Por que os brasileiros sentem tanto medo em questionar Chico Xavier?

Os brasileiros sentem medo. Medo de ver um proletário presidindo o Brasil. Medo de ver assassinos, principalmente feminicidas ricos, morrerem de repente. Medo de ver subcelebridades e canastrões musicais, de grande sucesso, caírem no ostracismo. Medo de uma pane no WhatsApp e no Facebook. Medo até de ver cidades como São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte cancelarem a padronização visual nos ônibus e darem a cada empresa uma identidade visual própria.
Enfim, medos surreais. Medo, medo, medo. Medo sem necessidade, mas um medo pior do que o medo infantil do "homem do saco" ou do lobisomem escondido no mato. Ou do monstro que se esconde debaixo da cama. Ainda que fosse um medo de uma barata passeando de madrugada na cozinha, é compreensível. Mas há medos surreais, medos que atingem gente grande, e que não têm a menor motivação e, não raro, refletem preconceitos e neuroses bastante absurdas.
Esse medo também envolve o de ver um ídolo religioso como Francisco Cândido Xavier ser questionado, posto em xeque. Não se fala dos arremedos de "questionamento" que seu fã-clube disfarçado de comunidade acadêmica na qual se inserem Alexandre Caroli Rocha, Alexander Moreira-Almeida e quejandos fazem, de efeito puramente inócuo e estéril e conteúdo crítico nulo, abordagem corroborada pela turma de Superinteressante e veículos afins.
Fala-se do questionamento como haviam feito Attila Paes Barreto e Osório Borba, dois guerreiros esquecidos, que tiveram coragem de apontar irregularidades sérias na "psicografia" de Chico Xavier. E não se tratam de denúncias sem provas, porque ambos mostraram suas provas, seus acusadores é que lhes taparam os ouvidos e olhos e se recusaram a ouvir e ler.
Não adianta acusar os outros de não apresentarem provas se os acusadores se recusam a ver as provas apresentadas. Isso é uma grande incoerência. E nós sabemos o quanto os chiquistas são pessoas medrosas, que se escondem na idolatria a um suposto filantropo para esconder suas neuroses, seus ódios, suas preguiças, suas omissões.
ALLAN KARDEC RECOMENDAVA O SENSO CRÍTICO
O que os "espíritas" brasileiros, tão orgulhosos em bajular a doutrina francesa original, desconhecem são seus graves desvios doutrinários, veradeiras traições, camufladas pela "doce adoração" a um "médium" e quem for que se considere seu herdeiro. Dessa maneira, Chico Xavier representa a atitude hipócrita dos brasileiros que, através da adoração a essa pessoa irregular, escondem suas debilidades profundas.
Ainda vamos explicar isso melhor. Mas a verdade é que os chiquistas são pessoas movidas pelo medo, pelo ódio, pela dissimulação, pela hipocrisia, pela ignorância. Esquecem que o medo de ver a pessoa de Chico Xavier sendo questionada severamente vai contra os postulados espíritas originais, que estimulam o senso crítico e o debate mais apurados.
A verdade é que Chico Xavier sempre teve medo do senso crítico. E, por isso, em sua obra de ideias profundamente conservadoras - até o conservadorismo de Chico Xavier, que sempre esteve num nível próximo do bolsonarismo, descontando aspectos extremos, os brasileiros têm medo de assumirem e aceitarem - , o "médium" sempre reprovava o senso crítico, o debate, a busca pelo Conhecimento.
O "Conhecimento" defendido por Chico Xavier e que enganava as pessoas com algum senso progressista é apenas um eufemismo para a fé cega, travestida de razão, e que se tornou a "fé raciocinada" brasileira, muito diferente da "fé fundamentada" (foi raisonée) da obra kardeciana original.
Isso porque, na obra original espírita, a Fé não se colocava acima da Razão. A Fé tinha seus espaços aos quais não podia barrar o senso crítico nem o debate acalorado. A Fé não pode se impor à Lógica, transformando mistérios em objetos intocáveis.
