A farsa da "caridade de Chico Xavier", defendida sem provas

UMA DAS POUCAS IMAGENS DA "INDISCUTÍVEL CARIDADE" DE CHICO XAVIER É UMA INSPEÇÃO DE ATIVIDADES DE TERCEIROS EM UBERABA.

A suposta caridade de Francisco Cândido Xavier é defendida por quase todos os brasileiros sem que a menor fundamentação, a menor justificação, fosse feita. A defesa é feita pelo piloto automático, as pessoas falam apenas bordões como "Não se discute a caridade inquestionável de Chico Xavier", "Chico Xavier ajudou muita gente" e "Chico Xavier fez obras de caridade". Tudo sem fundamentação, sem embasamento lógico, sem qualquer tipo de explicação, tudo aceito com a comodidade de um gado bovino.

É como, no sentido inverso, falar tanto da suposta corrupção de Lula, o ex-presidente da República que se tornou ideologicamente simétrico ao "médium", que também tem a reputação invertida e as alegações, igualmente invertidas, de que "o petista roubou", sem que houvesse provas consistentes a respeito.

Nunca se viu Chico Xavier praticando caridade. Além disso, aquela "caridade" tão conhecida, o Assistencialismo, possui resultados muito medíocres, para não dizer fraquíssimos, e esse tipo de ação serve mais para promover protagonismo ao suposto benfeitor, que aparece mais do que seus assistidos, que, por sua vez, ficam com os restos. Aliás, existe uma piada que diz: "aos médiuns, as medalhas; aos miseráveis, as migalhas".

As poucas imagens de Chico Xavier participando de supostos atos de caridade são apenas poucas, como a que ilustra esta postagem, e não passam de meras inspeções de atividades assistencialistas em "centros espíritas" de Uberaba, cidade onde o suposto médium passou o resto de seus dias.

Não há uma prova dele doando seu suor pelo próximo. Ele apenas era o "mestre de cerimônias" da ação alheia, e, nas reuniões doutrinárias, tudo o que ele fazia era apenas pedir a seus seguidores e adeptos que doassem dinheiro e bens para a "caridade". É mais ou menos o que Luciano Huck faz nos quadros "humanitários" do Caldeirão do Huck, da Rede Globo, ou que os ídolos musicais popularescos fazem nas lives transmitidas em tempos de coronavírus.

Algumas práticas consideradas "caridosas" devem ser desconstruídas, porque nem de longe elas representam a verdadeira ajuda ao próximo, antes representando estratégias de marketing que servem para promover e blindar Chico Xavier, sendo uma carta-coringa na manga de seus partidários, toda vez que ele é alvo de alguma crítica mais severa. "Pelo menos ele fez caridade", dispara o tendencioso bordão. Vamos a elas:

1) A QUESTÃO DOS DIREITOS AUTORAIS - Chico Xavier não doou o dinheiro da venda de seus livros para a caridade. Ele apenas deixou o dinheiro ser administrado pela "Federação Espírita Brasileira". Chico Xavier, apesar do "voto de pobreza", era sustentado do mesmo modo que um membro da família real britânica. Chico Xavier não tocava em dinheiro, mas viveu em razoável conforto, sustentado pela FEB, viajando de maneira confortável, se hospedando em bons hotéis e, quando doente, internado em um bom hospital;

2) ASSISTENCIALISMO - Chico Xavier não fez Assistência Social, que é a caridade que ameaça os privilégios dos mais pobres. Apesar da origem humilde, Chico Xavier sempre atuou ao lado das classes dominantes, e por isso seu modelo de "caridade", que ele não executou - recusar cachê, por exemplo, não é doar dinheiro, pois não se doa o que não se ganha - , sempre se baseia em ações meramente paliativas que mantém os pobres na sua simbólica inferioridade social;

3) AS "CARTAS MEDIÚNICAS" - Verdadeira armação tida como a "maior caridade de Chico Xavier", as cartas "dos entes queridos" promoviam sensacionalismo, atraindo multidões que faziam filas longas para assistir às "sessões mediúnicas" do "médium", fazendo desses eventos verdadeiras orgias da fé cega e mistificadora. Elas também foram feitas como "cortina de fumaça" para distrair o povo diante da crise da ditadura militar e tinham como propósito espetacularizar a morte, sob o pretexto de ser um ingresso para "uma vida melhor no além-túmulo", ideia dada sem fundamentação.

Muita gente, idiotizada, chega a confundir as coisas, não bastasse o caráter vago das atribuições da "inegável caridade" de Chico Xavier, como se já não bastasse a falta de fundamentação, de provas, de dados precisos. Tudo é ventilado, o pessoal diz "Chico Xavier fez caridade", de maneira apressada, superficial e vaga e todo mundo acredita, sem perguntar como nem por quê.

Porém, os mais idiotizados chegam ao ponto de dizer que o "resultado da caridade de Chico Xavier é ele mesmo", tomados da mais cega, da mais estúpida e da mais catártica e neurótica fascinação obsessiva, de um apelo emocional bastante doentio, que, ao ser contrariado, pode render reações típicas da sociopatia ou da psicopatia, para não dizer demência mental.

Não existem provas da caridade de Chico Xavier, e essa tese foi plantada como um artifício para blindá-lo e ocultar seu lado sombrio. É como se a "caridade" fosse a carteirada do "médium", um escudo contra qualquer tipo de argumentação. E isso vai contra os ensinamentos originais da Codificação, uma vez que não se pode usar a desculpa da "caridade" para abafar os piores erros.

Existe até uma contradição dentro dessa atribuição. Como Chico Xavier ia doar o dinheiro que ele não ganhou? Como doar o que não tem? Antes ele fosse apenas sustentado, de maneira confortável, pela FEB e há mais lógica em dizer que ele não mexeu no bolso, sequer para coçar, em prol do próximo. Como formigas atuando enquanto a cigarra lhes rouba o prestígio, a "caridade" de Chico Xavier nunca foi um ato, ainda que fajuto, feito por terceiros, entre adeptos e seguidores.

Aliás, é no chamado crime eleitoral que esse sentido de "caridade" leviana se revela, quando o ato de "ajudar o próximo" não passa de um gancho para promover bom-mocismo, promoção pessoal do suposto benfeitor e uma forma até mesmo para dominar não só os mais necessitados, como também a opinião pública através do suposto "trabalho do bem".

Mesmo as ações "inquestionavelmente caridosas" de Chico Xavier, como andar pelas ruas atendendo populações pobres e moradores de ruas, escrevendo cartas para presidiários, consolando miseráveis etc, são meros artifícios para obter protagonismo, além do fato de que tais ações não trazem ruptura com as situações de pobreza dessas pessoas, sendo mais uma forma de promoção pessoal do "médium" às custas dessa demonstração de bom-mocismo e Assistencialismo, meramente paliativo.

Por ironia, embora o jornalista José Herculano Pires tenha passado pano nos erros de Chico Xavier, o que o tradutor da obra kardeciana disse sobre Divaldo Franco pode servir também para o "médium" mineiro, a respeito do uso da "caridade" como desculpa para inocentá-lo na condição de deturpador maior da causa espírita e de apoiador da ditadura militar: "conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".