Direitismo de Chico Xavier é fato, não opinião

TENTATIVA DE GLAMOURIZAR O MITO DE CHICO XAVIER, ATRAVÉS DE ARTE GRÁFICA.

Quando se fala do direitismo de Francisco Cândido Xavier, não se está trazendo um ponto de vista referente a uma opinião. Se está mostrando um fato, uma realidade, nunca devidamente aceita por muitos, que preferem tolamente manipular o pensamento desejoso para fazer prevalecer ideias agradáveis, ainda que nada realistas.

O direitismo de Chico Xavier se deve, em primeiro lugar, por suas origens sociais. Ele nasceu em Pedro Leopoldo, em 1910, então distrito de Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte. Era um distrito em feições rurais, e sua família, católica ortodoxa, segue a tradição do interior de Minas Gerais que era inclinada às raízes do Catolicismo jesuíta, de origem portuguesa e medieval.

A formação social de Chico Xavier segue essa lógica, e isso se reflete nas obras "mediúnicas" dele, que refletem o seu ponto de vista pessoal (pois há pontos duvidosos que comprometem a atribuição dessas obras à autoria dos supostos mensageiros mortos, que soam mais como "heterônimos" do "médium"), de um conservadorismo que causa calafrios de tão rígido.

As ideias de Chico Xavier são voltadas a pautas retrógradas como a servidão humana, o trabalho exaustivo, a hierarquia social rígida, o moralismo austero, a aceitação da desgraça humana e a culpabilidade da vítima. Isso soa doloroso, mas é facilmente identificável mesmo em "memes" (mensagens ilustradas divulgadas na Internet) e está presente explicitamente nos livros do "médium".

Mesmo algumas ideias que parecem progressistas escondem um conservadorismo. No caso do comunismo, Chico Xavier, através do "mentor" (ou "heterônimo"?) Emmanuel, fala que ele "só tem validade se estiver de acordo com os ensinamentos cristãos". Isso deve ser entendido como eufemismo, porque "cristão" corresponde ao Catolicismo ortodoxo e medieval, que na prática anula toda a essência de qualquer ideologia de esquerda.

Nas causas identitárias, em que pese a fama de "efeminado" que os leigos têm de Chico Xavier, ele era homofóbico e, no livro Vida e Sexo, de 1970, ele dizia que os homossexuais (hoje conhecidos como comunidade LGBT+) "merecem o mais absoluto respeito", mas os define como portadores de "confusão mental" que os faz "desviar" da natureza sexual determinada biologicamente por Deus.

CHICO XAVIER NÃO PODERIA CEDER NA VELHICE

Devemos reconhecer que Chico Xavier defendeu o golpe militar de 1964 aos 54 anos. Aos 61, defendeu a ditadura diante de uma grande audiência, no Pinga Fogo da TV Tupi. Aos 78 anos de idade, apoiou Fernando Collor de Mello. Aos 90 anos de idade, recebeu Aécio Neves e se identificou com sua pessoa. Entre os 78 e os 92 anos, manifestava sua aversão a Lula.

No seu contexto socialmente conservador, ter 54 anos já é garantia de que não se poderá voltar atrás em pontos de vista decisivos sobre determinadas coisas. Pela sua formação, Chico Xavier não podia deixar de ser conservador e se tornar progressista em idade avançada, até porque suas ideias se mantiveram conservadoras em livros produzidos nos anos 1980 e 1990.

Na sociedade conservadora, idosos - e isso num tempo em que ter 50 anos já era associado à "maturidade da velhice" - eram considerados "sábios" e não podiam voltar atrás em seus pontos de vista. Nessa faixa etária, considera-se, neste contexto, que as opiniões e visões de mundo se tornam consolidadas e firmes, não cabendo grandes recuos.

Não tem a menor possibilidade de lógica supor que Chico Xavier tivesse recuado de seu conservadorismo extremo em idade elevada, digamos a partir dos 75 anos, sua idade no ano em que a ditadura militar se encerrou no Brasil (1985).

Embora bastante agradável e confortável, supor que Chico Xavier, depois dos 75 anos, deixou de ser conservador para ser progressista libertário não se sustenta por argumentos lógicos, se baseando apenas em ideias soltas, devaneios emocionais etc. Nem mesmo em situação de autocrítica um idoso conservador tende a "virar a casaca" num momento em que se julga com a vida praticamente encerrada e sem chance para mudanças bruscas de posicionamentos ideológicos.

Chico Xavier não só permaneceu conservador como ele iria reforçar ainda mais esse conservadorismo. Por sorte, ele faleceu em 2002, abrindo caminho para o pensamento desejoso daqueles que, tomados de cegueira emocional, traçam o perfil do "médium" não de acordo com a realidade e as lógicas dos fatos, mas conforme suas fantasias místicas e piegas.

Se Chico Xavier estivesse vivo, ele teria apoiado os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, apenas criticando os excessos dos bolsonaristas e rejeitado o "decreto das armas". Mas, fora isso, até a reforma da Previdência Social seria apoiada pelo "médium", que no alto dos 119 anos não iria apoiar pautas progressistas, até por sua natural aversão ao PT.