Fotos provam antagonismo entre Chico Xavier e o ex-presidente Lula



Numa época em que as forças progressistas adotam um discurso contrário ao ódio e à intolerância, devemos tomar cautela. Os críticos da deturpação espírita, por exemplo, não podem ser vistos como intolerantes religiosos e a intolerância não pode ser vista de maneira generalizada.

Em primeiro lugar, quem sofre mesmo a intolerância religiosa são crenças associadas às classes populares, como o candomblé e o islamismo, entre outras de menor destaque. O "espiritismo" brasileiro, simbolizado pela figura de Francisco Cândido Xavier, é considerado uma religião de elite, assim como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Assembleia de Deus, no lado dos evangélicos, e a Renovação Carismática, corrente da Igreja Católica.

Das religiões tradicionais, apenas a Igreja Católica e a Igreja Batista se destacam com correntes progressistas. Supostamente, o Espiritismo é associado a uma imagem progressista e "dissidente" é a corrente que acolheu o golpismo político de 2016 até agora. Mas essa ideia é enganosa.

Primeiro, porque a base do suposto Espiritismo, em verdade, sempre foi conservadora. Fala-se do "espiritismo" da "Federação Espírita Brasileira" e do próprio Chico Xavier. Essa base sempre se fundamentou no afastamento dos ensinamentos espíritas originais e na substituição dos mesmos por conceitos conservadores da "catolicização", sob o pretexto de assimilar aspectos da tradição religiosa popular do Brasil.

É verdade que, num tempo em que vivemos, de profundas convulsões sociais, devemos rejeitar o ódio. Mas vamos tomar muito cuidado com esse discurso, porque mesmo com ideias positivas podemos cair em armadilhas bastante perigosas. A "fraternidade da raposa com as galinhas" é um embuste que se apoia num discurso sempre agradável, que aparentemente nada traz de negativo nem de ofensivo, mas que pode trazer algum prejuízo.

FORÇAS PROGRESSISTAS, PORÉM COM VÍCIOS CONSERVADORES

O Brasil não é um país naturalmente progressista e muitos aspectos positivos são mais especulações do pensamento desejoso do que abordagens objetivas da realidade. Num país em que facilmente uma pessoa pode mentir usando um aparato de "verdade indiscutível", muito se inventa e nada se admite.

No caso do Espiritismo, quando a doutrina é deturpada sem que sequer a imprensa investigativa tivesse interesse em reportar, as forças progressistas, de esquerda, se tornam impotentes e até complacentes com figuras como Chico Xavier e suas ideias ultraconservadoras.

Os esquerdistas, não raro, caem em contradição. Em situações normais, rejeitam a reforma trabalhista e estabelecem questionamentos enérgicos em relação ao poder midiático, mas cultuam Chico Xavier como suposto "paladino da paz e da união", se esquecendo que as ideias de Chico Xavier se voltam justamente à defesa de pautas sociais que as esquerdas próprias rejeitam.

É só perceber as ideias relacionadas, por exemplo, ao trabalho exaustivo. Chico Xavier sempre recomendou ao trabalhador nessas condições opressivas a aguentar e continuar servindo - o "espiritismo" brasileiro confunde "servidão" com "serviço" - , permanecendo com a mente em oração. Outras pautas também confirmam que Chico Xavier antecipou a "cura gay" e apoiava a "livre negociação" entre patrões e empregados, mesmo em detrimento dos interesses do proletariado.

Não há como as esquerdas estabelecerem pensamentos desejosos e relativizarem as ideias conservadoras de Chico Xavier, como que confundindo ideias explícitas com metáforas, porque estas residem sempre num discurso obscuro que precisa ser interpretado conforme os contextos. As ideias conservadoras de Chico Xavier não dão margem a isso, porque seu conservadorismo é muito explícito, e o caráter anti-progressista chega a ser bastante escancarado.



FOTOS ANTAGÔNICAS

Há um erro crasso, estratosférico, das esquerdas em atribuir, como "almas gêmeas", o "médium" Chico Xavier e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. É um erro gigantesco e preocupante, porque não se sustenta pela realidade, se baseando apenas num vago e discutível enunciado: ambos, em tese, se "igualam" na aparente apreciação e auxílio ao povo pobre.

Embora oficialmente Lula seja alvo de uma campanha desmoralizadora e hostil, é condizente que ele ajudou bastante o povo pobre, realizando progressos sociais que, se não eram perfeitos nem plenos, eram promissores e, em certos aspectos, até expressivos, do contrário do "bondoso médium", cuja "caridade" é exaltada num aparente consenso, mas não possui provas nem fundamentos e muito menos resultados concretos.

A comparação fotográfica que mostramos revela o quanto Chico Xavier era conservador, do contrário que mesmo seguidores de esquerda supõem. Na foto que vemos, o "médium" mostra sua situação de hierarquia social e dominação sobre os pobres, acolhendo uma fileira de senhoras miseráveis que, submissas e com olhar tristonho, se dirigiam para a cerimônia do beija-mão do "médium", em claro apelo de distanciamento hierárquico, que põe Chico Xavier "acima" dos pobres que a ele se submetem.

Diferente é o caso de Lula, que nesta foto, aparece, em plena cumplicidade, com a testa encostada na testa de uma senhora bem idosa, que na ocasião era mais velha do que as senhoras que, naquela época, beijavam a mão de Chico Xavier. Lula aparece em situação de igual para igual com a senhora, num clima de camaradagem e confiança, colocando o ex-presidente como um representante do povo, sem a pretensa superioridade hierárquica.

Já Chico Xavier mostrou seu nivelamento hierárquico, e a foto lhe coloca num ar de pretensa superioridade, num processo ritualístico, cerimonalista, e com um forte apelo distanciador, no qual o povo nunca lhe seria cúmplice, não poderia se nivelar de igual para igual com o "médium", mas adotar uma postura submissa, de uma multidão dominada por um ídolo religioso.

Dessa forma, as duas fotos dão uma amostra do antagonismo entre o "médium" e o ex-presidente, que parecem "iguais" através de uma mesma "embalagem", o aparente apreço aos pobres. Mas Chico Xavier, que sempre defendeu a submissão a patrões, patriarcas e governantes, nunca tratou os pobres de igual para igual, o que desfaz o mito de que ele, descontado o seu passado antes de se tornar "médium", continuou sendo pobre pelo resto da vida. O prestígio religioso lhe dava poder e, por isso, o colocava numa posição de elite, com seu significado dominante e hierárquico.