"Espiritismo" brasileiro faz parte de elite dos super-ricos

SEDE DA "FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA" INDICA A OPULÊNCIA E O LUXO NÃO SÓ EM SUA ARQUITETURA, MAS NO PODER DE SEUS DIRIGENTES.
 
Embora o chamado senso comum prefira desqualificar, denunciar e repudiar as religiões "neopentecostais", como a Igreja Universal do Reino de Deus, a Assembleia de Deus e outras, elas, ainda que mantenham uma forte legião de fiéis, soam em certos aspectos com "cachorros mortos" dos quais se deve, sim, fazer denúncias e expressar o mais rigoroso repúdio, mas não devem ser entendidas essas seitas como únicas na prática do obscurantismo da fé e da exploração do sofrimento do outro.

O "espiritismo" brasileiro, por atender aos interesses de uma elite social que monopoliza as narrativas que vemos nas redes sociais e que julga ser a detentora da "verdade" e do "bom senso", é blindado de tal forma que dificilmente se consegue fazer uma denúncia mais sistemática dos abusos dessa seita. 

A figura gourmetizada do charlatão Chico Xavier tem, contra si, aspectos e fatos bem mais macabros do que Edir Macedo, R. R. Soares e Waldomiro Santiago, incluindo suspeitas de que seu sobrinho Amauri Xavier foi assassinado sob o consentimento do "médium", mas a blindagem em torno deste é tanta que o nunca o verbo "passar pano" é tão julgado para defender uma pessoa.

Pessoas não conseguem desconfiar do "espiritismo" brasileiro em um único fio de cabelo, ou de peruca, de seus integrantes, mas, por piores, deploráveis e patéticas que sejam as seitas evangélicas "neopentecostais", marcadas principalmente pela extorsão e pelo estelionato dos fiéis, mesmo os mais pobres, é o "espiritismo" brasileiro que possui um poder exorbitante, uma prepotência que parece irrecuperável, mascarada pelo verniz da falsa simplicidade e da pretensa caridade.

Numa época em que pessoas são informadas da proposta de cobrança do governo Lula aos super-ricos, medida que, sabemos, não será levada adiante ou apenas será parcialmente cumprida, esquecemos que as elites que detém um enriquecimento ilícito e exorbitante não se limita aos políticos carreiristas do Congresso Nacional nem aos banqueiros, megaempresários ou ao conjunto de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Muita "gente boa" também integra o elenco dos super-ricos, sem que o "senso comum" da sociedade que predomina nas redes sociais possa reconhecer ou, reconhecendo, repudiar. Há os grandes craques do futebol brasileiro, uma parcela de ricos feminicidas - um ex-juiz que cometeu esse crime em 2002 se aposentou com um vencimento mensal de R$ 310 mil - , uma parcela de famosos em geral, incluindo subcelebridades, empresários de indústrias de bebidas alcoólicas e dirigentes esportivos.

Há, também, vários religiosos com enriquecimento não só ilícito, mas exorbitante. E o "espiritismo" brasileiro, com toda a retórica de "caridade", "humildade" e "amor ao próximo" que só é "unânime" para uma classe média que, através do Instagram, X (ex-Twitter), YouTube, Facebook e WhatsApp, se acha com a "verdade" em suas mãos, é uma religião que integra o grupo seleto de super-ricos.

Não há um levantamento exato, mas o "movimento espírita" sempre mostra seus aspectos de luxo, de superioridade socioeconômica, de poder social que remetem aos níveis mais elevados de elitismo. Nos "centros espíritas", seus coordenadores levam uma vida de significativo conforto, embora evitem ostentar para não pegar mal, e vários deles vivem em bairros nobres ou em prédios luxuosos.

Em Niterói, integrantes do "grupo espírita" Irmã Rosa, no Jardim Icaraí, vivem em prédios caríssimos na Praia João Caetano, no Ingá. Em Salvador, o "médium" José Medrado chega à sua "cidade da Luz" na região do bairro pobre da Boca do Rio, dirigindo um carro utilitário dos mais caros. A carreira de Divaldo Franco foi marcada por pomposas e desnecessárias viagens ao exterior, podendo conhecer a Europa enquanto seus assistidos na Mansão do Caminho mal têm direito a passear por Salvador de vez em quando.

COMO "MÉDIUM", CHICO XAVIER NUNCA FOI POBRE

Um dos mitos defendidos pela sociedade brasileira é o de que Chico Xavier sempre foi pobre e renunciou ao lucro financeiro. Isso é um grande engano pois a pobreza foi apenas o passado desse "médium", que no começo da carreira literária de mais de 400 livros se converteu em enriquecimento através do apelo sensacionalista de suas obras obscurantistas.

A comparação deve ser feita em relação à Rainha Elizabeth II, a falecida monarca britânica. A exemplo da rainha, Chico Xavier não gostava de tocar em dinheiro. Sua "renúncia financeira" foi trabalhada para gerar um mal-entendido e ser creditada como "voto de pobreza", a exemplo do que a Bíblia narra de Jesus Cristo.

Mas a verdade é que Chico Xavier, que sentia nojo de dinheiro físico, por considerá-lo sujo do contato de várias pessoas, apenas não queria tocar em dinheiro. Mas ele, depois que se tornou "médium", não só nunca se tornou pobre como se tornou a "máquina de fazer dinheiro" da "Federação Espírita Brasileira", instituição cuja sede situada em Brasília é a expressão da grandiloquência arquitetônica que simboliza a pompa e a opulência dos dirigentes "espíritas".

