As más energias trazidas pela religião "espírita" e suas razões

 
Vejamos dois casos, um real e outro fictício, mas baseado em situações reais de pessoas anônimas:

1) Em 1960, o presidente Juscelino Kubitschek homenageou o "médium" Francisco Cândido Xavier e a "Federação Espírita Brasileira", dando a esta instituição o título de "utilidade pública". Depois dessa atitude, levando em conta que Kubitschek era amigo de Xavier, o então presidente viu acumular para si infortúnios dos quais ele não pôde controlar.

Kubitschek não conseguiu eleger o candidato de seu apoio, o marechal Henrique Teixeira Lott, derrotado pelo problemático Jânio Quadros (que só governou o país por sete meses). Eleito senador, não adiantou ele ter defendido a queda de seu ex-vice João Goulart (JK estava preocupado com o radicalismo de Jango pela influência do cunhado deste, Leonel Brizola), apoiando o golpe de 1964, porque ele foi um dos primeiros políticos a ter seu mandato parlamentar cassado.

Juscelino não conseguiu que a campanha presidencial fosse liberada em 1965. A ditadura militar, nessa época, que acreditava-se ser um período provisório para completar o tempo de mandato de Jango, após sua destituição do poder, declarou ser definitiva, cancelando a sucessão presidencial. Em 1966, Kubitschek se reconciliou com Carlos Lacerda, num clima de perdão mútuo, e juntos lançaram a Frente Ampla, um movimento de redemocratização do país, mas quando esta campanha começou a se tornar popular, a ditadura militar obrigou a sua extinção, considerada "ilegal".

Em seguida, Juscelino não conseguiu se inscrever para a Academia Brasileira de Letras (hoje capaz de acolher em seus quadros uma figura de baixa expressão literária como Merval Pereira) e, ainda por cima, morreu em um acidente de carro suspeito, em 1976, mas até hoje tem dificultadas as chances de ser oficialmente considerado um atentado.

2) Dona Hermengarda dos Santos tem uma filha, Larissa, que é sua confidente, uma moça cheia de vida, cheia de projetos pessoais e desejos altruístas. Viúva, Hermengarda também tem outro filho, Felipe, que tem problemas com as drogas. Tem surtos de agressividade e a mãe tem que esconder o dinheiro e as joias depois que, certo dia, viu a grana e alguns colares serem furtados pelo rapaz para comprar drogas.

Devota de Chico Xavier, Dona Hermengarda completou a leitura de um dos livros do "médium" e, num sábado, foi com sua filha para uma reunião "espírita" em homenagem ao religioso. Saíram de lá muito felizes, com o coração sereno e foram dormir.

Num domingo radiante, Larissa beijou a mãe e foi sair com os amigos. A menina falou que voltaria à noite. Mas, às 21 horas, um acidente de carro causou a morte de Larissa e de metade do grupo de amigos. Triste, Hermengarda recebeu a notícia aos prantos, quando estava sozinha enquanto Felipe estava na rua papeando com os amigos e fumando maconha.

Houve o enterro da menina, e Hermengarda teve que viver seus dias seguintes com o filho. As relações pioraram. Felipe, tomado de drogas, estuprou a própria mãe. Diariamente ele também a violenta com socos e empurrões. Certa vez, ele a ameaçou com uma faca para ela dar todo o dinheiro do salário de aposentada, algumas roupas e joias, porque ele tinha dívidas com traficantes. Num certo dia, ela foi expulsa de casa pelo filho, que queria fazer uma festa com amigos. Entorpecidos pelas drogas, eles deixam provocar um incêndio que destruiu a casa, embora os festejantes tivessem conseguido sair do recinto. Felipe saiu ileso.

