Chico Xavier é responsável e co-responsável, direto ou indireto, por seus piores erros



Há fortes indícios de que Francisco Cândido Xavier sofria de esquizofrenia. A voz molenga, o olhar hesitante, indícios de perda de contato com a realidade. Uma mãe precocemente falecida e doente, que parecia mais velha do que havia sido. O pai do "médium", ao saber das alucinações do filho quando criança, ameaçou interná-lo em um sanatório.

Dito isso, nada impede, no entanto, que Chico Xavier possa ser responsabilizado ou co-responsabilizado, de maneira direta ou indireta, pelos piores erros cometidos envolvendo seu nome. Infelizmente, muitos de seus partidários tentam inocentá-lo até de coisas mais óbvias, como o apoio à ditadura militar, apostando na tese ridícula de que "ele apoiou a ditadura, mas não a apoiou realmente".

Sejamos lógicos. Se Chico Xavier cometeu erros graves, ele não foi manipulado. Ainda que muitos atos não partissem de sua própria decisão, mesmo assim ele as aceitou de bom grado, aderiu com certo entusiasmo e com a consciência plena do que estava fazendo. Não há como usar o pensamento desejoso para fazer do "médium" um "prisioneiro" das fantasias humanas, que querem sempre ver o "médium" à imagem e semelhança de uma fada-madrinha de um conto de fadas.

Suas raízes ultraconservadoras permitiram que ele apoiasse a ditadura militar. E a ditadura militar gostava dele. Se a Escola Superior de Guerra, laboratório do golpe de 1964 e dos governos ditatoriais, decidiu homenagear Chico Xavier, é porque este deu uma contribuição muito valiosa para o regime. Deixemos de ilusão. Sobretudo as esquerdas, que, pelo jeito, devem acreditar, contraditoriamente, numa fada-madrinha com poderes de revolucionário bolivariano.

PIONEIRO NOS ABUSOS "ESPÍRITAS"

Muitos reclamam por que, em nome do "espiritismo", surgem pessoas com manias de ficar dizendo que foi reencarnação de quem, de prever datas fixas para acontecimentos futuros, de consultar redes sociais para forjar psicografias, de copiar práticas católicas para desenvolver atividades "espíritas".

O que ninguém percebe é que Chico Xavier abriu precedentes para isso. E não é suficiente admitir que ele "errou muito", porque isso soa mais uma "carteirada por baixo" para manter a mesma idolatria de sempre. Ele abriu precedentes e causou gravíssimas consequências com isso, entre as quais podemos mencionar as maiores:

1) PESQUISAS SOBRE PARANORMALIDADE PREJUDICADAS

Chico Xavier prejudicou os verdadeiros estudos sobre a comunicação entre vivos e mortos, cujas pesquisas ficaram lentas ou simplesmente paralisadas. Afinal, confirma-se que as obras "mediúnicas" de Chico Xavier apresentam um caráter fake, com sérios problemas de aspectos pessoais dos supostos autores mortos, mas aceita-se tudo isso de mão beijada e a acovardada comunidade acadêmica (Alexandre Caroli Rocha et al) prefere deixar as questões "inconclusivas" para que não se derrube um totem religioso que vende muitos livros.

2) MÁ COMPREENSÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA ORIGINAL

Foi Chico Xavier que realizou, por sua própria e convicta decisão, a deturpação do Espiritismo. A "catolicização" teve nele seu maior artífice e propagandista, e isso se mostra claro por dois fatores: a origem conservadora do "médium" e sua formação católica, que era tão ortodoxa quanto aqueles que o excomungaram.

O próprio Chico Xavier manifestou várias vezes "estranheza" com os postulados kardecianos, incomodado com o cientificismo de sua teoria, e só extraiu, destes, aquilo que não chocasse com suas crenças católicas e com suas ideias conservadoras.

Ele mesmo andou estimulando a suposição de reencarnações. Os livros Há Dois Mil Anos e 50 Anos Depois foram um estímulo para isso. Em princípio, o próprio "movimento espírita" incentivou isso em nome da "liberdade de fé", criando uma farra em que supostos médiuns viravam "donos dos mortos" e pessoas comuns passavam a estipular quem foram em encarnações anteriores.

Tudo isso fazia a maior festa de setores punitivistas e autoritários da nossa sociedade, pois não nos esquecemos que Chico Xavier foi um conservador de carteirinha (qualquer tentativa de transformá-lo num "ícone moderno e progressista" esbarra sempre em negações realistas severas, como aquela doce ilusão que se desfaz com desilusões amargas). E por que a sociedade reaça faz festa? Porque essa teoria da reencarnação faz alimentar ódios e vaidades por conta de teorias moralistas que criminalizam as vítimas.

