Quando a "imparcialidade" se torna sem fundamentação lógica


CARIDADE? UBERABA NÃO CONSEGUE SUPERAR A VIOLÊNCIA, SÓ PARA SE TER IDEIA DO NÍVEL DE DESIGUALDADE SOCIAL DESTA E DAS DEMAIS CIDADES BRASILEIRAS.

Francisco Cândido Xavier é "um dos maiores médiuns do mundo"? Não e nem chega perto de ser um dos maiores do Brasil. Até o xará Chico Anysio lhe passou a perna, pois seus personagens são mais mediúnicos e diferenciados, havendo diferenças profundas entre Justo Veríssimo e Professor Raimundo, entre Jovem e Salomé, entre Coalhada e Alberto Roberto. Outros mais mediúnicos foram, também, o poeta português Fernando Pessoa e o cantor britânico David Bowie.

Francisco Cândido Xavier fez "muita caridade"? Não e nem chegou na primeira tentativa. Negar o cachê da venda de livros é fácil, quando a "Federação Espírita Brasileira" continuava sustentando o "médium", dando-lhe significativo conforto como se este fosse tutelado pela instituição. E era. Quanto a ações filantrópicas, elas não só estavam nos limites do Assistencialismo de baixíssimos resultados sociais, como não era o "médium", mas seus seguidores, que faziam as doações.

A blindagem de Chico Xavier revela o quanto seus seguidores, quando se fala a favor do "médium", colocam os fundamentos e embasamentos às favas, na lata do lixo, porque cobrar fundamentação só serve quando os comentários e fatos lhe são desfavoráveis.

Contra Chico Xavier, se cobra o rigor da lógica, tão rigoroso que deixa de ser lógica para ser tão somente rigor. Mas quando é a favor dele, qualquer boataria serve, qualquer Candinha que no YouTube invente fantasias em favor do "médium" ganha credibilidade, e a falta de fundamentação, neste caso, é tanta que nem sequer perguntamos se a tal Candinha tem credibilidade ou não.

Qualquer um que ventile qualquer coisa em favor de Chico Xavier ganha credibilidade. Seja até mesmo um Saulo Gomes, antigo jornalista investigativo, que, diante do "médium", deixou de lado a antiga objetividade jornalística para ser um propagandista, um jornalista chapa-branca, com um desempenho que faria Attila Paes Barreto, o verdadeiro jornalista investigativo no que se refere à trajetória do "médium", ficar revirando no túmulo.

IDEIA EQUIVOCADA DE "IMPARCIALIDADE" E "ISENÇÃO"

No Brasil, se tem a ideia equivocada de "imparcialidade" e "isenção" que escondem sua posição, seu lado, que é extremamente conservador. O discurso "não sou de direita nem de esquerda", "não tenho ideologia", "não tenho lado" e a necessidade de "tratar um assunto com objetividade, imparcialidade e isenção" revelam, na verdade, uma posição que revela um conservadorismo e até um direitismo.

Isso se deve porque, no nosso país, ser "normal" é ser conservador. É só ver os valores que prevalecem na sociedade "normal" e "isenta", que se verá desde um moralismo rigoroso até mesmo uma abordagem historiográfica moldada no ponto de vista dos "vencedores", no caso o empresariado, o latifúndio e o agronegócio, o patriarcado machista, as elites ricas e paternalistas e as classes subalternas que se submetem ao poder social dominante.

Por isso que se fala que "imprensa imparcial" é aquela que "reconhece virtudes" no tirano ou oligarca de plantão. Monografia "objetiva" é aquela que, na prática, desproblematiza uma problemática, pois determinado fenômeno estudado, pouco importando se é uma festa religiosa no interior nordestino ou uma onda de feminicídios registrada em determinada época, analisados friamente pelo "discurso neutro" das monografias assépticas e cosméticas, pois se valem mais pela arrumação das palavras e pelo cumprimento de normas técnicas de linguagem textual.

Temos ideias equivocadas de "equilíbrio", no qual sempre se vale manter o "estabelecido", por mais injustiças que ele provoca. Temos ideias equivocadas de "isenção", que mais parece uma omissão em relação a um problema, disfarçada por um fingido reconhecimento de seus problemas. E temos ideias equivocadas do que é "meio-termo", no qual se contenta com o suposto equilíbrio do "menos ruim" com o "pior ainda", que se torna o padrão da "imparcialidade" defendida pela maioria da população.

