O Saber enérgico não pode. Mas a Desonestidade "cristã", pode?


FRASE DE ISAAC ASIMOV, FAMOSO ESCRITOR E CIENTISTA DO SÉCULO XX.

Os brasileiros são tão desinformados das coisas que ignoram a divergência mortal que separa o Espiritismo francês do brasileiro. Allan Kardec recomendava o rigor da lógica, o exame cauteloso e bastante apurado, para considerar as coisas apenas sob o crivo da razão, e duvidar de coisas que demonstrem teses hesitantes e aspectos duvidosos que comprometam qualquer chance de autenticidade.

Em contrapartida, vemos que o "bondoso médium" Francisco Cândido Xavier defendeu o extremo oposto. Para ele, o "rigor da razão" era "perigoso e ameaçador". O senso crítico, para ele, era "julgamento perverso e movido por paixões humanas bastante traiçoeiras", e Chico Xavier achava melhor ficar na Fé e acreditar em dogmas religiosos, sem precisar recorrer aos processos racionais para testar sua validade ou invalidade.

São divergências com provas consistentes. O pensamento kardeciano se comprova em seus livros e na coleção da Revista Espírita. Em O Livro dos Médiuns e O Evangelho Segundo o Espiritismo, há muitas passagens nas quais o pedagogo francês recomenda sempre o rigor da Lógica, e chega a ser direto quanto à rejeição de coisas que vão contra a Razão e o Bom Senso. O que não puder ser explicado pela Lógica, é simplesmente reprovado.

Quanto a Chico Xavier, em vários livros e depoimentos ele reprova o senso crítico, rejeita o raciocínio apurativo, tem medo do debate, não tolera questionamentos. Quem contesta demais a vida é o "queixoso". Chico Xavier chegou a ridicularizar quem não gostava de servir de "capacho do Destino", ou seja, de "brinquedo humano" das adversidades cotidianas.

Usando da Síndrome da Projeção - recurso psicológico de uma pessoa atribuir seus próprios defeitos a outrem - , o medieval Chico Xavier atribuiu o senso crítico apurado como "inquisições" e "julgamentos perversos", amaldiçoando o Saber que, só na teoria, o "médium" fingia apoiar.

DESONESTIDADE

Enquanto isso, observamos, à luz da Razão e seguindo justamente os métodos de Allan Kardec descritos em O Livro dos Médiuns, que as "psicografias" de Chico Xavier são irregulares. Tentamos analisar a chance de validade de Parnaso de Além-Túmulo e o livro esbarra em uma série de incoerências e absurdos. O mesmo com Humberto de Campos, Meimei etc.

Diante de tamanhas inconsistências, de pontos duvidosos graves e preocupantes, temos que admitir que a "psicografia" de Chico Xavier, considerado, equivocadamente, o "médium mais respeitado do mundo" - até porque, para o resto do mundo, Chico Xavier é absolutamente desprezível - , é, na verdade, DESONESTA.

O Brasil, de maneira ainda pior do que o mundo desenvolvido, não entende as questões que envolvem a paranormalidade. Não nos preparamos para esse fenômeno, e a Lógica da realidade nos diz que toda novidade surge quando há pessoas preparadas para isso. Se não estamos preparados para receber atividades paranormais, por que, de repente, veio Chico Xavier e o Brasil passou a ser considerado um "paraíso da paranormalidade"?

De repente, surgem "médiuns" a cada esquina, uns prometendo "psicografar" o parente daquela vizinha da esquina, outros prometendo "receber" o espírito de alguma celebridade prometendo a "paz entre os povos". Uma atividade que, embora em tese acessível - através da frase genérica e vaga "somos todos médiuns" - , requer muito cuidado, preparo e concentração, de repente passou a ter uma frequência muito, muito estranha.

Qualquer um passou a usar o nome de um morto para vários fins. Um é para transmitir uma posição preconceituosa ou reacionária que pode pegar mal e, aí, dizer que não foi o "médium" que escreveu, mas foi o "espírito" que disse etc.

Um exemplo. Se de repente tiver mensagem atribuída ao espírito de Marisa Letícia Lula da Silva, ex-primeira-dama, pedindo para que seu marido, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, permanecesse preso porque sua soltura iria provocar o ódio e a violência entre "irmãos", o "médium" lava suas mãos, se esta postura entra em contradição com o que ela teria defendido, se fosse viva, que é ver Lula fora da prisão e de volta para casa.

É graças a essa ação desonesta, à qual nenhum fundamento seguro garante veracidade nas "psicografias" de pessoa alguma, nem mesmo dos "tarimbados" Chico Xavier e Divaldo Franco, que qualquer "médium" pode pensar o que quiser e sair ventilando qualquer coisa, que não será sequer responsabilizado, pois a opinião pessoal é colocada na conta do "espírito", ou de algum "obsessor".

As esquerdas ingênuas e mesmo as esquerdas com relativo esclarecimento - ou mesmo as esquerdas críticas das esquerdas, como a turma semiótica do Cinegnose - caem em armadilhas fáceis, quando coçam a cabeça diante da informação de que Chico Xavier e Divaldo Franco sempre foram reacionários.

