Divaldo Franco nunca foi "o maior filantropo do Brasil". Nem chegou perto disso

MANSÃO DO CAMINHO, NO BAIRRO DO PAU DA LIMA, EM SALVADOR.
Uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, de fevereiro de 2015, mostra as supostas atividades assistenciais do "médium" Divaldo Franco, que, de maneira exagerada, foi considerado "o maior filantropo do Brasil".
Marcelo Canellas, repórter da matéria, chegou até a fazer uma espécie de "carteirada de imparcialidade", para justificar seu deslumbramento:
"Não sou espírita, nem acredito em reencarnação, mas um homem que dedica a vida a uma obra social que tirou 160 mil pessoas da pobreza absoluta ao longo de 60 anos merece respeito. (...) Ofereceu escola, profissão e dignidade a algumas das famílias mais miseráveis da periferia de Salvador, sem perguntar a religião de ninguém".
A frase parece bonita mas esbarra sempre na mania, que quase ninguém questiona, de ver a "caridade" mais para glorificar o "benfeitor". As "famílias mais miseráveis" se reduzem a meros números, os "mais necessitados", a uma informação vaga. Enquanto isso, temos uma "caridade personalizada", e Divaldo Franco é exaltado nas redes sociais como "o maior filantropo do Brasil".

Mas a coisa não é assim tão simples nem tão maravilhosa como se diz. Primeiro, porque todo propagandista de uma religião, mesmo aquele que evita ser associado a ela, quer exaltar um líder desse movimento. Mostram ações de suposta caridade, com o objetivo de exaltar o "benfeitor". Se os mais necessitados foram realmente beneficiados, isso pouco importa.
É aquela coisa: para os contestadores, exige-se o rigor das provas. Para os apoiadores, no entanto, vale o rumor da suposição. O "espiritismo" brasileiro é uma espécie de anti-petismo às avessas, onde "acusações" de "boas ações" são feitas sem provas. Da mesma forma como se fala, vagamente, que "o petista roubou", sem dar maiores explicações e, ainda assim, ser considerado verdadeiro por isso, fala-se "o médium ajudou muita gente" sem dar a menor satisfação. E tudo fica nisso mesmo.
Vamos ver um cálculo para ver se Divaldo Franco pode ser realmente considerado "o maior filantropo do Brasil":
1) Em 2015, a Mansão do Caminho contava com 63 anos de existência. Ela surgiu em 1952. Vamos considerar o número de 160 mil pessoas nesse espaço de tempo;
2) Segundo dados de 2010, Salvador, segundo o Censo do IBGE, contava com 2,902.927 habitantes. Podemos arredondar para 3 milhões, pelo contingente de pessoas do interior que nem foram consideradas pelos recenseadores, vivendo de maneira informal;
3) Se distribuirmos o número de 160 mil para cada ano da Mansão do Caminho, o resultado dará aproximadamente 2.540, ou seja, 2.540 beneficiados anuais;
4) Se colocarmos 2.540 no contexto da população de Salvador, a porcentagem fica abaixo de 1%, indo aproximadamente em 0,085%.
Isso quer dizer que Divaldo Franco é "maior filantropo do Brasil" ajudando 0,085% da população de Salvador, e estamos falando só na capital baiana. Se considerarmos todo o Brasil, que em dados de 2010 do IBGE apontou 204 milhões de habitantes, o resultado será ainda pior, um índice em torno de 0,00125%.
Numa análise comparativa, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva - que recebeu repúdio de Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier (sim, é doloroso para os esquerdistas saber que Chico Xavier era anti-petista ferrenho e de primeira hora) - tirou cerca de 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza, num prazo ainda mais curto do que a Mansão do Caminho: oito anos, de 2003 a 2010.
Portanto, tem maiores méritos para ser o maior filantropo do Brasil o ex-líder sindical que governou o país e levantou a autoestima dos brasileiros, apesar da furiosa oposição de uma pequena, porém barulhenta e influente, elite de privilegiados.
Em contrapartida, não há como dizer que Divaldo é "o maior filantropo do Brasil" ajudando, num longo prazo de seis décadas, menos de 0,01% da população brasileira. Aí é rir da cara do povo brasileiro. Vejam só, uma "caridade" que ajuda mais o suposto benfeitor...