O terrível e preocupante medo em contestar Chico Xavier em tudo
Há um medo muito grande, muito preocupante, das pessoas em pôr em xeque o mito de Francisco Cândido Xavier, mesmo quando se revela dois gravíssimos escândalos que envolveram o suposto médium, não menos preocupantes do que aqueles que envolvem o presidente Jair Bolsonaro, como a sua associação com as milícias.
São dois escândalos, que em si deveriam causar decepção e até revolta: Chico Xavier apoiou a ditadura militar e praticou fraudes literárias com a participação de terceiros mas com a cumplicidade inescrupulosa do "médium", que se ofereceu até para colaborar com tais ações fraudulentas. Coisas que fariam uma sociedade menos imperfeita e bem menos ingênua saltar da cadeira e desfazer toda a idolatria dada ao suposto médium.
Nem a "caridade" pode servir mais de carteirada para Chico Xavier. Seria melhor parar com as papagaiadas que ficam repetindo, de maneira irritante, a frase "Mas Chico Xavier ajudou muita gente", ou então a outra "Tudo bem, mas Chico Xavier pelo menos fez caridade, né?". Afinal, ninguém diz que "Luciano Huck, pelo menos, ajudou o próximo", quando se denuncia que o apresentador fez comentários equivocados ou se envolve em crimes ambientais.
Devemos compreender que Chico Xavier NÃO fez caridade. Até porque essa tese é ventilada, pelos quatro cantos, sem oferecer qualquer tipo de fundamento nem de bases. As pessoas deveriam rever seus conceitos, para perceber se elas não estão mantendo fantasias ridículas e idolatrando as pessoas erradas. Existem teimosias e fantasias, entre adultos e até em idosos, muito piores do que aqueles vividos pela criançada.
Devemos perguntar as seguintes questões: Pedro Leopoldo e Uberaba subiram em padrão de vida da população? O Brasil chegou ao Primeiro Mundo? Quantas pessoas foram realmente ajudadas? Em que nível se consistiu tais ajudas? Mas nada disso foi feito e, se fosse feito, o resultado seria muito decepcionante: Chico Xavier, em verdade, NADA fez em favor do próximo.
Tanto que, por ironia, a frase que José Herculano Pires escreveu sobre Divaldo Franco, sobre a "conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores (fraudes "mediúnicas", apoio a farsas esotéricas e linguagem empolada), meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita", pode ser aplicada em Chico Xavier.
Afinal, a sua "caridade" virou carteirada para que aceitemos os erros do "médium" ou, ao menos, minimizássemos o teor de sua gravidade, para que se mantivesse o ídolo religioso, se não em um grande pedestal, como um semi-deus, pelo menos no "altar" dos "isentões", como um pretenso "homem simples e imperfeito", com uma carteirada mais abaixo, no terreno da falsa modéstia.
Não temos culpa de tais constatações. Usando os métodos de raciocínio recomendados e apoiados por ninguém menos que o professor Allan Kardec, chegamos às revelações que desagradam muitos, mas que revelam a farsa do famoso mito do "bondoso médium", que foi montado durante a ditadura militar com a habilidade dramatúrgica da Rede Globo de Televisão.
Afinal, quem imagina que, apoiando Chico Xavier, se está apoiando a "figura humana por trás do mito", se engana completamente, uma vez que o que se apoia não é uma pessoa real, mas aquele "vovô do boné" que aparece sempre nos núcleos sociais modestos nas novelas das 20/21 horas.
Daí que existe uma anedota que diz que, no imaginário popular, não é Nelson Xavier quem interpretou Chico Xavier, mas é Chico Xavier quem interpretou Nelson Xavier, naqueles papéis de vovô bonachão que o ator, que também já interpretou o cangaceiro Lampião, interpretou nas novelas.
PARA APOIAR CHICO XAVIER, SIMPATIZANTES BRIGAM COM OS FATOS E ATÉ CONTRARIAM OS ENSINAMENTOS DA CODIFICAÇÃO
Presos no pensamento desejoso, os adultos e idosos que blindam Chico Xavier se irritam quando aconselhados das farsas que o "médium" representou. Como pescadores caindo em "cantos de sereia", não raros são os exemplos de "gente grande" que, ao ver qualquer título de vídeo do YouTube favorável a Chico Xavier, ou algum meme com o seu retrato inserido sobre uma paisagem da Natureza, ficam paralisados e hipnotizados por tamanhos apelos manipuladores.
Os seguidores de Chico Xavier preferem brigar com a realidade dos fatos, com a lógica, com os argumentos mais evidentes. Chegam mesmo a usar o artifício semiológico da "falsa metáfora", quando se desconstrói fatos e conceitos óbvios criando uma falsa contextualização e falso relativismo, como forma de transformar uma ideia óbvia em outra que lhe é oposta.
Daí que, se, por exemplo, Chico Xavier apoiou a ditadura, esculhambando as esquerdas diante de uma grande plateia no programa Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971, um fato que revela as raízes ultraconservadoras do "médium", é relativizado pelos seus adeptos sob falácias do tipo "foi impulso do momento, ele depois aprendeu e mudou", algo que não procede, mas é sustentado por uma narrativa persistente e teimosa, com argumentos enganosos, mas convincentes.
