Brasil não está preparado para a paranormalidade, daí as suspeitas contra Chico Xavier

ADULTOS E IDOSOS VEEM EM CHICO XAVIER UMA ESPÉCIE DE "FADA-MADRINHA" PARA GENTE GRANDE.
Quanto se trata do mito de Francisco Cândido Xavier, as pessoas são tomadas de uma cegueira emotiva muito pior do que as crianças. Estas, aliás, conseguem deixar de acreditar, com facilidade, que Papai Noel não existe, que coelhos não põem ovos e que fadas-madrinhas não são mais do que fantasias de ficção.
Numa época em que as crianças conseguem lidar com a questão da morte melhor do que os adultos - que passaram a ter medo de aceitar, estranhamente, as mortes de assassinos, sobretudo quando eles são feminicidas, ricos e de boa aparência (mas que descuidam da saúde e sofrem desequilíbrios emocionais que afetam o organismo) - , é surreal, também, que Chico Xavier não consiga ter seu mito questionado justamente por adultos e idosos, que se presume serem dotados de experiência, maturidade e sabedoria.
O Brasil está numa situação de atraso social tão grande que são justamente os adultos que são tomados de teimosia cega, a ponto de sofrer problemas psicológicos diante da simples hipótese de abandonar suas crenças mais fantasiosas. Entram em pânico, e não raro mesmo aqueles que tentam "negociar" com a realidade para ela aceitar suas convicções pessoais - é o conhecido fenômeno dos "intelectuais de Internet" - sofrem o trauma de verem suas ilusões serem derrubadas uma a uma.
O que muitos criticam, fora da "bolha" das redes sociais, é que os brasileiros estão acostumados e desesperadamente apegados a um sistema de valores que fazia sentido há 40 anos atrás, embora até nessa época ele soasse antiquado e bastante datado. Os brasileiros se apegam a paradigmas tão velhos que nosso país parece, no padrão de senso comum e inconsciente coletivo, como uma mistura do Império Romano nos tempos de Jesus Cristo e do Império Bizantino do período medieval.
Trata-se de um padrão medíocre de vida humana e de sociedade no Brasil, que só tinha sua razão de ser - se é que tinha alguma - nos tempos do general Ernesto Geisel. Segundo se comenta fora dos quintais da grande mídia e das redes sociais, foi no governo Geisel que o Brasil atingiu um patamar considerado "ideal" pela maioria dos brasileiros, um suposto equilíbrio do Brasil não ser "pior nem melhor", não ter "muito nem pouco" e manter suas cotas de prejuízos para "dar graça à vida".
É uma espécie de perspectiva pragmática, na qual as pessoas deixam de pedir muito, vivem com sua cota de fantasias para adoçar a realidade e, por isso mesmo, a religiosidade encontra nesse cenário um terreno propício para tirar as pessoas do caminho seguro da lógica e das verdadeiras ações humanas para melhoria de vida e combate às injustiças e desigualdades diversas.
PARA QUESTIONAR CHICO XAVIER, EXIGEM UM "RIGOR DA LÓGICA" QUE TEM RIGOR DEMAIS E LÓGICA DE MENOS
A invalidação de Chico Xavier como psicógrafo é algo que tem que ser aceito. É preocupante que, contra Chico Xavier, seus partidários, uns enrustidos na sua blindagem tenham a desesperada obsessão de obter a posse da verdade, através de uma roupagem pseudo-intelectual.
Essa parcela de seguidores de Chico Xavier se acha "isenta" e "imparcial", recusando seus membros a se consideraram "sectários" ao "médium" ou mesmo "espíritas", na tentativa de forjar algum distanciamento intelectual que fizesse suas falácias parecerem convincentes. Eles se comportam exatamente como os sofistas criticados por Sócrates e os falsos sábios, por Jesus.
Quando é a favor de Chico Xavier, não há provas. Sua "psicografia" é impunemente publicada, até de maneira gratuita, e a usurpação dos mortos é permitida quando leva o crédito do "médium", ou seja, se pode usar o nome de um morto da maneira que quiser, com a única condição de apresentar uma mensagem de propaganda religiosa.
Tudo se deixa "em aberto" e usar um morto da moda vira uma questão de "liberdade de fé", pouco importando a individualidade da pessoa, a necessidade dela ser preservada de qualquer uso alheio não-autorizado, tudo é feito com uma permissividade preocupante.
Só que o estilo pessoal do suposto morto apresenta problemas graves, distorções de estilo e de aspectos pessoais que deveriam ser questionados e apontam que a "psicografia" de Chico Xavier deveria ser invalidada e rejeitada. Até O Livro dos Médiuns oferece subsídios para rejeitar a obra "psicográfica" de Chico Xavier, por ela apresentar problemas sérios, como o uso de nomes ilustres para impressionar o público incauto e impor mistificação (como a suposta predestinação do Brasil para dominar o mundo, através do mito da "Pátria do Evangelho").
As pessoas ficaram acostumadas a dar credibilidade a Chico Xavier, mas elas foram manipuladas mentalmente, como se tivessem tido um processo hipnótico que envolveu gerações diversas. Fabricou-se um consenso em favor de Chico Xavier de tal forma que, para aceitá-lo, não é necessário provas nem argumentos lógicos, mas, para contestar sua obra, se exige um rigor de métodos complicados de análise e questionamento.
Os seguidores de Chico Xavier, agindo assim, cobrando somente quando é contra o seu mito, vai contra as recomendações originais trazidas pelo Espiritismo francês, que disse que é necessário avaliar as coisas pelo rigor da lógica, pela avaliação crítica, muitas vezes manifesta pelo senso crítico direto, pela observação simples e pelos argumentos lógicos e severos, mas acessíveis.
