'O Livro dos Médiuns' serve como crítica a Chico Xavier e companhia


Infelizmente, no Brasil, Espiritismo vive no reino da fantasia. Tornou-se a religião cujos "sacerdotes", os "médiuns", são adorados como se fossem fadas-madrinhas de gente grande. Essa abordagem contagia muita gente, como uma terrível epidemia, e faz com que até as esquerdas, mesmo encarando um conteúdo catolicizado da religião brasileira, acreditem, ingenuamente, que Doutrina Espírita, no Brasil, é a fusão do Espiritismo de Allan Kardec com a Teologia da Libertação católica.

Quanta ilusão! O que entendemos como "espiritismo" - assim, com aspas e inicial minúscula - é, na verdade, uma repaginação do Catolicismo medieval com algumas concessões esotéricas. Nem de longe lembra os postulados originais de Allan Kardec, defendidos apenas da boca para fora por palestrantes e "médiuns" ambiciosos, mas na prática o que se comete são vergonhosos desvios doutrinários que deixariam o pedagogo francês bastante abismado.

Isso, infelizmente, não é de conhecimento dos desinformados "espíritas", que se gabam de serem "esclarecidos" por nada, só porque veem uns memes de Francisco Cândido Xavier e uma hora de algum programa sobre ele na televisão. É notória a preguiça intelectual não-assumida dos seguidores de Chico Xavier, no fundo beatos católicos enrustidos, que apenas têm medo do senta-e-levanta das missas católicas.

É tanta fascinação obsessiva pelos "médiuns" que as pessoas que apoiam Chico Xavier professam a fé cega e não sabem. A fé cega é dissimulada por duas formas: uma pela sua forma eufemista do "olhar do coração", outra é pela ideia confusa da "fé raciocinada", tradução equivocada do termo foi raisonée, porque esta se refere à "fé fundamentada", muito diferente da "fé raciocinada".

A "fé fundamentada" é quando a Fé precisa ser legitimada pela Razão e pela Lógica para ter sentido. É, portanto, uma Fé que não se impõe à Razão. A "fé raciocinada", pelo contrário, é uma Fé que se impõe sobre a Razão, uma Fé que surge pronta e é indiscutível, porque "já foi pensada", a Razão apenas usou seus recursos formais para se submeter às imposições da Fé.

Dito isso, sabemos que a deturpação que atinge o Espiritismo é de total desconhecimento de grande parte dos brasileiros. A imprensa investigativa não colabora, condescendente com a imagem adocicada da religião e seus "sacerdotes-médiuns". Mesmo a mídia alternativa, capaz de investigar aspectos ocultos da própria imprensa hegemônica, é muito tímida nessa empreitada, esbarrando sobretudo na imagem de Chico Xavier, perigosamente sedutora como o mais traiçoeiro canto de sereia.

E aí nos esquecemos que Chico Xavier abriu precedentes para tudo que é desvio doutrinário relacionado ao "espiritismo" brasileiro. Queiram ou não queiram, os crimes de João Teixeira de Faria, o João de Deus, acusado de assédio sexual, porte de armas, enriquecimento ilícito e charlatanismo, e Fernando Ben, acusado de fraudes na suposta psicografia, foram propiciados pelo "bom exemplo" de Chico Xavier, que apoiou fraudes de materialização e produzia livros fake.

É doloroso para muita gente dizer que Chico Xavier foi um farsante. Mas fatos confirmam isso, com provas contundentes. A gente não precisa mostrá-las nesta postagem, e os seguidores mais idiotas do "médium" ficam perguntando "cadê as provas?", ignorando que elas aparecem aos montes na Internet, com argumentos consistentes. O sítio Obras Psicografadas oferece uma série de provas a respeito dessas irregularidades.

Quando é a favor de Chico Xavier, ninguém pede provas. Sua (suposta) caridade? Ninguém cobra que resultados foram feitos, vai alguém falar "ele ajudou milhares de pessoas" e o pessoal vai dormir tranquilo na cama. Ninguém pergunta. Alguns, mais tolos, dizem que "a prova de caridade de Chico Xavier é ele mesmo". Que malandragem, uma árvore ser conhecida por si mesma e não pelos frutos. A "árvore" Chico Xavier serve como sombra e abrigo para a burrice de muitos.

Em muitas passagens, o livro kardeciano intitulado apenas O Livro dos Médiuns, pode ser usado para apontar uma porção de aspectos negativos de Chico Xavier. A obra mostra defeitos que, embora focalizando a relação de um médium com um espírito desencarnado, podem servir para analisar a relação dos seguidores de um suposto médium brasileiro e o próprio "médium".

