Brasileiros podem ser prejudicados com o apego a Chico Xavier
Péssimo momento para os brasileiros se apegarem a Francisco Cândido Xavier, um mistificador da pior espécie, um arrivista do tipo mais traiçoeiro e um obsessor simbólico que faz as pessoas preferirem a perdição a terem que abrir mão da idolatria fanática ao "médium".
Toda vez que há uma série de acontecimentos catastróficos, os brasileiros, já inclinados a um "terraplanismo", acabam mencionando a suposta e discutível "profecia da data limite", que se tornou o único gancho de Chico Xavier atrair seguidores e renovar a cegueira emotiva de seus adeptos e simpatizantes, mesmo aqueles que se dizem "isentos" e "não-espíritas".
Ultimamente, há ocorrências como a pandemia mundial do coronavírus, que transmite a Covid-19, doença que causa parada respiratória se não tratada a tempo, o anúncio da vinda de um meteoro (previsto para o dia 29 próximo) e a recente explosão do vulcão Krakatoa, na Indonésia.
O lamentável fanatismo em torno de Chico Xavier e, por associação, de Divaldo Franco (que já se apressou a anunciar uma "nova data limite" para 2057) é extremamente preocupante. A figura de Chico Xavier traz azar para as pessoas, sempre espalhando a morte sobre as famílias daqueles que persistem na adoração ao suposto "médium".
Poucos percebem que Chico Xavier teve uma trajetória semelhante à de Jair Bolsonaro, na construção dos meios arrivistas de promoção e ascensão pessoal. São contextos diferentes, mas as semelhanças surpreendem, seja a forma com que Xavier e Bolsonaro incomodaram a sociedade, seja pelas acusações de cada um de serem portadores de problemas mentais.
MUITOS SE HORRORIZAM COM AS COMPARAÇÕES ENTRE JAIR BOLSONARO E CHICO XAVIER, MAS AMBOS SE ASSEMELHAM NA FORMA DE COMO SE ASCENDERAM SOCIALMENTE.
As pessoas se revoltam quando se fala, aliás, que Chico Xavier e Jair Bolsonaro são semelhantes. Ambos os "mitos" tiveram uma mesma forma de se ascender socialmente, primeiro provocando escândalos através de atos criminosos - promover literatura fake usando os nomes de autores mortos e criar um plano de atentados em quartéis do Exército - e, depois, se vendendo como "salvadores da humanidade".
Nas redes sociais, onde há uma enorme legião de seguidores de Olavo de Carvalho e de teorias terraplanistas, a "profecia da data-limite" não pode estar fora desse contexto. E a imagem de "bondoso" de Chico Xavier é, com a mesma proporção de falta de provas relacionada à figura do ex-presidente Lula, hostilizado nas redes sociais, nunca passou de uma retórica fabricada na ditadura militar para promover uma perigosa e incurável obsessão religiosa.
Outro dado a pensar é o perigo com que o apego doentio a Chico Xavier e sua desnecessária "profecia" pode causar em seus seguidores, num Brasil em que as pessoas parecem sucumbir ao masoquismo de optar ora pelo fanatismo religioso, ora pela desobediência às recomendações da saúde.
O SANGUINÁRIO PASTOR JIM JONES TAMBÉM USOU MOTIVOS SEMELHANTES À DATA-LIMITE DE CHICO XAVIER PARA PROMOVER O MASSACRE E O SUICÍDIO DE SEUS FIÉIS. JONES TAMBÉM PROMOVIA FALSA CARIDADE E JÁ CONHECEU A MESMA BELO HORIZONTE ONDE CHICO XAVIER ATUOU CONSTANTEMENTE COMO RELIGIOSO.
Em primeiro lugar, porque a literatura espírita original, de maneira explícita, condena práticas como a "profecia da data-limite" e, ainda mais, a idolatria em torno de um falso profeta, no caso Chico Xavier. A obra O Livro dos Médiuns é bastante clara na rejeição a esse tipo de predição, como se observa o Capítulo 24 - Identidade dos Espíritos, item 267, subitem 8º:
8º) Os Espíritos levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer. Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação.
Isso corresponde justamente ao que Chico Xavier fez, em parte de sua obra, em seus depoimentos no Pinga Fogo da TV Tupi e em outras eventualidades - como a conversa com Geraldo Lemos Neto, em 1969 - , algo que causou um efeito nefasto, promovendo de sensacionalismo à fascinação religiosa, e tão mais perigoso e traiçoeiro é quando o suposto "profeta" usa isso para causar medo na população e forçá-la a se submeter ao jugo desse "profeta" que é visto como um "ídolo religioso".