Há casos de gente que faz os chamados "tratamentos espirituais" para tentar resolver os problemas, mas eles não só não são resolvidos como são acompanhados de coisas piores. E isso como se não bastasse os comentários sorridentes de tarefeiros dos "centros espíritas" dizendo aos sofredores que "tudo está bem" e "basta ter fé e orar a Deus". A pessoa vem de longe, pegando mais de um transporte, gastando dinheiro para pedir ajuda e tudo o que conseguem é um conselho para "orar a Deus" ou tratamentos que só fazem piorar as coisas.

Há gente que, após um "tratamento espiritual", contrai inimigos num debate digital à toa e passa a ser ameaçado de morte por pouca coisa. Há filhos de devotos "espíritas" que passam a ter inimigos graves nas escolas. Há jovens que saem felizes de um grupo jovem "espírita" e, mediante um assalto a ônibus, são os primeiros a serem olhados pelos ladrões armados de faca.

A VÍTIMA É A "CULPADA"

Por que ocorrem tantas marés de azar no contato com a religião "espírita"? Por que nomes que professaram a religião, como Augusto César Vannucci, Nair Belo, Ana Rosa e Maurício de Souza tiveram filhos mortos prematuramente? Por que o cantor Roberto Carlos, depois de gravar uma canção em homenagem a Chico Xavier, "Homem Bom", acabou se tornando viúvo e nunca mais contraiu uma companheira à altura de sua falecida Maria Rita Braga?

Segundo os ideólogos "espíritas", a "culpa" é da vítima. Eles tentam isentar a religião de culpa, e em sua pregação moralista, que apesar do seu punitivismo não é assumido como tal, eles tentam argumentar dizendo que "existem desafios", "que os infortúnios ensinam e enobrecem a alma", "que a desgraça é reflexo de dívidas passadas" etc.

Se recusando a assumir o vitimismo, existem correntes "espíritas" que alegam que "ninguém nasceu para sofrer", embora seus valores sejam justamente os da Teologia do Sofrimento, popularizada por Chico Xavier mais do que qualquer católico assumido. Chegam mesmo a mencionar a "infinita bondade de Deus", que o "espiritismo" é um "guia moral para atingir a felicidade plena" ou coisa parecida.

No entanto, mesmo quando tentam desmentir que "ninguém nasceu para sofrer ou para pagar dívidas passadas", há, contraditoriamente, a culpabilização da vítima. Independente de haver o chamado carma ou não, o moralismo "espírita", seja ele severo ou generoso, sempre tende a acreditar que, se uma pessoa sofre um infortúnio, é porque ela "fez por onde".

Que todos erram e sofrem alguma desgraça, isso é verdade. Mas é coincidência demais que, quando se envolve com a religião "espírita" no Brasil, essas desgraças se tornem mais constantes ou intensas e, de certa forma, sem controle, obrigando a pessoa a encarar o pior infortúnio, geralmente irreparável, para que sua vida tivesse, depois, uma "bonança".

Mas o "espiritismo" brasileiro deve ser responsabilizado, sim, pelas más energias que traz até mesmo para seus seguidores mais alegres, e que atingem até aqueles que procuram desenvolver boas vibrações e manter uma mentalidade tranquila. Razões há de sobra para constatar que o "espiritismo" brasileiro é uma religião de mau agouro e os "tratamentos espirituais", arremedos de terapias médicas de caráter psicológico-homeopático, são verdadeiras infecções da alma, trazendo mais azar do que aquele que motivou a busca por tais procedimentos.

DESONESTIDADE INTELECTUAL E DOUTRINÁRIA

Por que o "espiritismo" brasileiro traz azar? Isso se deve por causa do fato de que a doutrina é marcada por práticas de desonestidade profundas e constantes. Desonestidade não se limita apenas a extorquir fiéis e desviar o dinheiro de suas doações para o patrimônio pessoal do líder religioso. Há muitos atos desonestos e, de forma surpreendente, Chico Xavier foi um dos mais desonestos líderes religiosos de toda a História do Brasil.

O 'espiritismo" brasileiro faz juras de "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" a Allan Kardec, mas pratica traições e desvios doutrinários da mais extrema gravidade, traições maiores, constantes e até permanentes em relação ao que Judas Iscariotes fez contra Jesus de Nazaré.