ABORDAGENS ASSÉPTICAS

No que se diz a Chico Xavier, as abordagens em favor de sua pessoa é que são desprovidas de objetividade. Teses "científicas" de fachada, que atingem o exterior através de publicações de baixa reputação, reportagens de veículos midiáticos de terceiro escalão e, ainda assim, através de "informações de release" trazidas pela FEB e aceitas sem questionamentos, revelam o quanto essa "imparcialidade" tem de asséptica, mas também de intelectualmente estéril e oca.

Vamos observar, por exemplo, duas conduções acadêmicas, revendo a contradição que fez o acadêmico Alexandre Caroli Rocha ser vítima de seu próprio julgamento de valor, quando ele reprovou a avaliação crítica dos que duvidavam das "psicografias" creditadas a Humberto de Campos e, em seguida, avaliou o caso das "psicografias" de Jair Presente.

Notemos o primeiro caso, publicado no ensaio "Complicações de uma estranha autoria (O que se comentou sobre textos que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos)", na revista Ipotesi, de Juiz de Fora, de julho-dezembro de 2012:

"Concluímos, pois, que os veredictos taxativos para a identificação do autor são possíveis somente com a assunção de uma determinada teoria sobre o postmortem ou sobre o fenômeno mediúnico. Quando, no debate autoral, ignora-se a relação entre teoria e texto, percebemos que a apreensão deste é bastante escorregadia, mesmo entre leitores especialistas".

Não bastassem os critérios discutíveis que fazem Caroli Rocha, que se autoproclama "especialista em literatura", evitar contestar a obra do suposto espírito pela comparação textual - que, obviamente, seria desmascarada, porque as "psicografias" sob o nome Humberto de Campos claramente divergem profundamente do que o autor maranhense havia feito em vida - , preferindo o risível critério de analisar as obras "matematicamente" (?!), através de combinações silábicas, ele se contradisse no segundo caso.

É só ver o que noticiou uma  matéria publicada pelo jornal paraense O Liberal, de 01 de fevereiro de 2015, a respeito do caso Jair Presente, no qual o título soou um veredito taxativo: "Cartas de Jair Presente são verídicas, aponta pesquisa". Mas Caroli Rocha foi "bastante escorregadio" em sua tese, como vemos a seguir, primeiro considerando o seu veredito taxativo:

"O levantamento realizado no lote de cartas apontou 99 informações objetivas e passíveis de verificação. E todos os dados colhidos eram precisos e verídicos. Nenhuma informação extraída das cartas atribuídas a Jair Presente estava incorreta ou era falsa, segundo familiares e amigos entrevistados pelos pesquisadores. Também foram usados documentos, jornais da época e registros em cartórios".

Em seguida, a apreensão "bastante escorregadia" que fez Caroli Rocha contradizer a si mesmo:

É reiterado, porém, que o estudo não comprova que as cartas tenham realmente sido escritas por alguém morto, mas sustenta que os relatos apresentados nelas são verídicos".

Essa postura "imparcial" torna-se vergonhosa porque, intelectualmente, revela uma preocupação em evitar questionar o "estabelecido" - a "psicografia" de Chico Xavier, cheia de irregularidades - através de uma pretensa objetividade, já que o senso crítico é visto, pela sociedade dissimuladamente conservadora de nosso país, que se pinta pelo verniz da "isenção", como "opinião pessoal".

Se fosse no Brasil, a grande maioria dos mais prestigiados e conceituados intelectuais do mundo simplesmente não teria 1% do cartaz e visibilidade que possuem, nem mesmo seriam formadores de opinião, porque eles seriam barrados em cursos de pós-graduação, já que os diplomas de Mestrado e Doutorado dão a uma personalidade as condições de visibilidade e prestígio que lhe permitem uma maior influência nos processos de formação de opinião, sobretudo num país desigual como o nosso.

Em contrapartida, vemos que muitas das teses de pós-graduação que se valem da cosmética da "abordagem científica", com textos arrumadinhos, assépticos e sem um pingo de contestação da "problemática" estabelecida, acabam de uma maneira ou de outra mostrando momentos vergonhosos, não bastasse que a falta de senso crítico é também "compensada" pela falta de fundamentação em diversos argumentos.

A tese "O Coronelismo Despótico de Uberaba (MG): dos coronéis da Princesa do Sertão aos 'coronéis' do zebu na nova configuração hegemônica das elites uberabenses no período de 1960 a 2007", de 2013, de autoria de Roberta Afonso Vinhal Wagner, autora da tese de Doutorado da Universidade Federal de Uberlândia, também é um amontoado de teses sem fundamentação.

