Chico Xavier era mais ambicioso do que muitos podem imaginar
NÃO HAVIA A NECESSIDADE DE 400 E TANTOS LIVROS. SE ELES FORAM PRODUZIDOS, É PORQUE HAVIA UMA AMBIÇÃO ESTRANHA POR TRÁS...
Oficialmente, o "médium" que em suas obras assume o nome de Francisco Cândido Xavier é considerado "símbolo maior de humildade", supostamente vivendo apenas pelos pobres e tendo renunciado à riqueza e aos bens materiais, abrindo mão dos lucros de seus livros.
Só que isso é uma grande mentira. E, além disso, Chico Xavier não morreu pobre. O que ele fazia é como os membros da realeza britânica, como a Rainha Elizabeth II, fazem, que é não tocar em dinheiro, mas ser sustentado, de maneira bastante confortável, por terceiros. A "Federação Espírita Brasileira" recebia o dinheiro, mas ela sustentava o "médium" como se fosse um popstar, apesar de, também, usar um artifício de falsa simplicidade para sugerir suposta pobreza.
Chico Xavier nem fez caridade. A "caridade" dele é semelhante a de Luciano Huck: nada saiu de seu bolso. Afinal, se Chico Xavier não usava dinheiro, também não era ele que doava. O que ele fez foi o que qualquer subcelebridade, esportista fanfarrão e músico canastrão popularesco faz nos seus lives nas redes sociais: pedir aos outros que ajudem, quando o próprio não ajuda, mas se promove em cima das doações dos outros.
Prestemos atenção. O que Chico Xavier fez foi isso: pedir aos outros que doassem o que tinham de obsoleto e colocassem nos "centros espíritas" do "médium", que depois promoveria caravanas "do amor" ou "da caridade" que não passavam de rituais espalhafatosos, ostentando uma "filantropia" que, sabemos, nem é tão eficiente assim e não merece tamanhas louvações.
O que muitos não sabem é que o discurso do "voto de pobreza" de Chico Xavier era uma galhofa ao que se conhece da trajetória do ativista da Judeia, Jesus de Nazaré, que, este sim, renunciou a privilégios. Muitos ignoram, mas Jesus rejeitava e condenava, em seu tempo, mistificadores religiosos (os "escribas", os "falsos profetas" e os "falsos sábios") cujas práticas não eram diferentes das de Chico Xavier, com uma soberba disfarçada de humildade.
Allan Kardec também fazia alertas sobre os "inimigos internos" que a Doutrina dos Espíritos tinha em frente. Os piores inimigos do Espiritismo não estavam fora dele, mas dentro, usando de artifícios como usar mensagens pomposas, sob o nome de ilustres famosos falecidos e com todo o apelo discursivo de aparente amorosidade e consolação, para seduzir as pessoas e submetê-las ao jugo dos supostos médiuns, convertidos a mensageiros traiçoeiros e maliciosos.
É só ler O Livro dos Médiuns e concluir: Allan Kardec já reprovou Chico Xavier, Divaldo Franco, José Medrado, João de Deus, Zé Arigó, Robson Pinheiro, Nelson Moraes e o que vier de gente usando os mortos para iludir as pessoas, num Brasil onde o tema da paranormalidade é um mistério, um enigma, enquanto o povo brasileiro não tem condições para assimilar e compreender a comunicabilidade com os mortos.
Num país em que os brasileiros não têm consciência sequer para saber quem eles são, num país em que não se tem concentração para ler um livro ou ouvir um disco, como esperar que as pessoas possam entrar em contato com os mortos, se os próprios brasileiros vivos não entram em contato sequer com eles mesmos? Por exemplo, de que adianta um homem cometer feminicídio, eliminando sua esposa, quando devia ter parado para pensar e ver que ela nunca foi o amor de sua vida!
A gente vê nas redes sociais pessoas escrevendo besteira e apagando depois, quando é tarde demais e as bobagens escritas já foram "printadas" (ou seja, copiadas pelo "Print Screen" do teclado do computador" ou do celular) e espalhadas por um número considerável de pessoas. O impulsivo de plantão se arrepende da bobagem que escreveu, agindo sem saber, mas aí ele já repercutiu mal com a atrocidade escrita e que ele só apagou na última hora.
Como esperar a autenticidade de supostas "psicografias", que claramente mostram problemas em aspectos pessoais relacionados ao suposto autor morto, a ponto de fazer com que o lobby de editores de livros comandado pela FEB impedisse que a obra original de Humberto de Campos fosse relançada e disponível inteiramente ao público comum (aquele que lê, por exemplo, de livros de auto-ajuda a diários de youtubers), para não desmascarar as "psicografias".
Essas obras "mediúnicas", mesmo vindas de gente como Chico Xavier e Divaldo Franco, são tão farsantes que nem seus defensores têm coragem de supor autenticidade. Preferem deixar a coisa em "aberto", como vemos na atitude covarde do acadêmico Alexandre Caroli Rocha, que prefere usar a obra do suposto espírito "Humberto de Campos" para brincar de Matemática usando desnecessários cálculos silábicos.
Daí que se apela para um recurso que acaba piorando as coisas: sem medir escrúpulos para desonrar a memória dos mortos, os "espíritas" cometem a atrocidade de dar "liberdade de crença" às supostas "psicografias", como se fosse possível poder acreditar ou não em sua legitimidade, dentro daquele apelo do "acredita quem quiser". Só que não se pode acreditar como quiser nessa situação, porque isso é deixar a memória de um falecido diante de atos irresponsáveis de libertinagem e usurpação.
