Chico Xavier não tem reconhecimento real pelo restante do mundo

É UMA FALÁCIA DIZER QUE CHICO XAVIER É O "MAIOR MÉDIUM DO BRASIL" RESPEITADO PELO MUNDO INTEIRO.

Francisco Cândido Xavier é tido como "maior médium do Brasil" e alega-se que ele é "respeitado pelo mundo todo". Tudo isso são ações falaciosas, uma narrativa produzida e espalhada pela "Federação Espírita Brasileira" para estimular o desempenho comercial de seus livros.

Note-se, aliás, que a "grande reputação mundial" de Chico Xavier se dá por quem não tem a menor noção de como é o chamado "espiritismo" no Brasil, e é evidente que a ênfase de muitos simpatizantes do suposto médium em dizer que "não são espíritas" tem um duplo objetivo.

O primeiro objetivo seria a posição de "isenção", pois, mais do que outros "isentões" como aqueles que não querem assumir ideias conservadoras de direita - esquecemos que o "normal", no Brasil, é ser de direita e defender ideias conservadoras, o direitista se acha "isento" e "de centro" porque o direitismo, para ele, é tão natural quanto o ar que respiramos - , vemos que também é ser "isento" admirar Chico Xavier à distância, sem admitir sectarismo ao "movimento espírita".

O segundo objetivo, por outro lado, é uma estratégia sutil do "espiritismo" brasileiro para atrair os leigos. Como a religião "espírita" tem suas fraudes denunciadas por analistas de dentro da Doutrina Espírita, então, como os inimigos internos da Codificação (é desagradável para muitos, mas Chico Xavier personifica o "inimigo interno do Espiritismo" definido por Allan Kardec) não podem contar com o apoio dos kardecianos, eles precisam da ajuda de "amigos externos".

Com isso, é fácil mentir para quem está fora de um determinado tema, de uma determinada especialidade. Ensina-se mal para quem não sabe e, assim, espalha-se a mentira para quem não tem a menor ideia do que se trata. O "espiritismo" brasileiro se beneficiou muito do desconhecimento dos outros para espalhar as mentiras que até hoje blindam Chico Xavier.

"INFORMAÇÃO DE RELEASE"

Não são os fatos que fazem com que Chico Xavier se torne conhecido no mundo inteiro, mas uma propaganda espalhada pela FEB, que sempre contou com consultores literários e conhecedores de idiomas estrangeiros - há, por exemplo, publicações da mesma editora em inglês e espanhol - , que aliás criaram uma pegadinha que fez muitos suporem que o "médium" também "psicografava" em idiomas estrangeiros.

Consta-se que o escritor, dublê de filósofo e de espiritualista italiano, radicado no Brasil, Pietro Ubaldi, ajudou a FEB a produzir textos em italiano, dentro das manobras de produção editorial que carregavam mais os conceitos literários de dirigentes como Manuel Quintão e Luís da Costa Porto Carreiro Neto do que as alegadas "habilidades mediúnicas" de Chico Xavier. Muita fraude se produziu, com ajuda de terceiros, para reforçar o mito do "super-médium" em Chico Xavier.

Lembremos, em primeiro lugar, que toda propaganda que forjasse popularidade plena e respeitabilidade em Chico Xavier se deu a partir dos anos 1970, quando a fase da FEB pós-Wantuil de Freitas teve que criar um verniz de "objetividade" que diminuísse a projeção de Chico Xavier como um fenômeno pitoresco, apenas podando esta imagem para permitir apenas "pontos polêmicos".

Foi a partir dos anos 1970, época da ditadura militar, que o mito de Chico Xavier teve que ser aperfeiçoado. Foram deixados para trás o jornalismo investigativo de Attila Paes Barreto, condenado ao esquecimento, os questionamentos de Padre Quevedo, que ganharam repercussão negativa, e até as denúncias de Amauri Xavier foram abafadas por uma provável "queima de arquivo" nunca investigada pela Justiça, pois, para todo efeito, ele morreu de "causas naturais" precipitadas pelo alcoolismo.

Daí que o "espiritismo" brasileiro pós-Wantuil passou por uma "fase dúbia". Embora continue sendo o Roustanguismo a base doutrinária dos brasileiros, há um truque no qual se mantém a aparência do suposto respeito das bases doutrinárias de Allan Kardec, através de um complexo e habilidoso processo de manobras e uso tendencioso de ideias e práticas.

Sabe-se, por exemplo, que a catolicização que tornou-se um grande e terrível mal para o Espiritismo, deturpando os postulados da Codificação, adotou uma desculpa bastante engenhosa, que apresenta dois aspectos:

1) A desculpa de que a catolicização é consequência das "tradições populares" da religiosidade brasileira, tanto na transmissão de legados católicos vigentes desde o período colonial até a admissão da aparente diversidade religiosa por meio da tese do "ecumenismo";

2) A alegação de que a "catolicização do Espiritismo" não faz mal, porque acolhe conceitos que, em tese, se vinculam a ideias como "caridade", "paz", "fraternidade" e "boas energias vibratórias". Além disso, interpreta-se neste mesmo sentido tendencioso a frase kardeciana "Fora da caridade não há salvação".

