Texto de escritor "espírita" sobre Chico Xavier é pretensioso e sem provas


Reconhece o falso cientista quando ele tenta manter o domínio do seu discurso, ficar com a posse da verdade ainda que nunca a admita nas suas palavras e seu suposto cientificismo serve mais como uma vaidade e uma forma de tornar a Ciência como seu privilégio pessoal e a atividade científica, uma forma de promover o obscurantismo e não tornar o Conhecimento algo mais acessível.

É cheio de pretensiosismo o texto de Marcelo Caixeta, médico e psicólogo goiano, publicado no Diário da Manhã de Goiânia. Seu artigo é um manifesto de arrogância e pura vaidade, dentro de uma campanha para blindar Francisco Cândido Xavier, cuja obra mostra provas de irregularidades, que são refutadas pelo presunçoso articulista.

Tecendo elogios entusiasmados ao acadêmico paulista Alexandre Caroli Rocha, Marcelo Caixeta, a exemplo do elogiado, tenta desqualificar, com a arrogante vaidade típica dos pseudo-cientistas, orgulhosos da sua alegada posse do Saber, aqueles que questionam, com mais objetividade, a obra de Chico Xavier.

Caixeta diz ter "maior objetividade" na análise da obra de Chico Xavier, cometendo, a exemplo de Caroli Rocha, o problema que é uma doença da chamada comunidade acadêmica brasileira: a de evitar o senso crítico, tratando uma "problemática" como algo a ser meramente analisado de maneira descritiva, como se toda fenomenologia acolhida pelos acadêmicos fosse um "patrimônio" a ser preservado.

MONOGRAFIAS, NO BRASIL, REJEITAM O SENSO CRÍTICO

Dessa maneira, o Brasil não se torna um país fértil para intelectuais do nível de Jean Baudrillard, Umberto Eco e Noam Chomsky, uma vez que, no exterior, a fenomenologia não é tratada pelas monografias apenas para "ser conhecida", mas, em muitos casos, ser questionada como um problema real a ser combatido.

A má reputação do senso crítico na comunidade acadêmica no Brasil faz a maior parte das monografias serem grandes lixos arrumados por um discurso científico verossímil, uma embalagem que repercute provisoriamente no brilho momentâneo da aceitação de professores orientadores e da banca examinadora de tais projetos, mas cujo conteúdo maçante, acrítico e que chega, não raro, a ser complacente com a "problemática" abordada, faz esses "brilhantes trabalhos acadêmicos" mofarem no esquecimento nas bibliotecas.

A desculpa que se utiliza para renegar o senso crítico é que ele está associado, de forma preconceituosa, à "opinião". O medo que a comunidade acadêmica tem em acolher trabalhos com senso crítico por serem opinativos faz com que elas prefiram evitar o "caos fenomenológico", transformando as teses acadêmicas num rito de paz com o establishment, mesmo quando certas fenomenologias sejam, na verdade, causadores de problemas sociais preocupantes. É como se o problema possa até atingir um povo inteiro, mas não pode perturbar a "paz" acadêmica.

Nem mesmo o prestígio que o pesquisador tem a partir dessas monografias badaladas, porém inúteis, serve para resgatá-las para a apreciação estudiosa. O título se limita apenas a ser um título no currículo do festejado pós-graduado, que transforma sua carreira acadêmica não num compromisso de socialização do Conhecimento, mas antes uma "carteirada" pela qual a posição docente é vista mais como um privilégio do que uma responsabilidade.

É esse cenário estéril das teses acadêmicas dominadas por uma cosmética "científica", mas desprovidas de senso crítico, que cria subprodutos como os "intelectuais espíritas" Alexandre Caroli Rocha, Alexander Moreira-Almeida e Marcelo Caixeta, entre outros, que usam o Saber mais como uma fortuna pessoal, como os "sofistas" criticados pelo filósofo Sócrates e os "escribas" criticados por Jesus de Nazaré.

Caixeta tenta parecer pretensiosamente despretensioso. Em seu artigo, ele não se preocupa em mostrar provas de seus argumentos, que deixam subentender que tentam impor sua validade com base no prestígio religioso de Chico Xavier. Seus argumentos são muito duvidosos e é visível uma certa arrogância acadêmica por parte de Marcelo Caixeta, que compartilha de uma estranha metodologia "matemática" para analisar as supostas psicografias de Chico Xavier.

Esse método é obscuro, extremamente complicado e desnecessariamente complexo, no qual, tomando como base, por exemplo, o livro Parnaso de Além-Túmulo, de 1932, faz com que Caroli e Caixeta vejam "veracidade" apenas por fórmulas complicadamente silábicas, renegando a análise do estilo textual, como se "fórmulas matemáticas" pudessem dizer mais sobre o autor do que seu estilo e sua personalidade.

Desse modo, conforme mostra o texto do blog Intruso Espírita, a "matemática" de Caroli, compartilhada por Caixeta, causa uma grande falha quando se testa, por comparação, que se recite, falando, os poemas "Velhas Árvores", de Olavo Bilac, e "Brasil", atribuído ao seu suposto espírito em Parnaso de Além-Túmulo.

É gritante a disparidade de estilos e o recital, que em "Velhas Árvores" confirma a musicalidade dos versos parnasianos de Bilac, soando leve e fluente, em "Brasil" a leitura é pesada, o poema soa "devagar" nos versos compridos e mal-arrumados, dos quais inexiste a musicalidade original do autor, além do fato da temática ser medíocre mesmo tentando "reproduzir" o entusiasmo ufanista do autor:

Velhas Árvores

Olavo Bilac - livro Poesias, 1888

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

BRASIL

Atribuído ao espírito Olavo Bilac (Parnaso de Além-Túmulo, 1932)

Desde o Nilo famoso, aberto ao sol da graça,
Da virtude ateniense à grandeza espartana,
O anjo triste da paz chora e se desengana,
Em vão plantando o amor que o ódio despedaça,

Tribos, tronos, nações... tudo se esfuma e passa.
Mas o torvo dragão da guerra soberana
Ruge, fere, destrói e se alteia e se ufana,
Disputando o poder e denegrindo a raça.

