Trecho de Evangelho de Mateus desqualifica "mediunidade" de Chico Xavier



Como o Evangelho, o Novo Testamento, pode desqualificar um ídolo religioso como Francisco Cândido Xavier? Simples. É porque o Cristianismo primitivo, representado pelas ideias originais trazidas por Jesus de Nazaré, estabelecem subsídios para entendermos o quanto Jesus, a exemplo do que vemos também nas ideias de Allan Kardec, defendem o rigor da Lógica e da coerência, em detrimento dos devaneios abusivos da fé cega e da mistificação.

Dizer que Chico Xavier sempre foi um mistificador machuca muita gente, tamanho o clima de fascinação obsessiva que o deturpador do Espiritismo pôde provocar nas pessoas. A imagem de Chico Xavier, convertido em uma "fada madrinha do mundo real", numa perspectiva de "contos de fadas para adultos" a que se reduziu o rótulo do Espiritismo no Brasil, trouxe sentimentos obsessivos bastante perigosos, não fora da "seara espírita", mas dentro e bem dentro dela.

A "mediunidade" de Chico Xavier se compara à atuação jurídica de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, assim como a "caridade" do "bondoso médium" se equipara à suposta filantropia de Luciano Huck. Mas como mitos trazem uma adoração cega - que contagia até os "isentões espíritas", apesar de suas concessões "realistas" na adoração ao "médium" - , a cegueira emotiva provoca um transe perigoso no qual a menor contrariedade traz uma reação de rispidez e até de rancor.

Pois é essa emotividade cega que desfaz o mito de que Chico Xavier traz energias elevadas a seus seguidores. Suas energias psíquicas são muito baixas, elas apenas apresentam uma aparência de "luminosidade", "alegria" e até de um "êxtase religioso" - como a "masturbação pelos olhos" da comoção transformada em entretenimento - , como as drogas ilícitas e os remédios de tarja preta produzem sensações igualmente agradáveis.

PARÁBOLA DA SEMENTE

Um trecho do Evangelho de Mateus, no Novo Testamento, no Capítulo 13, traz subsídios valiosos para entender como não há sentido em dar qualquer consideração à "mediunidade" de Chico Xavier, que apresenta uma infinidade de irregularidades, tão preocupantes e com provas de fraudes diversas, que o próprio Allan Kardec também havia alertado, várias vezes, em sua obra: a rejeição de tudo que escapar do âmbito da lógica e da Razão.

Tomados de fascinação obsessiva, os adeptos de Chico Xavier renegam o rigor da Razão, que consideram amaldiçoada. Querendo zelar por dogmas religiosos, não têm coragem de legitimar, com firmeza e argumentos convincentes, o que apresenta dúvidas em termos de coerência e lógica. Apelam para um "deixa pra lá" dissimulado pela retórica "intelectual", alegando que apenas certos aspectos "escapam da percepção humana" e deixam ficar nisso mesmo.

Pois os versículos do evangelista Mateus que correspondem à compreensão humana, reproduzidos aqui com a famosa Parábola da Semente, podem nos ensinar por que não podemos acreditar na "psicografia" de Chico Xavier, uma vez que o Brasil está numa situação pior do que a do Velho Mundo em termos de compreensão da paranormalidade.

Assim como não é um aluno do jardim de infância que irá remediar os erros de um professor de pós-graduação, o Brasil não tem condições de remediar os problemas da paranormalidade que ainda soam enigmáticos na Europa e EUA. A recomendação "Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!" é certeira, porque não será um cego que irá substituir um guia que contraiu uma doença nos olhos.

Devemos lembrar, só a título de metáfora, que Chico Xavier não foi totalmente cego, sofrendo apenas da cegueira de um dos olhos. Mas isso é um outro assunto. O que não se pode admitir é essa mitologia que envolve Chico Xavier em seu jogo de contrastes, como o "cego que mais viu a grandeza de Deus" ou "o ignorante que mais sabedoria trouxe para as pessoas", alegações de exagerado apelo emocional e que mais trazem a cegueira emotiva do que a luz da razão.

Vejamos então o que Mateus tem a nos dizer e depois continuaremos a análise:

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Mateus Capítulo 13, Versículos 1 a 23

1 Naquele mesmo dia Jesus saiu de casa e assentou-se à beira-mar.

2 Reuniu-se ao seu redor uma multidão tão grande que ele teve que entrar num barco e assentar-se nele, enquanto todo o povo ficou na praia.

3 Então lhes falou muitas coisas por parábolas, dizendo: "O semeador saiu a semear.

4 Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do caminho, e as aves vieram e a comeram.

5 Parte dela caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; e logo brotou, porque a terra não era profunda.

6 Mas quando saiu o sol, as plantas se queimaram e secaram, porque não tinham raiz.

7 Outra parte caiu entre espinhos, que cresceram e sufocaram as plantas.

8 Outra ainda caiu em boa terra, deu boa colheita, a cem, sessenta e trinta por um.

9 Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça! "

10 Os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram: "Por que falas ao povo por parábolas? "

11 Ele respondeu: "A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles não.

12 A quem tem será dado, e este terá em grande quantidade. De quem não tem, até o que tem lhe será tirado.

13 Por essa razão eu lhes falo por parábolas: ‘Porque vendo, eles não vêem e, ouvindo, não ouvem nem entendem’.

14 Neles se cumpre a profecia de Isaías: ‘Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão.

15 Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os curaria’.

