"Bombardeio de amor", a perigosa arma de Chico Xavier

O "espiritismo" brasileiro é uma grande e complexa coleção de hipocrisias e dissimulações. Reveste do verniz intelectual e científico para pregar conceitos obscurantistas e igrejeiros. Possui uma blindagem sólida que envolve executivos de mídia, jornalistas, juristas e acadêmicos. E possui uma patrulha de "isentões espíritas" que se acham o "primor de imparcialidade e objetividade humanas".
Mas o que preocupa é que a figura mítica de Francisco Cândido Xavier se sustenta por um apelo muitíssimo perigoso que analistas da linguagem e da manipulação das mentes no mundo inteiro definem como "bombardeio de amor", do inglês love bombing.
A estratégia de dominação equivale aos apelos narrados por Homero na famosa Odisseia, obra da Antiguidade clássica na qual há uma passagem, em que o aventureiro Ulisses é seduzido pela cantoria de um grupo de sereias, o que fez com que ele ordenasse aos tripulantes que o amarrassem a um mastro, para impedir que ele caísse no mar em busca das sereias.
A narrativa, que inspirou o termo "canto de sereia", remete a armadilhas nas quais há algum apelo de profunda beleza que esconde armadilhas traiçoeiras. No caso das sereias, os homens morriam afogados na ânsia de seguir as sereias de seus cantos sedutores.
Na sociedade moderna, o "canto de sereia" ganhou um equivalente, embora este varie em contexto, que é o "bombardeio de amor". Neste fenômeno, há um processo de dominação das vítimas em que se usa um pretenso apelo de profunda beleza e extrema afetividade, de modo a envolver emocionalmente aqueles que devem ser dominados.
O love bombing é considerado um grave problema por especialistas no exterior. No Brasil, ele é um fenômeno novo, e, mesmo assim, muitas pessoas, ingenuamente, acham o "bombardeio de amor" uma coisa "positiva". Um comentário típico que pode haver nas redes sociais:
"Nossa, se existe bombardeio de amor, será sempre maravilhoso. Se a Terra vivesse só de bombardeio de amor, estaríamos felizes, promovendo a paz e a fraternidade. Que venham essas bombas que nos produzem lágrimas de felicidade e amor ao próximo!".
Esta é uma mensagem aparentemente bonita, que produz consenso dentro do nível indigente que vemos nas redes sociais, mas se trata de uma grande e perigosa tolice. E o maior representante do "bombardeio de amor", no sentido traiçoeiro desse fenômeno, é ninguém menos que Francisco Cândido Xavier.
RELATOS ASSUSTADORES
Há relatos assustadores de pessoas céticas e racionais, que duvidam das irregularidades diversas do "espiritismo" brasileiro e, de forma mais específica, de Chico Xavier, que, de repente, se rendem a ele através de eventos de profunda emotividade e beleza.
Seduzidos nas "casas espíritas", eles se envolvem quando entram, quando há salas de paredes claras, música relaxante, acolhimento fraterno e outros apelos supostamente associados à paz, ao silêncio e à serenidade. Membros da instituição respectiva se aproximam do cético e o atraem com uma afetividade além da conta, em que mistura ares paternais com de amigos próximos.
Quando Chico Xavier estava vivo, ele seduzia os céticos através de seus apelos diretos e indiretos, sendo estes últimos ainda valendo, postumamente. O ambiente forjando serenidade, a música relaxante, os retratos ou pinturas floridos, as promessas de paz e prosperidade, tudo isso o "espiritismo" igrejeiro, diferente da sobriedade das igrejas católicas e sua arquitetura imponente, mas sem forte apelo místico além do tradicionalmente católico, faz para atrair qualquer um.
São casos de pessoas que criticavam o "espiritismo" brasileiro e Chico Xavier e que, de repente, passam a entrar em choro compulsivo e comoção extrema, seduzidos pelo forte apelo de flores, paz, amorosidade forjados nestas situações.
À distância, a figura de Chico Xavier seduz pelos apelos de beleza que mascaram suas mensagens que, em verdade, mostram um moralismo bruto e um jogo de trocadilhos (como contrapor "voz" e "silêncio", "saber (cérebro)" e "coração"), com cenários floridos ou celestiais.
Os apelos seduzem as pessoas de certa maneira que mesmo intelectuais travam o cérebro quando seus olhos esbarram com o nome de Chico Xavier ou seu retrato. Intelectuais com senso crítico que normalmente é bastante afiado se tornam impotentes ao serem seduzidos pelo "canto de sereia" do "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.
Isso é muito grave. Sabendo que Chico Xavier deturpou o Espiritismo original em prol da catolicização em padrões medievais, o fato dele exercer uma influência dominadora sobre seus segudiores, manipulando o discurso de toda maneira, é bastante assustador. Quantos brasileiros precisam se amarrar nos mastros para não caírem nas perdições do "bondoso médium".
Chico Xavier foi treinado na "Federação Espírita Brasileira" para desenvolver as mais diversas técnicas de manipulação mental. Fã de circo, Chico Xavier parecia ter dons de hipnotizador, capaz de dominar os céticos mais convictos. Esse perigo já era prevenido com antecedência por Allan Kardec, que em seus livros falava de "espíritos mistificadores capazes de influenciar até aqueles com algum grau de esclarecimento".
O caso de Humberto de Campos Filho é ilustrativo. O filho do famoso escritor era um dos que processaram Chico por ter usurpado o nome do pai e era um cético convicto. No entanto, ao ser convidado, em 1957, a assistir a uma reunião comandada pelo "médium" no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, e depois ver amostras de Assistencialismo como a visita à referida instituição e o acompanhamento a uma ostensiva excursão de mera doação de roupas, remédios e mantimentos, Humberto Filho acabou sendo assediado.
Humberto foi tomado de "bombardeio de amor" quando assistiu à reunião e foi abraçado por Chico Xavier. Dominado, o produtor de TV e jornalista chorou copiosamente. Aproveitando dessa comoção, Chico desenvolveu um falsete que fez Humberto Filho ficar desnorteado, iludido em pensar se era a voz do pai que falou com ele.
Com essa estratégia, Chico Xavier fez com que os herdeiros de Humberto de Campos não o processassem mais. A perigosa tática funcionou. E imaginar que o pior canto de sereia não partiu de mulheres lindas com rabos de peixe, mas de um velho feioso de ternos velhos e que usava também peruca ou boné.