Por incrível que pareça, Chico Xavier desmente a sua tão falada "caridade"
A CARIDADE QUE SE ATRIBUI A CHICO XAVIER NÃO É TÃO INDISCUTÍVEL E É BEM MAIS LIMITADA E DUVIDOSA DO QUE SE IMAGINA.
Parece um disco riscado. Chico Xavier deturpou o Espiritismo? "É, mas pelo menos ele fez caridade". Chico Xavier defendeu a ditadura militar? "É, mas pelo menos ele fez caridade". Chico Xavier era um católico ortodoxo? "É, mas pelo menos ele fez caridade". Chico Xavier fez fraudes literárias? "É, mas pelo menos ele fez caridade".
Aparentemente, até os críticos das atividades de Chico Xavier creem, no seu resíduo de boa-fé, na suposta caridade do "médium". Até Padre Quevedo, até qualquer jornalista que pusesse até mesmo um xeque-mate na obra do "médium" (como José Hamilton Ribeiro, da Realidade e, depois, do Globo Rural, que fez uma "pegadinha" que desmascarou o religioso), até críticos da deturpação espírita como Sérgio Aleixo (um dos raríssimos que podem falar em nome de Allan Kardec no Brasil), acreditam na "bondade infinita" do "médium".
São crenças que parecem realistas e comprováveis, mas não são. Primeiro, porque a "caridade" de Francisco Cândido Xavier não foi mais do que a mesma filantropia espetacularizada que, atualmente, está representada pelo apresentador de TV Luciano Huck, que já avisou a Deus e, senão o mundo, pelo menos o Brasil, que é admirador confesso do "médium". E acredita na "bondade" dele. Também, é o mesmo método de filantropia antes designado ao "médium" e hoje exercido por Huck.
Segundo, não foi Chico Xavier quem realmente fez a tal "caridade", mas terceiros, como seguidores e voluntários. Chico Xavier também não doou dinheiro, porque ele já estava nos cofres da "Federação Espírita Brasileira", que sustentava o "médium" em padrões de conforto pequeno-burgueses e em maneiras que lembram o sustento dado aos membros da família real britânica, descontando o aparato de "simplicidade" e "pobreza".
Nem as "peregrinações" do "médium" para assistir os aflitos pode ser considerada, uma vez que podem ser também ações de marketing, pois elas foram feitas segundo a cartilha do inglês Malcolm Muggeridge, que havia promovido uma imagem "positiva" de Madre Teresa de Calcutá, escondendo o fato de que ela promovia holocausto, deixando os seus alojados das Missionárias da Caridade em condições degradantes, sem higiene nem alimentação digna e nem tratamento algum de saúde.
Além do mais, é tanto alarde que se fica desconfiando. O ditado "a esmola quando é demais, o santo desconfia" poderia ser vista como uma metáfora, traduzida como "o sujeito que tanto espalha por aí que é caridoso traz desconfiança em espíritos mais evoluídos e esclarecidos".
Outro ditado vem à tona: "Quem muito diz ser, no fundo não é, porque quem é não precisa ficar dizendo o tempo todo". Fala-se o tempo todo que Chico Xavier "fez caridade" e matérias de veículos que, eventualmente, publicam matérias investigativas, como BBC Brasil, brocham diante do "médium" e despejam, sem verificar dados nem apresentar fundamentação, sobre as "obras de caridade" do "médium".
Ou seja, ninguém diz que obras seriam estas, que trabalhos seriam, e as pessoas vão dormir tranquilas. Qualquer boato que seja a favor de Chico Xavier deixa todos satisfeitos. Ninguém vai verificar nem questionar. Até quando se exagera, definindo, por exemplo, Chico Xavier como um Super-Homem, atravessando o alto-mar para salvar náufragos, é "rejeitado" sob sorrisos alegres e maternais, como um pai que, bondosamente, diz "Essas crianças...".
E isso é gravíssimo, quando se considera, em contrapartida, que essas mesmas pessoas exigem o rigor dos rigores quando existem fatos e indícios contra Chico Xavier, apontando um dado negativo que vem à tona. Neste caso exigem o rigor dos rigores e ainda não se satisfazem com os resultados.
