"Isentões espíritas" rebaixam Chico Xavier de "semi-deus" a "homem imperfeito e humilde"
Os chamados "isentões espíritas" são uma espécie de "bolsomínions da fé cristã". Não chegam necessariamente ao ponto de saírem do armário e irem para as passeatas dominicais patrocinadas por empresas como a catarinense Havan, mas têm o mesmo apetite de impor a "sua verdade".
Eles chegam ao ponto de renegar até a essência do pensamento de Allan Kardec, acusando-o de "overdose de ciência". Só extraem dele o que lhe interessam, como aspectos religiosos ou algum conceito genérico de lógica e bom senso - claro, isso interessa ao pseudo-intelectualismo desses "isentões" - e com a arrogância dos "isentões" alegarem "serem fiéis a Kardec".
Mas os "isentões" não são espíritas autênticos. Usam todo o verniz intelectual nas mensagens digitais, publicadas em fóruns, redes sociais ou até mesmo em blogs. Escrevem como quem fala grosso, cobram demais dos interlocutores, procuram argumentar em favor de suas teses, mesmo caindo em contradições e omissões profundas.
Se houvesse apenas o simples fato de discordar desse ou daquele ponto de vista, tudo bem. Mas o problema é que os "isentões espíritas" querem subtrair o debate, desqualificando questões, passando pano nos problemas discutidos, apesar da retórica da concessão, na qual eles são forçados a admitir, pelo menos no discurso, problemas e imperfeições relacionados àquilo que defendem.
No caso de Francisco Cândido Xavier, eles mais blindam ele do que Kardec. Isso confirma o que a Codificação havia descrito, com muita antecedência, sobre os "monopolizadores do bom senso" que são a parcela de seguidores "isentos" e até "não-sectários" de Chico Xavier, sempre preocupados em mostrar um verniz de "imparcialidade" e "objetividade" para seus pontos de vista nada imparciais (eles blindam o "médium") e nada objetivos (os argumentos são subjetivistas).
Há um "clube" de "isentões" nos quais existem "acampamentos" midiáticos como a Folha de São Paulo, a Superinteressante e "abrigos" acadêmicos como a Universidade Federal de Juiz de Fora. Há também a adesão de "não-espíritas" que encontram nesse contexto uma boa oportunidade para bancarem os pretensos intelectuais, um consolo para suas frustrações em torno dessa qualidade.
Sim, porque os intelectuais frustrados que se fazem de "isentões" na Internet, não só os "espíritas" mas também de outros tipos, mostram o quanto tem gente puxando para trás, fazendo sempre aquela "retórica da concessão": "é certo que tal fenômeno está cheio de coisas erradas, mas não creio que ele deva ser discutido ou questionado da forma que está sendo; acho melhor deixar tudo como está, com todas as suas imperfeições".
Dessa forma, a "retórica da concessão" tenta blindar o fenômeno tirando dele o "peso" de sua imagem divinizada ou glorificada. Para salvá-lo da ruína, tiram o fenômeno das nuvens e o põem no chão. Para evitar sectarismo e parcialidade, admitem erros e defeitos. Se julgam não serem "necessariamente" adeptos de tal fenômeno. E dizem que "não gostam" de alguns aspectos do fenômeno que defendem, desculpa feita para tornar a "imparcialidade" ainda mais convincente.
CHICO XAVIER "DE VOLTA À TERRA"
A retórica "imparcial" dessa parcela de seguidores de Chico Xavier, que agora se sobrepõe à outra parcela - que apreciava o "médium" de maneira mais glorificada - , teve que fazer uma grande "concessão" em relação ao que os beatos acreditam a respeito do "médium".
Sabe-se que os mais beatos creem que Chico Xavier encerrou a reencarnação e alcançou o "reino dos puros", havendo inclusive uma narrativa na qual o "médium", na chamada "pátria espiritual", estava abraçando seus amigos e parentes até que Jesus Cristo lhe chamou para povoar o "reino de Deus" e Chico teria sido sugado por uma força magnética, como poeira por um aspirador de pó.
Os "isentões espíritas", contrariando essa atribuição, na prática "chamaram" Chico Xavier para ele voltar à Terra, cancelando sua inclusão no "reino dos puros". Dessa maneira, da atribuição de "semi-deus" e "espírito de luz" trazida pelos beatos, os "isentões" rebaixaram Chico Xavier a atribuições aparentemente chãs de "homem simples, imperfeito e apenas generoso".
Esse rebaixamento não deixa de ser risível, porque é uma concessão desesperada de quem, de uma forma ou outra, quer blindar Chico Xavier, um grande vendedor de livros e um fenômeno midiático com forte apelo sensacionalista, como uma subcelebridade religiosa que, se estivesse em evidência hoje em dia, "lacraria" a Internet.
Temos que prestar atenção à ideia de que ninguém festejaria com entusiasmo extremo se a venda dos livros fosse realmente em favor dos pobrezinhos. Se Chico Xavier é blindado e o motivo é a venda dos seus livros, é porque muito "peixe grande" que protegeu o "médium" em vida se enriqueceu muito, e Chico, desde que virou ídolo religioso, deixou de ser humilde e passou a ser sustentado como se fosse um membro da realeza britânica.
Não é da natureza humana isso, por mais que os "isentões espíritas" tentem alegar que "existe, sim, gente que se empolga demais com a fortuna entregue aos pobrezinhos", o que é um contrassenso. Quem se alegra com a doação de dinheiro aos pobres não é um eufórico festejante, mas alguém que apenas tem uma satisfação emocional discreta, uma alegria que geralmente guarda consigo mesmo e com seus amigos, até para evitar vaidades em torno da realização desse ato.
Chico Xavier não foi tão humilde assim como muitos pensam. Os "isentões" podem ter tirado Chico Xavier do pedestal, mas montam um altar para ele. A "humildade" foi mais um artifício motivado pela aparência, caipira na juventude, frágil na velhice, um estereótipo sustentado por uma série de paradigmas religiosos plantados aqui e ali, e sobretudo durante a ditadura militar e sob a ajuda da Rede Globo que, juntas, usaram o "médium" como "cortina de fumaça" para evitar a derrubada do regime militar, nos anos 1970.
Mas não deixa de ser curioso o rebaixamento. É como se cancelassem o passaporte para o Céu que foi concedido a Chico Xavier em 2002. E isso mostra o caráter ridículo dos "isentões espíritas", que não são menos beatos do que os beatos que tratam o "médium" como um "semi-deus", eles apenas diferem porque são dissimulados.
E a dissimulação é caraterística em nosso país, com pessoas cometendo erros que, depois, se recusam relutantemente em admitir, a não ser quando veem nos simulacros de "imparcialidade" e "autocrítica" uma maneira de promoção pessoal, de "ficar bem na fita" com o aparente reconhecimento de imperfeições, erros etc, dentro daquele mito preconceituoso do "gente como a gente". E depois essas pessoas não gostam quando falamos que elas ajudaram a eleger Jair Bolsonaro presidente do Brasil.