Humberto de Campos Filho foi assediado por Chico Xavier

HUMBERTO DE CAMPOS FILHO (E), AO LADO DE HEBE CAMARGO E JOSÉ TAVARES DE MIRANDA, NOS ESTÚDIOS DA TV PAULISTA, NO ANO DE 1956.
Oficialmente, os "espíritas" creditam o encontro de Humberto de Campos Filho com Francisco Cândido Xavier como um "evento de misericórdia e perdão, de reconciliação fraterna e compreensão humana". No entanto, foi uma grande armadilha que Chico Xavier armou para evitar novos processos judiciais.
Se aproveitando da morte, em 1951, da viúva de Humberto de Campos, dona Catarina Vergolino de Campos, a "dona Paquita", o "médium" mineiro resolveu armar uma espécie de "emboscada do bem" para seduzir o cético filho homônimo do autor maranhense, que estava trabalhando em televisão. O ato de "reconciliação", na verdade, era um assédio moral por motivação religiosa movido pelo "médium", feito para evitar que continuassem as ações judiciais recorrentes.
Sabe-se que, quando o juiz suplente da 8ª Vara Criminal do Distrito Federal (Rio de Janeiro), João Frederico Mourão Russell, julgou "improcedente", em 1944, o processo judicial dos herdeiros de Humberto de Campos, estes familiares entraram com recursos, como é de praxe, contestando a sentença. E as ações judiciais continuaram, criando um litígio que ocorria em segredo de Justiça.
A atuação de Chico Xavier era estratégica. Ele e seu mentor terreno na FEB, Antônio Wantuil de Freitas, mexiam os pauzinhos para se livrarem das encrencas causadas com as obras fake, tidas como "mediúnicas" e que apelavam para o sensacionalismo de usar grandes nomes da nossa literatura (mas evitando, estranhamente, nomes como Machado de Assis, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco) para impressionar o grande público, numa prática condenada previamente por Allan Kardec.
Na época, a década de 1950, Chico Xavier estava envolvido em pretensas atividades de materialização, entre as quais a psicofonia, estranhamente desprezada pelos próprios seguidores (talvez por ser uma farsa mais escancarada). 1957 também era a véspera da denúncia de Amauri Xavier, porque então o rapaz estava ainda "resignado" em exercer atividade de pretenso médium.

FASCINAÇÃO OBSESSIVA - HUMBERTO DE CAMPOS FILHO REENCONTRA E CUMPRIMENTA CHICO XAVIER.
O assédio que Chico Xavier fez com Humberto de Campos Filho pode ser comparado com depoimentos céticos em relação ao "médium" que o filho do autor maranhense havia dado em 1944, e vamos comparar com o que ele escreveu, décadas depois, para o deslumbrado livro Irmão X - Meu Pai, no qual um Humberto Filho iludido e tomado de fascinação obsessiva por Chico Xavier deu declarações do assédio, sob o ponto de vista de alguém que se rendeu a tal sedução.
Por ironia, o livro deslumbrado foi lançado depois que a obra de Humberto de Campos passou a ser de domínio público. E, mais abaixo, veremos também um trecho do livro chiquista Nosso Amigo Chico Xavier, de Luciano da Costa e Silva, do qual menciona (e aprova) a atitude de um Humberto de Campos Filho tomado de pura fascinação obsessiva (não creditada dessa forma, evidentemente).
Vamos, portanto, comparar as duas declarações, a seguir:
DECLARAÇÕES DE HUMBERTO DE CAMPOS À REVISTA DA SEMANA DE 08 DE JULHO DE 1944
(...) Quando lhe (Humberto de Campos Filho) indagamos o que pensa dos famosos livros póstumos editados sob a responsabilidade do médium referido, fez suas as palavras que o irmão (Henrique de Campos) nos havia dito:
- Querem fazer o espírito trabalhar mais do que o corpo. - Gracejo ou evasiva, quem sabe?
- Mas, encarando a questão seriamente - insistimos - acha concebível que aqueles livros tenham sido escritos pelo seu pai?
- Claro que não - é a resposta categórica. - Tanto assim que evitamos tocar no assunto e nunca demos a nossa permissão para a publicação desses livros atribuídos a meu pai. Frequentemente apareciam delegações espíritas ou padres católicos e até representantes de outras religiões, todos querendo convertê-lo. Ele a todos recebia e ouvia com a devida consideração, mas era só. Nunca foi espírita.
