"Caridade" de Chico Xavier é uma tese sem o menor fundamento



Francisco Cândido Xavier nunca praticou caridade. Nenhuma. Se houve algum "ato de bondade", são pequenas gentilezas que não merecem sequer menção, de tão banais e tão fracas, e coisas que qualquer corrupto ou mafioso também fazem, quando o contexto lhes permite. Não são atitudes transformadoras, e nem servem sequer para se supor algum humanismo.

No sentido de ações profundas para transformar e beneficiar de verdade a sociedade, Chico Xavier nada fez. Nada. Coisa nenhuma. Isso é muito doloroso para pessoas que ouviram a frase "Chico Xavier praticou caridade" martelada várias vezes, repetida como num disco riscado, pregada de maneira hipnótica, mas isso é uma realidade contundente.

Afinal, não existem provas de que Chico Xavier ajudou o próximo. As fotos supostamente associadas a isso são poucas e demonstram mais um caráter marqueteiro, como nessa imagem que ilustra essa postagem, servindo mais como propaganda pessoal do "médium". A verdade é que, se tivesse havido essa caridade, pela grandeza com que os chiquistas (incluindo os que dizem não-sectários ou não-espíritas) atribuem a seu ídolo, o Brasil teria alcançado padrões de desenvolvimento dignos de países escandinavos.

Isso nunca aconteceu. Pedro Leopoldo continua sendo uma cidade apagada na Grande Belo Horizonte. Uberaba é uma cidade com padrões sociais medianos comparável a de uma cidade do interior paulita. O Brasil cultuou tanto Chico Xavier, mas seu "maravilhoso exemplo" nunca foi capaz de resolver os problemas humanos, até porque suas ideias sempre apelavam para os sofredores aceitarem suas desgraças ou só puderem emancipar-se com sacrifícios acima dos limites.

Chico Xavier é, comprovadamente, considerado devoto da Teologia do Sofrimento. Isso não foi declarado, mas está confirmado em suas ideias, que coincidem totalmente com os ideólogos dessa corrente, que levou às últimas consequências o obscurantismo do Catolicismo medieval.

Devemos admitir que, mesmo quando alguém não declara a influência de suas ideias, ela se confirma em seu conteúdo, quando o sentido apresenta semelhanças e identificações, não raro bastante explícitas, como foi o caso do "médium". Não há como alguém que tenha ideias conservadoras desmentir isso, se irritar ou se entristecer porque é assim considerado, se o conteúdo das ideias comprova de maneira indiscutível, até pela forma explícita que as mesmas são expressas.

FALTA DE FUNDAMENTO

Apesar dos erros cometidos, sobretudo no que diz à blindagem do amigo Chico Xavier - ignorando o ditado popular "amigos, amigos, negócios à parte" - , o jornalista José Herculano Pires pelo menos foi correto quando alertou sobre a perigosa ascensão de Divaldo Franco, através de carta divulgada ao também jornalista Agnelo Morato:

"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".

Através desse parágrafo, podemos entender o perigo de usar a "caridade" não só como promoção pessoal, algo que as pessoas não conseguem entender, mas também como meio de mascarar ações ilícitas, o que complica mais a compreensão de uma sociedade brasileira, relativamente bem de vida, daí a dificuldade de entender que o sentido da caridade não está no protagonismo do suposto benfeitor, mas na melhoria de vida (mesmo!!!!) dos mais necessitados.

Embora tente, na sua boa-fé, blindar Chico Xavier e, por sua ingenuidade, o absolva de ações irregulares, Herculano Pires pode ter o parágrafo usado contra o próprio "médium" mineiro, porque com o tempo as irregularidades da "psicografia" xavieriana foram analisadas com muito fundamento lógico e comprovadas diante de problemas que somente acadêmicos chiquistas tentam deixar "em aberto", por terem dificuldades de comprovar, substancialmente, a suposta autenticidade que desejam da referida obra "mediúnica".

