Por que Chico Xavier não merece o título de "herói da Pátria", dado a ele?


Em uma iniciativa infeliz, o deputado federal Franco Cartafina conseguiu a aprovação do pedido de inclusão do "médium" Francisco Cândido Xavier no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, situado no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. A publicação se destina àqueles que teriam marcado a História do Brasil com realizações consideradas grandiosas.

Cartafina, membro do Centrão bolsonarista - é filiado ao PP (Progressistas) de Uberaba - , é ligado ao agronegócio e ao poder coronelista no Triângulo Mineiro, ao qual o próprio Chico Xavier foi um apoiador e colaborador - , havia votado SIM para a PL da Grilagem (proposta de lei que favorece as ações fraudulentas e abusivas dos grandes fazendeiros), sendo portanto um nome muito longe de representar qualquer mérito humanista.

É muito preocupante essa inclusão, porque sabemos que Chico Xavier nunca teve mérito algum para tamanha homenagem, e essa promoção é comparável à canonização de Madre Teresa de Calcutá, que foi conseguida pelo Vaticano através de dois factoides supostamente milagreiros: um tratamento médico comum contra o câncer, que curou uma enferma, e a intoxicação alimentar de um engenheiro durante uma lua de mel, atribuída tendenciosamente a um "câncer terminal".

Em ambos os casos, as atribuições de "heroísmo" e "santidade" são extremamente preocupantes, porque só servem para perpetuar o já doentio fanatismo religioso que envolve essas duas figuras. É um fanatismo que envolve a chamada "emotividade tóxica", um transe religioso que parece positivo quando tudo está agradável, inspirando alegria, entusiasmo e suavidade, mas que se explode em fúria e irritação quando ocorre a menor contrariedade.

Manifestamos repúdio a essa iniciativa, porque isso fará com que Chico Xavier seja alvo permanente de paixões religiosas de efeitos psicológicos puramente nocivos. E não há motivo algum para ele ser visto como "herói", assim como há motivos de sobra para ele receber não essa homenagem, mas a rejeição total da sociedade, diante da figura do "médium", que mostra aspectos terrivelmente deploráveis.

Vejamos os principais motivos para que Chico Xavier não mereça o título de herói:

1) ELE DETURPOU O ESPIRITISMO

Chico Xavier arruinou o legado original trazido pela Doutrina Espírita, através do árduo trabalho do pedagogo Allan Kardec. O professor francês, aliás, apontou aspectos negativos em O Livro dos Médiuns, como o uso de "nomes ilustres" para promover mistificação e a determinação de dias fixos para acontecimentos futuros, que reprovavam, com antecipação, respectivamente a usurpação de nomes de grandes escritores nas "psicografias" e a pretensa profecia da "data-limite";

2) CARIDADE DE CHICO XAVIER É FALSA

A tão glorificada "caridade" de Chico Xavier é descrita sempre de maneira vaga, sem provas, de maneira genérica e especulativa. Mas se torna uma "verdade absoluta" por conta das paixões religiosas dos chiquistas. Mas essa "caridade" é falsa, porque não trouxe resultados significativos em momento algum e, além disso, não era o "médium" que ajudava, mas seus seguidores, e mesmo assim através da ação meramente paliativa de donativos, que não resolviam por definitivo o problema da pobreza;

3) CHICO XAVIER "LAVOU AS MÃOS" COM A MORTE SUSPEITA DO SOBRINHO AMAURI

Um fato sombrio escondido pelo mito de Chico Xavier foi a morte suspeita de Amauri Xavier Pena, seu sobrinho, que este mês, setembro de 2021, completa 60 anos. Amauri morreu de maneira estranha, provavelmente de maneira já noticiada pela revista Manchete, que na edição de 09 de agosto de 1958, havia alertado que o jovem sofreu "ameaças de morte do meio espírita, por envenenamento". Antes de morrer, Amauri Xavier sofreu uma campanha difamatória violenta dos próprios "espíritas" (que juram "não querer ofender sequer o pior inimigo"), da qual se inventou que ele era "alcoólatra e ladrão". 