Através dessa primeira manobra, os "espíritas" são favorecidos pelo pretexto de que a deturpação "não faz mal", porque o acolhimento de ideias e práticas do Catolicismo, mesmo de cunho medieval, é visto como "saudável", por estar "somente voltado para o bem". É essa falácia engenhosa que permite creditar a deturpação do Espiritismo como algo "positivo", dissolvendo o legado roustanguista em termos considerados "aceitáveis" e, supostamente, "inofensivos" a Kardec.

Assim, insere-se o cientificismo de Allan Kardec, filtrado por um engodo que mistura Ciência com Esoterismo, criando uma gororoba gnóstica que somente os brasileiros, além de estrangeiros com similar tendência, entendem como "Conhecimento", misturando conceitos lógicos com outros místicos.

A desculpa de criar um "meio-termo" entre Fé e Razão, com um repertório ideológico capaz de produzir falso consenso, faz com que o "espiritismo" brasileiro então crie uma reputação falsamente nobre, que consiga enganar até mesmo setores da sociedade, não só brasileira mas, em parte, da comunidade internacional, que se julga em nível razoável de esclarecimento, até mesmo relativamente amplo.

Foi mais ou menos a partir de 1974 que Chico Xavier passou a ser levado a sério, através de vários artifícios discursivos, vários deles bastante habilidosos:

1) Se ele "catolicizou" o Espiritismo, foi em função de sua "inocente" e até "saudável" formação religiosa com base no Catolicismo, porque reforçou a "doutrina espírita" com ensinamentos cristãos";

2) Se o "catolicismo" de Chico Xavier "não faz mal", logo ele "não está em desacordo" com os postulados espíritas originais.

Enquanto se criam artifícios para "cientificar" a trajetória de Chico Xavier, respaldado por um exército de propagandistas que vai além das "histórias lindas" de quem "conviveu com ele", sejam jornalistas e escritores, sejam personalidades religiosas semi-anônimas. E aí se produziu consenso, sobretudo entre os anos 1974 e 2011, com um farto material "acadêmico" e "científico" feito para corroborar com a propaganda religiosa em torno de Chico Xavier.

Com este procedimento, produziu-se um "consenso interno" em torno de Chico Xavier, onde se produziram pretensas qualidades relacionadas ao ativismo social, à religiosidade e à ciência, onde testemunhas diversas, incluindo um lobby de acadêmicos "espíritas" nas universidades públicas - Alexandre Caroli Rocha, Alexander Moreira-Almeida etc - , que prepara uma "narrativa científica" que represente oficialmente a imagem "objetiva" e "imparcial" do suposto médium.

Essa produção de "consenso interno", sustentado por um verniz de objetividade, prevalece no Brasil e se torna a narrativa oficial e dominante que sustenta o "médium", e que é oferecida, através da carteirada institucional da FEB, para o restante do mundo, criando uma falsa imagem de que Chico Xavier "é respeitado pelo mundo todo".

O que ocorre é que instituições, entidades e órgãos de imprensa apenas acolhem a narrativa oficial da FEB, e a objetividade é confundida com status. Os estrangeiros não têm ideia do que realmente é Espiritismo e o que acolhem é a chamada "informação de release", notas oficiais que não são questionadas, primeiro pelo desconhecimento gringo sobre o assunto e o que está por trás do discurso oficial, segundo, por ser impossível questionar aquilo que não se sabe nem entende direito.

Portanto, Chico Xavier não se tornou "médium respeitado e admirado pelo mundo". Isso é uma grande mentira. O que ocorre é que a propaganda da FEB junto ao resto do mundo, motivada pela habilidade de seus dirigentes - um legado dos dirigentes da federação durante a fase Wantuil - , que se aproveita de um aparato de racionalidade para blindar, sob o verniz da "objetividade", a figura de Chico Xavier, que nem de longe possui, mundo afora, o "carisma" que ele mal consegue ter aqui.

Isso tem o objetivo de fazer do "médium" mais do que um ídolo religioso, dando-lhe "suporte científico". É o mesmo que se tentou fazer com o "funk", ritmo popularesco do Brasil, com a blindagem de uma elite de antropólogos. Aliás, tanto Chico Xavier quanto o "funk" estão associados a uma abordagem paternalista da pobreza humana, e é estratégico que ambos tenham que obter reconhecimento na simbologia da domesticação do povo pobre.

Com o verniz de "objetividade" que blinda tanto Chico Xavier quanto o "funk" - associados a uma utopia idealizada de suposta felicidade do povo pobre - , o processo de domesticação do povo pobre (encarado, com "bondoso" preconceito, como uma multidão de "anjos inocentes") torna-se estratégico pela sociedade conservadora brasileira e, também, por uma parcela da sociedade conservadora que ajuda a promover a "boa imagem" do "médium" e dos ídolos funkeiros pelo mundo afora. 

Tudo vira uma questão de conveniências e interesses que nada têm de realmente progressistas, mas de manipulação social e dominação das classes pobres, através da suposta imagem filantrópica de um ídolo religioso e de uma pretensa imagem libertária do ritmo funkeiro, ambos associados a formas paternalistas de anestesiamento do povo pobre, induzido, com tais "benefícios", a não se revoltar contra a opressão capitalista que encontra no Brasil um de seus terrenos férteis.