Os "acampamentos" midiáticos dos adeptos de Chico Xavier

LIVRO SOBRE CHICO XAVIER QUE COMPILA MATÉRIAS DA REVISTA SUPERINTERESSANTE, REDUTO DE "ISENTÕES ESPÍRITAS".
Os adeptos de Francisco Cândido Xavier se dividem em dois principais grupos, pelo critério relacionado à forma com que o "médium" é encarado na sua apreciação. São grupos cujo nível de fanatismo parece bastante diferente, mas não é, apenas se tratando de um fanatismo que pode ser explícito ou dissimulado, conforme as conveniências de cada grupo.
O primeiro grupo dos chiquistas é o dos deslumbrados, que não conseguem esconder seu entusiasmo acima da média e que definem Chico Xavier como um semi-deus, como um potencial milagreiro, como um acertado profeta e como um colecionador das mais fantásticas virtudes. Por eles, Chico Xavier alcançou o céu e obteve a mesma "superioridade" que oficialmente atribui-se a Jesus Cristo.
Esse grupo exerceu maior influência nos anos 1970, quando Chico Xavier teve seu mito reciclado por uma narrativa inspirada em Malcolm Muggeridge, que havia feito um documentário para endeusar Madre Teresa de Calcutá - muito comparada, no Brasil, ao próprio Chico - , Algo Bonito Para Deus (Something Beautiful For God), de 1969.
Já o segundo grupo prefere usar um verniz de racionalidade. São os chamados "isentões espíritas", que podem ou não ser vinculados institucionalmente ao "espiritismo" brasileiro. Se autoproclamam "racionais" e dotados de "imparcialidade e objetividade", mas não compartilham do rigor da Lógica e da Razão de Allan Kardec, preferindo obter o "meio-termo" entre o Espiritismo original e a forma deturpada feita no Brasil.
Esse segundo grupo é o que tem maior apetite em escrever mensagens na Internet. Neste sentido, os "isentões espíritas" se equiparam aos bolsomínions, internautas fanáticos por Jair Bolsonaro. Querem sempre a posse da palavra final, adoram questionar mas não aceitam serem questionados, e só eles é que são os "imparciais" e os "objetivos". O próprio Kardec já alertou sobre esses pretensos "monopolizadores do bom-senso" em sua obra.
REDE GLOBO ACOLHE CHIQUISTAS MAIS EXALTADOS; ABRIL E FOLHA ACOLHEM CHIQUISTAS MAIS "OBJETIVOS"
Notamos que os dois grupos possuem seus "acampamentos" midiáticos, ou seja, redutos relacionados a determinados grupos de Comunicação. É verdade que nenhum deles é progressista, assim como mesmo os chiquistas "progressistas" também vieram de algum desses "acampamentos".
Normalmente, quando esquerdistas manifestam seu apreço a Chico Xavier, eles se baseiam em paradigmas trazidos pela Rede Globo de Televisão, que traz apelos mais emotivos e fazem uma imagem mais "glorificada" do "médium".
No entanto, a Rede Globo de Televisão, até por trabalhar com dramaturgia, também acolhe os chiquistas mais emotivos e escancaradamente deslumbrados, por conta de paradigmas que envolvem aspectos religiosos e uma visão institucional da "caridade", como uma mera obrigação igrejeira, na qual os "benfeitores" fazem muito pouco, mas obtém um grande protagonismo e promoção pessoal com isso.
Dessa forma, a Rede Globo e, de carona, a mídia popularesca concorrente, como o SBT e a Rede TV! e, em certos contextos, a TV Bandeirantes - e, no passado, a TV Tupi e a Rede Record, antes desta virar "evangélica", e a Manchete, em eventuais aventuras místico-religiosas - , e a imprensa de celebridades, como Contigo, Amiga e derivadas.
Já os chiquistas mais "objetivos", pretensamente "racionais", têm reduto concentrado na Folha de São Paulo e nas publicações do Grupo Abril, como a revista Superinteressante. Seus pontos de vista são bem próximos dos desenvolvidos pelos acadêmicos Alexandre Caroli-Rocha, Marcelo Caixeta, Alexander Moreira-Almeida e outros.
Esses chiquistas, alguns se declarando "não-espíritas", até "admitem erros" na "psicografia" de Chico Xavier e dizem "reconhecer erros lamentáveis" em sua obra. Mas, embora digam isso com certo alarde, não se preocupam em dizer que erros são ou, se dizem, os relativizam de tal maneira que acabam demonstrando mais resignação do que indignação com os mesmos.
Eles abraçam publicações como a Folha de São Paulo, a Superinteressante e a Isto É pela abordagem sobre Chico Xavier que julgam ser "técnica" e "imparcial". Os "isentões espíritas", preocupados com seu verniz de intelectual - nada muito diferente dos "intelectuais de Facebook", com muito aparato intelectual, mas baixo conteúdo de objetividade - , tentam ser "racionais", embora sempre mostrem aversão ao rigor da Razão recomendado por Kardec, que julgam ser "radical e excessivo".
A Folha de São Paulo é preferida dos "isentões espíritas" porque, desde os anos 90, o jornal abraçou um aparato de racionalidade, cujos paradigmas propiciaram a vitória eleitoral do sociólogo Fernando Henrique Cardoso para a Presidência da República. O Projeto Folha, de Otávio Frias Filho, tornou-se crucial no desenvolvimento desse verniz de racionalidade que formou as opiniões de uma sociedade reacionária e "dona da verdade" na qual se inserem os "isentões espíritas".
Já a Superinteressante é uma revista dedicada a tratar "cientificamente" ou "jornalisticamente" assuntos pitorescos, dentro de uma narrativa que também agrada os "isentões espíritas", que sempre estão preocupados em passar uma imagem de pretensos imparciais.
Dessa maneira, os "isentões espíritas" encontram na Superinteressante um reduto no qual eles podem exercer seu simulacro de questionamentos lógicos, tratando a "polêmica" como um aparato discursivo para tentar desmentir que eles sejam tão fanáticos quanto os chiquistas tradicionais. É uma forma dos "isentões" usarem a falácia de que "admiram Chico Xavier pelas suas qualidades, não pelos seus defeitos".
Essas duas faces da mesma moeda chiquista mostram que Chico Xavier é um grande produto do poder midiático, e tanto os mais emotivos quanto os pretensamente racionais se esforçam para blindar esse mito, apenas se diferindo da forma com que fazem isso.