Nesta tese - cujo texto está bloqueado para reprodução, mesmo parcial, de seus trechos - a acadêmica, embora admitisse que Chico Xavier trabalhava para os proprietários de terra de Uberaba, se envolvendo com inspeção sanitária de gado zebu, tentava definir o "movimento espírita" local sob uma imagem supostamente progressista e "filantrópica".

Roberta trabalhou esta tese sem trazer fundamento teórico nem argumentação conssitente para isso e menosprezando as ideias ultraconservadoras do "médium", claramente expressas por livros e depoimentos do "médium".

Ela nem sequer explicou o conservadorismo das ideias xavierianas e se limitou apenas à imagem religiosa do "médium" e as alegações emotivas que exaltam o "espiritismo" brasileiro como "religião da caridade", superestimando até o fato de que alguns "espíritas" teriam sido vítimas da ditadura militar (mas, somente os de esquerda, pois Chico Xavier era protegido dos militares).

Afinal, em 1971, no momento mais crítico da ditadura militar, Chico Xavier deu seu apoio convicto, diante de um grande público (bem maior, considerando as audiências fora dos estúdios da TV Tupi, onde estava uma plateia enorme do programa Pinga Fogo, e a audiência posterior que vale até hoje, nos vídeos divulgados nas redes sociais) ao regime ditatorial, fazendo comentários hidrófobos contra as esquerdas e pedindo para que "orássemos em favor das Forças Armadas".

É aí que entra outra tese vexaminosa, também respaldada pela abordagem asséptica. Trata-se de Ronaldo Terra, com sua tese acadêmica lançada em 2011, "Fluxos do Espiritismo Kardecista no Brasil: Dentro e fora do continuum meidúnico", dissertação de Mestrado em Ciências Sociais da Universidade do Estado de São Paulo (UNESP).

Ele inventou uma teoria risível e constrangedora que tentou negar que Chico Xavier teria colaborado com a ditadura militar, quando mencionou a homenagem que a Escola Superior de Guerra deu ao "médium", em 1972, fato citado no livro As Vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior:

"A declaração de simpatia pelo governo não termina no discurso. Ao final do programa, Chico contempla a plateia com um poema psicografado e assinado, simplesmente, por Castro Alves. Nele, uma nova homenagem: “Dos sonhos de Tiradentes/ Que se alteiam sempre mais/ Fizeste apóstolos, gênios/ Estadistas, generais” (MAIOR, 2003, p. 198).

O reconhecimento não tardou, convidado pela Escola Superior de Guerra, Chico dá uma palestra aos alunos e, ao final, é homenageado com o hino da instituição cantado pelos cadetes. Enquanto sua atuação rendia comentários e protestos de religiosos e jornalistas, o médium usufruía do prestígio obtido. No dia 22 de setembro de 1972, recebeu na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o título de Cidadão do Estado da Guanabara. Nesta data, estava entre os ilustres presentes, o almirante Silvio Heck (MAIOR, 2003)".

A tese de Ronaldo Terra ocorre através da seguinte argumentação:

"Assim, podemos afirmar que sua conduta amistosa em relação aos militares jamais seria questionada pelos espíritas e que, ao homenagear a ditadura, ele evita qualquer tipo de censura, podendo exercer livremente suas atividades e divulgar os preceitos da doutrina. Da mesma forma, os “comandantes políticos” aproveitaram-se da situação para usufruir do crédito revelado por um homem com perfil de santo, capaz de atrair indivíduos dos mais diversos segmentos religiosos, o que desviava o foco do clero e suas críticas.

Aliás, se considerarmos os estudos de Stoll (2002; 2003; 2004) e Lewgoy (2001), citados no início desse capítulo, compreenderemos que as atitudes complacentes de Chico Xavier com o exército brasileiro eram mais condizentes com o perfil católico de santidade assumido por ele do que propriamente uma estratégia em busca de legitimação ou um ato de colaboração com a ditadura militar, condição que não reverte o relacionamento amigável do médium com os militares".

A teoria não procede, apesar das bonitas palavras de Ronaldo Terra. Mas quem diz que a lógica e a realidade dos fatos só aponta para coisas agradáveis? Vejamos então o absurdo da teoria do referido acadêmico, que define os militares da ESG como "aproveitadores da situação", usufruindo do prestígio de um homem que, segundo Terra, tinha "perfil de santo".