Muitos se sentem ofendidos quando se compara Chico Xavier - associado a uma suposta imagem de "bondoso" e "iluminado" - a nomes deploráveis como Olavo de Carvalho, Jair Bolsonaro ou mesmo figuras macabras como o pastor estadunidense Jim Jones, que, curiosamente, usava um visual cafona não muito diferente do "médium" e já viveu na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, Estado que sofreu pesados infortúnios - desastres de Mariana e Brumadinho - , já foi reduto de intensos feminicídios e agora descumpre ordens médicas ao suspender a quarentena contra o coronavírus.
Jim Jones é conhecido pelo massacre em Jonestown, EUA, que incluiu assassinatos e suicídios, em 18 de novembro de 1978. Mas ele também era famoso pela falsa modéstia - morou durante um tempo numa modesta casa na capital mineira - e também realizou trabalhos assistenciais com crianças pobres, dentro dos limites que se conhece como Assistencialismo, a "caridade" que faz muito pouco ou quase nada para os necessitados e faz demais para o "benfeitor", que obtém protagonismo e promoção pessoal.
O que poucos sabem é que o Massacre de Jonestown também foi motivado por um motivo muito semelhante ao da "data-limite" de Chico Xavier. Jonestown era uma comunidade agrícola e Jim Jones a chamava de Templo do Povo. Teorias conspiratórias de que os EUA estavam promovendo "perseguição ao Templo do Povo" fizeram Jim Jones criar um plano de suicídio coletivo "revolucionário", sob a desculpa de mandar os fiéis para um "mundo melhor".Mais de 900 pessoas morreram, entre envenenados, assassinados e vítimas de suicídio, inclusive o próprio Jones.
Jones tinha acusações que variavam de sequestro de crianças e desobediência à cobrança de impostos que os EUA queriam determinar ao Templo, coisas com gravidade semelhante às que o "médium" goiano João de Deus teve desde 1972, desde porte ilegal de armas, enriquecimento ilícito, charlatanismo, exercício ilegal de medicina, assédio sexual e estupro.
Outro detalhe chama a atenção. Em 1993, quando começaram a serem denunciados esses crimes, o "médium" goiano, nascido João Teixeira de Faria, recebeu uma blindagem de Chico Xavier, que, visando abafar os crimes do pupilo (sim, João de Deus esteve vinculado ao "movimento espírita" através do apadrinhamento de Chico Xavier, a quem o jovem trabalhou durante anos), arrumou uma "casa assistencial" para ele, a hoje conhecida Casa Dom Inácio de Loyola.
Chico Xavier também está associado a práticas de fraudes de materialização, ao uso leviano de nomes famosos - como Humberto de Campos - para iludir o público e sua trajetória arrivista envolveu até suspeitas de "queima de arquivo", depois que o sobrinho Amauri Xavier teve uma morte suspeita, em 1961, após denunciar o tio e ser vítima de uma campanha difamatória e acusações, movidas justamente pelos "espíritas" que dizem não realizar sua prática.
PÉSSIMA IDEIA EM SE LEMBRAR DE CHICO XAVIER
Chico Xavier está associado, também, a uma maldição na qual seus seguidores, depois que manifestam devoção ao "médium", veem seus entes queridos mais valiosos morrerem de repente. Nomes como as atrizes Ana Rosa e Nair Bello, o diretor Augusto César Vannucci, o desenhista Maurício de Souza e o cantor Roberto Carlos perderam entes queridos prematuramente depois de manifestarem devoção ao "médium".
Além disso, as maldições de Chico Xavier, cuja formação social é ultraconservadora e, ideologicamente, alinhada à direita - conforme provam os depoimentos de Chico Xavier em favor da ditadura e o prêmio da Escola Superior de Guerra pela colaboração do "médium" em favor do regime dos generais - , derrubaram dois presidentes de perfil progressista, Juscelino Kubitschek e Dilma Rousseff.
Foi Juscelino Kubitschek, então presidente do Brasil em 1960, premiar Chico Xavier e a "Federação Espírita Brasileira", esta promovida a "instituição de utilidade pública", para as adversidades surgirem do nada. Mesmo rompendo com João Goulart, em 1964, Kubitschek teve o mandato de senador cassado, seu movimento de redemocratização, Frente Ampla, formado com o ex-desafeto Carlos Lacerda, foi extinto no momento de seu crescimento.