Há muitos aspectos negativos que O Livro dos Médiuns descreve e que se encaixam nas atividades e na obra de Chico Xavier. Resumimos os principais:

1) Uso de "grandes nomes" (falecidos famosos) para impressionar as pessoas e fazê-las acreditar em mistificação (como o Brasil "dominar o mundo" através do status de "Pátria do Evangelho", uma aberração imperialista e teocrática). Com antecedência, Kardec alertava sob o risco de livros "psicográficos" que trazem coisas "fantásticas" sob os nomes de mortos ilustres, como se vê em livros como Parnaso de Além-Túmulo e muitos outros;

2) Uso de linguagem "empolada" ou "empolgada" (pretensamente erudita) visando o mesmo propósito de causar impressão e impor mistificação. Os falsos sábios se utilizam de linguagem sofisticada para iludir e enganar as pessoas, enquanto os verdadeiros sábios são mais simples e diretos nos seus recados e conselhos.

Neste caso, devemos abrir uns parênteses. A linguagem de Chico Xavier é vista como "simples" por muitos de seus seguidores, o que é um engano. Ela não é simples nem clara nos seus objetivos. Além disso, para que usar 400 e tantos livros se as mensagens consoladoras podem ser resumidas apenas em duas laudas?

As pessoas que apoiam Chico Xavier nem leem os seus livros. Se leem, é de maneira corrida e tomada por transes emotivos que impedem uma compreensão correta. Pescam palavras soltas como "paz", "amor", "fraternidade" e "Jesus Cristo" e se contentam com isso, fingindo entender aquilo que, no fundo, não conseguem entender.

Allan Kardec e mensageiros espirituais como Erasto e São Luís rejeitaram até mesmo a pretensão de "profecia", definindo, claramente, o ato de definir datas fixas para mudanças planetárias como "indício de mistificação", e dá a essa atitude um caráter de baixo nível moral, próprio de espíritos zombeteiros.

Ou seja, com base na Codificação, a "profecia da Data-Limite" seria uma obra de espíritos zombeteiros que se associaram a Chico Xavier por afinidade de sintonia (sim, é isso mesmo). E isso pode ser confirmado, porque Chico falava dessa "profecia" no Pinga-Fogo, em outros depoimentos e em parte de suas obras, inclusive mencionando a chegada de extraterrestres com a missão de "salvar a humanidade". O "movimento espírita", vendo o embuste dessa "profecia", botaram a alegação para abaixo do tapete, e disseram apenas que a "profecia" foi "mal-interpretada". Ficou nisso mesmo.

Há também aspectos delicados que revelam uma divergência extrema entre Kardec e Chico Xavier. A defesa do rigor da Razão - "nada pode ser analisado sem o crivo da Razão" - do pedagogo francês esbarra na reprovação dessa mesma ideia por Xavier, que julgava a Razão "amaldiçoada" e preferia que o "verdadeiro sábio" (sic) é aquele que se cala, que "não julga", "não questiona" e aceita tudo "sem queixumes".

ARGUMENTOS

E o recado kardeciano, presente nessa página, já desqualifica de vez Chico Xavier e Divaldo Franco, não dando a eles qualquer margem de criatividade. Ele chama a atenção até mesmo para o fato deles terem sido associados a espíritos autoritários. Vale reproduzir essa passagem, no item 267, subitem 10:

"10º) Os Espíritos bons jamais dão ordens: não querem impor-se, apenas aconselham e se não forem ouvidos se retiram. Os maus são autoritários, dão ordens, querem ser obedecidos e não se afastam facilmente. Todo Espírito que se impõe trai a sua condição.

São exclusivistas e absolutos nas suas opiniões e pretendem possuir o privilégio da verdade. Exigem a crença cega e nunca apelam para a razão, pois sabem que a razão lhes tiraria a máscara".

No Capítulo 18, Inconvenientes e Perigos da Mediunidade, Kardec chama a atenção pelo fato de que a mediunidade (deve-se entendê-la como intermediação na divulgação de mensagens de mortos para vivos, e não o mero contato com os mortos, que deve ser entendida como paranormalidade) é uma atitude arriscada, embora, em tese, "acessível a todos". Segue o subitem 3 desse capítulo:

"3. O exercício da mediunidade pode ter inconvenientes em si mesmo no tocante às condições de higidez, excluindo-se os casos de abuso?

— Há casos em que é prudente e mesmo necessário abster-se ou pelo menos moderar o uso da mediunidade. Isso depende do estado físico e moral do médium, que geralmente o percebe. Quando ele começa a sentir-se fatigado, deve abster-se".

Prestemos atenção nessa frase final: "Quando ele (médium) começa a sentir-se fatigado, deve abster-se (da mediunidade)". Isso se choca com as recomendações de Emmanuel e Joana de Angelis, em conhecidas passagens das vidas de seus protegidos, que em respectivos momentos mostravam os "médiuns" Chico Xavier e Divaldo Franco bastante exaustos e, no caso de Divaldo, doente. Mesmo nessas condições, eles teriam sido ordenados pelos respectivos mentores espirituais a continuar trabalhando, mesmo nessas condições e em altas horas da noite.