Eis, porém, que o Senhor, na América nascente,
Acende nova luz em novo continente
Para a restauração do homem exausto e velho.

E aparece o Brasil que, valoroso, avança,
Encerrando consigo, em láureas de esperança,
O Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho.

Isso derruba a argumentação de Marcelo Caixeta sobre a sua segurança objetiva em reconhecer a "veracidade" das "psicografias" de Chico Xavier por análises "matemáticas". Ele até diz que "existem erros" nessas obras, que "tem consciência exata deles e que pode identificá-los", mas ele não os identifica em seu artigo, pela falta de coragem de tamanho desafio e até pelo risco de, na tentativa de provar, cair em contradições.

Em compensação, o que sobra é a declaração arrogante de Caixeta a respeito de sua suposição a respeito da suposta versatilidade "científica" de Chico Xavier, através do trecho do seu artigo, supondo que Chico "não podia plagiar" porque tinha só a 4ª série completa.

"Muitos  alegam fraude e se perguntam por que Chico Xavier não psicografava coisas “difíceis”, por exemplo, científicas, matemáticas, outras línguas, médicas, etc. Pois estão enganados :  Chico Xavier psicografou muitos livros “técnicos”, p.ex. , Evolução em dois mundos (medicina), mecanismos da mediunidade (física), caminho da luz (antropologia/historia), Brasil Coração do Mundo, etc. Psicografou inclusive em inglês. Alem de mais de 100 poetas difíceis, mantendo toda tecnicidade deles. Eu, um intelectual, nao consigo plagiar nem um… E não eram “plágios amadores”. Como Caroli mostra, Chico “plagiava” até o número de sílabas de um poema (p.ex., todos os poemas de Augusto dos Anjos em decassílabos), “plagiava” não só estilo, mas todos os modelos matemáticos que um poema tem. Os cientistas da literatura sabem que um poema não é al­go simples. Por exemplo, cada autor tem uma predileção para um tipo de sílaba tônica, cesuras, hemistíquios, etc. Chico, 4o ano fundamental incompleto plagiou mais de 500 autores…".

Caixeta se esqueceu de uma grande equipe de editores da "Federação Espírita Brasileira" que ajudavam Chico Xavier, e cujas provas foram dadas, sem querer, por Suely Caldas Schubert, no livro Testemunhos de Chico Xavier, na qual uma carta de 03 de maio de 1947 o "médium" agradece o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, e o editor Luís da Costa Porto Carreiro Neto, por fazer as revisões para a sexta e última edição de Parnaso de Além-Túmulo já aqui analisadas.

Além disso, as alegações de que os livros de Chico Xavier envolvem Física, Antropologia, História e "poetas difíceis" são extremamente duvidosas, meramente opinativas por parte de Caixeta - que demonstra não ter dotes intelectuais confiáveis e seu prestígio é inexpressivo e não reflete no reconhecimento pleno da sociedade - e, sabemos, extremamente discutível, até porque essas áreas do Conhecimento não reconhecem, nas obras do "médium", validade nem legitimidade intelectual, até pelo seu conteúdo irregular e falho, que mais parecem obras igrejistas enrustidas.

Se Caixeta desconhece o que até articulistas católicos como Alceu Amoroso Lima sabem, que o livro poético é uma obra forjada por editores da FEB, então a situação se complica. Além disso, Marcelo Caixeta erra ao definir que o livro Caminhos da Luz é de 1932 e que o extermínio nazista ao povo judeu só veio em 1942-1943. Reproduzimos o trecho do Intruso Espírita:

Ele (Marcelo Caixeta) ainda comete o equívoco de dizer que Caminho da Luz é de 1932 e, por isso, "previu" a Segunda Guerra Mundial. Engano dele. O referido livro é de 1939, lançado portanto no começo do conflito mundial, um fato já fartamente analisado pelos jornalistas e analistas políticos da época. E o extermínio judeu já havia ocorrido em 1938, na chamada "Noite dos Cristais" (09-10 de novembro de 1938), como lembrou o historiador Philippe Burrin, no seu livro Hitler e os Judeus:

"Depois de se entrevistar com Hitler, Goebbels pronunciou um discurso no qual deu a entender que uma onda de terror teria de responder a esta agressão dos judeus contra o Reich. Na mesma noite, desencadeou-se o pogrom mais inacreditável de que se teve notícias na Europa ocidental em vários séculos, provocando cerca de 100 mortes e a destruição de milhares de casas e centenas de sinagogas. A polícia prendeu e enviou para os campos de concentração cerca de 30 mil pessoas, escolhidas entre os judeus ricos; eles foram liberados nas semanas seguintes em troca da promessa por escrito de emigrar imediatamente".

Com esses aspectos, nota-se que Marcelo Caixeta, a exemplo de Alexandre Caroli Rocha, não são mais do que arremedos de intelectuais travestidos de cosmética "científica" e cujo prestígio não vai além de seus pares e parceiros, além do fato de não ultrapassarem os limites dos ambientes "espíritas" em que se inserem.

Caroli e Caixeta são apenas acadêmicos que tratam sua formação como um privilégio e o Saber como uma moeda de posse, como uma pretensa forma de diferenciar-se da sociedade, investindo numa nada espiritualista superioridade terrena, a serviço da blindagem de um ídolo religioso cultuado pela sociedade conservadora.