Com a morte de Xavier, a "Federação Espírita Brasileira", cujo presidente Antônio Wantuil de Freitas é suspeito de mandante do crime, fingiu tristeza com a tragédia e Chico Xavier, beneficiado com essa "retirada da pedra do seu caminho", "lavou as mãos" diante da ocasião;

4) CHICO XAVIER ESTEVE AO LADO DOS OPRESSORES, NÃO DOS OPRIMIDOS

Quem imagina que Chico Xavier era realmente "o médium dos pés descalços", se engana completamente. Ele esteve sempre ao lado de patrões, latifundiários, ditadores e militares direitistas, assim como Madre Teresa de Calcutá esteve ao lado de ditadores, estelionatários e magnatas e foi homenageada pelo presidente dos EUA, Ronald Reagan, na época em que ele patrocinava chacinas e assassinatos de figuras humanistas e progressistas na América Central.

Chico Xavier defendeu a ditadura militar e foi homenageado pela Escola Superior de Guerra, o que diz muito sobre esse aspecto sombrio do "médium que mais apoiou a ditadura". Ele também era ligado aos "coronéis" do gado de Uberaba, aos quais trabalhava como colaborador servil e aliado. Além disso, a obra literária de Chico Xavier sempre foi marcada pela defesa da hierarquia, pedindo aos oprimidos que obedecessem aos arbítrios dos patrões, mesmo quando eles se demonstram abusivos;

5) CHICO XAVIER ERA DEFENSOR DA TEOLOGIA DO SOFRIMENTO

Mais do que qualquer católico conservador, Chico Xavier foi o maior defensor e propagandista da Teologia do Sofrimento, a ponto dessa corrente radical do Catolicismo da Idade Média ter, na prática, substituído os postulados espíritas originais, na composição doutrinária do Espiritismo no Brasil.

A Teologia do Sofrimento, também apoiada por Madre Teresa, é uma espécie de "holocausto do bem", que muitos apelidam, por ironia, de "o Evangelho Segundo Pôncio Pilatos". Trata-se de evocar o sofrimento de Jesus Cristo sob o ponto de vista dos algozes, fundamentando o que o ditado popular define como "pimenta nos olhos dos outros é refresco". Essa corrente católica defende que os oprimidos devam continuar sofrendo as piores vicissitudes, sob a desculpa de "encurtarem o caminho para as bênçãos futuras".

"HEROÍSMO" SÓ É VÁLIDO NA TERRA E ATRAVÉS DE PAIXÕES RELIGIOSAS

É preocupante que Chico Xavier seja incluído na lista dos "heróis da Pátria", num contexto em que até o truculento coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra é considerado como tal. E principalmente porque, por associação, Brilhante Ustra estava entre os militares que o próprio Chico Xavier, no programa Pinga-Fogo, da TV Tupi, dizia estarem "construindo o reino de amor do Brasil futuro", em sua defesa apaixonada e radical da ditadura militar.

No entanto, também consideramos que esse título não tem serventia para a espiritualidade nem para o humanismo. O título de "herói da Pátria" dado a Chico Xavier é tendencioso e oportunista e só está a serviço de paixões religiosas, além do comércio de "livros espíritas" que já alimenta, há quase 90 anos, os cofres dos dirigentes da FEB.

Esse título "honorário", portanto, só serve para perpetuar o fanatismo religioso e a emotividade tóxica que cerca, há décadas, os seguidores de Chico Xavier, atendendo a sentimentos obsessivos bastante doentios e preocupantes, por deixá-los em um transe psicológico perigoso e sujeito a surtos raivosos violentos, como aqueles que fizeram Amauri receber ameaças de morte.

Portanto, não se trata de um título realmente honroso e humanista. É apenas um artifício que as paixões terrenas, a partir de um deputado que apoia a grilagem de terras por latifundiários, recorrem para manter sempre esses sentimentos orgiásticos dos mais preocupantes, em torno de uma figura religiosa conhecida por virtudes que, em verdade, nunca teve jamais. Essa glorificação a Chico Xavier poderá inspirar estragos muito grandes no nosso país, tal é a toxicidade emocional que o "médium" inspira em seus adeptos, dos mais próximos e dedicados aos "isentos" e "distanciados".