Afinal, Chico Xavier já tinha 61 anos em 1971, idade considerada, na época, começo da velhice. Segundo as raízes conservadoras de Chico Xavier, a velhice é uma fase onde os valores se tornam consolidados e imutáveis, dificilmente se mudam os pontos de vista nesta faixa etária. Ainda mais quando, de 1985 a 2002, Chico Xavier tinha entre 75 e 92 anos, em que dificilmente um direitista histérico se mudaria, radicalmente, para um progressista "mais à esquerda".
Os fatos mostram isso. Chico Xavier apoiando Fernando Collor e sentindo horror a Lula. Seu conservadorismo era tanto que a mensagem "Recomeço", publicada em 1996, no livro Doutrina Escola, mais parece um texto para forçar o apoio a aspectos conservadores da reforma trabalhista de Eduardo Cunha, Michel Temer e Jair Bolsonaro (com Paulo Guedes assinando embaixo), que também eram um sonho da ditadura militar. Qualquer dúvida, é só ler esse texto, que NADA tem de progressista:
"RECOMEÇO
Quando o teu próprio trabalho te pareça impossível ...
Quando a dificuldade e sofrimento te surjam a cada passo ...
Quando te sintas à porta de extremo cansaço ...
Quando a crítica de vários amigos te incitem ao abatimento e à solidão ...
Quando adversários de teus ideais e tarefas te apontem por vítima do azar ...
Quando as sombras em torno se te afigurem mais densas ...
Quando companheiros de ontem te acreditem incapaz a fim de assumir compromissos novos ...
Quando te inclines à tristeza e à solidão ...
Levanta-te, trabalha e segue adiante.
Quando tudo reponte no caminho das horas, não te desanimes, porque terás chegado ao dia de mais servir e recomeçar".
Nele se observa as defesas do trabalho servil e exaustivo, e, se observarmos as ideias de Chico Xavier, ele apoiava também o fim dos encargos trabalhistas - ele provavelmente diria, com aquele jeito aparentemente dócil, "Para que ganhar tanto dinheiro, gente?" - e a submissão aos patrões que, para o "médium", são "também homens de Deus", daí que ele seria o primeiro a aplaudir a "livre negociação" entre padrões e empregados, outro item da reforma trabalhista.
Como relativizar isso? Será que o pensamento desejoso, no caso de Chico Xavier falar em reduções salariais, usando como desculpa o "desapego à matéria", fará as esquerdas considerarem "progressista" o fim dos encargos trabalhistas, quando eles recebem a bênção do "médium"? Nem o argumento mais habilidoso buscará sustentar, de forma menos frágil, qualquer relativização.
Os argumentos de relativização, que buscam uma sustentação intelectual a favor de Chico Xavier, são frágeis diante de um raciocínio aprofundado, e não raro contrariam abertamente a Codificação, até pelo conselho kardeciano mais precioso: "o que a Lógica e o Bom Senso reprovam, rejeitai-a (ideia) corajosamente".
Chico Xavier apresenta violações à Lógica e ao Bom Senso permanentemente, e tudo o que se faz é relativizá-lo, inventando "mistério" aqui e "metáfora" acolá, numa blindagem cafajeste, mais para proteger uma imagem fantasiosa em torno do "médium", que garante o êxito comercial e o sucesso midiático da religião "espírita", que comete mais traições a Allan Kardec (e, lembremos, traições ainda mais graves) do que Judas Iscariotes contra Jesus Cristo.
EXPLICANDO OS ESCÂNDALOS DE CHICO XAVIER
Sobre os dois gravíssimos escândalos de Chico Xavier, as fraudes literárias e seu apoio incondicional à ditadura militar, há aspectos lógicos e óbvios que acabam desmascarando o "médium" de maneira vergonhosa. Afinal, o que desmascara Chico Xavier é justamente o método de questionamento e de argumentação aconselhado por Kardec.
Em primeiro lugar, as fraudes literárias de Chico Xavier desmontam a tese que até mesmo os "jornalistas investigativos" de Superinteressante - incluindo o "isentão" Alexandre De Santi, "premiado" com um cargo de editor do portal Intercept Brasil - ignoram, que é a participação de editores da "Federação Espírita Brasileira" nas revisões editoriais, que não raro atingiam livros já publicados em primeira ou posteriores edições.
Até os "amigos espirituais" são uma citação bastante duvidosa que teria sido combinada por Chico Xavier e Antônio Wantuil de Freitas como uma senha para convencer os demais editores da FEB a permitir o uso de nomes de grandes escritores. Imagine o risco que é usar nomes como Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, Castro Alves e Humberto de Campos - então um destacado membro da Academia Brasileira de Letras - sem alguma desculpa a ser dada.