Não dá para questionar Chico Xavier pelo crivo de fórmulas matemáticas e pela avaliação extremamente complicada que o público seja privado de compreensão fácil. É uma loucura que os "isentões espíritas" fazem e que o vacilante acadêmico Alexandre Caroli Rocha prega: um suposto "rigor da lógica" que tem rigor demais e lógica de menos.
TÃO ATRASADO, BRASIL NÃO TEM CONDIÇÕES PLENAS DE ENTENDER A PARANORMALIDADE
O Brasil não tem condições plenas de entender a paranormalidade. Entendemos que a "psicografia" de Chico Xavier não tem validade e é considerada uma farsa, por observarmos que há muitas estranhezas em suas obras, fáceis de serem identificadas por uma leitura simples, bastando ter apenas um senso observador bastante aguçado.
Diferente do "bicho de sete cabeças" que o padrão Caroli Rocha de questionamento pressupõe, nosso questionamento envolve o confronto de diversos aspectos como o estilo de linguagem, as mensagens lidas, a trajetória pessoal do autor falecido alegado, os confrontos de sua obra original, publicada em vida, e a obra "mediúnica", entre outros problemas.
Não podemos exigir métodos complicados, ao ver Auta de Souza, por exemplo, autora que em vida tinha um estilo tão caraterístico pela linguagem ao mesmo tempo feminina e juvenil, tenha esse estilo "desaparecido" e substituído pelo estilo pessoal de Chico Xavier, como, segundo comentários irônicos dos críticos do "médium", os poemas "espirituais" sob o nome da potiguar passassem a ter até o cheiro dos velhos paletós do "médium".
Vamos comparar os estilos da Auta de Souza original, que mostram o caráter meigo, melancólico e sensível de seus versos, e a suposta psicografia, que claramente demonstra o estilo pessoal de Chico Xavier, tão conhecido em seus depoimentos pessoais. A constatação é chocante, apenas pela comparação textual, para desespero de Alexandre Caroli Rocha e dos "isentões espíritas". A constatação não depende de fórmulas matemáticas, mas de amplo conhecimento de literatura.
O BEIJA-FLOR
Auta de Souza - 1896 - Publicado no livro Horto
Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim – a pátria da ambrosia.
Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro...
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, nessa manhã tão fria!
Um dia foi-se e não voltou... Mas quando
A suspirar me ponho, contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho...
Digo, a pensar no tempo já passado:
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!
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PENSA
Atribuído a Auta de Souza - Divulgado por Chico Xavier, em 31.07.1954
Antes de maldizer a própria sorte,
Pensa nos tristes de alma consumida,
Que vagueiam nas lágrimas da vida,
Sem migalha de amor que os reconforte.
Que a retaguarda escura nos exorte!
Contemplemos a noite indefinida
Dos que seguem sem pão e sem guarida
Entre a dor e a aflição, a treva e a morte!
Pensa e traze aos que choram no caminho
A fatia de luz do teu carinho,
Pelas mãos da bondade, terna e boa...
E encontrarás no pranto da amargura
A fonte cristalina que te apura
E a Presença do Céu que te abençoa.
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São tantas irregularidades que não dá para os partidários de Chico Xavier vestirem a máscara de "imparciais" para defendê-lo de acusações de fraudes e da invalidação de sua obra "psicográfica". E é inútil que se blinde Chico Xavier nesse sentido, usando artifícios do tipo "e olha que não sou espírita" ou "até admito alguns erros de sua psicografia", só para dar verniz de objetividade, artifício próprio dos hipócritas que se servem de falácias para impor seus pontos de vista duvidosos.
O Brasil está muito atrasado e a questão da paranormalidade já é um enigma no Velho Mundo. Não é o Brasil, como uma criança no Jardim de Infância da História da Humanidade, que oferecerá respostas para a questão da paranormalidade e legitimar, mesmo com falhas grosseiras, a obra de Chico Xavier, apenas pelo pretexto das "mensagens agradáveis" que só a hipocrisia humana define como "esclarecedoras" e "conscientizantes".
Se os EUA e a Europa passaram por eventos fraudulentos, como a onda das "tábuas Ouija" e o "circo pitoresco" de Phineas Taylor Barnum, por que o Brasil teria um caminho mais seguro no setor? Isso é como recorrer a um bebê do maternal para resolver os problemas de ensino na pós-graduação universitária.
Se o Velho Mundo ainda engatinha, tentando entender a comunicação entre vivos e mortos, por que temos que aceitar como "passível de autenticidade" um livro como Parnaso de Além-Túmulo, que começou estranho, repercutiu de forma estranha e apresenta muitas estranhezas arrepiantes, indo desde a suspeita inclusão, de "uma só vez", de vários nomes da nossa literatura, num primeiro livro que sofreu estranhíssimos reparos editoriais.
A coisa é tão grave que as revelações foram trazidas, mesmo por acidente, por pessoas solidárias a Chico Xavier, como Suely Caldas Schubert, que sem querer publicou uma carta do "médium" a Antônio Wantuil de Freitas, praticamente confessando que entregou a tarefa de editores da FEB fazerem as revisões dos originais. Embora Chico Xavier mencionava "amigos espirituais", tudo indica que esse teria sido um termo combinado com Wantuil para trocar correspondências que, possivelmente, passariam por outras mãos.
O Brasil está mergulhado numa grande confusão, e compreende errado o Espiritismo, além de endeusar uma figura como Chico Xavier, que de humilde e simples só tinha a aparência, tendo sido ele um arrivista que alcançou um estrelato religioso, se utilizando do perigoso artifício do "bombardeio de amor" para enganar as pessoas, enquanto usava os nomes dos mortos para transmitir mistificação e dar aparato universal às opiniões reacionárias do "médium". Os brasileiros viraram reféns da obsessão mistificadora de Chico Xavier.