A "caridade" se torna um escudo para Chico Xavier mascarar seus crimes de falsidade ideológica, pelo qual foi capaz de usar nomes de personalidades mortas para dissimular opiniões reacionárias e juízos de valor bastante perversos. Na sua benevolência, um tanto ingênua e complacente, Herculano Pires pode não admitir, mas a "conduta condenável no terreno da caridade" de Chico Xavier também foi "meio de defesa para a carreira sombria no meio espírita", por parte do "médium" mineiro.

A tese de "caridade" não só carece da menor fundamentação como ela se vale por declarações meramente emotivas, especulativas, delirantes, feitas sem a menor reflexão, sem o menor raciocínio. Além disso, as pessoas que "testemunharam" a "caridade" de Chico Xavier não possuem credibilidade nem reputação expressivas e mais parecem um bando de beatos religiosos ou de jornalistas inexpressivos que se promovem às custas do "convívio com o médium".

COMO É A SUPOSTA "CARIDADE" DE CHICO XAVIER

O que se considera como a "caridade de Chico Xavier" são ações de caráter profundamente medíocre, atos de caráter eticamente duvidoso ou mesmo atitudes de terceiros às quais o "médium" buscava promoção pessoal, obtendo protagonismo através do trabalho alheio. Vejamos:

1) DOAÇÃO DO LUCRO DE LIVROS PARA INSTITUIÇÕES "ESPÍRITAS" - Em campanhas tendenciosamente filantrópicas, é comum ver celebridades renunciando cachês declarando que elas vão para instituições religiosas. O mercado do Assistencialismo, aquela "caridade" que ajuda pouquíssimo, mas dá cartaz demais ao "benfeitor", se alimenta dessas renúncias, feitas também por esse objetivo marqueteiro, afinal, os famosos passam a ser vistos como "benfeitores".

Recentemente, o craque Neymar esteve envolvido nessas ações. Elas não trazem diferencial algum, e não dignificam a imagem do "benfeitor de plantão". No caso de Chico Xavier, a "caridade" virou até um meio de blindagem que, de tão martelado, chega a soar irritante, lembrando que, na verdade, o "médium" abandonou a pobreza quando tornou-se um ídolo da suposta mediunidade "espírita".

2) PEDIR A OUTREM CONTRIBUIR COM DONATIVOS - É fácil e muito cômodo alguém pedir aos outros para ajudarem o próximo - mesmo nos limites medíocres do Assistencialismo - e depois ficar com os "louros", obtendo promoção e vantagens pessoais às custas da obra alheia. Chico Xavier era muito disso. Ele não mexeu um dedo para promover o progresso humano, porque, se fizesse, o Brasil não estaria nessa crise toda que hoje vemos.

O que ele fez, muitas vezes, foi pedir para seus seguidores contribuírem para donativos e ações voluntárias (fazer sopas, por exemplo). É aquela fábula da cigarra pedindo para as formigas trabalharem e depois ficar com o prestígio sobre o trabalho alheio. Não bastasse a mediocridade das ações filantrópicas - caravanas ostensivas eram feitas só para pequenas doações, em clara demonstração da propaganda pessoal do "benfeitor" - , elas não partem da iniciativa do "médium", afinal "dizer não é fazer".

3) "CARTAS MEDIÚNICAS" - As "cartas mediúnicas" são erroneamente tidas como "a maior caridade de Chico Xavier". Isso porque elas são, na verdade, sua atividade mais perversa. Assim como nas antigas sessões de materialização, as "cartas mediúnicas" são eventos, realizados em "sessões espíritas", para promover sensacionalismo, impressionar o público e alimentar a cobertura pela "imprensa marrom", setor do jornalismo que mais adora Chico Xavier.

