Estranhezas derrubam veracidade de Parnaso de Além-Túmulo - Parte 1

A liberdade de fé religiosa, mesmo admissível, a ninguém permite jamais que se coloque a fantasia acima da realidade, a ponto de atribuir autenticidade em obras que revelam aspectos bastante duvidosos e fortes indícios de fraudes.
O livro Parnaso de Além-Túmulo, de Francisco Cândido Xavier, é uma dessas obras que acumulam tantos aspectos duvidosos que a obra em nenhum momento pode ser considerada sequer como "possível de ser autenticada". Uma série de questões que apresentaremos mostram o quanto a obra é uma farsa, e isso pode ser confirmado nas análises a seguir.
1) OBRA SOFREU REPAROS EDITORIAIS SUCESSIVOS
Contrariando a natureza de uma obra que se diz atribuída a "espíritos benfeitores" - o que dispensaria revisões do pessoal da Terra, porque supõe-se que uma obra espiritual a que se atribui "mensagens elevadas" dispensaria de reparos editoriais - , Parnaso de Além-Túmulo sofreu três reparos editoriais.
A primeira edição saiu em 1932. Nas posteriores, foram corrigidos poemas e prosas, obras eram incluídas ou excluídas e conteúdos diferentes eram apresentados nas edições sucessivas. As edições posteriores datam de: 1935, 1939, 1944, 1945 e, a última, 1955. Foram seis edições em 23 anos, que envolveram mudanças radicais em conteúdo, sobretudo na inclusão de novos poemas.
Só os reparos editoriais dão um caráter duvidoso a esse livro, porque imagina-se que uma obra de "mensagens elevadas", considerada de "alto nível" e de "sublime valor espiritualista", não precise de reparos editoriais. E a obra foi remendada cinco vezes, em cerca de duas décadas.
2) É IMPOSSÍVEL HAVER FALANGES DE GRANDES ESCRITORES DE DIFERENTES PROCEDÊNCIAS
É bom demais para ser verdade que um dos pioneiros "livros mediúnicos" brasileiros seja uma coletânea de mensagens de diversos escritores mortos, trazidos do mundo espiritual. Alguém em sã consciência veria num livro como Parnaso de Além-Túmulo uma obra legítima, neste sentido? De forma nenhuma.
Vamos raciocinar um pouco. A experiência de toda pessoa mostra exemplos. Alguém imaginou que, passados 30 anos após uma turma da escola em um determinado ano letivo, todos os colegas se reuniriam num encontro comemorativo? Evidentemente, não.
De uma turma de 40 alunos, dificilmente todos eles se reuniriam para um reencontro três décadas depois. Se o número for levemente superior a 15 ou 20, já é muito. Várias pessoas já estarão ocupadas em suas vidas particulares. Eventualmente, alguém pode ter morrido. Portanto, não há chance de, rigorosamente, todo mundo se reencontrar.
Outro dado a considerar é que o mito das "falanges espirituais" é feito, no Brasil, conforme perspectivas bastante materiais. Imagina-se que todos os escritores e pintores falecidos, mesmo de diferentes épocas ou procedências, estejam obrigatoriamente presentes nos eventos "mediúnicos", e isso é impossível.
Além do mais, Chico Xavier tentou imitar Allan Kardec achando que ele acolheu "falanges espirituais" em sua obra e quebrou a cara. Até porque Kardec não colheu mensagens de grupos de espíritos, mas selecionou mensagens individuais que ele julgasse psicograficamente genuínas e os colocou em seus livros.
3) A QUALIDADE DAS OBRAS "PSICOGRÁFICAS" É BASTANTE INFERIOR
Embora algumas pessoas tentem alegar que Parnaso de Além-Túmulo mostra obras que "correspondem aos estilos inconfundíveis dos grandes editores", essa constatação é falsa e é obtida através de leitura bastante apressada.
De acordo com a Lógica, a natureza do falso é justamente o de querer parecer verdadeiro. Uma imitação não é verdadeira porque necessariamente se parece com a original. A veracidade se dá quando a imitação não apresenta aspectos que comprometam o produto original. Podem haver mil semelhanças, se há um único aspecto comprometedor, a imitação é falsa.
Há muitas denúncias de que os poemas e prosas de Parnaso de Além-Túmulo são medíocres. É famosa a frase de João Dornas Filho de que Olavo Bilac aparece creditado no livro "mediúnico" através de poemas abaixo dos medíocres, num conteúdo e temática bem abaixo do talento que o poeta parnasiano e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras expressou em vida.
Outro caso é Auta de Souza, poetisa potiguar pouco conhecida. Na obra "mediúnica", a jovem poetisa, morta precocemente, é creditada a poemas que em nada lembram o estilo ao mesmo tempo feminino e infantil da delicada poesia da autora. Em vez disso, os poemas a ela creditados expressam, todos, explicitamente, o estilo masculino e pessoal de Chico Xavier!
(Continua na postagem de amanhã)
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