A tática dos elogios de terceiros para abafar obra medíocre de Chico Xavier

TESOUROS TERRENOS - PAIXÕES RELIGIOSAS FAZEM O DETURPADOR CHICO XAVIER SER HOMENAGEADO EFUSIVAMENTE, COMO NO EVENTO DE TRÊS LAGOAS (MS), EM 1994.

A retórica humana tem suas habilidades e sutilezas mil. Para mascarar a mediocridade e a desonestidade intelectual de alguém, cria-se um poderoso lobby no qual um grande número de pessoas se empenha em fazer propaganda de alguém que, por si mesmo, é incapaz de criar grandeza, ainda mais se afirmando e ascendendo através de atos desonestos.

Francisco Cândido Xavier é, notavelmente, um exemplo de pessoa que subiu na vida de forma desonesta. É o chamado arrivista, aquele que procura se dar bem na vida a qualquer preço, sobretudo usando meios nada transparentes.

Somos obrigados, pela lógica dos fatos, a ter tal constatação, uma vez que, pesquisando as "psicografias" de Chico Xavier, os incidentes em torno das mesmas e, recentemente, a confirmação de que dirigentes da "Federação Espírita Brasileira" faziam modificações na obra "mediúnica" e, pasmem, sob o apoio e o consentimento do próprio "médium", que ainda se ofereceu para colaborar nessas alterações altamente desonestas.

É chocante como um sujeito desses, suja ascensão se compara a Jair Bolsonaro - Chico Xavier causou escândalo nos meios literários com sua literatura fake, Jair Bolsonaro escandalizou os militares com um plano de atentado terrorista - , se ascendeu, de circunstância em circunstância, a um pretenso símbolo de paz e caridade, através de critérios bastante duvidosos, não bastasse a inspiração no método que o inglês Malcolm Muggeridge fez para glorificar Madre Teresa de Calcutá.

MEDÍOCRES APOIAM CHICO XAVIER

Pode parecer um exagero esse subtítulo, mas, ao verificarmos quem realmente apoia Chico Xavier, ou seja, pessoas que juram ter tido um "convívio íntimo" com o "médium", ou, se não for o caso, ter tido uma "apreciação mais aprofundada (sic)" de sua obra.

Se reunirmos esse pessoal, podemos enumerar os principais tipos sociais: beatas religiosas católicas ou "espíritas" (dentro de uma perspectiva fortemente igrejista); políticos conservadores moderados (no final da ditadura militar, políticos interioranos do PMDB se aproximavam do "médium"; hoje, solidários a Chico Xavier, estão políticos de partidos nanicos de direita).

Havia também jornalistas interioranos (e conservadores), situados entre o noticiário policialesco e setores medianos do jornalismo investigativo, delegados de polícia e juristas conservadores, colunistas sociais diversos (afinal, eles cobrem a alta sociedade e são, por isso, também conservadores), e também grandes proprietários de terra, influentes em várias cidades de Minas Gerais, do interior paulista e do Centro-Oeste brasileiro.

Fora eles, há intelectuais do porte de Marcelo Caixeta, Alexandre Caroli Rocha e Marcos Villas-Boas, de talento mediano que só fazem "falar", sendo Marcos e Marcelo bastante pretensiosos nas alegações de que viram "abordagens científicas" na obra de Chico Xavier, afirmando isso sem demonstrar o menor fundamento. Há também poucos que se autoproclamam "de esquerda", como Franklin Félix, nesta base de apoio.

Além deles, consta-se o lobby que era feito entre profissionais de televisão, entre diretores como Augusto César Vannucci e atores como Nair Bello, Paulo Goulart, Nicette Bruno, Lúcio Mauro, Ana Rosa e outros, além da "ajudinha" de personalidades como Hebe Camargo, que numa foto da Internet aparece ao lado de Humberto de Campos Filho. Daí que foi fácil usar esse lobby para convencer o filho de Humberto de Campos a se render a Chico Xavier.

OBRA MEDÍOCRE

A trajetória de Chico Xavier é medíocre, não bastasse os episódios arrivistas e suas fraudes diversas: literatura, materialização e mesmo um dom estranhamente esquecido por seus seguidores, a suposta "psicofonia" - que teria combinado práticas de mímica com vozes em off - , que apresentam um conteúdo temático pedante, com ideias extremamente conservadoras e linguagem rebuscada.