Esses "espíritas", sobretudo os que se autoproclamam "isentos" e até "não-espíritas" - com o estranho alarde de que "não seguem o Espiritismo" - , não confiam sequer no rigor da Razão e da Lógica, e apelam para o discurso hipócrita de que "o óbvio é óbvio demais para ser verdade". Chegam mesmo a pôr em dúvida o cientificismo de Allan Kardec, não pelas mudanças de contexto, mas simplesmente pelo cientificismo em si.
Isso porque os "isentos" cobram rigor de investigação contra Chico Xavier. Cobram um rigor da Razão tão rigoroso que deixa de ser Razão para ser somente rigor. E, quando provas e resultados objetivos são mostrados, eles ainda não aceitam. Ou seja, exigem provas, mas quando elas são apresentadas, eles as rejeitam. Não confiam no óbvio, quando lhes desagradam, e sobra pedrada até para Allan Kardec, considerado "antiquado" não por ter vivido no século XIX, mas por ser "cientista demais".
COMO CHICO XAVIER DESMENTIU SUA CARIDADE
Um pouco de raciocínio lógico é capaz de explicar, com muita segurança, que a "caridade" de Chico Xavier foi uma farsa. Vejamos os seguintes aspectos:
1) Sua "caridade" não ultrapassou os limites do Assistencialismo, um tipo de suposta caridade considerado de resultados fajutos, feitos mais para romover o "benfeitor" do que ajudar os mais necessitados;
2) Não era Chico Xavier quem ajudava, mas seus seguidores, assim como são os patrocinadores, e não Luciano Huck, quem fica assistindo pessoas pobres e necessitadas;
3) Quando Chico Xavier "ajudava de verdade", como suas aparentes "peregrinações", em tese, em favor dos miseráveis - inclusive os "sem teto" que ele esculhambou diante do grande público no Pinga Fogo da TV Tupi - eram apenas atos de marketing feitos para obter protagonismo e promoção pessoal;
4) As "cartas mediúnicas" foram apenas uma armação que, não bastasse o processo fake (alimentado pela "leitura fria" e por pesquisas em materiais escritos) dessas obras, elas eram feitas visando a espetacularização da morte, a aceitação do "sacrifício" da ditadura militar e a submissão dos pobres e miseráveis ao jugo do "bondoso médium".
Embora José Herculano Pires, na sua boa-fé como espírita autêntico, mas misericordioso, tenha blindado Chico Xavier ignorando o ditado "amigos, amigos, negócios à parte", podemos aplicar ao "bondoso médium" o comentário que o tradutor da obra kardeciana no Brasil fez sobre Divaldo Franco, em uma famosa carta:
"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".
Nota-se que a "caridade" de Chico Xavier também é usada como disfarce e escudo para a sustentação de sua esperteza, para o acobertamento de escândalos gravíssimos sob os quais pesa até uma suspeita de "queima de arquivo" na morte do sobrinho Amauri Xavier, que iria revelar escândalos que impulsionassem, também, outras denúncias sobre as atividades sombrias da FEB e do próprio tio.
Daí que o bordão "Pelo menos Chico Xavier fez caridade" tornou-se um "meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita", sendo sempre uma desculpa para minimizar até os mais graves erros, como sua estranha inclinação em defender um regime de opressão e de sangrenta violação dos direitos humanos, recebendo, no auge da repressão, até homenagens da Escola Superior de Guerra, que nunca iria condecorar quem não colaborasse com a ditadura militar.
O que chama a atenção, além disso, é que, nas obras literárias de Chico Xavier, também refletindo nos depoimentos do "médium", é feita sua apologia ao sofrimento humano. A demonização das pessoas que reclamam da vida - que possuem limites humanos para suportar adversidades pesadas e em doses surreais e dimensões kafkianas - , a radical defesa da aceitação do sofrimento em condições opressivas, como o silêncio até para orar pelo "socorro de Deus" é um dado muito cruel do ideário xavieriano.
