Fraudes de Chico Xavier incluem de falso testemunho à depreciação da memória dos mortos
Por sorte, a burrice tornou-se socialmente aceitável no Brasil. Pessoas escrevem, dizem e fazem besteiras, expressam sua estupidez e ignorância aos fatos, arriscam um pedantismo que só faz passar vergonha, mas tudo isso se deixa para lá. "Todo mundo erra", todo mundo passa pano nos próprios erros porque estes são vistos como coisas banais.
Dito isso, somente a burrice humana permite a mínima adoração a Francisco Cândido Xavier, que pode oscilar entre exageros (|tratar o "médium" como se fosse um semi-deus) e dissimulações (a tal atribuição de "homem imperfeito e endividado", como que numa "carteirada por baixo").
A trajetória do "bondoso médium", que hoje sobrevive através de uma narrativa domesticada de aspectos meramente agradáveis, praticamente um "conto de fadas" sobre a vida real, esconde aspectos bastante sombrios da vida de Chico Xavier, que numa sociedade menos atrasada seria conhecido não como um "espírito de luz", mas como um "espírito do umbral".
Com toda certeza, Chico Xavier é o maior espírito obsessor do Brasil. As pessoas ficam obsediadas, sentem o que se define, através da Codificação, como "fascinação obsessiva", um tipo considerado perigoso de sentimento obsessivo, marcada por uma submissão emotiva a ideias ou símbolos (inclusive personalidades) associados falsamente a coisas sublimes.
A obsessão é tão grave que deixa as pessoas desnorteadas, e não é difícil entender por que, numa discussão entre adeptos de Chico Xavier e seus opositores, são os adeptos os mais furiosos, irritadiços e desequilibrados, mesmo aqueles que evitam avançar na discussão ou aqueles que adotam uma postura aparentemente mansa de responder aos interlocutores.
Isso porque, no primeiro caso, os adeptos de Chico Xavier que evitam avançar na discussão apenas mordem sua língua, mas no interior estão bastante furiosos com a discordância alheia. E os que adoçam seus lábios com mel, simulando a fala angelical ao dizer, através da Projeção psicológica (ato de atribuir aos outros os defeitos da própria pessoa), que "o irmão está ficando alterado". Alterado está o chiquista, cujo mel nos lábios não consegue esconder perigosos venenos no coração.
Não há uma atitude de Chico Xavier que possa ser respaldada pelo crivo da Lógica e do Bom Senso. Mas o que é Lógica e Bom Senso num Brasil em que pessoas acolhem fake news, duvidando até da Covid-19, a misteriosa doença que mata sem dar aviso, e da qual o isolamento social é, por enquanto, o único remédio preventivo?
O que é Lógica e Bom Senso para uma sociedade que enxerga o mundo através do seu próprio umbigo, talvez criando a doutrina do Umbigocentrismo, em que o Universo gira em torno dos interesses subjetivos de um indivíduo? Chega-se ao ponto de pessoas argumentarem demais o que não faz sentido, bancando os "filósofos de redes sociais", incluindo os "isentões" que rejeitam o senso crítico por achá-lo "opinativo demais" e põem suas opiniões equivocadas, só porque apresentam o grau de neutralidade, como "visões corretas e objetivas".
Observando o caso das revisões editoriais, que Ana Lorym Soares, na obra O livro como missão: A publicação de textos psicografados no Brasil dos anos 1940 a 1960, é assustador que a autora tenha ignorado a gravidade da coisa. Aquilo que ela narrou não foi um "esforço saudável" para tornar as "psicografias" apresentáveis em livro. Aquilo era um plano de fraudes dos mais preocupantes!
Allan Kardec selecionava as mensagens dos espíritos, mas ele não se atreveu a alterar os textos. Mas os seus supostos discípulos brasileiros alteraram os textos supostamente espirituais que já carregavam sérias dúvidas sobre tal atribuição, pois as mensagens dos "espíritos" não estão a altura do que os alegados autores deixaram em vida. Das caligrafias aos estilos de mensagem, há sérios problemas que encontram provas que trariam decepção a quem não se torna escravo de suas fantasias.
Só que o Brasil é um país em que as pessoas não sabem sequer quem elas são e o que querem na vida. Com esse defeito, fica complicado explicar por que um Humberto de Campos da vida real e um suposto espírito do autor maranhense apresentam sérias disparidades de estilo nas obras apresentadas.
A obsessão por Chico Xavier é uma doença psicológica que faz as pessoas fugirem de textos realistas. Nem se ressurgisse Jesus Cristo para avisar "Chico Xavier é um falso cristo" as pessoas aceitam. Este blog, por exemplo, é um dos menos lidos porque apresenta a verdade dos fatos, em vez de reproduzir a imagem do "médium" como uma "fada-madrinha do mundo real".