Humberto adiantou-nos então que a família realmente evita o assunto. Porém, faz notar que tudo que sai publicado nesse gênero é totalmente sem a sua aprovação ou consentimento. Diz mesmo que nunca se dignaram esses editores, ao menos, comunicar a publicação de um novo livro, os quais se elevam ao número de cinco ou seis. Portanto, a família de Humberto de Campos está totalmente alheia a essa "onda" de espiritismo - classificação textual de Humberto Filho.
A QUESTÃO DOS DIREITOS AUTORAIS
- Os direitos autorais de todas as obras de meu pai são exclusivamente da família - adianta-nos o filho do escritor. Humberto de Campos tem publicados 39 volumes, que pertencem aos herdeiros. De toda a sua obra unicamente um livro de histórias infantis - "Histórias Maravilhosas" - foi vendido por ele à Empresa O Malho. Todos os livros de meu pai foram reeditados por José Olympio. Depois, a W. M. Jackson assinou contrato conosco, destinadas a serem vendidas as coleções. Os direitos, portanto, são da nossa família exclusivamente. E o serão ainda por cinquenta anos. Meu pai faleceu há dez anos e a lei diz que a propriedade literária é garantida por sessenta anos. Só em 1994 deixará de ser nossa.
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TRECHO DO LIVRO IRMÃO X, MEU PAI DE HUMBERTO DE CAMPOS FILHO (1997)
1957
Um grupo de amigos do Centro que então frequentava aprovou a ideia de que já era tempo de conhecermos Chico Xavier pessoalmente. Da ideia passamos aos fatos. Éramos uns seis turistas, apertados em um Aero Willys, a caminho de Uberaba. Desses passageiros, dois, Lauro Mendonça e Vamiré Soares, já passaram para o lado de lá.
Chegamos a tempo de conseguir entrar na sala superlotada, onde, pouco depois, começaria a sessão, com a presença de Chico. Lá pelas tantas, vozes partidas da mesa, por ele presidida, pediam que Humberto de Campos Filho se aproximasse para falar com o médium. É fácil imaginar minha emoção. Sei que meus olhos estavam inundados pelas lágrimas quando nos abraçamos, comovidamente. De início, foi o Chico que falou, dizendo coisas tocantes e carinosas. À certa altura, era outro alguém... Talvez meu pai?... E o que ouvi teve o efeito de um impulso que me fez disparar uma sucessão de soluços, que pareciam que jamais iriam parar.
No dia seguinte, um sábado, ainda com a impressão de que meu espírito havia tomado um banho de luz, fomos participar da distribuição de mantimentos.
Sem mais nem menos, tive a nítida impressão de que estava em alguma cidade da Galileia, nos primórdios do cristianismo.
Em um enorme galpão, sem paredes laterais, senhoras e moças, alegres e sorridentes, preparavam a sopa que, mais tarde, seria distribuída entre os pobres. Pilhas de cenouras, montes de batatas iam sendo descascadas e levadas para os caldeirões que, a um canto, fumegavam cheirosamente.
Ao cair da tarde, nos incorporamos à caravana, liderada pelo Chico, que ia distribuir sacolas com mantimentos pelos casebres da periferia. Ao lado do Waldo Vieira, caminhamos naquele pôr-do-sol, com a certeza de que uma legião de espíritos luminosos também caminhavam conosco. Lá pelas tantas, Chico entrou numa palhoça, de um só cômodo. Ficamos à porta, com espaço bastante para ver Chico sentar-se na beirada de uma cama estreita e miserável. Nela estendido, um pobre velho, pouco mais que um monte de ossos, sob uma cabeça coberta por uma grande barba e cabelos desgrenhados. O coitado fez menão de erguer-se mas Chico, colocando a mão no seu peito, não deixou. De onde estávamos não era possível ouvir o que ele dizia. Mas o que disse fez o pobre homem se transformar em um enorme sorriso, cheio de gratidão e alegria. E, ao mesmo tempo, sentimos uma onda de perfume, de jasmins colhidos naquele instante, invadir completamente aquela tapera...
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TRECHOS DO LIVRO NOSSO AMIGO CHICO XAVIER DE LUCIANO DA COSTA E SILVA, ANALISADOS PELO BLOG DATA-LIMITE - INVESTIGANDO CHICO XAVIER:
No capítulo do livro Nosso Amigo Chico Xavier, de Luciano da Costa e Silva, há uma atribuição de "livrar a culpa" de Humberto de Campos Filho do processo movido contra Chico Xavier e a FEB. Sabe-se que, depois, ele argumentou que o processo não era "uma campanha contra o espiritismo" nem se voltava "contra Chico Xavier, mas contra a FEB". O trecho dava a entender de que era uma iniciativa movida pela estranheza da viúva do escritor:
D. Catharina Vergolina de Campos realmente não gostava de ver o nome do marido propagar-se de tal forma e procurava encontrar falhas nos escritos, descobrindo sempre novas coisas que depunham contra a veracidade do fato. Na verdade, nunca acreditou que as mensagens fossem de seu falecido esposo.
