Emotividade do "espiritismo" é um sentimento tóxico

CENA DO FILME DIVALDO - MENSAGEIRO DA PAZ - DRAMALHÃO QUE EXPLORA A EMOTIVIDADE EXTREMA DO PÚBLICO.
O título desta postagem assusta muita gente. Afinal, o "espiritismo" brasileiro está associado a uma esfera emotiva que parece trazer nas pessoas as mais elevadas vibrações, a mais profunda alegria e uma comoção intensa, que faz se acreditar ser impossível que haja alguma energia maléfica por trás.
Mas vamos parar para pensar. A embalagem do "espiritismo" brasileiro parece ser uma infinita coleção de virtudes, apresentadas de maneira aparentemente acessível, e que tocam na emotividade frágil do povo brasileiro, de forma a criar um território da fantasia como analgésico para a realidade ruim em que vivemos.
Num país desinformado e profundamente atrasado como o Brasil, num contexto em que até o mundo desenvolvido é obrigado a encarar retrocessos, a utopia de uma "religião que une o maior número de virtudes humanas" parece iludir a todos, pelo aspecto linear e simplório de parecer sempre agradável, relaxante e confortante.
Esquecemos que o "espiritismo" brasileiro esconde uma realidade muito diferente e bastante sombria. A religião surgiu traindo Allan Kardec, ao dar preferência aos conceitos igrejeiros de Jean-Baptiste Roustaing. O sobrenome Roustaing virou um palavrão não porque o "movimento espírita" aprendeu a lição original, mas pelo sabor das conveniências.
Hoje internautas ficam dizendo que "o espiritismo erra, sim, e muito", mas como quem quer botar a sujeira debaixo do tapete e impedir o faxineiro de fazer a limpeza, e isso não resolve os problemas que a religião brasileira, que muito bajula Kardec mas nada segue nos seus ensinamentos mais valiosos, causou, de propósito e nunca da maneira eventual de "alguns" seguidores menos evoluídos.
Muitos dos problemas causados pelos "espíritas" vêm de más escolhas vindas até mesmo de pessoas que se acredita "mais tarimbadas". É chocante dizer isso a respeito de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, que lobbies e conveniências no jogo de interesses da expansão desse pretenso Espiritismo, deturpado e catolicizado, fizeram ter uma reputação de "espíritos puros" e que, de certa forma, essa imagem resiste, ainda que se admitam, nos dois, "certas imperfeições".
Pedimos paciência. Chico Xavier e Divaldo Franco fizeram horrores como pretensos médiuns. Suas "psicografias", por apresentarem irregularidades preocupantes - embora blindadas pela comunidade acadêmica que prefere deixar os problemas "em aberto" - , revelam serem pioneiras da literatura fake e da produção em série de fake news nas redes sociais. E isso envolve afinidade de sintonias, pelos dois "médiuns" serem adorados como pretensas unanimidades.

DIVALDO FRANCO E CHICO XAVIER - EMOTIVIDADE TÓXICA DE SEUS SEGUIDORES.
Os dois também deturparam severamente os ensinamentos da Doutrina Espírita. A catolicização nunca foi um processo inocente, a pretexto das "afinidades com os ensinamentos do Cristo", mas uma atitude perversa, da qual a religião brasileira fez um grande desvio do caminho traçado por Kardec, o que é comprovado por dois principais aspectos:
1) O Espiritismo francês se inspirava no Iluminismo e rumava para a frente; sua suposta tradução brasileira caminha para trás, buscando as bases do Catolicismo jesuíta dos primórdios do Brasil colonial.
2) O Catolicismo jesuíta aqui implantado era fortemente influenciado pela Igreja Católica Apostólica Romana, o que significa que a fonte de inspiração do "espiritismo" brasileiro defende fundamentos próprios da Idade Média;
3) Kardec defendia que tudo deveria ser analisado sob o rigor da Razão, invalidando aquilo que escapasse da Lógica e do Bom Senso. Já o "espiritismo" de Chico Xavier e Divaldo Franco faz o contrário, renegando o rigor da Razão por julgá-la "amaldiçoada" e preferir deixar "em aberto" coisas que escapam da Lógica e do Bom Senso, sob a desculpa de que elas "façam mais sentido" no mundo espiritual.
Com esse conteúdo bastante preocupante, é mister que se mantenha cautela com todo esse universo de "flores e amores" que a retórica "espírita" se apresenta. Ainda vamos falar do perigoso recurso do "bombardeio de amor" (love bombing) que foi justamente a maior arma que Chico Xavier usou para dominar os incautos e até alguns cultos de senso crítico débil.
REAÇÃO ADVERSA DESFAZ EMOTIVIDADE "ELEVADA"
O filme Divaldo - Mensageiro da Paz, que conta com astros de TV como Bruno Gracia, no papel de Divaldo Franco, e Regiane Alves, no de Joana de Angelis, é mais um desses apelos extremamente fortes de suposta emotividade plena, que ilude a todos pelas sensações inevitavelmente agradáveis que esses apelos apresentam.
Evidentemente, as sensações iniciais são muito bonitas. Qualquer cético que não esteja desprevenido pode ser seduzido por tais apelos. É o "canto de sereia" de Ulisses, protagonista da Odisseia de Homero, no qual detalharemos em outra oportunidade, e que o forçou a ser amarrado no mastro para não cair no mar, seduzido pelas sereias.
São apelos voltados a jardins floridos, animais fofos como pássaros e coelhos, ídolos religiosos de voz melíflua, supostas ações de caridade, dramas narrados como se fossem versões adultas do conto da Cinderela, com seus matizes trágicos mas com a garantia de alguma consolação, e a pretensa superioridade do "espiritismo" como meio de confortar almas tristonhas.

