As "vidraças" dos "isentões espíritas"


APESAR DA CUMPLICIDADE, SEGUIDORES DE CHICO XAVIER NEM SEMPRE ACEITAM A ASSOCIAÇÃO DE GERALDO LEMOS NETO E CARLOS BACCELLI COM O "MÉDIUM".

Predomina, nas discussões "espíritas" que são feitas nas redes sociais, uma figura estranha chamada "isentão espírita". Um sujeito que se arroga em ter "a visão mais objetiva e equilibrada das coisas" e fica posando de intelectual.

Ele cobra dos outros "maior embasamento teórico" quando se questiona o mito de Francisco Cândido Xavier, e acha que "é preciso ouvir o outro lado". Mas só se ouve o "outro lado" que ele tanto diz, porque Chico Xavier sempre se sustenta pela visão dominante favorável a ele.

Mas o "isentão espírita" é um sujeito esquisito, uma dessas aberrações grosseiras que, sob o pretexto de promover a imparcialidade, puxa os debates sempre para trás. No fundo ele não quer contestar as coisas e sempre adota um padrão de argumentação que, em tese, "admite" certos problemas, mas seus argumentos são conduzidos de tal forma que o debate, em vez de ser enriquecido, é praticamente dissolvido.

Um exemplo dessa retórica é bem típico:

"É verdade que os médiuns não são deuses, eu mesmo entendo o exagero dessa classificação, mas eu também acho problema dizer que a mediunidade deles é desonesta. Creio que haja alguns erros, mas o livro Parnaso de Além-Túmulo acredito ser autêntico, porque li vários poemas e vi que eles se parecem muito com que os autores fizeram em vida".

Os "isentões espíritas" simbolizam o arquétipo do "dono da verdade". Aquele sujeito que até afirma que "não quer a posse da verdade", mas sua forma de argumentação, bastante persistente, embora cheia de contradições, é usada com o objetivo dele ficar com a palavra final. Embora diga ser "imperfeito" e "poder estar errado em alguns pontos de vista", a verdade é que o "isentão espírita" nunca quer ser visto como equivocado.

O "isentão espírita" precisa fazer algumas concessões. Ele se considera "autêntico discípulo de Allan Kardec" e se proclama "seguidor de uma forma equilibrada e saudável, ainda que imperfeita, de Doutrina Espírita". Mas o que ele fala de um "espiritismo autêntico" é algo que, na prática, deprecia o legado kardeciano original. Vejamos um discurso típico:

"Sim, o Espiritismo que eu sigo é verdadeiro, autêntico, fiel a Allan Kardec. Só que, a meu ver, ele está equivocado com seu excesso de ciência, sua teoria é racional demais, acho que a religiosidade adotada pelos brasileiros tem seu espaço, a sua razão de ser, e vejo sentido na forma com que Chico Xavier conduziu a fé religiosa, trazendo maior equilíbrio doutrinário".

O discurso é sempre revestido de um aparato racional. As mensagens surgem querendo impor um ponto de vista, sob o pretexto de "ouvir o outro lado". Mas tudo o que os "isentões espíritas" fazem é puxar para trás as discussões, como forma de deixar tudo como está, com a Doutrina Espírita sendo desfigurada pela "catolicização medieval".

Devemos desconfiar de pessoas que se dizem "fiéis a Allan Kardec" mas reprovam seu cientificismo, dizendo que ele "cometeu exageros". É verdade que algumas ideias de Kardec soaram datadas, como sua recomendação de dispensar a identidade autoral, porque naquela época não havia técnicas de captura de imagens em movimento e muito menos de TransComunicação Instrumental.

Se dizer "fiel a Allan Kardec" e depreciar suas ideias racionais, ou distorcê-las para blindar, através de interpretações tendenciosas e até levianas, uma figura como Chico Xavier, é desmentir essa fidelidade.

Na verdade, os "isentões espíritas" lembram muito os antigos sofistas do tempo de Sócrates, pessoas sem uma visão de muito consistente, mas que lutam para ficar, "se não" com a verdade, pelo menos com a palavra final. Eles preferem deixar questões pendentes do que debatê-las, porque mexem em paradigmas que eles têm muito medo de caírem, como o próprio mito de Chico Xavier.

"VIDRAÇAS"

Na sua tentativa de fazer concessões para obter uma reputação "mais imparcial", impressionando seus colegas nas redes sociais, os "isentões espíritas" redesenham Chico Xavier eliminando dele os aspectos mais fantásticos: as atribuições de "profeta", "semi-deus", "espírito de luz", "intelectual" etc. Se limitam a admitir que ele era "apenas um sujeito humilde e bom" mas "imperfeito e que cometeu muitos erros".

Preocupados com seu verniz de "objetividade", os "isentões espíritas" também fazem uma "faxina" na galeria de apoio a Chico Xavier. Tudo isso dentro de uma visão, supostamente realista, de que o "espiritismo" brasileiro é "cheio de imperfeições", que no "movimento espírita" tem "gente que se desentende, gente que não presta, gente oportunista" etc. Tudo para ficar "bem na fita" nas redes sociais.