Daí os "amigos espirituais", creditados como Emmanuel (renomeação do antigo padre jesuíta Manuel da Nóbrega, falecido no dia do seu aniversário de 53 anos, 18 de outubro de 1570) e André Luiz (um fictício personagem cuja "última encarnação" envolve atribuições conflituosas e confusas envolvendo personagens como os médicos Carlos Chagas e Oswaldo Cruz), assim como, também, o suposto sonho que Chico Xavier disse ter tido com Humberto de Campos.
Não é difícil entender por que Chico Xavier não escolheu Machado de Assis para suas "psicografias". O nome deste escritor, parceiro de Olavo Bilac na fundação da ABL, já representava um grande prestígio popular, enquanto o de Olavo era mais restrito às elites cultas, e o estilo do autor de Dom Casmurro era muito conhecido e qualquer erro "psicográfico" iria pegar mal. Se o caso Humberto de Campos já causou problemas, imagine com Machado de Assis!
Esses são artifícios típicos de estórias de pescadores, sem qualquer embasamento lógico. Qualquer professor não iria acreditar em invencionices desse tipo, se fossem dadas por seus alunos. Mas sendo Chico Xavier, a "carteirada" personificada, se acredita até no mais infundado boato ou, quando isso não é possível, cria-se relativizações em argumentações escalafobéticas, das quais os "isentões espíritas" são os artífices mais empenhados.
Quanto ao apoio à ditadura militar, que Chico Xavier defendeu de maneira escancarada - é assustador que as esquerdas, quando falam de "médiuns de direita", manifestem silêncio absoluto em relação ao exemplo pioneiro e até mais radical do "médium" mineiro - , a ponto de ser condecorado pela Escola Superior de Guerra, instituição sustentadora do regime ditatorial, devemos parar de ser ingênuos.
Chico Xavier não apoiou a ditadura militar porque ele "era santo" e "sentia misericórdia dos militares repressores". Como também a Escola Superior de Guerra não iria condecorar alguém por causa de "santidade" alguma. Daí o caráter vexaminoso da tese de Ronaldo Terra, que usou a tese de "santidade" que não só blindou Chico Xavier como acabou "minimizando" o caráter cruel e calculista da Escola Superior de Guerra.
Embora Ronaldo Terra tenha se baseado na tese de "santidade" de Sandra Stoll e Bernardo Lewgoy, nem por isso essa postura se sustenta em embasamento lógico, antes sendo, meramente, um embasamento retórico, que em nada contribui para dar alguma consistência em seus argumentos.
Afinal, a Escola Superior de Guerra, com seu extremo rigor, estratégico para a sustentação do regime ditatorial, não iria investir dinheiro nem perder seu tempo para homenagear quem não desse uma colaboração, a mínima que fosse, para a ditadura militar. Só um tolo para considerar que a Escola Superior de Guerra fosse perder tempo homenageando quem não apoiava a ditadura e "vivia pelos pobrezinhos". Somos forçados, pela lógica, a creditar a tese de Ronaldo Terra como "tola".
Se Chico Xavier tivesse mesmo um pingo de humanismo, ele também não teria ido à ESG ser homenageado. Se ele fosse um "santo", como desejam Stoll, Lewgoy e Terra, Chico Xavier teria agradecido o convite, mas não teria comparecido à cerimônia. Ele teria dito, em mensagem educada, o seguinte: "Agradeço o convite dos prezados irmãos, mas tenho compromissos com os necessitados, não me achando em condições para tal comparecimento".
Alguém imaginaria a Escola Superior de Guerra abrindo mão de seus interesses estratégicos, numa época radical como 1971 e 1972? Nessa época, a ditadura militar executava um plano de extermínio sistemático de opositores, não só guerrilheiros, mas personalidades políticas como o deputado Rubens Paiva, e, mais tarde, o jornalista Vladimir Herzog, preso por não divulgar atividades do governo de São Paulo.
Como, então, a ESG iria dar uma pausa no seu endurecimento, naquele momento de repressão mais radical, época do AI-5 - que, para desespero de muitos, contou com o apoio de Chico Xavier (e ainda há gente que se arrepia quando se compara o "bom médium" a Jair Bolsonaro) - , para condecorar um "homem bom", ainda que sob o pretexto de "se promover às custas da santidade (!) de um homem".
Não há lógica alguma que sustente isso, e as narrativas que se promovem, mesmo apoiadas sob o "abrigo" das teses acadêmicas, são frágeis, por serem elas idealizadas, ainda que disfarçadas de "linguagem científica" e "abordagem imparcial".
Isso mostra o quanto o medo de questionar Chico Xavier e admitir seu lado mais negativo - é insuficiente apenas dizer que ele "era imperfeito e errou muito" ou que "ele era um endividado moral" - é muito grande e atinge um grande número de pessoas.
O apego a um "médium" mostra o quanto a fascinação obsessiva é um mal, uma doença que atinge as pessoas que, mesmo dotadas de algum nível de esclarecimento das coisas, ainda sofrem fraquezas emocionais profundas, a ponto de cair nesse "canto de sereia" personificado na figura do "bondoso médium", o único com o "privilégio" de ser compreendido pela penumbra da fantasia e não pela luz da Lógica e da Razão.