GREMLINS - METÁFORA DOS "ESPÍRITAS" TEMPERAMENTAIS SE COMPARA AO FILME DE JOE DANTE, QUE MOSTRA BICHOS FOFOS QUE EM DADAS CONDIÇÕES SE TRANSFORMAM EM MONSTROS.
Tudo parece maravilhoso e é assustador, porém compreensível, que as pessoas no Brasil são unânimes em dar crédito a esses apelos de emotividade como se fossem "algo saudável" e, supostamente, trouxesse energias que consideram "elevadas", principalmente em relação à idolatria a Chico Xavier e, por associação, a Divaldo Franco.
Só que isso é um sentimento tóxico. A emotividade é exagerada, e leva a pessoa a um transe emotivo perigosamente extremo, e tudo parece que as pessoas estão vivendo a sensação de subir nas nuvens, alcançar altas esferas espirituais, atrair para si uma sensação de aparente mansuetude - uma expressão muito usada pelos "espíritas" - , tranquilidade e alegria.
Ninguém imagina que isso possa fazer mal. As pessoas parecem alegres, tranquilas, acolhedoras. Sua alegria parece infantil de tão inocente, e parecem muito receptivas, brincalhonas, solidárias. Isso permanece assim até que algo adverso ao que eles acreditam e defendem ocorre.
Se há uma adversidade, os adeptos de Chico Xavier, Divaldo Franco e similares passam a se explodir de raiva e irritação. Aconselhados a abandonar as fantasias desse conto de fadas adulto a que se reduziu o "espiritismo" aos olhos de muitos, eles se enfurecem e brigam até com entes queridos, chegando ao ponto de estremecer até mesmo relações familiares sólidas.
Tudo isso se dá porque a "luz" que chega aos "espíritas" não é aquela que ilumina, mas a que cega. A idolatria a "médiuns" reacionários, capazes de defender o trabalho exaustivo e a submissão aos opressores provoca uma emotividade tóxica, porque quando tudo está bem, ela dá a falsa impressão de energias elevadas e profunda alegria, porque as sensações parecem ser muito agradáveis.
Todavia, quando existe uma adversidade, alguma contestação, por menor que seja, os "espíritas" mostram que essa sensação de "energias elevadas" é falsa. É como o efeito de um entorpecente, em que pese a rejeição do "espiritismo" brasileiro ao uso de drogas ilícitas. Nele, produz-se uma sensação em que se tem bons sentimentos e boas vibrações quando tudo está de acordo, mas, quando não está, as energias passam a ser bastante pesadas.
Neste caso, não se pode culpar o discordante, que viu, com provas irrefutáveis, problemas no "espiritismo" e nos seus maiores ícones. Temos que admitir e aceitar que "médiuns" não podem se colocar acima da realidade, da lógica, e nenhuma desculpa - como o ditado "Deus escreve certo por linhas tortas - permite o direito de dizer que Chico Xavier e Divaldo Franco estão acima de qualquer realismo, por determinados absurdos a eles associados escaparem da compreensão lógica humana.
O comportamento dos devotos do "espiritismo" e seus "médiuns" lembra o enredo do filme Gremlins, que Joe Dante, sob produção de Steven Spielberg, dirigiu, no qual bichinhos engraçados e fofinhos, chamados de Mogwais, quando expostos a condições como a luz do Sol e a alimentação depois da meia-noite, se transformam em monstros perversos.
Expostos ao raciocínio crítico - mesmo quando ele se baseia em alertas originalmente trazidos na literatura espírita pelo próprio Kardec ou por mensageiros como Erasto de Paneas - , os "espíritas", tão "normalmente afáveis", se explodem em raiva e irritação, mesmo quando tentam dissimular seu nervosismo.
Mesmo forjando calma e tranquilidade, é comum os "espíritas" contrariados levantarem o tom: "O irmão está sendo obsediado", "Até compreendo certos erros dos médiuns, mas o que você disse está equivocado" e outras desculpas, algumas até habilidosas, feitas para desqualificar o contestador.
O contraste emocional é também uma metáfora presente no livro O Médico e o Monstro (Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde), que Robert Louis Stevenson lançou em 1886, no qual mostra a transformação de um afável e simpático médico em uma criatura sanguinária e monstruosa.
Essa emotividade tóxica, que envolve os "espíritas", é a mesma que envolve também casais em que o homem se torna um feminicida, quando ele desenvolve sentimentos obsessivos a partir de uma suposta amorosidade que o fez, em primeiro momento, um sujeito de gestos cavalheiros e índole descontraída e gentil, mas, depois, em pessoa vingativa, dominadora e sanguinária.
Numa emotividade saudável, não há reações explosivas nem de irritação em momentos adversos. Há, nestes casos, uma reação paciente, podendo ser de discordância, mas nunca de algum sentimento negativo ameaçador. Infelizmente, não é esse sentimento equilibrado que se encontra nos "espíritas" expostos em situações adversas a seus paradigmas.
O Brasil é muito virgem de vários problemas humanos. Não é à toa, por exemplo, que bullying, uma palavra referente à humilhação que pessoas arrogantes e privilegiadas fazem contra pessoas pouco convencionais e frágeis, não tem palavra oficial em português pois o problema, apesar de ter sido muito frequente no Brasil desde o período colonial, ainda é visto como se fosse fenômeno estrangeiro.
Isso mostra o quanto os brasileiros não conseguem expressar suas emoções corretamente. Não têm a menor consciência de seus desejos, animosidades, traumas, indignações e vocações. É por isso que as pessoas agem sem saber, e não percebem isso mesmo quando são dotados de uma emotividade que parece muito positiva, mas se demonstra muitíssimo perigosa e ameaçadora.