As pessoas, agindo assim, fugindo de revelações que lhes são dolorosas, em nome da manutenção da adoração ao "bom velhinho", elas mesmas escondem sua hipocrisia. Os chiquistas desprezam os velhos de sua família, ignoram seus conselhos, tem chiquista jogando sua sogra no primeiro asilo qualquer nota, como se fosse um lixo em saco plástico jogado na rua.
E quem adora Chico Xavier por causa do "amor aos pobres", enquanto, ao ver um morador de rua, fala sozinho pelos cantos "Vá trabalhar, seu vagabundo", como se desejasse dizer aquilo ao pedinte que viu há poucos segundos? Ah, quantos entulhos mentais têm os seguidores de Chico Xavier, tão preocupados em endeusar um sujeito que deturpou o Espiritismo, realizou obras literárias fake e apoiou abertamente a ditadura militar e o AI-5.
Chico Xavier, só no caso das fraudes literárias - Ana Lorym, pelo menos, ofereceu subsídios para entendermos que o "médium" não realizou fraudes sozinho e a "sofisticação literária" vinha por conta de uma equipe de dirigentes da FEB - , cometeu graves delitos, não bastasse o crime de falsidade ideológica que, segundo o Código Penal, prevê de um a três anos de reclusão, com multa.
Os delitos envolvem falso testemunho, porque os textos, dos quais se vê claramente o estilo pessoal de Chico Xavier misturado com os estilos eruditos de Antônio Wantuil de Freitas e outros dirigentes da FEB, levam o crédito de outros autores, como se os membros da FEB ("médium" e dirigentes) dissessem: "não fomos nós que escrevemos, são os mortos lá no além!".
É como se um garoto inventasse alguma coisa para falar para o seu pai, com o objetivo de livrar-se de uma encrenca, e dissesse que foi o falecido avô quem disse. É uma leviandade, porque quem tem um mínimo de nível de leitura sabe que as obras "mediúnicas" sempre fogem de algum aspecto pessoal dos autores a quem são atribuídas as mesmas.
Levando a farsa adiante, ocorre outro delito, extremamente grave: a depreciação da memória do morto, que, ao ser usado, passa a ser "manipulado" pelo "médium", que lhe coloca coisas que o autor falecido, se ainda vivesse, nunca teria escrito.
Exemplo disso é atribuir a Raul Seixas, mal disfarçado pelo fictício codinome de "Zílio", a falácia do "inimigo de si mesmo", ideia oriunda de correntes militaristas do pensamento asiático antigo e que foi acolhida na Idade Média pela Teologia do Sofrimento católica.
Outro caso é um livro cuja abordagem da História do Brasil é ridícula e nivelada aos piores livros didáticos. Sim, estamos falando de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, título que lembra um lema bolsonarista. Colocou-se na conta de Humberto de Campos uma narrativa historiográfica do nosso país, cheia de equívocos aduladores e preconceitos sociais retrógrados.
É como se, como que numa pilhéria, Chico Xavier e os dirigentes da FEB fizessem um livro didático ruim sobre História do Brasil, com toda a patriotada ufanista de seu conteúdo constrangedor, e botasse a culpa em Humberto de Campos, que, falecido, não pode mais responder ao uso de seu nome.
Só o caso Humberto de Campos houve violações cometidas por Chico Xavier. As "revelações espirituais" de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, são patéticas, e não correspondem ao que o mundo espiritual, pelo menos, sugere para nós, com o aumento da lucidez e o fim do véu material que permitiriam fatos mais realistas, e não mais fantasiosos.
Isso deprecia a memória de Humberto, favorecendo Chico Xavier, que, ainda por cima, contou com um lobby na FEB que o livrou da cadeia e o permitiu, em 1957, transformar o filho homônimo do autor maranhense em um devoto subserviente, através de um evento de pregações religiosas e Assistencialismo ostensivo. Vergonhosamente, Humberto de Campos Filho, antes um cético sério e coerente, se viu se ajoelhando diante do homem que usurpou seu pai e enganou ele mesmo.
As pessoas não entendem isso, porque estão apegadas, de maneira doentia, a Chico Xavier, a ponto de fugir de textos esclarecedores. Infelizmente, a burrice tornou-se socialmente aceita e a ignorância virou motivo de orgulho e até meio de proteção das pessoas. Daí o Brasil de Jair Bolsonaro que muita gente deixou acontecer.
E que ninguém pense que Chico Xavier não tem a ver com Jair Bolsonaro. Ambos têm a ver entre si, e muito. Gustavo Bebianno pode romper com Bolsonaro e depois morrer, Sérgio Moro pode romper com Bolsonaro, Paulo Guedes pode romper com Bolsonaro.
Mas Chico Xavier (que, se vivesse em 2018, teria recomendado voto a Bolsonaro) continua com o "capitão", afinados perfeitamente com a forma arrivista com que ambos se ascenderam na vida. Embora muitos tentem separar Chico Xavier e Jair Bolsonaro, é aí que os dois se tornam tão unidos que parecem um só, vide os chiquistas despejando ódio e os bolsonaristas se solidarizando.