Não se faz um "iluminado" através de meios desonestos


Francisco Cândido Xavier, conhecido como Chico Xavier, sempre foi um arrivista. Dito isso, seus seguidores se revoltam e reagem entre as lágrimas de choro e a raiva que lhes faz, de maneira bastante impulsiva, reagir com palavras prontas - tipo "Você não conhece Chico Xavier, conheça antes de falar" - , como se fossem bolsomínions da religião "espírita".

No entanto, Chico Xavier foi um arrivista, sim. Arrivismo é uma forma de ascensão social feita a todo custo, sem medir escrúpulos em apelar para meios desonestos. Em palavras mais simples, arrivismo é quando a pessoa quer subir na vida na marra. E, vejamos, quem observa melhor a vida de Chico Xavier, não a propaganda chapa-branca que conduz a visão de seus seguidores fanáticos, mas aspectos sombrios de sua trajetória, que a cegueira emotiva dos chiquistas, mesmo "isentões", ignora completamente, como crianças malcriadas tapando os ouvidos ante o conselho alheio.

Vejamos a sua "psicografia". Ela sempre apresentou problemas sérios, que a comparação com o legado original dos autores mortos alegados demonstra, como alguns aspectos abaixo:

1) A disparidade estilística, na qual particularidades como a métrica dos versos de Olavo Bilac, a linguagem feminina e quase infantil de Auta de Souza e a narrativa ágil dos contos de Humberto de Campos desaparecem nas obras "psicográficas", não só pela diferença estilística como pela queda de qualidade dos textos "espirituais";

2) As assinaturas "espirituais" não equivalem às que foram registradas pelos supostos autores mortos na vida terrena. Em muitos casos, nota-se a caligrafia pessoal de Chico Xavier em várias dessas obras, o que revela o tom fraudulento das mesmas.

Um outro dado é que os "espíritas" se confundem quando definem as "psicografias" como "ditadas" ou "escritas" pelo suposto espírito. No primeiro caso, o "médium" redige, em tese, aquilo que o dito espírito teria dito para ele. No segundo caso, é o "espírito" que, supostamente, usa o "corpo do médium" e, se apossando da mão deste, a guia para redigir da forma pessoal da pessoa desencarnada.

Ambas as teses são defendidas, o que causa muita confusão. E isso põe em xeque a credibilidade, a transparência e o rigor que se atribui aos trabalhos psicográficos, que no Brasil não passam de uma grande brincadeira de faz-de-conta, uma vez que os brasileiros nunca tiveram preparo psicológico para "conversar com os mortos" nem para permitir que eles "falem" por intermédio dos vivos para outros vivos.

Se no mundo desenvolvido, há problemas quanto à teoria das atividades paranormais e mediúnicas - termos que também são muito confundidos no Brasil, que define como "médium" aquele que "fala com os mortos", quando o termo só se refere àquele que transmite o recado dos mortos para outros vivos - , sob a qual até hoje se produzem mensagens fraudulentas sob o nome dos mortos (a atriz Brittany Murphy é um exemplo desse caso), o Brasil não seria diferente, e é até pior.

Afinal, o Primeiro Mundo pelo menos tenta analisar com alguma transparência o poder da paranormalidade. Mas nos EUA, isso não impediu que se tivessem atos duvidosos como os das irmãs Fox - pesquisadas, criticamente, por Allan Kardec - e de farsantes como o empresário circense Phineas Taylor Barnum e o fraudador fotográfico William Mumler (que supostamente inseria "espíritos" em fotos de vivos, através de truques de edição fotográfica).

Vendo esse caso, como é que o Brasil traria respostas para os problemas da paranormalidade. Pelo contrário, num país famoso pelo "jeitinho brasileiro", onde a corrupção política é quase uma tradição - convenhamos, de partidos em maioria de direita, representantes de ricos e gananciosos - , é aí que as práticas "psicográficas" são mais propícias de ações fraudulentas e profundamente desonestas.

