Por que a "caridade" de Chico Xavier é fajuta e sem resultados definitivos?


O carro com autofalante puxa uma caravana, na qual o autofalante anuncia um evento filantrópico promovio pelo "médium" Chico Xavier. O apelo para as pessoas trazerem o donativos já mostra que o "médium" não é o que faz as doações, mas redistribui as doações alheias. Mesmo que o pedido tenha partido de Chico Xavier, o mérito de "símbolo da caridade" dado a ele não é verdadeiro.

Na verdade, essa aparente filantropia foi um artifício para blindar Chico Xavier de ser denunciado por seus atos desonestos, marcados pela tendenciosa atividade da literatura fake, na qual o "médium" faz o que justamente O Livro dos Médiuns de Allan Kardec reprovava energicamente: o uso de nomes ilustres para promover mistificação religiosa.

Por sorte, os brasileiros, na sua ignorância, ingenuidade e uma grande fraqueza emocional que os fazem, em maioria, sucumbir às paixões religiosas, medem a suposta caridade não pelos resultados sociais obtidos, mas pelo prestígio do suposto filantropo.

Dessa maneira, a estupidez humana e a hipocrisia de uma elite de pessoas abastadas, a glorificar a "caridade" focalizando apenas o suposto caridoso, pouco se importando se os pobres realmente receberam ou não os donativos que, lembremos, não foi o "caridoso" que doou, mas a própria elite de abatados, muitos, não obstante, tratando o povo pobre feito lixo, como e os pobres fossem um bando de animais de rua, sem nome e sem caráter, a receber rações e roupinhas.

A "caridade" que tanto se atribui a Chico Xavier e que o blinda toda vez que algum erro ou defeito dele é lembrado, na verdade, não é verídica. Os atos que muitos acreditam ser "a caridade do médium" são coisas medíocres e nem tão valiosas assim, como doações de mantimentos e roupas em pequenas quantidades para famílias numerosas. Dentro disso, há roupas em péssimo estado, remédios com prazo vencido e alimentos baratos de marcas ruins, como arroz e feijão que não rendem.

Comparável à filantropia televisiva que, recentemente, tem em Luciano Huck seu exemplo mais caraterístico - Huck, que é um rico empresário que atua como um dublê de intelectual e de ativista de perfil conservador, assume ser adepto de Chico Xavier - , esta suposta caridade está mais como um truque de marketing do que para uma alegada demonstração de solidariedade e altruísmo.

Todo esse papo de que "Chico Xavier fez caridade" é uma mentira feita mais para promover adoração. É surreal que, no Brasil, a suposta caridade é apenas um artifício para a idolatria religiosa, tanto para Chico Xavier, Madre Teresa de Calcutá e similares, e serve de gancho para a prevalência de uma religiosidade conservadora travestida de "progressista", pois se trata de uma religiosidade ultraconservadora a que Chico Xavier e Madre Teresa sempre defenderam, e que só é considerada "progressista" e "moderna" pela atrasada e pouco esclarecida burguesia metida a "avançada" só para parecer bem na sociedade.

Os pobres, doentes e outros necessitados são apenas "um detalhe". São as mesmas pessoas que fecham os vidros dos seus carros quando chegam à proximidade de um semáforo e veem pedintes implorando por uma doação. São famílias cujos pais resmungam ao ver moradores de rua e, sussurrando consigo mesmos, eles comentam coisas como "vão trabalhar, vagabundos". Pobres "sem nome", "sem personalidade", recebendo dos devotos de Chico Xavier donativos dados no automático, como se o "médium" e seus seguidores dissessem para os pobres, de forma ríspida: "Toma e vão embora".

É deplorável usar a "caridade" como carteirada e sair por aí usando todo tipo de argumento sem lógica nem consistência, mas apenas dotado de forte carga emocional. Uma "caridade" que nunca passa de um espetáculo para a promoção pessoal do pretenso caridoso, e que termina com constrangedores rituais como senhoras pobres, deprimidas e subservientes, em fila, beijando a mão de Chico Xavier sentado e dotado de muita presunção e arrogância.

Só mesmo no Brasil é que a "caridade" não passa de uma mera moeda para validar o culto à personalidade de alguém. E ver que isso se torna uma obsessão dos brasileiros e uma doença crônica é preocupante, ainda mais quando se observa que a única pessoa que a "caridade" de Chico Xavier ajudou foi ele, além da mídia sensacionalista que, entre um crime e outro, adora cobrir matérias que misturam sensacionalismo com miticismo religioso.

A "caridade" de Chico Xavier nunca trouxe benefício reais nem qualquer tipo de resultado positivo e definitivo. Ele nunca combateu a pobreza, até porque ele mesmo apelava para as pessoas suportarem "com paciência" as piores desgraças, com base na tese punitivista das "provas e expiações espíritas".

Uberaba nunca subiu em qualidade de vida e, recentemente, autoridades vinculadas ao então presidente Jair Bolsonaro e ligadas à elites do gado zebu buscaram um artifício para evitar que a cidade mineira continuasse despencando nas colocações do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. 

Através de uma arrumação nos principais bairros de Uberaba, com a população de rua e os miseráveis deslocados para outros lugares - como cidades menores do Triângulo Mineiro, como Frutal e Araguari - , e uma coleta de uns poucos serviços e produtos mais baratos oferecidos na cidade, inventou-se a mentira, feita para turista ver, de que a cidade que adotou Chico Xavier seria "uma das dez mais baratas e com qualidade de vida do Brasil.

Nem em sonhos isso pode ser verdade, uma vez que isso soa tão mentiroso quanto uma promoção de supermercados e outros estabelecimentos comerciais que dizem "vender mais barato" e quase sempre vedem mercadorias caras. Em Uberaba os apartamentos com dois quartos custam mais de R$ 200 mil, a tarifa de ônibus municipais é de R$ 4,75 (contra R$ 4,40 nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo) e os preços do leite, do arroz, do feijão e da carne são um desafio aos orçamentos apertados das classes trabalhadoras. 

Na verdade, essas listas de "cidades mais baratas e boas para se viver" são transmitidas por portais de supostas curiosidades que, de tão duvidosos, chegam a inventar que a atriz Juliana Paes é casada com uma mulher e que a atual aparência de Letícia Sabatella - que, por ironia, fez a mãe de Chico Xavier no cinema - seria a de uma idosa de rosto inchado e cheia de rugas.

Uberaba, além de ter uma vida mais cara do que diz a propaganda enganosa, tem sérios problemas. A cidade sofre eventuais tempestades de poeira, que podem causar sérios problemas de visão se atingirem os olhos das pessoas. A cidade é rota do tráfico internacional de drogas e das quadrilhas do chamado "novo cangaço". Uberaba também tem áreas miseráveis e seus índices de violência são preocupantes. A cidade e a 13º em Minas Gerais com maior índice de violência contra a mulher.

Os brasileiros, portanto, deveriam parar de exaltar Chico Xavier pela "caridade", até porque a origem desse mito do "bondoso médium" nada tem de sublime: foi apenas uma forma de acobertar sua atuação abusiva em usar os nomes dos mortos para promover sensacionalismo barato. Usar o "amor ao próximo" para tais fins não é bondade, é leviandade que deveria ser alvo de repúdio e não de adoração.