Estranhezas derrubam veracidade de Parnaso de Além-Túmulo - Parte 2



(Continuação da postagem de ontem)

4) CHICO XAVIER FEZ PASTICHES LITERÁRIOS, MAS NÃO O FEZ SOZINHO

A "Federação Espírita Brasileira", na tentativa de blindar Chico Xavier, ao saber que ele era acusado de produzir pastiches literários, investiu na seguinte manobra discursiva. Usando a tese de que ele produzia sozinho seus trabalhos, a FEB espalhou a falácia de que, se Chico Xavier era um pastichador, seria "um dos mais sofisticados", ao imitar os mais diversos estilos literários.

Essa manobra discursiva buscava favorecer Chico Xavier de uma maneira ou de outra. Ou ele era considerado um "pastichador de altíssimo nível", hábil em imitar os mais variados gêneros da nossa literatura (e, em alguns casos, a de Portugal), ou era um caipira escolhido por "benfeitores espirituais" para ser porta-voz dos mais renomados poetas e escritores da língua portuguesa.

É claro que essa falácia não conta. Em ambos os casos, a tese não procede. E, curiosamente, uma fonte solidária a Chico Xavier trouxe, sem querer, a revelação da farsa, naquilo em que os críticos do Espiritismo deturpado no Brasil define como "fogo amigo".

Divulgando cartas de Chico Xavier, a sua amiga Suely Caldas Schubert, no livro Testemunhos de Chico Xavier, de 1981, publicou uma mensagem de 03 de maio de 1947 para Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, na qual o "médium" agradecia a ele e ao "doutor Porto Carreiro" (Luís da Costa Porto Carreiro Neto, "médium" e dirigente da FEB) pela revisão dos originais para a sexta edição de Parnaso de Além-Túmulo, que Chico não tinha tempo de rever minuciosamente.

5) BRASIL NÃO ESTAVA PREPARADO PARA FENÔMENOS DA PARANORMALIDADE

O mundo desenvolvido ainda estava, em 1932, estudando os fenômenos da paranormalidade, e mesmo na Europa e nos EUA eles eram ainda bastante enigmáticos. Tais fenômenos assim o eram, mesmo nos tempos vividos por Allan Kardec, que assumidamente procurou estudar a fundo tais fenômenos, sem trazer algo de conclusivo do que é realmente o mundo espiritual.

Os EUA haviam passado por farsas ilusionistas que supostamente praticavam a paranormalidade, como os espetáculos circenses de P. T. Barnum e as fraudes fotográficas de William H. Mumler. Na Europa, os espetáculos das Tábuas Ouija, frequentes na época kardeciana, tornaram-se menos comuns na Europa, mas mesmo assim continuavam sendo praticados.

Se o mundo desenvolvido estava ainda engatinhando nos assuntos paranormais, por que o Brasil, bem menos informado a respeito, traria respostas para esses mistérios? A verdade é que o Brasil se tornou o terreno fértil para ações fraudulentas, que são produzidas movidas pelo sensacionalismo combinado com as paixões religiosas, enganando as pessoas ao explorar suas fraquezas emocionais, intelecuais e perceptivas.

6) PARNASO DE ALÉM-TÚMULO ABRIU PRECEDENTES PARA A LITERATURA FAKE

O sucesso de Parnaso de Além-Túmulo abriu um precedente para a farra que se faz com obras falsas atribuídas a autores ilustres. Um mercado criou praticamente um espaço para que obras falsas sejam lançadas impunemente, levando o nome de pessoas que nunca escreveriam as respectivas obras.

Depois da farra da antologia poética, Chico Xavier usou o nome de Humberto de Campos em "psicografias" posteriores. Isso permitiu que mensagens falsas possam ser produzidas impunemente, desde que apresentando conteúdo "positivo" e tenham "recados religiosos". A ideia é aproveitar-se da ignorância coletiva para vender obras com conteúdo agradável como se fossem "verdadeiras", com base na ilusão de que obras falsas que "não trazem conteúdo ofensivo" seriam, por isso, "autênticas".

Com isso, tudo virou uma festa. Daí para se produzir supostas mensagens do "morto da moda" - tem-se de tudo, de Raul Seixas a José do Patrocínio, de Dercy Gonçalves a Domingos Montagner, sempre com um conteúdo duvidoso que mais parece propaganda religiosa - , num contexto em que o Brasil tornou-se, por essa permissividade toda, um dos maiores paraísos das fake news do mundo inteiro.

7) ALLAN KARDEC TERIA REPROVADO PARNASO DE ALÉM-TÚMULO

Com base na bibliografia kardeciana, podemos garantir, com a maior segurança, que Allan Kardec seria o primeiro a reprovar o livro Parnaso de Além-Túmulo. Teria dito, mais ou menos, o pedagogo lionês, se vivesse em 1932:

"É verdade que o conteúdo desse livro é bastante agradável, mas conforme relatos que ouvi em várias conversas com intelectuais, as obras são muito inferiores aos talentos que haviam sido expressos em vida, e não me sinto confortável em garantir que realmente tantos espíritos vieram de uma só vez ditar as mensagens presentes na obra do sr. Xavier".

Além do mais, o próprio Kardec já definiu que o uso de nomes ilustres para obras de mistificação religiosa - entre elas, o duvidoso papel, supostamente missionário, do Brasil como "país mais poderoso do mundo", conforme prega o projeto Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho - são indício de inferioridade espiritual.

Kardec define atitudes assim como levianas e, além disso, ele mesmo não acreditaria que um único país possa dominar a humanidade com uma missão supostamente fraternalista, porque a fraternidade não pode estar associada a uma nação específica.

Outro dado a considerar é que o imperador Constantino fez as mesmas promessas "fraternais" de Chico Xavier quando lançou o Catolicismo medieval, e o resultado já sabemos como foi: uma religião concentradora de poder e que promoveu extermínios sangrentos de tantos hereges.

CONCLUSÃO

Diante de tantos aspectos estranhos, não há como ver autenticidade em Parnaso de Além-Túmulo. Também não é questão de deixar o problema "em aberto", porque não se pode usar a liberdade da fé como pretexto para uma parcela de pessoas acreditarem na "veracidade" do livro. A questão é de honestidade intelectual, coisa que a obra tornou-se definitivamente incapaz de demonstrar, diante dos argumentos apresentados acima, que provam que a obra é uma grande farsa.