Não existe lógica nessa concepção, como também não há lógica em dizer que Chico Xavier apoiou a ditadura para "ter liberdade para atuar como médium". Não é preciso saber por que esse Ronaldo Terra tornou-se uma personalidade apagada, sem expressão nem credibilidade no meio intelectual e sem a menor credibilidade. Ao menos, Caroli Rocha e Alexander Moreira-Almeida são protegidos da FEB. Ronaldo Terra, ao que tudo indica, é apenas um laico.

Haveria mais lógica, todavia, se admitirmos que Chico Xavier ficou ao lado dos opressores e a Escola Superior de Guerra o homenageou porque, pasmem, ele havia colaborado com a ditadura militar com um apoio explícito e escancarado e que, anos depois, seria reforçado com a farsa das "cartas mediúnicas", como "cortinas de fumaça" para a crise política do regime ditatorial.

Paremos para pensar. A Escola Superior de Guerra, laboratório de concepção e sustentação da ditadura militar - foi ela que planejou o golpe de 1964, arranjando apoio até da "sociedade civil" através de atuações militares nas atividades do "Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais" (IPES) - , nunca iria perder tempo e dinheiro homenageando quem não colaborasse com o regime militar.

Fazer cerimônias e conceber diplomas - que, naquela época, tinham custo maior do que a simples impressão por computador hoje em dia - era um custo e a ESG, com interesses estratégicos, não iria investir em homenagens se o homenageado não tivesse uma atitude de colaboração com o regime ditatorial.

Além disso, por outro lado Chico Xavier contrariou seu suposto humanismo. Afinal, um humanista não fica ao lado dos opressores, mesmo que seja para ter livre atuação e ser mantido vivo. O verdadeiro humanista iria combater os opressores e se expor ao risco de ser até condenado e morto por eles, porque sua prioridade é a defesa incondicional dos oprimidos. Neste sentido, até o homônimo Chico Mendes deu um banho de humanismo ao enfrentar os "coronéis" locais

Não é difícil entender essa contradição de Chico Xavier. É só ver o exemplo do próprio Jesus Cristo, que foi condenado à cruz porque foi um severo crítico dos opressores, representados, em seu tempo, pelas autoridades religiosas e políticas que dominavam o Império Romano, que tinha na Judeia (atualmente, o Sul da Cisjordânia) um de seus territórios.

Ronaldo Terra se esquece que as religiões podem se aliar aos opressores e poderosos. O Catolicismo medieval não só era aliado de tiranos monarcas, como também promoveu sua tirania, em diversos aspectos. O Catolicismo alemão apoiou, nos anos 1930, a ascensão do nazismo. Madre Teresa de Calcutá foi condecorada pelo presidente estadunidense Ronald Reagan, que ordenou banhos de sangue na América Central, exterminando movimentos progressistas em países como Guatemala e El Salvador.

As igrejas evangélicas neopentecostais, como Igreja Universal do Reino de Deus, apoiam o governo fascista de Jair Bolsonaro. "Homens de bem" que se dizem "cristãos" historicamente se envolveram em crimes de cunho necropolítico - morte em série para "controlar a população" - , como feminicídios, violência no campo e mesmo esquadrões da morte. Mesmo entre os milicianos existem "evangélicos" e "espíritas", que se envolvem até em atividades "filantrópicas" nas comunidades por eles dominadas.

Por que as pessoas se recusam a admitir que Chico Xavier colaborou com a ditadura militar e não é aquele símbolo de humanismo que tanto se acredita? Um homem pode cair e mesmo um ídolo religioso pode, um dia, ser desmascarado e virado alvo de decepção. Chico Xavier não pode estar acima dos fatos nem da realidade, ele não é dono da verdade, porque a verdade não circula ao redor de sua pessoa nem de seu prestígio pessoal.

Se ele apoiou a ditadura militar, é porque ele apoiou, mesmo, porque ele era um reacionário, era um sujeito ultraconservador, e a tese de que Chico Xavier colaborou com a ditadura militar se sustenta não de alegações dos opositores, mas de gente simpática ao "médium" que, nem por isso, deixa de exibir, mesmo por acidente, os pontos mais macabros da trajetória do "bondoso homem".

Isso choca muita gente, que ignora, aliás, que o mito do "médium iluminado" que até hoje sustenta Chico Xavier foi uma propaganda enganosa trazida pela ditadura militar. E sua "caridade", trazida sem fundamentação, sem argumentos, é aceita sem questionamentos, sem dados precisos, bastando apenas soprar uma boataria tipo "Chico Xavier ajudou muita gente" que vai qualquer um anotar, com a subserviência de gado bovino, crente nesse "disse-me-disse" religioso.

