Coronelismo de Uberaba ajudou a fortalecer Chico Xavier

UBERABA É CIDADE DOMINADA PELO PODER DOS GRANDES FAZENDEIROS, CRIADORES DE GADO ZEBU.

Um dos fatores que contribuiu para o fortalecimento do mito de Chico Xavier, entre outros aspectos além da importação do "método Malcolm Muggeridge", a técnica do jornalista britânico em transformar a reacionária Madre Teresa de Calcutá numa pretensa unanimidade religiosa e filatrópica, foi o patrocínio certeiro do poder coronelista existente no Triângulo Mineiro, uma das regiões mais conservadoras de Minas Gerais, considerada também maior reduto estadual de Jair Bolsonaro.

Sendo uma das cidades principais do Triângulo Mineiro, Uberaba é alvo de uma propaganda enganosa financiada pelos grandes proprietários de terras da região. Páginas e portais capazes de publicar invencionices como aumentar a idade da ex-atriz e hoje psicóloga Lídia Brondi - cujo marido, o ator Otávio Gabus Mendes, atuou no filme biográfico sobre Chico Xavier - , de 64 para 84 anos, estão publicando mentiras a respeito da cidade mineira.

Uberaba está sendo vendida como uma das dez cidades brasileiras "mais baratas, mais seguras e com melhor qualidade de vida", quando nem a passagem de ônibus municipal, com a tarifa convencional de R$ 4,79, é uma das mais baratas. As casas e as mercadorias mais baratas teriam sido apenas fruto de uma seleção de uma pequena parte de menor custo vendida nos mercados da cidade. Também não faz sentido a cidade que tem na vaca zebu a espécie de vaca mais cara do mundo estar entre as mais baratas do Brasil.

A cidade de Uberaba também não tem elevado padrão de vida, tendo um nível de vida urbana, suburbana e rural intermediária entre uma cidade como Campinas, no interior de São Paulo, e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A "qualidade de vida" se resumiu apenas a uma arrumação do Centro da cidade para fins turísticos, a arrumação, também, dos lugares de turismo, incluindo o mausoléu do próprio Chico Xavier, e o deslocamento da população de rua para municípios vizinhos do Triângulo Mineiro.

Quanto à segurança, a cidade também não é tão segura quanto parece. A violência em Uberaba apenas está em "níveis normais" como, por exemplo, a cidade de Salvador, na Bahia. Uberaba, além disso, é a 13º cidade de Minas Gerais com maior índice de violência contra a mulher, é rota do tráfico internacional de drogas e também uma das cidades brasileiras visadas pelo chamado "novo cangaço", espécie de milícias que atuam realizando grandes assaltos e levam pânico para a população.

Chico Xavier serviu com muito gosto e identificação com a causa conservadora dos "coronéis", tendo atuado como inspetor de gado zebu. O "médium" não só tinha boas relações com os grandes fazendeiros do Triângulo Mineiro como se afinava com o conservadorismo, infelizmente subestimado por setores da opinião pública, dos grandes proprietários de terras da região.

A História registra que os grandes "coronéis" do Triângulo Mineiro, sem excluir os das cidades de Uberaba e Uberlândia, atuaram na repressão aos movimentos populares em vários momentos. Na ditadura militar, a situação não foi diferente, tendo sido relembrada pela Comissão da Verdade que investigava os crimes da ditadura militar, há cerca de dez anos.

Isso faz com que o apoio de Chico Xavier à ditadura militar em nenhum momento significasse um ato de "evitar a prisão", hipótese plantada em 1972 a partir de uma matéria num desfigurado jornal Última Hora, não mais um periódico progressista, pois naquela época Samuel Wainer não era mais seu dono, mas uma empreiteira que também adquiriu o periódico, também carioca, Correio da Manhã.

Os "coronéis" do gado zebu, por sua vez, teriam sustentado e ainda sustentam o "Grupo Espírita da Prece", entidade de Uberaba que contou com a presença de Chico Xavier. Isso fortaleceu o "médium" e permitiu, também, que, em 1957, Chico Xavier armasse um evento religioso para assediar, usando a tática traiçoeira do "bombardeio de amor" (love bombing), o produtor de TV Humberto de Campos Filho, para forçar o fim dos processos judiciais dos herdeiros de seu homônimo pai, escritor maranhense.

Chico Xavier defendeu a ditadura militar porque se identificava, rigorosamente e de maneira espontânea e entusiasmada, com seu projeto político ultraconservador. Consta-se que ele teria ido longe nesse apoio, tendo sido colaborador estratégico, pois o modismo das "cartas mediúnicas" seria na verdade um truque para, transformando a tragédia humana num espetáculo, diminuísse a revolta popular contra as mortes da repressão militar, fazendo com que as pessoas deixassem de se indignar com o poder ditatorial, apoiado pelos "coronéis" do Triângulo Mineiro com a mais do que explícita solidariedade do "médium".