Iludidos pelas concessões do pensamento desejoso - essa "simpática", porém, perigosa, mania de manipular o entendimento da realidade conforme a vontade pessoal de alguém - , os esquerdistas ainda perguntam se Chico Xavier, ao defender a ditadura militar e o AI-5 e condenar os movimentos sociais, e Divaldo Franco, ao defender a Operação Lava Jato e condenar o PT, o marxismo e as causas LGBTQ, estiveram obsediados.

Que as pessoas de centro-direita possam até acreditar, tolamente, que as posições reacionárias de Chico Xavier e Divaldo Franco são frutos de influências de eventuais obsessores espirituais, é uma incoerência, mas bastante compreensível no seu contexto.

O que não se compreende é ver esquerdistas nervosos e tresloucados, escrevendo artigos nervosos na Internet, renegando a realidade de que Chico Xavier sempre foi um reacionário dos mais convictos e, para desespero das esquerdas, o mais grave deles.

Se pessoas menos verossímeis para serem reacionários, como os compositores Toquinho, Djavan e Cláudia Telles (filha de Sylvia Telles, famosa cantora de Bossa Nova), além de atletas olímpicos e astros de TV, apoiaram Jair Bolsonaro na sua campanha de 2018, por que os seguidores de Chico Xavier se esperneiam nas redes sociais só de supor que o "médium" teria apoiado o ex-capitão (título que não exerceu, sendo uma promoção para sua aposentadoria por motivo disciplinar).

Fatores diversos, com argumentação fortemente consistente, comprovam que Chico Xavier, que em vida se declarou radicalmente anti-petista (bem antes de quase todo mundo sair do armário com seu ódio ao Partido dos Trabalhadores, o PT), teria apoiado Jair Bolsonaro em 2018. Muitas explicações confirmam a probabilidade desta postura.

Pensamos. Sílvio Santos era um camelô e sua habilidade comunicativa conquistou o povo pobre. Ele apoia Jair Bolsonaro. Regina Duarte, a graciosa "namoradinha do Brasil", fez personagens empoderadas na TV dos anos 1980. Ela apoia Jair Bolsonaro. Pelé, negro, ex-craque esportivo, símbolo de um ufanismo fervoroso, também manifestou apoio a Bolsonaro.

Como Chico Xavier, com seus trajes cafonas, sua peruca brega, seus óculos escuros retrógrados e seu boné antiquado, escrevendo e falando ideias que parecem vir de algum reduto medieval do interior do Brasil (e vinham, da Pedro Leopoldo da primeira metade do século XX, mas ainda saudoso do século XIX), iria romper com essa tendência? Nem em sonhos!

Chico Xavier tem aspectos sombrios no seu legado, na biografia deixada para nós, e devemos admitir isso, sem relativismos baratos. Ele não foi um "reacionário que depois aprendeu e mudou", porque seu reacionarismo acompanhou-o por toda a vida, assim como sua carreira de obras literárias desonestas e uma caridade fajuta na qual não era ele que praticava, mas os seus seguidores é que faziam das suas - dentro dos limites medíocres do Assistencialismo - e ele se promovia às custas dos donativos alheios.

Sua obra é desonesta, porque, nas "psicografias", há aspectos muito estranhos que põem em xeque, ou mesmo xeque-mate, qualquer chance de autenticidade, e que nenhuma fundamentação lógica consegue permitir qualquer validade nos livros e mensagens lançados por Chico Xavier. Não há contexto algum que permita e as relativizações que tentam permitir soam inseguras e vagas.

Além do mais, sua "caridade" foi fajuta, e ainda explicaremos melhor isso, por ela ser atribuída por alegações vagas e também sem fundamentação. E elas se tornam desonestas na medida em que Chico Xavier obteve promoção pessoal às custas de um Assistencialismo já medíocre praticado por terceiros, e tentava desmentir que queria se promover e obter vantagem pessoal com isso. Outra desonestidade.

Isso é muito, muito grave. Afinal, Chico Xavier falava, até com suspeitíssima ênfase - ele condenava o senso crítico e a investigação visando "salvar sua pele" diante de inquéritos na Justiça - , do uso do Saber para fins desumanos, o que, eventualmente, é pertinente, mas não da forma como o "médium" dizia, porque, se basearmos no que Chico Xavier pensava, até os ensinamentos de Allan Kardec seriam "amaldiçoados", porque eles apelam para o rigor da Razão que o "médium" sempre rejeitou.

Mas se o Saber a serviço do mal tem que ser combatido, por outro lado vamos dar valor à Desonestidade que é supostamente a serviço do Cristo? Pode-se passar por alguém morto, escrever uma mensagem qualquer da própria mente do "médium' e botar tudo no crédito de um nome falecido do momento, e dizer que tudo é "para o conforto dos mais necessitados"? Desonestidade "cristã" é tão ruim quanto o Saber pervertido, com o agravante de que as piores ações humanas se tornam ainda piores quando se escondem sob a marquise da "fé religiosa".