Para complicar ainda mais as coisas, essas traições se escondem pela desculpa habitual de que no Brasil existem as "tradições da religiosidade popular", que praticamente abrem caminho para a perigosa atitude da "catolicização do Espiritismo". 

O grande problema é que a "catolicização" não é um processo acidental nem fruto do entusiasmo de Chico Xavier e Divaldo Franco, ambos de origem e formação católica, pela religião originária. É um processo mais perverso do que se pode imaginar, porque o foco acaba sendo o Catolicismo medieval, principalmente a partir da evocação do jesuíta Manuel da Nóbrega, renomeado Emmanuel. Registra a História do Brasil que Nóbrega era reacionário, perverso e punitivista em seu tempo.

Como em toda novidade que chega no Brasil e que, em vez de romper com formas obsoletas, se adapta a elas - é o fenômeno "vinho novo em odres velhos", baseado numa parábola de Jesus, mas que vale no Brasil até para aspectos culturais, como o fenômeno da Jovem Guarda, moldado conforme padrões conservadores do rock italiano e do pop romântico estadunidense dos anos 1950-1960 - , o "nosso Espiritismo" virou um refúgio para católicos que não aceitavam as mudanças de sua religião.

No Evangelho de Mateus, capítulo 9, versículos 14 a 17, a parábola explica por que, no Brasil, é ruim que se adaptem novidades através de formas velhas que deveriam estar obsoletas:

"Depois o procuraram os discípulos de João, e lhe perguntaram: Por que é que nós e os fariseus jejuamos, mas teus discípulos não jejuam? Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Porém dias virão, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias jejuarão. Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque o remendo tira parte do vestido, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho novo em odres velhos; de outro modo arrebentam os odres, e derrama-se o vinho, e estragam-se os odres. Mas vinho novo é posto em odres novos, e ambos se conservam".

O mesmo recado aparece no Evangelho de Marcos, capítulo 2, versículos 18 a 22:

"(Ora os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando.) Eles vieram perguntar-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus não jejuam? Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo que têm consigo o noivo, não podem jejuar. Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o noivo, nesses dias jejuarão. Ninguém cose remendo de pano novo em vestido velho; de outra forma o remendo novo tira parte do velho, e torna-se maior a rotura. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; de outra forma o vinho fará arrebentar os odres, e perder-se-á o vinho, e também os odres. Pelo contrário vinho novo é posto em odres novos".

E verificamos, em Lucas, capítulo 5, versículos 33 a 39:

"Disseram-lhe eles: Os discípulos de João jejuam freqüentemente, e fazem orações; assim também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem. Jesus disse-lhes: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Dias, porém, virão, dias em que lhes será tirado o noivo, nesses dias hão de jejuar. Propôs-lhes também uma parábola: Ninguém tira remendo de vestido novo e o põe em vestido velho; de outra forma rasgará o novo, e o remendo do novo não condirá com o velho. Outrossim ninguém põe vinho novo em odres velhos; de outra forma o vinho novo arrebentará os odres, e ele se derramará, e estragar-se-ão os odres. Pelo contrário vinho novo deve ser posto em odres novos. Ninguém que já bebeu vinho velho, quer o novo; porque diz: O velho é bom".

A grande raiz do problema e que reflete na crise extrema que vive o "movimento espírita" brasileiro, que só não se agrava pela complacência da maioria da sociedade brasileira, que não percebe os desvios doutrinários de uma religião que se vende, falsamente, como "progressista", "racional" e "moderna", com o medieval Chico Xavier, promovido a um (falso) profeta, creditado como "dono do nosso futuro", na obsessão dos brasileiros em terem um pretenso equivalente simultâneo de Jesus e Nostradamus.