Nesses eventos, cujo nível de catarse se equipara a orgias mórbidas, estimulam-se mais sentimentos obsessivos. Mesmo com a garantia da "vida após a morte" - ideia explorada de maneira equivocada nesses eventos - , a espetacularização da tragédia humana continua acontecendo. O luto, que deveria ser mais curto no anonimato de pessoas comuns, acaba se prolongando demais com a exploração das tragédias, que se alongam por causa do sensacionalismo das "cartas mediúncias".

Outro aspecto a considerar é que as "cartas mediúnicas", além de mostrarem indícios de obras fake - através da "leitura fria", se obtém informações, até "difíceis", de diversos amigos e familiares de um morto, para produzir "psicografias" - , também seguem o caminho invertido de Allan Kardec, que, observando rituais de mesas girantes, bastante recreativos, estabeleceu análises racionais, enquanto que Chico Xavier, se valendo, em tese, da mediunidade, recuperou a farra recreativa através da literatura fake, da falsa materialização e dos espetáculos das "reuniões espíritas".

4) "FAKES DO BEM" - A ideia de Chico Xavier em usurpar os grandes nomes da literatura e aproveitar alguns personagens não-famosos - como Irma de Castro Rocha, a Meimei, e Jair Presente - traz muita desconfiança, o que faz com que, em parte, as pessoas aceitem essas obras irregulares, cheias de falhas em aspectos pessoais, como "válidas" só porque "trazem mensagens que agradam e nunca ofendem", para não dizer pretextos como "lições de vida", "lindas mensagens" etc.

Assim fica moleza. Se passar por uma pessoa falecida, produzir mensagens apócrifas, apenas caprichando no conteúdo "cristão" e apenas levemente imitando o estilo da vítima, só para dar alguma verossimilhança, acaba fazendo com que a paranormalidade virasse uma grande farsa no Brasil e, o que é pior, uma permissividade que faz com que os "fakes do bem" possam prevalecer até mesmo no mercado literário, que deveria ser mais exigente com as patentes literárias.


LUCIANO HUCK, EMPRESÁRIO E DUBLÊ DE ATIVISTA À MANEIRA DO QUE FOI CHICO XAVIER.

CONCLUSÃO

Notemos também que a "filantropia" de Chico Xavier também pode ser comparada com a "caridade de fachada" que o empresário e apresentador de TV Luciano Huck - admirador confesso de Chico Xavier - realiza no seu programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo. É porque, em seu tempo, Chico Xavier também foi um dublê de ativista social, beneficiado por um discurso vago, sem o menor fundamento, mas que é aceito por todos como "verdade indiscutível" por causa da "carteirada religiosa".

Huck - ultimamente envolvido com o movimento de centro-direita Renova BR - é tão devoto de Chico Xavier que ele e sua esposa Angélica foram ver o filme dramatizado sobre o "médium", numa premiere de cinema. Além disso, quem é que se lembraria de fazer um quadro tipo Lata Velha em Pedro Leopoldo, se não tivesse como referência o fato de ser a terra natal de Chico Xavier?

Trata-se, como vemos, de uma "caridade" que beneficia mais o suposto benfeitor. Os mais necessitados são só um detalhe, e nem de longe são o foco principal da "caridade". Se o foco da "caridade" passa a ser o suposto benfeitor, então ela é defendida de maneira toxicamente emocional por adeptos de gente como o próprio Chico Xavier e Divaldo Franco, mais preocupados com o prestígio dos "benfeitores" do que com a resolução da fome e da miséria, que os "benfeitores" de ocasião somente solucionam de maneira medíocre e paliativa, buscando a promoção pessoal.

O que se deve concluir é que Chico Xavier não fez caridade alguma. A alegação de que ele "só viveu pelo próximo" é uma grande falácia. Uma série de fatos, de fatores, de provas e outras confirmações contundentes mostra que essa alegação de suposta bondade e suposta caridade é extremamente duvidosa, e que tudo não passou de propaganda para a promoção pessoal do homem que mais deturpou o Espiritismo em toda sua História.