Com exclusividade, como teriam sido os últimos momentos de Amauri Xavier

 

Com exclusividade, vamos narrar como teria sido, provavelmente, a morte de Amauri Xavier, com 28 anos incompletos, em setembro de 1961. A morte é altamente suspeita, com fortes indícios de ter sido um assassinato. 

A revista Manchete - cujo trabalho não devemos subestimar, pois a revista da Bloch Editores surgiu como um contraponto à revista O Cruzeiro, dos Diários Associados, acusada de produzir o que hoje conhecemos como fake news, envolvendo falsas espiãs russas e falsos extraterrestres - , em 09 de agosto de 1958, publicou denúncias de Amauri Xavier contra o tio Chico Xavier, divulgando as ameaças que o sobrinho do "médium" sofreu do "meio espírita", citando inclusive a forma de morte, envenenamento, o que pode ter sido o caso do óbito ocorrido.

Com muita probabilidade, o mandante pode ter sido o então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas. Com base nesta hipótese, Chico Xavier não concordava, a princípio, com o crime em questão, mas consentiu como um "sacrifício necessário" para salvar a sua imagem. Amauri pretendia denunciar um grande escândalo que derrubaria o "movimento espírita" em todo o Brasil, e tudo indica que sua morte ocorreu por "queima de arquivo".

O caso merece investigação, embora 62 anos se passaram. Wantuil, Chico Xavier e provavelmente o executor do assassinato, já estão mortos e poucas são as testemunhas sobreviventes dispostas a dar depoimentos. Por lei, o caso também se prescreveu, não possuindo mais efeito jurídico para se realizar uma investigação criminal. Mesmo assim, a narrativa que veremos abaixo é digna de um possível roteiro para um programa de true crime como se vê na TV, incluindo o Linha Direta da Rede Globo.

A TRAGÉDIA DE AMAURI XAVIER PENA

Depois que denunciou o tio Chico Xavier, o jovem Amauri Xavier Pena foi alvo de campanha caluniosa cheia de inverdades. Tudo se falava dele, em acusações levianas e depreciativas daquelas que os chamados "espíritas" reprovam veementemente dos outros, o famoso apelo de "evitar julgamentos e maledicências contra o próximo". Mas, neste caso, os "espíritas" investiram no que diz o famoso ditado popular "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", e caluniaram Amauri de forma mais impiedosa do que as calúnias que desaconselham dos outros.

Amauri era acusado de ser alcoólatra. Bebia álcool, mas não chegava tanto a esse ponto. Outra acusação era de que falsificava dinheiro. Era apenas um rabisco de dinheiro, da qual se tem dúvidas de que Amauri realmente fez, e pode ter sido um truque de seus algozes para incriminá-lo. Caso similar permitiu um policial racista matar de forma covarde o trabalhador negro George Floyd, nos EUA, em 2020.

Outras acusações levianas vieram. Amauri era acusado de pular muros de casas para roubar, e por outro lado fez as denúncias contra o tio para tentar agradar um padre católico de Sabará por causa de uma jovem moça parente dele. O "movimento espírita", que diz tanto ser contra o ódio e o discurso raivoso, viu ser publicado um artigo em termos muito agressivos e furiosos, escrito pelo palestrante mineiro Henrique Rodrigues e publicado em 1958.

Com tanta repercussão negativa, a família foi pressionada para internar Amauri num sanatório de Sabará, Minas Gerais. No local, Amauri foi atendido por funcionários ríspidos, que o tratavam como se fosse um delinquente jogado numa cela de prisão. Apenas um funcionário, um dos coordenadores da instituição, procurava ser simpático com o interno, mas sem demonstrar afetividade.

Amauri era interrogado constantemente sobre o que o motivou ter feito "aquilo" (denuciar o tio). Mas Amauri alegava os motivos já apresentados, e constantemente era agredido pelos funcionários, inclusive a tapas. Apesar disso, Amauri recebia refeições regularmente e podia descansar e dormir sem problemas aparentes.

Em dado momento, porém, Amauri foi autorizado a deixar o sanatório. Ao sair, foi acolhido por familiares. Mais tarde, porém, durante um passeio, Amauri foi acolhido por um homem, possivelmente um funcionário de um "centro espírita" em Belo Horizonte, que se fez passar por um amigo do jovem, aparentemente a lhe ouvir seus lamentos. O funcionário se fez de confidente do rapaz.

Num dia, esse funcionário convidou Amauri para tomar uma bebida alcoólica num bar de Sabará. Conversavam normalmente e, num dado momento, Amauri pediu licença para ir ao banheiro. Olhando para os cantos para ver se não era observado, o funcionário do "centro espírita" tirou um envelope de alguma substância venenosa e colocou no copo de Amauri. Ao voltar, o funcionário havia se recomposto, como se nada tivesse acontecido.

Ao ingerir a bebida, Amauri, mais tarde, sentiu um mal-estar. Eram sintomas de uma hepatite tóxica, que a comunidade médica afirma ter como uma das causas potenciais o envenenamento. Com a saúde se deteriorando, Amauri mais tarde morreu com apenas 27 anos.

Fingindo solidariedade, Wantuil emitiu uma nota em O Reformador, periódico da "Federação Espírita Brasileira", lamentando o óbito. Anunciando a morte como consequência de uma simples hepatite, o falecimento de Amauri foi tratado como se tivesse ocorrido por "causas naturais". O caso, depois, foi abafado, mas Amauri sempre foi lembrado como o "garoto-problema" que atrapalhava o "caminho do bem" da trajetória do seu tio.