Nos lembra com propriedade Allan Kardec que se deve esquecer a encarnação anterior para que se evitem o desenvolvimento de vaidades, ódios, traumas, e outros sentimentos maléficos, que podem prejudicar seriamente a evolução espiritual. E, enquanto muitos "espíritas" acham que Chico Xavier é "fiel discípulo" do pedagogo francês, eles ficam surpresos quando são revelados que seu ídolo mineiro sempre foi um deturpador convicto.

E a "profecia da data-limite"? Quem defende Chico Xavier e tenta "concordar" com a ideia kardeciana de que não se pode prever datas fixas para acontecimentos futuros fica enrolando com teses de que o "médium" brasileiro não teria descumprido as recomendações originalmente espíritas, criando teorias mirabolantes e abordagens inseguras marcadas pelo pensamento desejoso.

CHICO XAVIER: LÍDER DE COISA NENHUMA

O que vemos é que os seguidores de Chico Xavier entram em profunda e grave contradição quando o definem como "líder" mas não conseguem explicar o seu envolvimento nas inúmeras confusões e incômodos que o "movimento espírita" enfrentou em sua trajetória. Eles se sustentam em teses bastante confusas:

1) Chico Xavier era "líder" e "iluminado", mas "manipulado" em ocasiões em que decisões e posições de caráter negativo envolveram "levianamente" o seu nome;

2) Chico Xavier era de "espírito forte e corajoso", mas eventualmente incapaz de controlar confusões e influências negativas que constantemente assombraram sua pessoa.

As duas ideias não se sustentam. Como um "líder", Chico Xavier não poderia "brochar" diante de decisões alheias - as quais apresentam indícios de que o "médium" apoiou sem escrúpulos - , o que significa que essa "liderança" simplesmente nunca existiu.

Afinal, pensemos "filosoficamente": se Chico Xavier cometeu erros graves, ele não era líder. Se ele era manipulável diante de más decisões, ele não poderia ser líder, porque teria sido levado a agir sob influência de outrem. E se ele mesmo fez más decisões, ele não poderia ser líder, ou, quando muito, seria um mau líder, mas ainda assim um exemplo de como NÃO deve ser um líder.

A verdade é que Chico Xavier pode não ter decidido por muitos dos maus procedimentos do "movimento espírita", mas se torna um responsável forte de todos eles. Ele consentiu com prazer, sem escrúpulos e por iniciativa própria. Não podemos acusar os "obsessores", Wantuil, o Vaticano, o Papa, a Carochinha etc pelos maus atos envolvendo Chico Xavier, porque ele não era a "criança imaculada" que, perdida na floresta, foi guiada inconsciente pelos maus espíritos.

Chico Xavier prejudicou muito o Espiritismo. Essa é a verdade. Em ações diretas ou indiretas, foi o fato dele aderir a esses maus atos, ou ele mesmo decidir por eles - a "vaticanização" do Espiritismo foi em grande parte fortalecida pelas sugestões "catolicizantes" do "médium" - , que causou efeitos drásticos e danosos para nosso país, entregue a esse obscurantismo religioso travestido de "esclarecimento", e, portanto, o "médium" não pode ser absolvido de culpa.

São ações de profunda responsabilidade, que, no calor do momento, foram aceitas por Chico Xavier - inclusive uma tradução em texto roustanguista da obra kardeciana que a FEESP (Federação "Espírita" do Estado de São Paulo) planejou fazer e que, com as denúncias, o próprio "médium" recuou - , e que não podem ser considerados "errinhos pequenos" do tipo do pessoal "gente como a gente" das redes sociais.

Graças a Chico Xavier, foram prejudicadas as pesquisas sobre a verdadeira comunicação entre vivos e mortos, que não inclui sua experiência, que vemos apresentar provas de práticas fake. E os ensinamentos kardecianos, que estimulavam o debate e o rigor da lógica, foram prejudicados pela reprovação do próprio Chico Xavier, que não admitia a expressão do senso crítico e julgava a lógica amaldiçoada, preferindo a supremacia da Fé sobre a Razão.

Portanto, em vez dos chiquistas ficarem fazendo malabarismos para livrar Chico Xavier da culpa por seus maus atos, incluindo a constrangedora tese de que "ele apoiou a ditadura militar, mas não a apoiou de fato", deve-se admitir suas responsabilidades e os graves efeitos causados. Chico Xavier criou as condições psicológicas para o Brasil caótico que hoje vivemos. Se isso compromete sua reputação, paciência: como disse Kardec, "melhor que caia um só homem do que uma humanidade inteira".