Essa atribuição se choca com dois conselhos de Kardec. Um é a permissão de que a fadiga e a doença podem dispensar um médium (não se está falando de autênticos ou bastardos aqui) de sua tarefa, aconselhando o descanso. Outro é a influência de espíritos autoritários, que a literatura kardeciana, de maneira explícita, define como de baixa qualidade moral, o que derruba qualquer atribuição de sabedoria alegada a Chico e Divaldo, porque seus "mestres" foram justamente espíritos de baixíssima evolução moral.

A supracitada condenação da literatura kardeciana ao "profetismo" de Chico Xavier (corroborado por Divaldo Franco) é descrita no subitem 8:

"8º) Os Espíritos levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer. Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação".

Nota-se que o "movimento espírita" tentou estabelecer datas precisas o tempo todo: 1952, 1957, 1969, 1970, 1985, 1990, 1999, 2000, 2010, 2012 e 2019. Teve que ter jogo de cintura para desmentir tudo isso, alegando que as "previsões" foram "mal-interpretadas", na tentativa de esconder o fracasso de suas pretensas profecias.

Vamos à qualidade textual das obras rebuscadas de Chico Xavier e Divaldo Franco, que parecem terem sido previamente alertadas nos subitens 4 a 9:

"4º) A linguagem dos Espíritos superiores é sempre digna, elevada, nobre, sem qualquer mistura de trivialidade. Eles dizem tudo com simplicidade e modéstia, nunca se vangloriam, não fazem jamais exibição do seu saber nem de sua posição entre os demais. A linguagem dos Espíritos inferiores ou vulgares é sempre algum reflexo das paixões humanas. Toda expressão que revele baixeza, auto-suficiência, arrogância, fanfarronice, mordacidade é sinal característico de inferioridade. E de mistificação, se o Espírito se apresenta com um nome respeitável e venerado.

5º) Não devemos julgar os Espíritos pelo aspecto formal e a correção do seu estilo, mas sondar-lhes o íntimo, analisar suas palavras, pesá-las friamente, maduramente e sem prevenção. Toda falta de lógica, de razão e de prudência não pode deixar dúvida quanto à sua origem, qualquer que seja o nome de que o Espírito se enfeite. (Ver nº 224).

6º) A linguagem dos Espíritos elevados é sempre idêntica, se não quanto à forma, pelo menos quanto à substância. As idéias são as mesmas, sejam quais forem o tempo e o lugar. Podem ser mais ou menos desenvolvidas segundo as circunstâncias, as dificuldades ou facilidade de se comunicar, mas não serão contraditórias. Se duas comunicações com o mesmo nome se contradizem, uma das duas é evidentemente apócrifa. A verdadeira será aquela que nada desminta o caráter conhecido do personagem., Entre duas comunicações assinadas, por exemplo, por São Vicente de Paulo, uma pregando a união e a caridade e outra tendendo a semear a discórdia, não há pessoa sensata que possa enganar-se.

7º) Os Espíritos bons só dizem o que sabem, calando-se ou confessando a sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importar coma verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom senso revela a fraude, se o Espírito se apresenta como esclarecido.

8º) Os Espíritos levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer. Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação.(7)

9º) Os Espíritos superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade. Seu estilo é conciso, sem excluir a poesia das idéias e das expressões, claro, inteligível a todos, não exigindo esforço para a compreensão. Eles possuem a arte de dizer muito em poucas palavras, porque cada palavra tem o seu justo emprego. Os Espíritos inferiores ou pseudo-sábios escondem sob frases empolgadas o vazio das idéias. Sua linguagem é freqüentemente pretensiosa, ridícula ou ainda obscura, a pretexto de parecer profunda".

Entendemos, a partir desse trecho, que os livros de Chico Xavier e Divaldo Franco contém os vícios mencionados. Não precisamos mencionar aqui, porque seria cansativo, afinal, há uma série de amostras em todos os livros e depoimentos. Linguagem pretensiosa, ridícula, obscura, pretensamente profunda, feita para provocar a "masturbação pelos olhos" da comoção fácil, do ato de chorar rebaixado a um entretenimento, a uma diversão barata de pessoas que, sem saber, acabam se divertindo com o sofrimento dos outros.

E isso é apenas uma pequena demonstração de como Chico Xavier e companhia (de Divaldo Franco aos Fernando Ben da vida) deturparam o Espiritismo e cometeram erros graves que só mesmo a complacência religiosa de pessoas dissimuladas - que professam "fé cega" sob o verniz da falsa Razão - deixa passar. Daí que o Brasil tornou-se um dos países mais ignorantes do mundo, com o agravante de que os ignorantes querem impor suas convicções como se fosse "a visão mais objetiva da realidade". Dá pena ver pessoas assim.