Manuscritos desaparecidos reforçam irregularidade na "psicografia" de Chico Xavier

As supostas psicografias de cunho literário de Francisco Cândido Xavier, aquelas obras que se atribui a pretensos espíritos de grandes escritores, têm provas robustas de irregularidades. Elas sempre fogem, num detalhe ou em outro, da natureza pessoal dos autores mortos alegados, e não raro refletem apenas o pensamento e as opiniões pessoais de Chico Xavier, que nada têm de "universais", mas de bastante conservadoras.
Não há razão alguma para atribuir "possibilidade de veracidade" em tais obras. Usar fórmulas "matemáticas", como propõe o medroso Alexandre Caroli Rocha, melindroso demais para quem em tese analisa as obras "psicográficas" do suposto médium, soa bastante impreciso e irregular.
Pressupor que a veracidade literária seja igual ao de um fenômeno físico e entendê-lo à custa de critérios matemáticos é insuficiente, e, aliás, bastante inseguro para traçar teses prováveis. Também não se deve ficar na "zona de conforto" intelectual, esperando executar "métodos mais complexos" para se chegar à alegada autenticidade da obra de Chico Xavier, aceitando que tais livros circulem livremente enquanto, oficialmente, se mantém pendente a verificação de identidade autoral.
A comunidade acadêmica que analisa Chico Xavier e está representada pela corrente de Caroli Rocha, da USP, e do pessoal do Núcleo de Pesquisas Sobre Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora (NUPES - UFJF), em verdade, se preocupa somente em criar um verniz científico para blindar o "médium", sem no entanto estimular o senso crítico e o verdadeiro questionamento que deveria exercer intelectuais de verdade.
Os pesquisadores "espíritas" dessa corrente, que segue a tendência dominante nos meios acadêmicos que comandam o processo de pós-graduação nas universidades brasileiras, e da cosmética textual, que cria uma roupagem "científica" e "imparcial" em abordagens acríticas, que são exemplares no cumprimento de uma linguagem rigorosamente formal e numa conduta de pesquisa, em tese, bastante objetiva, mas chegam a ser maçantes, inócuos e até insuportáveis pelo conteúdo desprovido de qualquer análise crítica.
A falta de senso crítico é usada, pela comunidade acadêmica brasileira em geral, sob o pretexto de que senso crítico é um "subproduto da opinião" e, por isso, não se investe em pesquisa acadêmica como no mundo desenvolvido, onde verbas públicas são investidas em trabalhos monográficos que, não obstante, ameaçam totens e paradigmas consagrados, devido ao caráter contestador das pesquisas que colocam o interesse público acima de qualquer melindre sócio-acadêmico.
Os nossos pós-graduandos quase nunca "botam fogo na arena", como alegam os inimigos do senso crítico, maliciosamente, sobre o senso crítico afiado. No entanto, os trabalhos acríticos, mas dotados de impecável roupagem "científica" e "imparcial", só garantem, a seus autores, os quinze minutos de fama, pois tais monografias, depois do aplauso entusiasmado das bancas examinadoras, "morrem" esquecidos nas estantes universitárias, só sendo acolhidos pelo amarelo dos fungos.
Com essa atitude castradora que transforma teses acadêmicas em verdadeiros documentos estéreis, sem produzir conhecimentos nem intervir nos problemas da sociedade, nosso país se mergulha num complexo rol de impasses, irregularidades, tragédias, dramas e outros transtornos, e no caso de Chico Xavier, a situação se agrava quando sua obra irregular apresenta provas irrefutáveis, mas que são refutadas, pela motivação de proteger um ídolo religioso.
Um desses problemas, que se junta a uma série de provas que invalidam qualquer chance de veracidade da obra de Chico Xavier, é o fato de que os manuscritos dos primeiros livros do "médium" desapareceram. Eles haviam sido rasgados ou queimados, segundo fontes, por Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, sob o consentimento do "médium".
Que propósito tem se livrar dos manuscritos originais? Quem deve, teme, pois, se a "psicografia" de Chico Xavier fosse autêntica, não haveria problema em manter os manuscritos das primeiras obras, e o fato deles terem sido descartados diz muito diante do medo de enfrentar a indignação da comunidade literária diante de livros tão irregulares.
Só o livro Parnaso de Além-Túmulo apresenta um monte de problemas que são suficientes para sepultar de vez qualquer chance de veracidade ou "quase veracidade", no caso de seguirmos a suposta neutralidade de Caroli Rocha. O simples fato da obra de 1932 ter sofrido alterações editoriais ao longo do tempo já é suficiente para invalidá-lo, pois, em tese, ela foi anunciada como "obra de benfeitores espirituais", à qual não se deveria fazer qualquer alteração, a mínima que for.
Os primeiros livros da série Humberto de Campos estão incluídos nesse acervo perdido. O fato dos manuscritos terem sido rasgados ou queimados sugere, então, que Wantuil e Xavier tinham medo de serem desmascarados, porque em tese não haveria qualquer incômodo em manter escritos originais para obras que, supostamente, sejam "direcionadas para o bem e pelo amor ao próximo".
Se esse acervo foi descartado, é porque existiram graves problemas, sobretudo se observarmos que, muito provavelmente, Wantuil tenha sido co-autor das obras "literárias" trazidas por Chico Xavier. O que a lógica confirma é que Chico Xavier nada psicografou sozinho, e as fraudes literárias foram feitas sob a ajuda não dos "amigos espirituais", mas de espíritos muito bem encarnados, que desempenharam funções na "Federação Espírita Brasileira", seja na cúpula, seja na equipe editorial.