Isso percorre toda a obra. Desde botando, nos anos 1930 e 1940, de maneira tendenciosa e irresponsável, no crédito de autores como Auta de Souza e Humberto de Campos, nomes usados apenas para "concordar" com o conservadorismo pessoal do "médium", até mesmo a defesa da servidão humana no trabalho - vide a mensagem "Recomeço", do livro Doutrina Escola, de 1996, o pensamento xavieriano é um receituário do mais terrível obscurantismo reacionário.
A apologia ao sofrimento humano, que estabece, entre a religião "espírita" e seus seguidores, um ritual sadomasoquista na qual a religião assume o papel sádico de defender o sofrimento alheio e rejeitar sua ruptura, senão por meios opressivos (o tal "sacrifício"), a ponto de não querer que as pessoas reclamem nem sintam dor, mas agradecer a Deus pela desgraça obtida e até gostar de sofrer. Daí a "missão" masoquista que os deserdados da sorte são obrigados a assumir.
O sadismo de Chico Xavier é tanto que, na sua campanha pela "aceitação do sofrimento pelo outro", ele chega mesmo a dizer que "tudo passa", em relação às adversidades humanas. Insensível, Chico Xavier acha que o sofredor, ao aguentar as piores desgraças, extraindo "alegria da dor", atrairia "bons fluídos" que despertassem o "socorro de Deus". É uma ideia sem realidade prática,
Hipócritas, os "espíritas" desmentem suas próprias ideias, se recusando a admitir que defendem o "prazer do sofrimento", alegando que "ninguém nasceu para sofrer". Mas esse aviso é dado geralmente para quem não conhece o "espiritismo" brasileiro, e, portanto, precisa ser integrado à essa religião, através de uma fachada atraente que esconde um conteúdo bastante macabro.
CONCLUSÃO
Mas como as ideias "sábias" partem de Chico Xavier, que faz apologia da desgraça humana, desaconselhando uma simples lamentação de um sofredor extremo, então devemos reconhecer o caráter sádico do "espiritismo à brasileira", através de um moralismo bastante severo, punitivista, do qual os "espíritas" se recusam a admitir, no discurso, para evitar "assustar a clientela".
E essa apologia ao sofrimento humano só é considerada "progressista" para aqueles que vivem em situações confortáveis, pessoas que monopolizam as narrativas na Internet e acham que a desgraça alheia é frescura. E quem pensa que só os bolsonaristas pensam assim, devemos lembrar que há muitos que se dizem "de esquerda", inclusive "espíritas", que pensam assim, com um moralismo severo e punitivo.
As pessoas só cedem quando há casos extremos, só para não pegar mal. Ninguém vai mostrar
prazer em ver favelados inocentes morrendo de balas perdidas ou acidentes causados pelo descaso público matarem um considerável número de pessoas. Mas, diante de um sujeito que, mesmo "metendo a cara", nunca consegue um emprego, o pessoal moralista sempre reclama do desempregado que não arrumou trabalho e não do empregador que recusou a lhe dar um emprego.
No caso de Chico Xavier, sua apologia ao sofrimento humano revela seu lado bastante cruel. É como se ele dissesse, ligando a "tecla SAP" das mensagens ocultas por palavrinhas doces:
"Eu não vou ajudar um grande número de pessoas que considero que devam permanecer em sua situação de desgraça, e elas é que fiquem felizes com sua situação e que se virem se é para saírem dessa desgraça e eu não estou aqui para fazer coisa alguma em favor deles. Que eles deem murro em ponta de faca, se é que querem sair de seu sofrimento. Eles é que esperem Deus lhe arrumar uma coisa, talvez se sorrirem e fossem obedientes a tudo os sofredores consigam alguma coisa".
Isso é chocante, mas percebamos o lado oculto que está por trás do "balé das palavras". A trajetória de Chico Xavier é cheia de dados bastante sombrios e, o que é pior, boa parte das denúncias contra ele são lançadas, sem querer, por seus simpatizantes. Isso agrava ainda mais a imagem e reputação do "médium", e revela o quanto a "caridade" não passa de uma simples máscara para esconder sua trajetória marcadamente desonesta e reacionária.
E, para piorar ainda mais as coisas, nem essa máscara condiz à realidade.