"Espiritismo" faz do Brasil um dos piores mercados literários do mundo

COM SUA LITERATURA FAKE, A "FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA" SEMPRE MARCA PRESENÇA EM BIENAIS DO LIVRO, COMO NO RIO DE JANEIRO EM 2014.

O Brasil é um dos piores mercados literários do mundo. Dito isso, as pessoas estranham, porque no nosso país não faltam bons escritores e bons livros, e eles são muitos. Sim, isso é verdade, mas assim como nossa cultura em geral está ruim mesmo com muitos bons músicos, atores e intelectuais, nossa literatura está ruim mesmo havendo grandes escritores. Mas por que está ruim?

Isso é muito simples. É porque o que prevalece no gosto médio da população é a chamada "literatura analgésica", que, sob a desculpa do entretenimento e do combate ao estresse, priorizam obras que passam longe de qualquer função de transmissão de conhecimento, o que faz com que a lista dos livros mais vendidos no Brasil, entre obras nacionais e estrangeiras, seja em maioria de títulos medíocres e até mesmo deploráveis.

Temos grandes nomes da cultura no nosso Brasil que não possuem cartaz nem tem acesso fácil ao gosto médio do grande público. Quando possuem, é por causa de algum gancho que permite a visibilidade de certos autores ou, quando muito, há exigências de âmbito acadêmico e profissional, seja para as provas do ENEM, seja para provas de concursos públicos. Apenas por esses motivos e alguns outros semelhantes é que a busca pelo Conhecimento de verdade se torna existente.

DE FICÇÃO MEDIEVAL A "LIVROS PARA COLORIR" - OBRAS LITERÁRIAS MAIS VENDIDAS PASSAM LONGE DE QUALQUER COMPROMISSO COM O SABER.

A maioria das obras vendidas passa longe da missão do Saber. São obras de ficções medievais, em muitos casos genéricas ou relacionadas a seriados e filmes de ficção na TV, em muitos casos derivantes ou derivadas dos mesmos. Ou são obras de auto-ajuda, inclusive as travestidas de "teoria administrativa", principalmente na atual onda dos títulos-palavrão (os tais "f***-se"). Ou então obras de youtubers e até os "livros para colorir".

No Clube de Autores, um dos maiores portais de escritores independentes do Brasil, os livros mais vendidos ou recomendados revelam essa grande indigência cultural, priorizando obras de ficção medieval, mistificação religiosa e até teoria balística, um tema apoiado por bolsonaristas. Teve até livros de filhos de uma autora passeando na Disneylândia entre os mais vendidos.

Além disso, os escritores brasileiros e estrangeiros que têm livros entre os mais vendidos já são pessoas ricas e bem-sucedidas, não precisando vender tantos livros assim, enquanto escritores independentes, que não nasceram em berços de ouro, que trazem obras de Conhecimento autêntico têm muita dificuldade de vender uma cópia por mês, mesmo com divulgação persistente nas redes sociais. Precisando de dinheiro, chegam a lucrar, em certos meses, menos de R$ 1,00 cada, devido à cota que têm direito nas vendas de livros (o resto inclui editora e custos de impressão).

Em todos esses casos, há um escapismo cultural muito grande, pessoas que preferem "analisar" mistérios de cavaleiros medievais atormentados ou de estudantes que se transformam em vampiros e enfrentam monstros de aparência medonha. Os influencers ou influenciadores digitais mostram o vazio de suas vidas particulares e os autores de auto-ajuda, agora travestidos de "neurolinguista" ou "coach", prometem salvar a vida do leitor com fórmulas mirabolantes e sensacionalistas.

A FEB E SEUS "FAKES DO BEM"

A ignorância se tornou um fenômeno socialmente aceitável e até estimulada pelo imaginário religioso, que glamouriza a burrice como "a sabedoria dos humildes", incluindo tolices extremas como alegar que "o silêncio é a voz dos sábios", nos fazendo esquecer que, se um sábio permanece calado, ele não é capaz de transmitir seu saber, o que significa que a "brilhante frase" que leva multidões às lágrimas é uma proibição de quem sabe das coisas em compartilhar seu conhecimento.

Mas a idiotização cultural que atinge níveis extremos no nosso Brasil, e que faz com que os brasileiros, isolados nas "bolhas" das redes sociais, sejam incapazes de derrubar Jair Bolsonaro, um político sem um pingo de qualidade e que, num país menos ingênuo, já teria sido expulso do poder e levado à prisão há um bom tempo, influi nesse quadro cultural deplorável.