Essa raiz é a insistência de que o "vinho novo" de Allan Kardec seja posto no "odre velho" da catolicização e de Chico Xavier. Um "vinho novo" que acaba apodrecendo no contato com o "odre velho", por mais que seus partidários insistam de que "pelo menos, o vinho é sempre novo". Mas nota-se o quanto o "vinho novo" arrebenta o "odre velho" da catolicização, sem que viva alma perceba, e é isso que macula a imagem dos "espíritas", que preferem o "odre" de seu Catolicismo medieval.

As contradições que fizeram a crise do "movimento espírita" apenas não repercutem tanto, por sorte, devido ao fato de que a maioria dos brasileiros está desinformada do que realmente é o Espiritismo, seja verdadeiro ou falso, além do fato de que Chico Xavier continua sendo apreciado através da imagem glamourizada de sua pessoa, desenvolvida em meados dos anos 1970 como cortina de fumaça para evitar as mobilizações populares contra a ditadura militar em crise.

Além disso, assusta muita gente a ideia de que o "espiritismo" brasileiro, o que resta de "novidade religiosa viável" com as crises vividas pelo Catolicismo e pelo Protestantismo - a partir de fenômenos de apelo midiático como a "renovação carismática" e as "seitas neopentecostais" - , é um antro de sordidez e falsidade. Ainda é preferível acreditar que Chico Xavier "transformou vidas", mesmo praticando uma suposta caridade tão personalista e de baixos resultados sociais quanto a que se vê, hoje, com Luciano Huck, admirador confesso do "médium".

Com setores da sociedade brasileira torcendo pelo protagonismo "espírita" na ilusão de que isso resolva a corrupção religiosa simbolizada por nomes como Padre Robson, Flordelis, Edir Macedo e Silas Malafaia, aceita-se até mesmo que um "médium" corrompido, o goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, "nunca ter sido espírita", apesar de sua ligação profunda com Chico Xavier durante muitos anos. Sobre Chico Xavier, João de Deus, antes de ser desmascarado, havia dito: "ele me ensinou a amar".

Sob o mesmo sentido, também se aceita a desonestidade dos desvios doutrinários e das fraudes literárias. Para todo efeito, a "catolicização" se explica pelas tradições da religiosidade popular. As fraudes literárias não seriam "fraudes", mas formas de tornar os textos "compreensíveis" (sic) para o público comum. E acredita-se que qualquer autor que morresse possa mudar de personalidade - a crença torta de que "a individualidade fica no túmulo, enquanto o espírito só leva os números de CPF, do RG e da Carteira de Trabalho - e falar do mundo espiritual como uma grande igreja.

São muitos absurdos, que a fascinação obsessiva por Chico Xavier traz para os brasileiros, que sentem muito medo em abrir mão desta mistificação, que lhe garante um perigoso êxtase religioso, atingindo até mesmo quem possui um dado nível de conhecimento crítico que se dissolve ao vislumbrar o canto-de-sereia do "bondoso médium".

A complacência com as desonestidades cometidas pelos "espíritas" também se sustentam na ilusão de que o que parece absurdo e ilógico na compreensão terrena e racional possam soar "lógicos e realistas" no além-túmulo, o que é uma incoerência, pois ela atenta contra a nossa capacidade de raciocinar, o que não faz diferença num país já precariamente esclarecido como o Brasil, que em nome de fantasias emocionais e místicas confunde "raciocinar" com "ter fé", aderindo fácil à fé cega que a Codificação rejeita severamente.

E é isso que torna o "espiritismo" uma maré de azar. Uma porção interminável de desonestidades, omissões, dissimulações, mentiras, fingimentos, falsas promessas, tudo sustentado por um princípio que se choca com o maior ensinamento kardeciano: o de preferir o rigor da Lógica e da Razão. Em vez disso, os "espíritas", que tanto se dizem "fiéis a Kardec", preferem amaldiçoar o rigor da Razão, creditando-o como "fruto das paixões terrenas", enquanto abraçam a Fé Cega, que aprisiona as almas, como suposto meio de "libertação espiritual". Só pode render más energias, mesmo.