Eletroencefalograma definiu como "alucinação" suposta mediunidade de Chico Xavier


EXAME PÔS EM XEQUE A REPUTAÇÃO DE "MAIOR MÉDIUM DO BRASIL" OFICIALMENTE ATRIBUÍDA A CHICO XAVIER.


Comprometida com o jornalismo investigativo, nem sempre constante na imprensa hegemônica, a revista Realidade foi um diferencial na nossa imprensa mesmo em tempos de ditadura, uma vez que foi um dos raros projetos corajosos de jornalistas empenhados na verdade dos fatos e, portanto, atuantes em coberturas honestas e com forte qualidade informativa.


É dessa revista que vieram vários jornalistas que fundaram a revista Caros Amigos, como Sérgio de Souza e Milton Severiano. O falecido Paulo Henrique Amorim também atuou no periódico da Editora Abril.  A matéria sobre Francisco Cândido Xavier foi feita por outro nome do periódico, José Hamilton Ribeiro - famoso pela cobertura da Guerra do Vietnam para a mesma revista, na qual sofreu um acidente com uma explosão, que o obrigou a amputar uma das pernas, - e ultimamente está na equipe do Globo Rural.


Adotando uma postura bastante cética, Zé Hamilton escreveu vários capítulos da matéria, depois de acompanhar o "médium" em várias de suas atividades, em 1971. Aqui vemos o caso do exame eletroencefálico, que refutou a mediunidade em Chico Xavier e apontou a disritmia cerebral, associada a condição sugestionável de sua mente, os problemas do suposto médium.


Segundo o exame, Chico Xavier sofria de alucinações, em formas de visões ou vozes, e que, por apresentar conteúdo religioso e supor nomes de falecidos, consistia em falsa mediunidade. Conforme a Doutrina Espírita, podemos inferir que se trata de efeitos psicológicos manifestos em mentes obsediadas como as do suposto médium, que se sente identificado com manifestações suspeitas e acredita piamente nas mesmas. Não raro, porém, a trajetória de Chico Xavier apresenta demonstrações de charlatanismo que se alternam com esses momentos de alucinação e fascinação.


Segundo o exame relatado pelo médico Eunofre Marques, a mente de Chico Xavier se manifesta na terceira categoria ("disritmia cerebral"), categoria 3, em condições "altamente sugestionáveis", categoria 1. Ou seja, ele sofria de perturbações mentais que produziam alucinações, dando a falsa impressão de receber mensagens religiosas de supostos espíritos falecidos e cultos. Há também o indício do próprio Chico Xavier promover seu auto-engrandecimento em torno dessas manifestações, embora sabemos que isso tenha se dado às custas de falsa modéstia e pretensa humildade.


Conforme o exame, sabe-se que Chico Xavier não era médium e apenas sofreu alucinações mentais. Zé Hamilton aproveitou a matéria para fazer uma ironia, na qual "é melhor ser médium que doente mental" porque "traz prestígio e respeito", e que, por isso, há muitos neuróticos e psicóticos que procuram centros umbandistas e "espíritas" para atuarem como pretensos médiuns.


TRECHO DA REPORTAGEM DE REALIDADE SOBRE CHICO XAVIER


Por José Hamilton Ribeiro - Realidade - Novembro de 1971


Em maio deste ano, Chico Xavier foi submetido, em Uberaba, a um eletroencefalograma. Conclusão do médico que fez o teste:


- 1. A hiperpneia (respiração forçada), surtos de ondas pontiagudas tipo Sharp, nas regiões temporais à esquerda, com predomínio nas enetromediais. 2. Durante a psicografia, deu-se o aparecimento de raros surtos de ondas Sharp, nas regiões temporais à direita, sem predomínio nítido.


Em São Paulo, e sem saber de quem se tratava, o neurologista Juvenal Guedes deu estes esclarecimentos:


- Não é um eletro normal, absolutamente. Durante a ativação pela hiperpneia e pela psicografia, nota-se uma disritmia de origem subortical, com predominância nas regiões temporais do hemisfério esquerdo. Em miúdos: há uma descarga elétrica anormal produzida abaixo do córtex que se irradia ora à direita, ora à esquerda, com predominância para a esquerda. Diante de uma ativação dessa descarga, o paciente pode chegar à convulsão do tipo epiléptico, ou equivalente (alheamento, sensação de ausência, automatismo psicomotor, sensação de já visto etc). Qualquer afirmação médica, no entanto, precisa ser cotejada com a história clínica do paciente.


Aliando uma curiosidade natural à constatação de que percentagem apreciável de pessoas que procuram as clínicas psiquiátricas foi antes submetida a tratamentos espirituais, o dr. Eunofre Marques, médico-assistente da Clínica Psiquiátrica do Hospital das Clínicas, frequentou sessões espíritas e umbandistas com o objetivo de estudar a personalidade dos médiuns. Ele os enquadra em quatro categorias: 1. altamente sugestionáveis; 2. indivíduos pouco dotados e com sentimentos de inferioridade; 3. portadores de disritmia cerebral (seria este o caso de Chico Xavier); 4. casos de psicose delirante. De um artigo do Dr. Eunofre, retiramos esses trechos:


1. Os altamente sugestionáveis. São indivíduos com distúrbios neuróticos e possuidores de fértil imaginação. Apesar de levarem vida normal, chegam a acreditar que são mesmo reais as fantasias que engendram. Como médiuns, realizam-se dando vazão a suas fantasias, nas quais assumem o papel de espíritos eruditos ou messiânicos. Ao mesmo tempo em que satisfazem seus desejos de auto-engrandecimento, satisfazem também as expectativas da assistência, que neles acredita.


2. Pessoas de baixa capacidade intelectual. Intelectualmente pouco dotados, têm dificuldade de compreensão dos acontecimentos da vida cotidiana, para os quais aceitam qualquer explicação. São também muito sugestionáveis e, ao serem apontados como médiuns, acreditam nisso e passam a explicar com esse fato tudo que lhes acontece. Geralmente recebem espíritos atrasados (de acordo com sua capacidade intelectual) e são mais numerosos nos centros umbandistas.


3. A disritmia cerebral. A disritmia cerebral consiste na existência de descargas elétricas anômalas em certas regiões do cérebro  (focos) e pode ser causada por dificuldades no parto, contusões na cabeça etc. Costuma ser acompanhada de convulsões (ataques epilépticos), mas isso pode não ocorrer. Principalmente quando o foco se localiza na região temporal do cérebro, surgem com grande frequência as alterações psíquicas que levam o portador à sessão espírita: ele apresenta crises alucinatórias (tem visões, ouve vozes), perturbações de consciência (como se estivesse sonhando acordado) ou momentos em que tem dificuldades para compreender o que se passa consigo e com o ambiente onde está. Como as alucinações se referem algumas vezes a pessoas falecidas ou têm conteúdo religioso, passam imediatamente a ser consideradas como manifestações mediúnicas. A associação entre disritmia cerebral e a sugestionabilidade elevada tem sido observada com frequência.


4. Psicoses delirantes. É o caso de pessoas que se acham enviadas por Deus para salvar a humanidade, ou que se consideram possuidores de poderes sobrenaturais. Essas psicoses são frequentemente acompanhadas de alucinações que, ao ver do indivíduo, confirmam sua missão.


Em certas situações culturais, é muito melhor ser médium do que ser doente mental. Ser médium traz prestígio, respeito e uma condição de normalidade, enquanto o tratamento mental implica ser considerado anormal por amigos e familiares. Assim, assistimos à procura de centros espíritas e umbandistas por neuróticos e psicóticos.