A covardia de Alexandre Caroli Rocha diante da "psicografia" de Humberto de Campos

Existe, no Brasil, um terrível cacoete. Há uma determinação de que as teses acadêmicas de pós-graduação estejam desprovidas de senso crítico, dando preferência a uma cosmética nas monografias, em que o embelezamento retórico se expressa numa linguagem culta e "científica" e numa abordagem que, na aparência, sugerisse objetividade e imparcialidade pretensas.
Segundo os críticos dessa cosmética monográfica, os trabalhos acadêmicos seguem um roteiro pré-determinado. Na introdução da monografia, o autor perde o tempo todo justificando seu trabalho, algo que já está presente no anteprojeto. No desenvolvimento, há um desfile de pontos de vista de autores diversos, confrontados num texto meramente descritivo. Quando se chega à conclusão do trabalho, a problemática é "exposta", mas o senso crítico inexiste, mais legitimando o "problema" do que resolvendo-o.
Se esse método de "monografia científica" fosse adotado no mundo desenvolvido (Europa e EUA), evidentemente não teríamos 95% dos intelectuais mais renomados do mundo, porque o acesso à pós-graduação lhes seria vetado e, portanto, seria comprometida a visibilidade e o prestígio que lhes serviriam de instrumento para obter visibilidade e repercutir com novas questões no âmbito do Conhecimento.
O que se vê, no Brasil, são trabalhos arrumados, corretos em linguagem e supostamente objetivos, mas que só servem para enfeitar estantes nas bibliotecas de pós-graduação. Depois da efêmera badalação diante da comunidade acadêmica, teses assim, de conteúdo inócuo e complacente com a "problemática" apresentada, pois não há um questionamento profundo sequer, essas teses "morrem" nas bibliotecas, sem ter a serventia necessária para a sociedade.
Num país em que o senso crítico é amaldiçoado por um lobby conservador comandado por uma mídia facciosa e tendenciosa, o que conhecemos como Espiritismo por aqui, uma religião deturpada que finge ter fidelidade absoluta à matriz francesa, também se beneficia por essas manobras intelectualoides que transformam teses acadêmicas em verdadeiros objetos de enfeite.
Exemplo disso é o final de um artigo acadêmico do paulistano Alexandre Caroli Rocha, que se diz "estudioso" da obra de Francisco Cândido Xavier (falecido há exatos 17 anos). Atualmente na USP, ele é formado em Bacharelado (1996) e Licenciatura (2000) em Letras pela Universidade Estadual de Campinas, mestrado (2001) e doutorado (2008) em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas. Segundo o Currículo Lattes, Caroli Rocha "tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira e Teoria Literária.
Ele escreveu sua tese em artigo publicado na revista Ipotesi, de Juiz de Fora, de julho-dezembro de 2012, intitulado "Complicações de uma estranha autoria (O que se comentou sobre textos que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos)":
Ele escreveu sua tese em artigo publicado na revista Ipotesi, de Juiz de Fora, de julho-dezembro de 2012, intitulado "Complicações de uma estranha autoria (O que se comentou sobre textos que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos)":
"Vimos que não é pertinente a pressuposição de que, por meio apenas de fatores textuais, seja possível autenticar ou refutar a alegação do médium. Mostramos que os textos colocam à tona a discussão a respeito do post-mortem, tema que, nos ambientes acadêmicos, costuma ser relegado a domínios metafísicos ou religiosos. Concluímos, pois, que os veredictos taxativos para a identificação do autor são possíveis somente com a assunção de uma determinada teoria sobre o postmortem ou sobre o fenômeno mediúnico. Quando, no debate autoral, ignora-se a relação entre teoria e texto, percebemos que a apreensão deste é bastante escorregadia, mesmo entre leitores especialistas".
O texto é covarde e apela para uma atividade que os "espíritas" que Caroli Rocha tanto admira, apesar do suposto distanciamento acadêmico, que é a análise sobre "fenômenos mediúnicos" e "vida após a morte".
PROBLEMAS SÉRIOS
A declaração de Caroli Rocha se compara à do pretenso intelectual que duvida da obviedade da conta matemática "2+2=4". Com um discurso bem construído e argumentação que parece convincente, pode-se questionar o resultado da conta com as seguintes palavras:
"É bastante simplório que dois mais dois sejam iguais a quatro. Desconfia-se desse método fácil demais de busca de um resultado, pois, para se chegar a 4, é necessário que se desenvolva uma equação matemática complexa, com várias etapas, que possam provar com maior segurança esse resultado, pois do contrário seu resultado, pela facilidade rasteira de uma soma, ou de uma multiplicação, que chegam ao mesmo resultado, soa bastante duvidoso".
Há um grande problema na argumentação de Caroli Rocha. Primeiro, porque no Brasil as manifestações "mediúnicas" se demonstram fraudulentas, com várias provas publicadas - inclusive na Internet - e a questão da "vida após a morte", bastante especulativa, da qual se concebe, sem o menor fundamento lógico, o mundo espiritual, com base em devaneios correspondentes à materialidade terrena.
Outro grave problema é que, se considerarmos válida a tese de Caroli Rocha, que deixa em aberto a análise das "psicografias" que levam os nomes de Humberto de Campos e Irmão X, seus livros teriam que ser retirados das livrarias e tornados indisponíveis até na Internet.
Em vez disso, os livros são mantidos no mercado, vendidos em sebos, eventualmente se obtém as publicações gratuitamente e os downloads dessas obras também são gratuitos. Isso vai contra a natureza de obras pendentes, que precisam ser retiradas de circulação até que estudos pudessem ser feitos a respeito disso.
Portanto, a declaração de Alexandre Caroli Rocha é de uma grande covardia e ela ignora a questão óbvia do caráter fake das "psicografias" atribuídas a Humberto de Campos que, conforme análises publicadas na Internet, confirmam a diferença de estilo entre as obras deixadas em vida (mesmo publicadas postumamente) e a obra "psicografada".
Além disso, o que Caroli Rocha quis mesmo demonstrar é seu medo diante do senso crítico afiado, do raciocínio que, num processo livre, prático, simples e honesto, possa comprometer dogmas religiosos, sem passar pelo processo elitista e meritocrático da "monografia acadêmica", esta muito científica na forma, mas bastante panfletária, débil e acrítica em conteúdo.
Além disso, o que Caroli Rocha quis mesmo demonstrar é seu medo diante do senso crítico afiado, do raciocínio que, num processo livre, prático, simples e honesto, possa comprometer dogmas religiosos, sem passar pelo processo elitista e meritocrático da "monografia acadêmica", esta muito científica na forma, mas bastante panfletária, débil e acrítica em conteúdo.
Essa declaração pode se encaixar perfeitamente nos padrões de suposta objetividade exigidos pela burocracia acadêmica, mas em nada contribuem para analisar o problema, o que mostra que o interesse público em torno do tema é completamente nulo, servindo o artigo apenas aos interesses dos dirigentes da "Federação Espírita Brasileira".
Além disso, se é para dizer que o problema está "em aberto", teria sido melhor que Alexandre Caroli Rocha não perdesse tempo gastando material acadêmico, se é para deixar tudo como está. Melhor não tivesse escrito uma tese que não se encoraja a questionar um problema, pois até para os limites acadêmicos de castração do senso crítico, o artigo foi longe demais. Seria menos lixo a se amarelar nas bibliotecas de nossas faculdades.