Mito de crianças no além do "espiritismo" brasileiro é especulativo

A falta de estudos que assegurassem, de maneira séria e segura, o que realmente é a vida espiritual, permite que, na "caverna de Platão" que se tornou o Brasil nas últimas décadas, se tivesse a presunção de conhecer o mundo espiritual e a vida após a morte - ou seja, o "mundo fora da caverna platônica" - mesmo permanecendo no obscuro recinto.
A obra de Francisco Cândido Xavier se tornou um grande engodo igrejista, uma verdadeira gororoba onde conceitos igrejistas se misturam com ideias pedantes e especulativas sobre vida espiritual, onde as paixões materialistas falam mais alto e a ideia de encarnação é vista com uma abordagem seriamente punitivista.
Se o mundo desenvolvido ainda está pouco preparado para saber sobre a vida após a morte, o Brasil se torna ainda mais ignorante quanto ao assunto. A obra de Chico Xavier só fez complicar as coisas, ainda mais com um forte ranço católico que dificulta a verdadeira compreensão da natureza espiritual, trazendo mais dúvidas do que até mesmo possibilidades.
Livros como "Crianças no Além" e "Escola no Além" fazem uma interpretação pedante e especulativa sobre a questão de pessoas falecidas durante a infância. Misturando apreciações quase científicas e bastante superficiais, se combina tais abordagens com a especulação de um mundo espiritual feito à maneira da matéria terrestre e ao arrepio da Ciência Espírita.
Nesses livros, se supõe que hajam creches e escolas fundamentais no mundo espiritual. É uma ideia especulativa, para a qual a Ciência e a Razão não trouxeram uma concepção plausível sequer. Nem a literatura kardeciana original trouxe uma ideia próxima da precisa, pois mesmo nela a noção ainda é incerta.
Afinal, existem dúvidas quanto o que realmente é o mundo espiritual. Mesmo quando Allan Kardec traz suas ideias, elas são meros palpites, uma vez que a Ciência não trouxe ainda uma resposta próxima do provável a respeito disso.
Portanto, é duvidoso que crianças faleçam prematuramente porque "completam missões de reencarnação" ou "para dar algum ensinamento aos pais". A tese de que os falecimentos são imprevistos é mais provável e, no século XIX, quando as condições de higiene humana eram mais precárias e a medicina ainda mais rudimentar, as mortes de crianças eram muito mais comuns.
Pode-se inferir, no entanto, que quando uma criança desencarna, ela mantém no perispírito as impressões recentes da encarnação encerrada. É necessário haver estudos sérios a respeito, e não será através da literatura igrejista de valor extremamente duvidoso de Chico Xavier e afins, a qual mistura conceitos supostamente plausíveis, mas meramente especulativos, com valores moralistas que transformam a encarnação numa sentença penal.