Um morto não é uma personalidade fictícia que pode ser usada a bel prazer. Também ele não pode ser propriedade de pessoas específicas, como se fosse um boneco ventríloquo. E a usurpação dos nomes dos mortos a partir de Chico Xavier abriu um precedente ruim, uma péssima escola de "mediunidade" que criou uma verdadeira farra de mensagens fake supostamente espirituais e pretensamente espiritualistas.
RIQUEZAS NO ALÉM
As pessoas falam tanto do "exemplo de humildade" de Chico Xavier que não percebem que isso foi um artifício para ocultar seus aspectos sombrios. É verdade que um dos erros de José Herculano Pires foi blindar Chico Xavier, quando ele também personificou o que o tradutor da obra kardeciana definiu, sobre Divaldo Franco, a respeito de sua pretensa caridade (representada sobretudo pela Mansão do Caminho):
"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".
Chico Xavier também teve suas condutas negativas e condenáveis, podendo ser adaptado o texto do jornalista espírita se ele tivesse falando do "médium" mineiro:
"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como escritor, com usurpação de nomes dos mortos e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e prevenido; conduta reprovável de apoiador de falsas materializações, de pretenso profetizador do futuro e de outras atividades feitas para causar impressão e temor na multidão desinformada; conduta condenável no terreno da caridade, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".
A "humildade" de Chico Xavier se utiliza de uma retórica na qual se defende a renúncia até ao que é necessário, praticamente se contentando com uma sub-vida, o que derruba qualquer tese de que o "médium" era uma figura progressista, uma vez que ele defendia pautas humanas não muito diferentes das defendidas por Eduardo Cunha, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Como a servidão a um patrão abusivo e a perda de encargos salariais (sob o pretexto de "desapego material").
Só que essa retórica se justificava sob a desculpa de que "na vida espiritual tudo será melhor", como se ela tivesse as mesmas caraterísticas do mundo material, algo que não há uma hipótese que sustentasse de maneira objetiva e fundamentada.
Mesmo assim, o "espiritismo" brasileiro insiste em dizer que se deve renunciar às riquezas na Terra para que se obtenha as "riquezas do além". Feita de forma especulativa, essa fantasia pressupõe que há tesouros no céu, o que faz com que os devotos religiosos tenham também seu lado de ambição doentia e ganância.
É uma ganância diferente, e até mais hipócrita e dissimulada, uma vez que, quando um religioso sente raiva, se ele não a demonstra claramente - embora isso fosse muito comum de acontecer - , o faz de forma velada, fingindo mansidão (os "espíritas" falam em "mansuetude", pois gostam desta palavra), o que o faz esconder seu ódio, seu rancor, sua fúria, através de uma falsa calma, uma falsa tranquilidade, manifesta por uma fala dócil igualmente falsa.
As pessoas chegam a desejar as mortes dos entes queridos, a querer passar por desgraças inúmeras, a sentir inveja por quem está bem, invertendo a classificação de "infelizes" para aqueles que não vivem desgraças profundas, e tudo isso ocorre sem uma postura verbalmente declarada e nem mesmo de maneira consciente.
Tudo isso é feito, sem saber e até com pessoas tentando desmentir isso em vão, visando a utopia de um "mundo espiritual" concebido sem fundamentação, sem base científica, sem argumentos lógicos. E essa utopia dos "tesouros do céu" é que faz com que Chico Xavier se torne um ambicioso, pois ele se diz dissociado dos "tesouros da Terra" (apesar das mordomias que recebia de seus cuidadores) e afirmava querer receber os "tesouros da Terra".
Isso fez muita gente ficar iludida, e seguir essa ganância astral que não é menos cruel nem leviana que a ganância pelas riquezas terrenas. O caráter não-material das "riquezas do além" não significa que haja expectativas mais humildes e menos egoístas, muito pelo contrário.
A ganância se torna maior porque é como se as riquezas materiais que não estão aqui estão em outro lugar. Simbolicamente, a vida na Terra é "aqui", "este lugar", enquanto o suposto mundo espiritual é "outro lugar", como se fosse uma outra cidade. E isso faz com que transfiramos a ganância humana, sob o âmbito da religião "espírita", para "riquezas" que "não estão aqui".
É mais ou menos como um cidadão do interior do Pará pensar nas riquezas que irá ter ao se mudar para São Paulo. É a mesma coisa. A presunção de que haverá "riquezas melhores" no além-túmulo não faz as pessoas ficarem mais dignas nem evoluídas. E não adianta fazer carteirada com os defeitos humanos, coisas do tipo "todo mundo erra" e "somos sempre imperfeitos".
Diante disso, Chico Xavier foi um ambicioso, com o agravante de que ele queria obter, no "céu", a "luminosidade plena". Ele se promoveu fazendo literatura fake que revoltou intelectuais sérios e, de arrivismo em arrivismo, queria ser reconhecido, pelas paixões religiosas da Terra, como "espírito de luz", através de um sem-número de mentiras.
Chico Xavier mostra, assim, a sua verdadeira pobreza: a sua miséria moral, o seu caráter moralmente deplorável, um micróbio moral que queria conquistar o "céu" usando sofredores e mortos como sua "escadaria".
Os cidadãos mais dignos não queriam mais do que um modesto progresso humano, e no entanto são forçados a enfrentar infortúnios sem controle - ainda mais sob o fardo de aguentarem a culpabilização das vítimas do julgamento de valor da "moral espírita" - que os impedem de viver com um mínimo de dignidade.
Enquanto isso, Chico Xavier fez literatura farsante, inseriu ideias medievais sob o rótulo do Espiritismo e, no entanto, reclamou para si o reconhecimento devotado e fanático de seus seguidores, iludidos com a propaganda que se fez por sua pessoa. E isso o faz um verdadeiro desgraçado, alguém que sempre buscou promoção pessoal e privilégios simbólicos usando a religiosidade para ludibriar multidões.