"Espiritismo" brasileiro faz muitos seguidores perderem o controle de seu destino


Com seu moralismo punitivista enrustido, o moralismo do "espiritismo" brasileiro é desumano, pouco se importando se a pessoa quer aproveitar um prazo estimado em 80 anos da melhor maneira. Os "espíritas" pouco importam se pessoas de perfil mais diferenciado abreviem a vida com tragédias surgidas o nada, comprometendo seus planos de vida, que se tornam perdidos, talvez para sempre.

A reencarnação existe, pelo menos em termos filosóficos. Ainda não se conseguiu afirmar, sob a luz da Ciência, essa possibilidade, e tudo o que se fez foram quase sempre especulações e, o que é pior, devaneios marcados pela vaidade humana.

O que se sabe é que a reencarnação dificilmente trará as mesmas condições de realização de planos perdidos na encarnação anterior. Os planos teriam que ser refeitos do zero. Não há chance de completar as páginas de um livro inacabado na vida anterior, e isso vale tanto ao pé-da-letra quanto na metáfora da existência humana.

Mas a insensibilidade do moralismo "espírita", a partir das ideias ultraconservadoras de Francisco Cândido Xavier, o "adorável" Chico Xavier do imaginário dos brasileiros infantilizados, a crerem na imagem de "fada-madrinha" que o "médium" recebe nas redes sociais, ignora isso. Essa ignorância se dá por causa de um certo egoísmo que a doutrina brasileira e seus adeptos sentem em relação àqueles que morrem prematuramente.

É esse egoísmo que mistura uma tristeza superficial com o regojizo de ver os mortos prematuros no céu. Os "espíritas" alegam, na sua vaidade egoísta travestida de "espiritualismo desapegado", que os mortos prematuros estão bem, desprezando a tristeza e a indignação daqueles que, morrendo cedo, tiveram seus projetos de vida abortados para sempre.

A religião "espírita", em que pese sua baixa adesão - oficialmente, os dados, dependendo das fontes, variam de 1,8% a 2,2% de seguidores, no Brasil - , é a mais blindada no Brasil, recebendo uma complacência comparável ao partido político PSDB, só que de uma intensidade maior. Tanto que até mesmo setores das esquerdas e do ateísmo, que não deveriam apreciar uma religião que faz apologia ao sofrimento humano, sentem complacência com os dogmas e os ídolos "espíritas", mesmo um Chico Xavier de ideias claramente medievais.

Por isso, ninguém consegue ver o moralismo punitivista do "espiritismo" brasileiro. As pessoas, até tomadas da síndrome de Dunning-Kruger - em que a ignorância se transforma numa "superioridade" ilusória e numa zona de conforto que amaldiçoam o saber e a competência alheia - , ignoram o lado obscuro do "espiritismo à brasileira", preferindo se contentar com a fachada "moderna, racional e progressista" de uma doutrina deturpada que, de Allan Kardec, só restou as bajulações viciadas a ele.

Daí que pensam que o moralismo "espírita" é "moderno e progressista". Existe até uma piada da mulher que condena o feminicídio porque reclama da culpabilização da vítima, mas quando se menciona a moral "espírita", a mesma mulher, seguidora da religião, volta atrás e diz que a vítima foi violentada e morta porque "precisava pagar por antigas dívidas morais", o que significa uma contraditória adesão à ideia de que "a vítima é a culpada", que ela reprovava do machismo.

CAPACHO DO DESTINO

Perverso, o moralismo de Chico Xavier, certa vez, na obra Reportagens de Além-Túmulo, de 1943, que o "médium" e Antônio Wantuil de Freitas escreveram usando o pseudônimo "espiritual" de Humberto de Campos, escreveu um conto intitulado "A Queixosa", do qual demoniza as queixas que os oprimidos fazem contra seus infortúnios, contra a sina de serem "capachos do destino". Esse texto é uma prova da Teologia do Sofrimento, corrente radical do Catolicismo medieval defendida por Chico Xavier.

Antes de analisarmos a gravidade dessa visão, lembremos que Chico Xavier se contradiz quando apela para que ninguém se queixasse da vida, mesmo sofrendo a pior desgraça. É da natureza dos resmungões reprovar as pessoas que reclamam com razão, sempre sob a desculpa de não atrapalhar a felicidade alheia.

No episódio de Jair Presente, jovem morto em 1974, as supostas psicografias que levavam o nome do rapaz, seja pela linguagem igrejista da primeira, seja pela linguagem risivelmente psicótica das mensagens posteriores, receberam a justíssima e merecida desconfiança dos amigos do falecido, o que irritou Chico Xavier. Ele chamou essa desconfiança de "bobagem da grossa", na tentativa de desmoralizar o natural sentimento de dúvida de quem conviveu com Jair Presente. Mas a carteirada religiosa deu razão ao "médium", quando a lógica deveria estardo lado dos amigos do jovem morto.

