Caso João de Deus complica situação do mito de Chico Xavier
Sabemos que, na Doutrina dos Espíritos, existe o chamado "livre arbítrio", entendido como a liberdade das decisões individuais dentro das condições da consciência de que será responsável pelas próprias consequências.
Dizendo isso, entendemos que o caso do suposto médium e também latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, é de responsabilidade pessoal dele. João voltou à tona depois que a Globoplay lançou o documentário Em Nome de Deus, sobre a investigação jornalística que levou às denúncias contra o "médium" de Abadiânia, interior de Goiás (e a meia-hora de Uberaba).
Todavia, o respaldo de Francisco Cândido Xavier para abafar os crimes de João de Deus, que em 1993 já era acusado de charlatanismo, exercício ilegal da Medicina e de denúncias de assédio sexual, tem que ser também considerado.
Afinal, se existiu o livre arbítrio de João de Deus em assediar mulheres e realizar estranhas consultas íntimas, foi também escolha pessoal, portanto, também livre arbítrio, de Chico Xavier, que em sua trajetória cometeu atos arrepiantes, como apoiar fraudes de materialização, apoiar a ditadura militar e o AI-5, e passar pano em farsantes como Otília Diogo e João de Deus.
CARTA DE CHICO XAVIER OFERECENDO "CASA ESPÍRITA" COMO ESCUDO PARA OS ABUSOS DE JOÃO DE DEUS.
Chico Xavier solicitou a doação de um terreno para servir de "abrigo" para João de Deus, na tentativa de abafar denúncias de crimes. Foi aí que surgiu a Casa Dom Inácio de Loyola. O mais irônico disso tudo é que quem noticiou isso foi o jornal O Globo, das mesmas Organizações Globo que ajudaram a inventar o "mito iluminado do bondoso médium", usando o método adotado por Malcolm Muggeridge para glorificar Madre Teresa de Calcutá e fazer o mesmo com Chico Xavier.
Note-se que as denúncias contra João de Deus vieram desde 1983. E Chico Xavier blindou o suposto médium goiano dez anos depois. Chico Xavier estava velho em 1993, com 83 anos de idade, fase em que muitos alegavam que, se o suposto médium mineiro errou, ele "aprendeu", se limitando apenas a ser um dócil símbolo de "amor e bondade", imagem desmentida por esse apoio cúmplice a João de Deus.
JOÃO DE DEUS ENTRANDO NA CASA DOM INÁCIO DE LOYOLA, PRESENTEADA POR CHICO XAVIER.
Devemos nos lembrar que Chico Xavier apoiou, também, fraudes de materialização, o que significava que ele, como um arrivista, apoiava outros que, como ele, haviam furado a fila da ascensão pessoal, primeiro atuando de maneira desonesta para depois arrumar atividades de pretensa caridade ou pretenso ativismo progressista para seduzir a opinião pública.
Não há como não ver cumplicidade de Chico Xavier nesses episódios. No caso de Otília Diogo, de Uberaba, nota-se, nas fotos de Nedyr Mendes da Rocha, que Chico Xavier estava muito comunicativo e extrovertido nos bastidores da farsa das supostas materializações, e chega-se ao ponto do "médium" aparecer dando explicações a determinadas "técnicas". Dizer que Chico Xavier foi enganado por Otília é uma grande ingenuidade, porque ele dava mostras que estava por dentro da farsa, dando indícios de cumplicidade.
CHICO XAVIER SE COMPORTAVA COMO SE FOSSE CÚMPLICE DAS FRAUDES DA PRETENSA MÉDIUM OTÍLIA DIOGO.
O respaldo de Chico Xavier a pessoas arrivistas mostra o quanto, no Brasil, o "jeitinho brasileiro" ganhou um respaldo no "movimento espírita". As revelações, acidentais, de Ana Lorym Soares, de que as "psicografias" sofriam modificações editoriais de dirigentes da FEB, com o apoio e a disposição em colaborar - o que indica, também, cumplicidade - do próprio Chico Xavier.