16 Mas, felizes são os olhos de vocês, porque vêem; e os ouvidos de vocês, porque ouvem.

17 Pois eu lhes digo a verdade: Muitos profetas e justos desejaram ver o que vocês estão vendo, mas não viram, e ouvir o que vocês estão ouvindo, mas não ouviram.

18 "Portanto, ouçam o que significa a parábola do semeador:

19 Quando alguém ouve a mensagem do Reino e não a entende, o Maligno vem e lhe arranca o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho.

20 Quanto ao que foi semeado em terreno pedregoso, este é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria.

21 Todavia, visto que não tem raiz em si mesmo, permanece por pouco tempo. Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona.

22 Quanto ao que foi semeado entre os espinhos, este é aquele que ouve a palavra, mas a preocupação desta vida e o engano das riquezas a sufocam, tornando-a infrutífera.

23 E, finalmente, o que foi semeado em boa terra: este é aquele que ouve a palavra e a entende, e dá uma colheita de cem, sessenta e trinta por um".

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Notemos que o Brasil não consegue compreender bem a questão da paranormalidade, uma semente que encontra quase sempre um terreno pedregoso, quando o fenômeno do sobrenatural se encontra intelectualmente estéril, preso num terreno da especulação que permite a atuação irregular de "aventureiros" como Chico Xavier e sua prática cheia de profundos e preocupantes equívocos.

Quando surgem pesquisas sérias sobre paranormalidade - e elas não necessariamente são feitas para legitimar a obra de Chico Xavier - , é como uma semente entre espinhos que, quando cresce, é por eles sufocada e termina. A comunicação entre vivos e mortos se paralisa na mistificação e nas mensagens padronizadas que parecem, invariavelmente, trazer uma mesma propaganda religiosa.

Os EUA mal acabavam de desmascarar as fraudes trazidas pelos ex-aliados e depois desafetos P. T. Barnum (Phineas Taylor Barnum), empresário que trabalhava em ilusionismo produzindo supostos fenômenos sobrenaturais em um museu, e William Mumler, fotógrafo que supostamente registrava aparências de espíritos, mas que na verdade inseriu como "fantasmas" efeitos de desfocalização de imagem que envolveu até personalidades ainda vivas na época.

Como o Brasil, que é atrasado em tudo, irá fornecer respostas à paranormalidade da qual os estadunidenses não conseguiam identificar? Predestinação divina? Tenham paciência! A lógica é de que o Brasil ainda está muito despreparado para encarar fenômenos mediúnicos de verdade, e praticamente a comunicação entre vivos e mortos, no nosso país, é uma profunda e grande raridade, uma exceção das mais raras, comparável ao de alguém acertando na loteria.

E por que podemos afirmar isso? Simples. As obras "mediúnicas" produzidas, até mesmo antes de Chico Xavier mas intensificadas, depois, sob sua influência e seu exemplo, simplesmente são irregulares. Embora muitos protestem a respeito da alegação de fraudes, é pertinente, sim, afirmar que tais obras não se sustentam porque apresentam problemas graves aqui e ali, seja em aspectos pessoais ligados ao suposto morto, o propagandismo religioso extremado, os choques de contexto etc.

São tantas irregularidades que este blog as enumera em diferentes postagens. E é algo tão terrivelmente complexo que as pessoas preferem ser ignorantes, burras e estupidamente crédulas do que questionar o mito de Chico Xavier, que lhes traz o perigoso sentimento da paixão religiosa e da fascinação obsessiva (um tipo perigoso de obsessão, que domina os instintos de uma pessoa, mas mantendo um aparato de lucidez). Preferem a treva da Fé e sua falsa luminosidade (uma "luz" que cega as pessoas) do que o desagradável farol do esclarecimento.

Kardec sempre recomendou que, se há alguma coisa que, numa mensagem "espírita", se chocar com a lógica e com a Razão, recomenda-se a rejeição severa e rigorosa. Devemos admitir que, no Brasil, o Espiritismo está associado a recomendações contrárias às de Erasto, que preferia a rejeição de dez verdades do que a aceitação de uma única mentira. No Brasil, se pratica exatamente o inverso.

E é isso que Mateus mostra. A cegueira das pessoas que dizem ver e se acham "esclarecidas" por Chico Xavier, mas que na verdade são reféns de um obscurantismo terrível, de um moralismo retrógrado e reacionário que seus beatos dizem ser "progressista". A cegueira emocional mostra o quanto o Brasil está atrasado em tudo, apesar de suas poucas proezas.

A paranormalidade, a comunicação entre vivos e mortos, as pesquisas para saber como realmente é a vida espiritual, foram prejudicadas pela mistificação e mitificação de Chico Xavier, um sujeito que, arrivista, apoiava até fraudes de materialização, mas tornou-se um mito pairando entre o "semi-deus" explícito, para seus beatos mais escancarados, e o "homem simples, imperfeito, mas admirável", pela falácia falsamente imparcial dos "isentões espíritas". Como diz o ditado, o pior cego é aquele que se recusa a ver e abrir mão de seus dogmas obscurantistas.