Há casos em que Chico Xavier assinava doações de terrenos para instituições "espíritas". Ele era proprietário de alguns latifúndios ou casarões que, no passado, eram residências de oligarquias poderosas? Até agora, não sabemos, mas a necessidade de investigar este e outros aspectos sombrios da trajetória do "médium" de ideias medievais esbarra justamente no suborno que o "espiritismo" faz a quem quiser investigar, uma "gorjeta" para quem permanecer na zona de conforto do silêncio complacente, mesmo com os problemas e irregularidades crescendo feito um câncer nas mentes dos mais céticos.

A riqueza exorbitante dos dirigentes "espíritas" - que nos primórdios da FEB fazia seus membros posarem como um arremedo ressentido da Academia Brasileira de Letras, um grupo de pseudo-intelectuais frustrados por não poderem ingressar no seleto clube literário - , notabilizada através do poder de Antônio Wantuil de Freitas, presidente da instituição e dublê de "empresário" de Chico Xavier durante sua vida, mostra o quanto a FEB apela para continuar na mais absoluta impunidade.

E isso gera até mesmo uma atitude hipócrita, como a de alegar que o "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, com penas centenárias por conta de seus vários crimes, do charlatanismo à violência sexual, passando por enriquecimento ilícito e envolvimento em assassinatos, "nunca foi espírita".

Mas João de Deus não só foi um "espírita" como sua carreira se deu inicialmente como um parceiro de Chico Xavier. E o próprio Chico Xavier, com caligrafia comprovadamente sua, conforme mostra um "fogo amigo" feito pelo jornal O Globo numa matéria sobre o farsante de Abadiânia, em 2018. A matéria de O Globo mostra Chico Xavier sendo saudado por João de Deus, com evidente cumplicidade, e uma cópia de uma carta do "médium" autorizando o goiano a ter uma casa assistencialista, a Casa Dom Inácio de Loyola.

Um detalhe deve ser levado em conta: João de Deus começava a ser denunciado pelos seus múltiplos crimes, e Chico Xavier, mesmo na sua "maturidade", manteve o dom de apoiar farsantes, oferecendo um terreno na cidade de Abadiânia, que de carro fica a meia-hora de Uberaba, como forma de acobertar os crimes do pupilo.

LOBBY DE FAMOSOS DA TELEVISÃO

Outro aspecto que se deve considerar é que o "espiritismo" brasileiro tem um esquema de lobby de famosos da televisão brasileira. Atores são constantemente remunerados, com generosos salários, para representar novelas ou filmes "espíritas". O lobby teve início na TV Tupi, dos Diários Associados, nos anos 1950 e, depois, passou a exercer seu tráfico de influência na Rede Globo de Televisão, desde a ditadura militar.

Com suas novelas e filmes "espíritas", a Rede Globo se mantém como uma força concorrente com a Record, que aposta em filmes e novelas "bíblicos" para "doutrinar" os fiéis da Igreja Universal. A Globo, mesmo numa postura pretensamente "laica" e "ecumênica", tenta fazer o mesmo usando o "espiritismo" brasileiro como a religião escolhida. Embora a Globo continue colaborando com essa manobra dramatúrgica, ultimamente é a Folha de São Paulo que anda fazendo o papel de trincheira ideológica do "movimento espírita".

As novelas e filmes "espíritas" - em boa parte protagoizadas pelo ator canastrão Renato Prieto, também empenhado em fazer "teatro espírita" - são obras dramatúrgicas de qualidade ruim, que lembram muito as novelas medianas da Rede Globo e são dotadas de um apelo moralista bastante conservador, o que deveria chamar a atenção da opinião pública, pois esse moralismo conservador é raro ou inexistente nas novelas da Record, em que pese a reputação de "vidraça" da Igreja Universal.

Recentemente, está em preparação a divulgação de Nosso Lar 2: Os Mensageiros da Luz, filme "espírita" estrelado por alguns atores que estão na novela Fuzuê, da própria Globo. Enquanto espera surtir efeito o sucesso da novela, os cinemas irão relançar o primeiro Nosso Lar, como gancho para chamar os "espíritas" para conhecer os enredos do fictício personagem André Luiz, que o "movimento espírita" alega que "existiu na realidade", embora se confunda nas atribuições encarnatórias.

ISENÇÃO FISCAL - O "espiritismo" brasileiro também se enriquece abusivamente por um motivo bem óbvio: como instituição religiosa, o "movimento espírita", seja a FEB ou as entidades regionais, não paga impostos. Além disso, o "espiritismo" brasileiro recebe doações volumosas do empresariado, que "lava o dinheiro" de seus lucros exorbitantes "em nome da caridade", um truque feito para evitar o "ataque" do "leão" do Imposto de Renda.

O "espiritismo" brasileiro também foi beneficiado pela ditadura militar, como uma das instituições rligiosas que receberam grandes quantias financeiras para, sob a esculpa da "diversidade da fé", enfraquecer a Teologia da Libertação, corrente católica progressista que fazia, nos anos 1970, oposição radical ao regime ditatorial. Nessa época, Chico Xavier estava junto com Edir Macedo e R. R. Soares na cruzada da fé obscurantista para diminuir a popularidade da Teologia da Libertação.

Blindada pela classe média que, em grande maioria, praticamente monopoliza o uso das redes sociais e o padrão de compreensão da realidade que um sistema de valores desenhado pela ditadura militar tenta resistir ao longo dos tempos, o "espiritismo" brasileiro enriquece abusivamente, mas, dotado de esperteza, é capaz de mascarar sua opulência com um verniz de falsa humildade. Só um país ingênuo como o Brasil para acreditar nas mentiras criadas e difundidas pelo "movimento espírita", incluindo a obra de Chico Xavier.