A ideia de "capacho do destino" está no sofrimento de certas pessoas em não poder realizar seus projetos de vida, por conta de infortúnios bastante pesados. Uns perdem a vida muito cedo, outros veem barreiras intransponíveis, das quais até mesmo o mais perseverante sacrifício, com uma fé maior do que uma montanha, não conseguem derrubar.

Há casos que vão desde os infortúnios pesados que o ex-presidente da República, Juscelino Kubitschek, sofreu depois de prestar consideração a Chico Xavier e pomover o "médium" e a FEB na condição de "instituições de utilidade pública", em 1960, até o cidadão comum que tem o seu celular hackeado asim de repente.

É assustador ver quantos casos de idosos que são "espíritas" fervorosos e que, de repente, veem morrer cedo seus melhores filhos. Ou de pessoas que frequentam "centros espíritas" e se tornam as mais visadas por assaltantes, cyberbullies e golpistas financeiros. A culpa não pode ser das vítimas e sua suposta "falta de fé", mas do "espiritismo" brasileiro que, em vez de proteger, torna as pessoas mais vulneráveis energeticamente.

Indivíduos que perdem noivos e noivas em acidentes supostamente repentinos, gente que perde boas oportunidades de emprego pelo revés das circunstâncias, pessoas que são alvo de ofensas violentas depois de um pequeno debate na Internet e pesquisadores que, inocentemente, têm seus computadores ou celulares infectados só porque foram pesquisar um assunto importante, mostram o quanto o "espiritismo" brasileiro é uma religião avarenta, uma "seita de pés-frios".

E o pior é que os infortúnios pesam naqueles que não compartilham do conservadorismo moralista do "espiritismo" brasileiro. Quem é conservador e vê o mundo contemporâneo como um quintal da Pedro Leopoldo de 1910-1932, não é afetado energeticamente, o que mostra a afinidade de sintonias, de uma maneira ou de outra, com o ideário medieval dessa doutrina que de "kardecista" só tem o nome.

Isso é terrível. As pessoas que são diferenciadas e que se comprometem até a contribuir com alguma evolução espiritual são as que mais sofrem infortúnios, perdendo muita coisa, senão tudo, na vida, e vendo escapar de suas mãos as melhores oportunidades, enquanto o infortúnio e as piores ameaças lhes batem à porta. Perdem o controle do seu destino e mesmo apelando para os céus não conseguem obter o que desejam, mesmo quando os "espíritas" se apropriam da máxima cristã "pedi e obtereis" nas suas pregações contraditórias que mascaram seu obscurantismo.

Muitas pessoas não conseguem emprego não por falta de luta ou de iniciativa, mas porque as circunstâncias se tornam pesadas de modo surreal. Recorrem a tratamentos espirituais para resolver esses e outros problemas, mas em vez de resolvê-los, contrai problemas novos e piores. Em muitos casos, a vida se torna um inferno muito pior do que antes, e mesmo as vantagens que antes mantinha a pessoa "beneficiada" pelos tratamentos "espíritas" ela acaba perdendo, de maneira surreal. Pode parecer um exagero, mas o "espiritismo" brasileiro faz da pessoa um personagem de tragédia kafkiana.

E porque isso acontece? Porque o "espiritismo" é a religião da falsidade, na qual o maior nome da doutrina, Chico Xavier, é o primeiro a marcar sua trajetória com atitudes desonestas, oportunistas e traiçoeiras, um lado perverso, macabro e arrivista que foram escondidos no tapete de sua mitificação que se mantém nas redes sociais, quando o "médium" se transforma na "fada-madrinha dos adultos e idosos".

Não há como os "espíritas" se desculparem com uma "carteirada por baixo", dizendo que "são imperfeitos e erram muito", tentando evitar a responsabilização pelos maus agouros. As elegantes falácias dos dirigentes da "Federação Espírita Brasileira" nada nos dizem de consistente, sendo apenas palavras bem escolhidas para forçar sentido em argumentações tão sem pé nem cabeça.

A verdade é que, por suas próprias escolhas e decisões, marcadas sempre por uma retórica de falsa autocrítica, os "falíveis espíritas" trazem energias negativas, atraindo para si espíritos traiçoeiros, zombeteiros e vingativos que praticamente se grudam no "espiritismo" brasileiro e sempre rodearam mesmo figuras adoradas por muitos como Chico Xavier e Divaldo Franco, figuras que na verdade são o que a Doutrina dos Espíritos original definia como "inimigos internos", através de aspectos que são identificados em atitudes dos "médiuns" ignoradas até por seguidores "mais isentos". 

Daí que o "espiritismo" se torna uma religião contaminada, sórdida, por conta dos abusos e trapaças que no primeiro momento decidiu fazer sem o menor escrúpulo, mas quando a repercussão se torna negativa, se apressam em fazer pose de vitimistas e se desculparem, sempre usando o truque de "admitir o erro para escapar da punição".