Chama a atenção a postura invertida adotada em 1977 (ano do livro de Luciano) em relação a 1944, quando o mesmo Humberto de Campos Filho, sem expressar detalhadamente suas posições, se limita a aceitar as supostas psicografias de seu pai, do qual teria recebido supostas cartas trazidas por Chico Xavier:
Quanto à psicografia, não se estende muito, dizendo simplesmente que acredita serem as mensagens do espírito de seu pai, por intermédio de Chico Xavier, autênticas.
Em seguida, é narrado o encontro de Chico Xavier com Humberto de Campos Filho, mais de uma década após Ana de Campos Veras, mãe do autor maranhense, ter agradecido o "médium" pelas obras atribuídas ao filho. Vamos ao trecho de Luciano da Costa e Silva:
'Esteve (Humberto de Campos Filho) uma única vez com o médium, por volta de 1957, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba. Naquela sexta-feira após a sessão, embora incógnito, Chico chamou-o pelo nome. Ambos emocionados, abraçaram-se e derramaram lágrimas. Trocaram várias palavras. Humberto diz ser perceptível o fato de que, em alguns momentos, é ele quem fala, em outros, as entidades. O difícil é perceber a passagem de um estado a outro.
Resumiu esse encontro como: "foi uma experiência muito bonita..."
Terminamos este artigo com sua opinião pessoal sobre o médium Chico Xavier, que achamos sintética, simples e tremendamente feliz:
"Chico é um paranormal acima de qualquer nível conhecido, totalmente bem intencionado. Um ser excepcional! Não um indivíduo, um ser excepcional!"'
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TRECHO DO LIVRO LUZ BENDITA, DE CHICO XAVIER E RUBENS SÍLVIO GERMINHASI
(Entrevista com Humberto de Campos Filho, jornalista, escritor e poeta eminente)
- E suas relações com Chico Xavier, atualmente, Humberto? - pergunta o redator.
- São e sempre foram ótimas.
Você acredita que as mensagens de Chico, são mesmo obra do espírito de seu pai?
- Você é a milionésima pessoa que me faz essa pergunta, ou melhor, essas perguntas. Vou tentar responder ambas, agora, contando uma passagem de minha vida:
Por volta de 1957, vindo com uma caravana de espíritas até Uberaba, como tanta gente que busca, incansavelmente, uma resposta às suas perguntas angustiosas sobre o fenômeno da morte, do destino e da dor, fui conhecer de perto o Chico Xavier.
Passados tantos anos, quase duas décadas, ia encontrar-me com aquele que tinha sido alvo de uma ação movida pela minha família. Foi um encontro realmente comovente, pois, desta vez, ambos estávamos do mesmo lado da trincheira.
Participei da feitura da sopa dos pobres, descascando cenouras sob um telheiro, numa atmosfera que lembrava as cenas simples dos primeiros dias do verdadeiro cristianismo.
Caminhei ao lado do Chico ao longo da romaria que era realizada no sábado à tarde, levando um saco com mantimentos, que seriam distribuídos aos pobres, visitados no trajeto.
Presenciei no interior de uma palhoça o tocante momento em que um doente grave era visitado pelo espírito de Meimei, que se anunciava por um pronunciado cheiro de éter que, depois, era substituído pelo aroma de flores silvestres.
E, por final, já na noite anterior ao nosso regresso, a conversa realmente impressionante que tive com ele.
De início, envolvido por aquela atmosfera de paz e bondade que sua presença transmite, conversamos sobre o passado e sobre as coisas que julgávamos importantes, em relação ao momento em que vivíamos. De repente, sem as bufadas ou contorções tão comuns para quem frequenta reuniões desse tipo, notei que o Chico deixava de ser o Chico para ser, talvez, alguém que identifiquei como meu pai. Pelas coisas que dizia e pela forma que as dizia.
E o que ouvi naquela noite, guardei para o resto de minha vida. Foram coisas que agora me fazem pensar se não estamos bem próximos ou já chegamos aos instantes de decisão, vaticinados por aquela voz.
"O mundo é uma fogueira que se consome nos mais baixos impulsos da vaidade e da ambição do homem. Nesse mundo que está sendo transformado, fisicamente, sem nenhuma consciência e sem nenhum escrúpulo, numa rapidez surpreendente, o próprio homem, vivendo nesse contexto e agindo de acordo com as regras vigentes, para não ser aniquilado, já começa a desconfiar de que alguma coisa está profundamente errada."