Nesta "faxina", quem costuma "dançar" são pessoas como Geraldo Lemos Neto, que propagou a "profecia da data-limite", Carlos Baccelli, por ser visto como um suposto oportunista, e mesmo a controversa "reprovação" aos livros que levam o nome de Emmanuel - um nome considerado "obrigatório" nas "casas espíritas" - faz parte desse higienismo religioso.

Também o "médium curandeiro" de Goiás, João Teixeira de Faria, o João de Deus, é alvo dessa "faxina", sendo jogado no "lixo" do charlatanismo curandeiro ao qual foram despejados Zé Arigó e Roberto Lemgruber, o "paranormal" do programa popularesco Povo na TV, do SBT. Assim como Geraldo Lemos e Baccelli, João de Deus é tratado como "vidraça" pelos "isentões espíritas", que renegam sua associação ao "movimento espírita".

Até mesmo a comprovação de que João de Deus foi blindado por Chico Xavier, que, sabendo das denúncias de charlatanismo contra o goiano, armou a doação de um terreno para missões "assistenciais" - que se tornou a Casa Dom Inácio de Loyola - , é neutralizada pelos "isentões espíritas", que remetem ao caso Otília Diogo.

Isso significa que os "isentões espíritas" tentam classificar Chico Xavier como "vítima", se esforçando, com um discurso persistente que, não raro, sobe de tom, para livrá-lo da comprovada cumplicidade dele com João de Deus, Otília Diogo e outros.

Eles definem Geraldo Lemos Neto e Carlos Baccelli como "oportunistas" e os rejeitam como figuras "palatáveis" do "movimento espírita". Falam que Geraldo Lemos Neto "inventou" a tal "data-limite", mas o próprio Chico Xavier já havia dito coisas semelhantes no Pinga Fogo da TV Tupi e em vários de seus livros e depoimentos.

Quanto ao medo de Chico Xavier em ver Lula presidindo o Brasil, os "isentões espíritas" tentam classificar Baccelli como um "oportunista" que "bota na boca de Chico Xavier o que ele nunca diria". Mas se esquecem que Chico Xavier esculhambou os movimentos operário, camponês e sem-teto no Pinga-Fogo, compareceu a homenagens da ditadura militar e expressava ideias ultraconservadoras em seus livros e depoimentos.

Não faz sentido os "isentões espíritas" falarem que Geraldo e Baccelli tivessem enganado Chico Xavier, porque isso não condiz à realidade. Cada um deles manifesta cumplicidade e admiração mútua no contato com o "médium", e os contextos que supõem eles terem sido "aproveitadores" é que são desprovidos de qualquer fundamentação.

Os "isentões espíritas" cobram "base teórica" quando se trata de contestar Chico Xavier e suas obras. Exigem "rigor metodológico" e "objetividade nos argumentos". Cobram quando se trata de coisas contrárias ao mito de Chico Xavier.

E em relação a coisas a favor do "médium"? Eles por acaso não cobram que as obras "mediúnicas" de Chico Xavier tenham que ser retiradas das livrarias e da Internet até que investigações da comunidade acadêmica possam trazer algum parecer sobre a validade ou não desses livros e textos?

E a "caridade"? As alegações de que Chico Xavier "fez caridade" são muito vagas, superficiais e meramente especulativas, sendo meros relatos do disse-me-disse ou depoimentos tendenciosos de pessoas que supostamente conviveram com o "médium". Quando se trata de "lindas estórias", se dispensam as "bases teóricas", não é mesmo?

Aos contestadores, os "isentões espíritas" cobram tanto o rigor da Razão que isso acaba contestando a própria Razão e não os problemas que escapam da lógica da realidade. Mas, quando é tudo a favor de Chico Xavier, não se exige coisa alguma. Até as críticas que os "isentões espíritas" fazem dos exageros atribuídos ao "médium" (como tratá-lo como semi-deus) eles criticam pela palavra pequena, pelas frases curtas, mas no fundo consentem com esses extremos, desde que a favor do seu mito.

Eles "isolam" Chico Xavier ao lado apenas de "pessoas boas", como Divaldo Franco, os supostos espíritos de André Luiz (em verdade fictício) e Meimei e Humberto de Campos (em verdade fakes) e gente solidária como Suely Caldas Schubert, Saulo Gomes (jornalista do Pinga Fogo) e outros, ou mesmo um espírita autêntico como José Herculano Pires, apesar dos senões.

Nessa "turminha", os "isentões espíritas" incluem até mesmo Jesus de Nazaré - apesar dele, em seu tempo, ter criticado os fariseus de seu tempo, associados a práticas que marcaram a obra de Chico Xavier, como a falsa sabedoria - e Allan Kardec.

É ridículo ver os "isentões espíritas" cobrando "fidelidade absoluta ao Espiritismo", se eles mesmos rejeitam Allan Kardec no seu rigor da Lógica e da Razão, a ponto de "pedirem ao pedagogo" pensar não como ele mesmo pensou, mas "pensar como Chico Xavier".

Desse modo, os "isentões espíritas" vestem a capa da "objetividade" e da "imparcialidade" para impor seus pontos de vista mistificadores. Mesmo usando o pretexto do "debate saudável e equilibrado", o que eles querem mesmo é manter a idolatria a Chico Xavier, mesmo sob concessões. Para o bem da comercialização e do lucro de seus livros e dos produtos de certa forma a ele associados.