É o que vemos, também no campo da "imparcialidade", em duas matérias da BBC Brasil, que em outros terrenos é esforçada em termos de jornalismo investigativo, mas quando o assunto é Espiritismo, suas matérias mais parecem releases da "Federação Espírita Brasileira", com tantas citações chapa-branca em torno de Chico Xavier.

É só ver a matéria intitulada "Como Allan Kardec popularizou o espiritismo no Brasil, o maior país católico do mundo", do correspondente André Bernardo e publicada em 01 de abril de 2019, no qual aceita, sem questionamentos, aspectos duvidosos da trajetória do "médium", como as "psicografias" que começaram com o fraudulento Parnaso de Além-Túmulo, cujas fraudes foram confirmadas, sem querer, por Ana Lorym Soares, em outro trabalho asséptico.

A matéria de BBC Brasil aponta uma série de falhas de argumentação e da falta de questionamento dos pontos de vista apresentados. Mesmo quando admite que, no "espiritismo" brasileiro, que é predominante o lado religioso sobre o científico, não há o questionamento necessário que aponta a deturpação, que com tanta evidência mostra conflitos entre as ideias de Chico Xavier e os ensinamentos originais da Codificação.

Até mesmo as "obras assistenciais" são ventiladas sem qualquer fundamentação, sem qualquer esclarecimento, o mínimo sequer. A "caridade" de Chico Xavier, nesta e nos demais textos em favor do "médium", é afirmada sem motivo, sem explicação, sem detalhamentos, sem qualquer dado preciso nem abordagem objetiva. Por outro lado, ao questionarmos essa "caridade", veremos indícios de práticas meramente assistencialistas, nos moldes medíocres de Luciano Huck, admirador confesso do "médium".

Se a "caridade" de Chico Xavier, tão glorificada em um "consenso" de gado bovino, fosse realmente verdade, cidades como Pedro Leopoldo e Uberaba teriam elevados padrões de vida, e não quadros de pobreza e violência que atingem, sobretudo, a cidade do Triângulo Mineiro onde o "médium" passou suas últimas décadas.

Hoje Uberaba está entre as quinze cidades mineiras com maior índice de violência contra a mulher e a polícia tem trabalho para combater o crime e os homicídios que atingem a região. E não é "falta de Chico Xavier no coração", porque ele é mais idolatrado, na cidade, do que muita celebridade ou mesmo os astros do "sertanejo" e do Big Brother Brasil.

Com isso, é nas abordagens "imparciais" que blindam Chico Xavier onde se encontram problemas de argumentação bastante graves, onde a idolatria religiosa, buscando um suporte "mais científico", naufraga em uma série de contradições, equívocos e até mesmo impasses teóricos.

Por sorte, a Fé é o terreno onde a fantasia prevalece, o pensamento desejoso exerce sua vigilância, no combate aos fatos reais - considerados "desagradáveis" e "incômodos" pela religião - , e as contradições são jogadas debaixo do tapete, como uma sujeira que ninguém se encoraja a tirar.

A blindagem que beneficia Chico Xavier, no entanto, contraria frontalmente os ensinamentos kardecianos, que recomendam o mais enérgico senso crítico, sempre que necessário. Além disso, é inadmissível se colocar um ídolo religioso acima de tudo, até da verdade. Segundo recomenda o próprio Allan Kardec, o que a lógica e o bom senso reprovam, rejeitai corajosamente, mesmo que isso ponha em xeque crenças e devoções religiosas tão caras para muitas pessoas.

Além disso, Kardec também aconselha: "Conforme as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever, pois é melhor que um homem caia, do que muitos serem enganados e se tornarem suas vítimas. Em semelhante caso, é necessário balancear as vantagens e os inconvenientes".

O Brasil nunca irá para a frente, se as pessoas não se desapegarem de Chico Xavier, cuja trajetória tem milhares de exemplos de afronta à Lógica e ao Bom Senso, e cuja idolatria religiosa, mesmo disfarçada de "admiração saudável de um homem imperfeito e simples", faz com que fosse preferível que nosso país caísse, como uma população inteira jogada do abismo, do que cair um "médium" que, com todas as ideias agradáveis que o cercam, se revela enganador pela luz dos fatos e da lógica.