Muita gente não gosta de admitir, cega em sua fascinação obsessiva por Chico Xavier, mas ele tem um histórico de obras fraudulentas que pode ser resumido da seguinte forma:

1) Inicialmente um aspirante a poeta com obras pessoais escritas na juventude, vindas de sua própria mente, suas primeiras obras foram primeiro publicadas sob sua autoria, mas depois, em atitude bastante tendenciosa, foram posteriormente creditadas a supostas autorias espirituais, sem que necessariamente lembre, mesmo de longe, os estilos pessoais desses autores;

2) O primeiro livro poético, Parnaso de Além-Túmulo, foi remendado cinco vezes em 23 anos, sendo seis edições entre 1932 e 1955. Isso contradiz a ideia de que uma obra, em tese, trazida por benfeitores espirituais, deveria ao menos ser acabada e finalizada, pois se supõe que ela teria sido feita para expressar o "recado elevado" dos "mensageiros do além-túmulo;

3) Quem denunciou, por acidente, a fraude de Parnaso de Além-Túmulo - sobretudo derrubando a tese de que Chico Xavier fazia tudo sozinho - não foi um detrator dele, mas uma pessoa solidária a ele, a "médium" Suely Caldas Schubert, que em 1981, no livro Testemunhos de Chico Xavier, divulgou uma carta na qual o "bondoso médium" agradeceu aos dirigentes da "Federação Espírita Brasileira", Antônio Wantuil de Freitas e Luís da Costa Porto Carreiro Neto, por terem feito a revisão dos manuscritos do livro poético e feito as devidas alterações;

4) O uso do nome de Humberto de Campos - por que não teria sido, por exemplo, Machado de Assis? - teria sido, provavelmente, uma revanche, porque o livro Parnaso de Além-Túmulo não recebeu o reconhecimento devido de um membro da Academia Brasileira de Letras. A FEB já era um antro de intelectuais frustrados, e aí, depois da resenha que Humberto, ainda vivo, publicou em duas partes no Diário Carioca, vimos que, dois anos depois, o autor maranhense morreu (maldição de Chico Xavier?), e o "médium", meses depois, se apoderou do nome do falecido escritor;

5) Embora o acovardado acadêmico Alexandre Caroli Rocha se absteve em analisar a obra "psicográfica" sob o nome do autor maranhense, não é preciso muito esforço para ver que a obra "mediúnica" é, sim, uma farsa. Uma leitura atenta é suficiente para ver a disparidade entre a obra original deixada por Humberto de Campos e a obra "psicográfica", esta mais medíocre e cansativa de se ler;

6) A seletividade da Justiça brasileira, capaz de pôr na impunidade assassinos de classes sociais mais privilegiadas, também usa o prestígio religioso como "carteirada" e foi isso que, através de um juiz suplente no Rio de Janeiro, João Frederico Mourão Russell, fez Chico Xavier ficar impune, abrindo caminho para usurpar os nomes dos mortos que quiser, dos famosos aos "anônimos";

7) Chico Xavier assinava atestados para "legitimar" fraudes de materialização, que claramente se mostravam farsantes, uma encenação na qual havia os "cabeças de papel" (modelos cobertos de roupas brancas que sobre a parte do rosto se colocavam fotos mimeografadas de personalidades mortas) e pessoas com gazes e algodões fingindo gerar ectoplasmas;

8) Conforme a revista Manchete noticiou, em agosto de 1958, o sobrinho Amauri Xavier foi ameaçado de morte pelo "meio espírita", contrariando o mito de misericórdia tão associado a essa religião. Segundo a imprensa da época, Amauri foi vítima de uma campanha difamatória e teria tido uma morte suspeita, provavelmente envenenado em 1961. A ameaça de morte já prenunciava a forma de como Amauri morreu. Infelizmente o caso está prescrito e o lobby do "movimento espírita" impede que se abram novas investigações sobre o caso;

9) O fotógrafo Nedyr Mendes da Rocha fotografou Chico Xavier bastante animado, extrovertido e muito participativo nos bastidores dos espetáculos fraudulentos de Otília Diogo, que fazia a falsa Irmã Josefa, que na pretensa materialização (na verdade, um espetáculo circense de ilusionismo), fingia "atravessar" as grades de uma jaula. Em uma das fotos, Chico Xavier aponta para a própria Otília. O "médium" parecia estar por dentro de todo o espetáculo, o que dá um forte indício e até provas, mediante argumentação lógica, de que ele foi cúmplice da farsa.