JK não foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras - a mesma que teve Humberto de Campos como membro e, dizem, era o "sonho de consumo" de alguns dirigentes da FEB, que não coneguiram realizar tais objetivos - , e, além disso, morreu vítima de um estranho acidente de carro em 1976.
Dilma Rousseff recebeu um livro de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, em 2011, e com isso atraiu energias negativas que fizeram, cinco anos depois, ela perder o mandato e não ter condições para reverter a sua situação, mesmo sob o cumprimento rigoroso das leis.
Em compensação, quem ganhou todas é a seletividade da Justiça, simbolizada por nomes como Carmen Lúcia, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, por sinal abençoados pelas "boas energias" de Chico Xavier, em gratidão à impunidade oferecida pelo juiz suplente carioca João Frederico Mourão Russell, que cancelou o processo dos herdeiros de Humberto de Campos em 1944, abrindo o caminho para o Brasil virar o paraíso da literatura fake.
Por afinidade de sintonias, em contrapartida Fernando Collor - que recebeu Chico Xavier em sua campanha eleitoral - e Jair Bolsonaro, pela trajetória arrivista, foram mais protegidos pelas "boas energias" do "médium" mineiro. Jair Bolsonaro só comete escândalos e nada o faz sair do poder. Dizem que Chico Xavier virou um "protetor espiritual operacional" do ex-capitão. As afinidades sobre a forma de ascensão pessoal de cada um dizem muito.
"PERDÃO" PARA O CORONAVÍRUS, QUE É "NOSSO IRMÃO"
A histeria religiosa, econômica e social que faz as pessoas aderirem ao misticismo obscurantista, a reagir contra a quarentena e a pedir a reabertura total e despudorada do comércio - sem o escrúpulo de prevenir aglomerações humanas, por exemplo - podem fazer do Brasil um epicentro da Covid-19 ainda mais trágico que os EUA, pela imprudência e intransigência dessas pessoas.
A perigosa fascinação obsessiva por Chico Xavier, que faz com que muitos façam "poemas de amor" a ele nas redes sociais e outros, de maneira arrogante, apelem para o triunfalismo cego ("ele enfrentará espinhos e pedras, mas vencerá"), pode trazer más energias para seus adeptos, que se tornarão ainda mas vulneráveis ao coronavírus.
Diz até uma piada que as pessoas são convidadas pelas "boas energias" de Chico Xavier para "perdoar" o coronavírus e vê-lo como "irmão". "Todos unidos pelo coronavírus", "todos de mãos dadas com a Covid-19". Há quem arrisque a dizer: "Se Maria de Magdala esteve ao lado de leprosos contraindo a doença, porque não podemos ficar junto a quem tem coronavírus?".
Embora mais dissimulado que as seitas "neopentecostais", que fizeram um desesperado Silas Malafaia pedir que suas igrejas permaneçam abertas, o "espiritismo" brasileiro não é muito diferente em seu conservadorismo. Ele consegue disfarçar, adotando posturas ponderadas, progressistas e avançadas seja por estratégia, seja por oportunismo ou outro motivo tendencioso, mas no fundo é tão ultraconservador quanto seus "irmãos neopentecostais", dos quais se afinam pela ascensão durante a ditadura militar, com as devidas diferenças de contexto.
A imprudência mística dos brasileiros, que tiveram a leviandade de falar na "data-limite" de Chico Xavier, pode atrair para si o coronavírus. A crença, cega e fanática, a um deturpador do Espiritismo, fará as pessoas se envolverem num transe obsessivo emocional que pode fazê-los contrair, sem querer, a Covid-19.
Em todo caso, a imprudência dos brasileiros tende a fazer o Brasil um dos palcos mais intensos da tragédia do coronavírus, superando Itália e Espanha - que se esforçam para combater o coronavírus - e os EUA, que atingiram um número de quase 19 mil mortos na última sexta-feira.
A tragédia brasileira poderá ser a mais intensa do mundo, cobrando um preço muito caro para apegos doentios e visões obscurantistas e medievais que ainda prevalecem, mesmo na aparente modernidade das redes sociais, que fizeram muitos brasileiros transformarem arrivistas como Chico Xavier em "semi-deus" e Jair Bolsonaro em presidente da República, movidos pelas mesmas fantasias retrógradas dignas de quem ainda vive no século XII.