ATESTADO TENTANDO LEGITIMAR A FRAUDULENTA "MATERIALIZAÇÃO" DO ESPÍRITO DE IRMA DE CASTRO ROCHA, A MEIMEI, COM O RETRATO DELA COLADO NA CABEÇA DE UMA MODELO, EM CONTRASTE COM O FORMATO CRANIANO DA FALECIDA JOVEM.
Um dos dados mais estranhos é que Parnaso de Além-Túmulo sofreu cinco modificações editoriais, após o lançamento da primeira edição. Isso impossibilita qualquer chance de autenticação, porque, em se tratando, em tese, de "obra de benfeitores espirituais" - supõe-se, oficialmente, que os "autores espirituais" tivessem se disponibilizado para enviar "mensagens edificantes" - , elas não teriam sido modificadas.
As modificações incluíram detalhes tolos como num poema supostamente atribuído a Júlio Dinis no qual havia o verso "Sorrindo... Sorrindo..." que incomodava pessoalmente Chico Xavier, que pediu para o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas - enganado nas modificações editoriais, assim como os dirigentes da federação e até seus familiares - para trocar o verso por "Sorrindo... Cantando...".
RESUMO DAS DIFERENÇAS ENTRE A OBRA ORIGINAL DE HUMBERTO DE CAMPOS E SUA SUPOSTA OBRA MEDIÚNICA.
Mas as obras foram, desmascarando a farsa, e não somente a referida antologia poética, da qual era "bom demais para ser verdade" uma multidão de grandes escritores, brasileiros e portugueses, viessem de uma vez, por intermédio de um funcionário público caipira e matuto, para difundir "mensagens de Deus", que recebeu modificações editoriais, muitas vezes após a primeira edição.
Há outras obras que foram modificadas, inclusive as que levam o nome de "Humberto de Campos" ou de "Irmão X", e depois da primeira edição. Humberto é o caso mais grave de apropriação indébita de um nome, sugerindo que seu nome foi usado por Chico Xavier como revanche a uma resenha da qual o escritor maranhense, quando vivo, desaprovou a obra "psicográfica" do "médium" mineiro.
COMPARAÇÃO ENTRE A OBRA ORIGINAL DE HUMBERTO DE CAMPOS E A SUPOSTA PSICOGRAFIA, EM MATÉRIA DA REVISTA DA SEMANA, DE 08 DE ABRIL DE 1944.
Essas irregularidades são trazidas por fontes que podem ser antipáticas ou mesmo simpáticas a Chico Xavier, surpreendendo neste segundo caso. Há "fogos amigos" que, por trazerem, sem a menor intenção e, portanto, acidentalmente, as fraudes e outros aspectos sombrios do "médium", merecem maior atenção, porque são pessoas aparentemente admiradoras de Chico Xavier que acabam revelando aquilo que o colóquio popular chama de "coisas podres".
No caso de João de Deus, a coisa complica mais ainda, porque Chico Xavier contribuiu para que o "médium" goiano continuasse fazendo seus crimes às escondidas, e, o que é mais grave, sob a fachada do assistencialismo e da espiritualidade.
Neste caso, Chico Xavier abriu a porteira e, se o "médium" mineiro não teve responsabilidade direta nos crimes de João de Deus, teve responsabilidade para permitir que um sujeito já acusado pelos crimes se engrandecesse, sem que houvesse algum remorso. Como todo arrivista, havia a esperança apenas de João "deixar de fazer" os seus crimes, e atuar somente na "caridade", como todo arrivista que deixa de cometer erros apenas porque perdeu o interesse nisso.
Já se acumulam, na Internet, as informações sobre a trajetória sombria de Chico Xavier, que já deveria ser descartado só pelo fato de ter sido um deturpador da causa espírita. Do uso de "nomes ilustres" para promover mistificação e iludir o grande público até fazer supostas profecias com datas pré-determinadas (como a "data-limite" de 2019), Chico Xavier cometeu desvios gravíssimos em relação aos ensinamentos espíritas originais que causa muita estranheza que haja gente aproveitando o "médium" nas tentativas de recuperar as bases doutrinárias kardecianas.