Infelizmente, Chico Xavier chamava o senso crítico de "amaldiçoado" quando ele entrava nos terrenos da Fé, quando passava a questionar e pôr em xeque dogmas "intocáveis", daí o "médium" atribuindo os esforços da Razão e da Lógica como "malignos", supostamente motivados por "paixões religiosas" e "caprichos terrenos".
Não basasse isso, Chico Xavier apelava para a Síndrome da Projeção, que é um fenômeno da Psicologia na qual uma pessoa atribui seus próprios defeitos a outrem. Desse modo, Chico Xavier, supostamente através do espírito Emmanuel, acusava o senso crítico de ser "censura", uma retórica que tem um certo tom de hipocrisia projetora: Chico foi um dos que mais apoiaram a ditadura militar, em sua fase mais repressiva, e seu mito "filantrópico" foi uma forma de tentar evitar a redemocratização do Brasil.
Além disso, Chico Xavier, que demonstrou, com provas textuais bastante explícitas, ser adepto da Teologia do Sofrimento - corrente que levou o Catolicismo medieval às últimas consequências - , também acusava, levianamente, o senso crítico de ser "inquisidor".
Dessa maneira, usando os termos "censura" e "inquisição", Chico Xavier tentava tirar de si e jogar a seus opositores a acusação de obscurantismo, dando a falsa impressão de que a obra xavieriana é um primor de "libertação" e "progressismo", o que é um grande engano.
Há muitas e muitas provas do reacionarismo de Chico Xavier. Ele defendeu a aceitação do sofrimento "sem queixumes". Criminalizava pessoas que reclamavam demais, mesmo enfrentando uma overdose de adversidades. Chico Xavier defendeu o trabalho exaustivo, sempre dizendo para aqueles que desempenhavam tarefas difíceis, de baixa recompensa e de carga horária excessiva, a continuarem trabalhando e permanecendo na prece, ignorando que, até nessas situações, era difícil dividir as atenções entre o desempenho de um trabalho árduo e uma oração a Jesus.
CHIQUISTAS TÊM MEDO ATÉ DE LER OS LIVROS DE CHICO XAVIER
As pessoas que apoiam Chico Xavier são profundamente medrosas. São beatos religiosos, alguns mais explícitos, mas outros nem tanto. Mas a gente pergunta se os "isentões", que explicaremos em outra oportunidade, não seriam também medrosos? Aquelas pessoas que adoram Chico Xavier, mas se recusam a se assumir sectárias, fanáticas ou mesmo de professar a religião "espírita", elas também não seriam dotadas de profundo sentimento de medo e covardia?
E os acadêmicos que se recusam a investigar, a sério, Chico Xavier? O próprio Alexandre Caroli Rocha, em suas fotos, demonstra ser uma pessoa medrosa, pelo semblante que apresenta. Suas abordagens em torno da suposta psicografia creditada a Humberto de Campos e Irmão X, das quais se recusa a analisar aspectos de estilo literário e patente autoral, não seriam também verdadeiras metodologias dominadas pelo medo de fazerem ruir dogmas consagrados?
Os chiquistas, sejam os beatos ou não, sectários ou não, "espíritas" ou não, também têm medo de ler os livros de Chico Xavier. Leem quando o palestrante "espírita" de ocasião lhe indica e, quando o leem, é de maneira acrítica, sem desconfiar. Mas, no aspecto geral, se contentam apenas em ler frases e trechos de livros disponibilizados no limitado cardápio que circula nas redes sociais, cheios de recados moralistas apreciados pelo internauta médio, ou melhor, medíocre.
A beatitude religiosa é movida pelo medo, mas também a "equilibrada admiração" a Chico Xavier como "apenas um homem humilde e bom, mas imperfeito e errante" também é motivada pelo medo. Um medo de assumir o fanatismo religioso e travesti-lo de "adoração moderada", para evitar críticas.