Esses são apenas os principais episódios, e revelam o quanto Chico Xavier brigou com a lógica dos fatos e não mediu escrúpulos para se ascender de maneira bastante desonesta, para depois, através de uma série de artifícios, ser promovido como o "símbolo de caridade, paz e amor ao próximo", que fez com que ontem, de forma bastante patética, seu nome entrar nos trend topics do Twitter, um reduto de "robôs" bolsonaristas. Chico Xavier também deve ter seus "robôs" agindo nas redes sociais.

Muita gente diz que Chico Xavier era "iluminado" e "viveu para doar-se aos doentes e miseráveis", mas fala isso sem o menor fundamento lógico, sem o menor embasamento de fatos e sem qualquer tipo de explicação. Fala-se que "Chico Xavier fez caridade", e só. E isso quando, na verdade, a "caridade" de Chico Xavier, à maneira de Luciano Huck hoje em dia, não foi praticada por ele, mas por terceiros e, mesmo assim, dentro dos limites medíocres e ineficientes do Assistencialismo.

ARRIVISTAS NÃO SÃO ILUMINADOS, E ATÉ A RELIGIÃO INSPIRA AMBIÇÕES DOENTIAS

Enquanto muitos cidadãos comuns não desejam o ingresso imediato ao Céu, "junto a Deus-Pai Todo Poderoso", trabalhando com dignidade e sem pretensas ambições (ainda que de pretensos "iluminados"), Chico Xavier queria atingir tais esferas superiores através de uma literatura abertamente desonesta, grosseira e desrespeitosa, que fez com que uma atrocidade fosse feita contra as pessoas falecidas: o atentado à memória das mesmas diante da aceitação social das obras fake.

Os "espíritas" chegam ao ponto de estimularem a "liberdade de fé", dizendo que todos "têm direito de acreditar ou não nas psicografias", o que é um vergonhoso, preocupante e deplorável acinte à memória dos falecidos, que não estão aí para reclamarem e podem ser "usados" ao bel prazer por um seleto número de oportunistas que se autoproclamam "iluminados".

Esse desrespeito já deveria ter derrubado o "espiritismo" brasileiro, com essa desonra que nem o pior inimigo seria capaz de fazer ao matar seu desafeto, mesmo com requintes de crueldade. Além disso, a trajetória de Chico Xavier se comprova ter sido um festival de arrivismos que fazem desmerecer a reputação que ele recebe dos seguidores. E não adianta fingir e dizer que "Chico Xavier foi apenas um homem simples e bom que cometeu erros", porque ele fez muito pior do que isso.

Ele lançou ideias retrógradas que fazem apologia à servidão e à conformação com a desgraça humana, e isso é muito grave ao sabermos que sofredores extremos e pessoas falecidas - estas através das supostas psicografias, já apelidadas pelos críticos de "psicografakes" - se reduziram a meros degraus para a ambiciosa escadaria para o céu montada por Chico Xavier.

Isso é extremamente deplorável e faz de Chico Xavier o mais desgraçado dos cidadãos, não tendo sequer metade do mérito de ter a reputação que possui, que faz com que fanáticos manifestem, cegos em sua fascinação obsessiva, chegam a manifestar seu "amor" para o "médium". Só que Chico Xavier corresponde, na verdade, ao que Jesus Cristo não cansava de rejeitar e reprovar: os fariseus, que o mestre da Judeia definiu simplesmente como "hipócritas", além de "falsos cristos", "falsos profetas" e 'falsos sábios".