Não dá para intelectuais da cultura brasileira passarem pano em aberrações e canastrices, umas abertamente bisonhas, outras falsamente sofisticadas, que prevalecem na mídia, com seus falsos artistas, com suas subcelebridades, que só por movimentarem as redes sociais com seus factoides supostamente divertidos, não representam em si um "ótimo momento da cultura do nosso país".

Estamos num cenário sociocultural dos mais terríveis, e muito da "boa cultura" que os intelectuais de plantão e seu discurso "isento" e "imparcial", que tanto manifestam com insistência, não é mais do que expressões do passado, porque a maioria dos "novos talentos" atuais é medíocre, atende a interesses comerciais estratégicos e passam longe de transmitir valores sociais e culturais genuínos. Apenas servem para entreter por seis meses, embora persistam em durar anos e anos em evidência, ao ponto de um sumiço de duas semanas parecer um ostracismo preocupante.

E muito da influência dessa idiotização cultural se deve ao "espiritismo" brasileiro, uma religião marcada por obras fake que, por usarem nomes de mortos ilustres, não está à altura do que eles fizeram em vida. Isso faz com que as boas energias se voltam para canatrões e oportunistas culturais, porque a ignorância reinante na população - sustentada pelo mal de Dunning-Kruger, que dá a ignorância humana um senso de pretensa superioridade sobre o que é realmente sábio - se torna receptiva à mediocrização e à imbecilização que dominam 95% da produção cultural contemporânea brasileira.

Se as obras de Chico Xavier, sob o crédito formal do nome Francisco Cândido Xavier, já mostram problemas que apontam literatura fake, como o talento aquém do que os supostos autores espirituais representaram enquanto vivos, elas também causam estragos na transmissão de Conhecimento.

Enquanto nomes como o de Humberto de Campos aparecem em obras que em quase nada lembram a obra original dos autores alegados, a não ser por pastiches constrangedores e até paródicos, há, em obras como Há Dois Mil Anos (Há 2.000 Anos) e Paulo e Estevão, erros históricos dos mais grosseiros, o mesmo sendo observado em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que, em termos de História do Brasil, passa vergonha até diante dos piores livros didáticos.

E como é que a "Federação Espírita Brasileira", que lança estas obras literárias deploráveis, que frequentemente ofendem qualquer responsabilidade com o Conhecimento e apenas são livros de mero palavreado mistificador e pretensamente erudito e ainda por cima contrariam muitos ensinamentos do próprio Espiritismo francês, pode ter estandes nas maiores feiras literárias do Brasil?

Pelo conteúdo de seus livros mistificadores, rebuscados e cheios de vergonhosos erros e de graves desinformações de toda espécie, a FEB deveria, sim, ter um estande nas Feiras de Acari da vida, porque aí seria condizente aos produtos piratas e contrabandeados que são ali comercializados, com melhor afinidade com os livros farsantes que a instituição publica visando interesses comerciais enrustidos.

Esses interesses comerciais foram denunciados em 1969, quando vazou a informação de que os livros de Chico Xavier, a partir das traduções em inglês feitas pela equipe da FEB, estavam enriquecendo os dirigentes da instituição. Todas as publicações de Chico Xavier tinham esse objetivo, encher os corfes da cúpula da FEB. O "médium" recusava o cachê, mas seria sustentado pela instituição. Isso foi um acordo firmado por Antônio Wantuil de Freitas e seu pupilo Chico Xavier, desde que Parnaso de Além-Túmulo estava para ser lançado.

Com o escândalo, Chico Xavier fingiu-se "muito entristecido" e, mediante contrato, lançou livros "mediúnicos" pela Editora da FEB até meados dos anos 1970, quando editoras "espíritas" subsidiárias ganharam o passe da publicação destas obras.

E foram mais de 450 livros. Os seguidores de Chico Xavier acham isso lindo, mas esquecem que são livros inúteis, verdadeiros desperdícios de papel que perdem muito tempo "pensando" as virtudes humanas, com ideias não raro obscurantistas e conservadoras. Lembremos que a Doutrina Espírita original rejeita a prática de espíritos "escrevinhadores" (inclui os supostos médiuns), que escrevem demais e nada dizem de útil e proveitoso e são identificados como moralmente inferiores.

São obras que não têm valor algum e seu compromisso com o Saber e simplesmente nulo. Só mesmo as pessoas que preferem a zona de conforto da ignorância triunfante pelo mal de Dunning-Kruger é que apreciam esses livros, mesmo que não os leiam. Os livros são comprados para ficarem enfeitando as estantes das casas dos chiquistas, que, com tanta preguiça intelectual, só os leem de vez em quando, sem ter ideia do conteúdo medieval dos livros de Chico Xavier e seu retrógrado obscurantismo religioso dissolvido em palavras açucaradas que anestesiam quem dá atenção a elas.