O próprio patrulhamento dos seguidores de Chico Xavier, alguns com "carteirada" - uma senhora chegou a escrever, enfurecida, nas redes sociais, "Quem é você para falar de Chico Xavier?" - , também são expressões do medo. Um medo que faz com que os chiquistas contrariem o mito de que são pessoas de "elevadas energias mentais" e disparam ódio e vingança quando contrariados, reações que já renderam ameaças de morte a Amauri Xavier, no passado.
E como se dá esse medo? Alguns motivos muito prováveis:
1) As pessoas precisam de um ídolo religioso, como aquela família do conto do sábio e a vaquinha, que são aqueles moradores que se achavam dependentes de uma vaca para sustento de sua casa. Pois a "vaquinha sagrada" chamada Chico Xavier não pode ser questionada, banida ou desqualificada, e tudo o que os chiquistas, em todos os seus níveis, aceitam fazer é o esquecimento momentâneo de seu ídolo, mas nunca o seu abandono;
2) A obsessão dos brasileiros em ter alguém parecido com Jesus Cristo, um suposto "símbolo de caridade" que serve não só para anestesiar as inseguranças e neuroses humanas, mas também como um símbolo de moralismo (confundido com "moralidade") para "exemplificar" as pessoas. Note que a forma com que veem Jesus é altamente conservadora e Chico Xavier é moldado para essa abordagem, a exemplo do que se fez, lá fora, com Madre Teresa de Calcutá;
3) Chico Xavier simboliza supostas virtudes as quais as pessoas não têm coragem de assumir por conta própria. Elas precisam de uma pessoa que simbolize a "bondade" e o "amor ao próximo", mesmo que não tenha necessariamente essas virtudes (é duvidoso que Chico Xavier tenha sido realmente caridoso; não há provas e tal atribuição seria apenas para protegê-lo de graves acusações, estas dotadas de provas consistentes, como o apoio à ditadura militar), e aí o estereótipo de um velhinho doente e frágil, supostamente pobre, lhes vêm à tona;
4) Ver cair o péssimo costume de adorar um ídolo religioso, um hábito analgésico, como uma espécie de ópio emocional, que prevalece desde, pelo menos, há quatro décadas. Ver essas sensações ao mesmo tempo alucinógenas, catárticas, movidas pelo êxtase religioso (a "masturbação pelos olhos" da comoção fácil e premeditada) e pelas impressões artificiais de serenidade e alegria, serem desfeitas de repente, cria nas pessoas uma fúria e uma irritabilidade, causadas pelo medo e pela insegurança.
O Brasil é apegado a Chico Xavier, que é, na verdade, o maior espírito obsessor dos brasileiros. E os brasileiros lhe veem como "exemplo" porque os próprios chiquistas desprezam seus velhos, como mães, tios, avós, sogras etc, e fecham as janelas de seus carros para os pobres que lhes pedem ajuda. Resmungam diante de moradores de rua, se recusando a lhes dar esmola e ordenando-os a procurar um emprego (ignorando que procurar emprego dá trabalho, pois é necessário um teatro todo só para ir a uma entrevista de emprego).
Daí o medo de assumirem seus defeitos. As pessoas dependem de Chico Xavier para tudo. Ele é a vaca do conto do sábio e da vaquinha. Ele, mesmo sendo um canastrão religioso, um deturpador do Espiritismo, um reacionário irredutível e um realizador de obras literárias fake creditadas a autores mortos, tornou-se símbolo de supostas virtudes que seus seguidores e simpatizantes são incapazes de possuir.
Mas isso traz uma amarga lição. Muitos dizem que Chico Xavier é "o homem chamado Amor", o que é muito duvidoso e sem fundamento algum. A verdade é que Chico Xavier, por tudo o que ele representa, deveria ser considerado, sim, "o homem chamado Medo", porque é o medo que faz dele um ídolo religioso, num país de pessoas covardes, hipócritas e dissimuladas.