Em muitos aspectos, a obra de Chico Xavier já é comprovadamente anti-kardeciana, pois nela se apresentam aspectos negativos que foram claramente antecipados em O Livro dos Médiuns: textos empolados, uso de nomes ilustres para enganar a multidão, determinação de datas fixas para acontecimentos futuros (ato definido como mistificação pelo próprio Kardec), entre outros.

Até mesmo as "palavras bonitas", que, de forma constrangedora, a "espírita de esquerda" Ana Cláudia Laurindo atribui a "outros espíritas", como meio de enganar as pessoas com ideias conservadoras, está presente nas ideias e depoimentos de Chico Xavier (inútil botar tudo na conta de Emmanuel, porque, na tese de sua "autoria espiritual", mesmo assim o "médium" concordava com tudo o que se atribuiu ao jesuíta).

As "lindas frases" de Chico Xavier são um amontoado grosseiro de trocadilhos, em que expressões como "hoje" e "futuro", "silêncio" e "voz", "fraqueza" e "força" são jogados em mensagens de um moralismo retrógrado. 

A "beleza" a elas atribuída é na verdade um apelo visual com paisagens da natureza, passarinhos e peixinhos. Qualquer "Krig-Ha Bandolo" (grito do Tarzan que virou título de disco de Raul Seixas) viraria "linda frase" diante de um cenário de beija-flor sobrevoando uma rosa.

Os apelos emotivos são realçados pelo apelo igrejista da obra xavieriana, que na verdade não é mais do que um arremedo de livros de auto-ajuda, sem muita serventia cotidiana, já que são apenas ideias conservadoras, feitas mais para aconselhar as pessoas a "segurar a barra" numa situação difícil do que oferecer alguma solução.

PROPAGANDA DE TERCEIROS: BAJULAÇÃO E "CONVÍVIO ÍNTIMO"

Com a mediocridade gritante da obra de Chico Xavier, que soa como um arremedo ruim das obras rebuscadas da literatura erudita e de apelo religioso, lembrando mais textos que haviam sido tirados do lixo dos católicos, há um artifício para promover a glorificação do "médium", ocultando seus trabalhos ao mesmo tempo medíocres e fraudulentos.

A exemplo da campanha em prol de Madre Teresa de Calcutá, algumas dezenas de pessoas passaram a escrever livros de "convívio íntimo", que tentam abafar as caraterísticas medíocres por uma propaganda que exalte as "figuras simples e humanas" dos ídolos religiosos focalizados. O exemplo de Madre Teresa, não bastasse a propaganda adulatória de Malcolm Muggeridge, serviu de modelo para Chico Xavier, também cercado de um lobby de "testemunhas" a exaltar sua "figura humana".

O que se entende como "convívio íntimo" é apenas uma maneira de dizer para o contato nos bastidores, seja dando entrevistas, seja falando com o ídolo religioso no fim de cada evento ou festividade. A falácia da "figura humana por trás do mito" é uma propaganda na qual, na verdade, é o mito que se reforça através da suposta "imagem íntima", um marketing feito através de um contato prolongado, ao qual se usa o eufemismo de "intimidade".

Além disso, cria-se uma indústria de livros aduladores, para que se multiplique a propaganda em torno da "figura humana" do ídolo religioso, abafando a mediocridade de sua obra e o vazio dos seus méritos. A grande quantidade de "testemunhas" do ídolo religioso, exaltando a "verdadeira pessoa", seu "humanismo singelo" e sua "obra imensurável" de "admirável beleza em prol do próximo", cria uma indústria que, pela multiplicação de livros e autores, transforma uma falácia em narrativa dominante.

É a ideia de ocultar, no caso de Chico Xavier, a mediocridade de suas obras, de autoria espiritual fake e de conteúdo mistificador, conservador, supérfluo e inócuo para os reais problemas humanos. Cria-se um "exército" de "testemunhas", de forma a criar múltiplas fontes que façam uma mesma propaganda, com o objetivo de enganar as pessoas com a técnica do nazista Josef Göebbels: "quando uma mentira é veiculada várias vezes, ela se transforma numa verdade".