seria, hoje, o sul da França, raiou lindo e rubro, refletindo na cor o caráter dos soldados iberos, do batalhão de duas centúrias dos invencíveis Leões. Juntavam-se agora, pelo acaso do encontro de dois grupos de guerreiros - se é que existe acaso -, formando um pelotão de mais de duzentos atletas, hábeis em cavalgar, em lutar com o gládio e a lança. Nas lutas corpo a corpo, eram ágeis como gatos, fortes como elefantes, rápidos como águias, inteligentes como o leão; por isso, aqueles soldados eram os invencíveis do batalhão dos Leões.

O animal-símbolo, nas bandeiras brilhantes, vermelhas, negras e verdes, era o rei dos animais, dentes à mostra e garras expostas, como se estivesse saltando para um ataque mortal. Aquela estampa de animal agressivo, à frente do cortejo mortífero, fazia tremer músculos e corações dos mais valentes inimigos, colocando em total desespero populações de cidades e vilas que gemiam, sofrendo por antecipação, quando rufavam os tambores anunciando a morte. Pobres populações servindo aos seus apetites de um ódio sem causa, que parecia nascer no coração dos soldados iberos. Por onde passavam, semeavam o desespero e a dor. Quando suas mãos, quais garras de leões sanguinários, agarravam alguma vítima, um rosário de dores jorrava dos corações humilhados.

As mulheres prisioneiras, mães na vila assaltada pelas tropas de Iccius, serviam agora de pasto para os desequilíbrios do sexo de ambos os grupos. Nos carros puxados por cavalos, elas seguiam como se fossem, ao mesmo tempo, animais de carga no trabalho de preparar a comida para mais de duzentos soldados e também, assim diziam alguns deles, a sobremesa dos apetites do sexo. Quando o inimigo o escraviza e esmaga com suas garras de águia, o melhor, para o pássaro, é esconder-se no ninho e aguardar a proteção de Deus.

Agora, todo o grupo comandado por Iccius, tendo Acauno como subcomandante, deslocava-se pelas montanhas e desfiladeiros como o leão, sedento de sangue, vagando à procura de vítimas, em cujas carnes pudesse mergulhar as garras e os dentes. A surpresa do ataque, inteligentemente planejado nas sombras da noite, era trunfo imbatível. As pilhagens foram aperfeiçoando aquela máquina de guerra com o que havia de mais eficiente e moderno naquelas paragens. Vilas e cidades eram saqueadas e, em muitas delas, principalmente nas pequenas comunidades, salvavam-se apenas as mulheres jovens e belas; os demais seres viventes eram degolados.