O professor não pode ser responsabilizado pelos maus alunos

NO BRASIL, OS "ESPÍRITAS" LOCAIS DESTRUÍRAM O LEGADO PEDAGÓGICO DO PROFESSOR LIONÊS.

Está sendo divulgada uma narrativa bastante equivocada pela qual os erros do "espiritismo" brasileiro são de responsabilidade de Allan Kardec. É como se toda a deturpação cometida pelos "espíritas" no Brasil, várias delas baseadas no velho Catolicismo jesuíta do período colonial, fossem culpa da obra do Codificador, o que é um terrível e preocupante erro.

As narrativas vem desde canais de ateus legítimos no YouTube - não os confundam com os "ateus" que sentem simpatia por Chico Xavier - a ativistas sociopolíticos como Neggo Tom, que descontextualizando as coisas atribuiu ao pensamento de Kardec um suposto racismo, lembrando que a discriminação contra negros era, infelizmente, socialmente aceita na humanidade do Século XIX, algo que se tornou superado, não sem dificuldades, pelo movimento abolicionista e por novas abordagens da Antropologia Social que só apareceu no Século XX.

No Brasil, é preocupante que os críticos dos descaminhos do movimento espírita brasileiro ponham tudo na conta do professor lionês. E tudo isso possui um motivo bastante sutil: livrar a cara de Chico Xavier, um sujeito que revelamos ter uma trajetória deplorável que, só por ter distribuído pacotinhos de mantimentos para pobres tratados como bichos, tornou-se blindado até nos seus piores erros.

A essas alturas, a Prefeitura de Uberaba deve estar passando a conta de luz dos moradores para os moradores da cidade francesa de Lyon pagarem. Enquanto isso, mesmo os mais críticos contestadores do "médium" mineiro sempre apresentam algum momento de complacência aqui e ali, seja qual for: se não é o tal bordão "pelo menos ele fez caridade", é a relativização de suas "psicografias", oficialmente atribuídas como "nem verdadeiras nem falsas".

Isso vai contra a lógica e os argumentos filosóficos e científicos, que reivindicam a autenticidade ou falsidade de alguma coisa. Quem observa a obra "psicográfica" trazida por Chico Xavier saberá que a atribuição a autores mortos é evidentemente falsa, como hipócrita é também sua "caridade", um artifício para abafar críticas. Criadores de cachorros tratam esses animais com mais dignidade que os "pobres sem nome" dos limitados pacotes de mantimentos do "bondoso médium".

CHICO XAVIER É O MAIOR CULPADO, SIM

A passagem de pano em favor de Chico Xavier, sempre minimizando os erros gravíssimos de sua trajetória, ocultam aspectos extremamente negativos que ninguém se encoraja a divulgar nem reconhecer e, quando é informado de tais fatos, faz ouvido de mercador. E isso se deve porque temos uma ordem social que quer manter intato o mito de Chico Xavier, um "Jesus Cristo" para a chamada elite do atraso (hoje repaginada numa sociedade "positiva", expurgados os radicais bolsonaristas) chamar de seu.

Só que Chico Xavier cometeu atrocidades. Ele, na verdade, cometeu muito menos caridade, quando, em seus mais de 400 livros, sempre pregava para o oprimido suportar conformado, calado e resignado as piores desgraças, "sem queixumes", como o próprio "médium" dizia em sua obra. Isso já elimina 95% de sua reputação de "homem generoso", por conta dessa terrível e cruel recusa em ajudar o próximo, esperando que ele sofra o pior prejuízo para o socorro vir depois da tragédia feita.

Mas como os formadores de opinião são a gente elitista para a qual lhe interessa o mito de Chico Xavier, um "filantropo" a garantir o sono da burguesia gananciosa que praticamente monopoliza seus padrões de pensamento e opinião nas redes sociais. Não são elas os sofredores "convidados" a suportar suas desgraças até se concluir o prejuízo maior. Por outro lado, sabemos que, para o povo pobre, o mito de Chico Xavier não tem um pingo nem uma molécula sequer de representatividade.

Algumas maldades de Chico Xavier têm que ser relembradas, queiram ou não queiram seus seguidores:

1) Há indícios de revanchismo pela apropriação do nome de Humberto de Campos para produzir pretensas psicografias. Chico Xavier teria se vingado dos comentários irônicos e nada generosos do autor maranhense, em artigos de jornal. Aproveitou a morte prematura do autor para usar o nome dele em obras que nada lembram, fora alguns aspectos superficiais, o talento original do escritor. A usurpação quase levou Chico Xavier para a cadeia, mas um juiz medíocre e complacente o absolveu;

2) Chico Xavier ofendeu uma grande multidão de pessoas humildes que foram assistir a um espetáculo de circo que terminou em trágico incêndio criminoso, que matou centenas de pessoas. Era o Gran Circo Norte-Americano, famoso circo em Niterói, e a tragédia ocorreu em 17 de dezembro de 1961, comovendo o Brasil inteiro. Cinco anos depois, no livro Caras e Crônicas, Chico Xavier, sem um pingo de fundamentação e baseado num juízo de valor rabugento, acusou as vítimas, em grande parte pessoas pobres, de terem sido "romanos sanguinários do Século II", sinalizando que as vítimas "pagaram pelo que fizeram". Apesar da declaração ofensiva ao povo, em grande parte niteroiense, Chico Xavier foi homenageado por uma constrangedora "avenida de ciclovia" de Piratininga, que não passa de uma rua sem asfalto pela qual mal dá para passar uma carroça;

3) No programa Pinga-Fogo, da TV Tupi de São Paulo, Chico Xavier despejou comentários hidrófobos contra o comunismo, João Goulart, movimentos operário, camponês e sem-teto. Lembremos que Chico Xavier era um serviçal do coronelismo do Triângulo Mineiro, ou seja, trabalhava e era aliado do poder dos grandes fazendeiros criadores de gado zebu, considerada a mais cara espécie de gado bovino do mundo. Daí que Chico Xavier foi um defensor e um colaborador dos mais fiéis e estratégicos da ditadura militar e sua defesa do regime ditatorial, aberta e radical, não pode ser entendida como "contextual". Chico Xavier defendeu a ditadura militar porque foi um apoiador e até colaborador fervoroso, e se ele foi homenageado pela Escola Superior de Guerra, é porque esse apoio à ditadura era um negócio muito sério. Ninguém homenageia uma personalidade a contragosto nem recebe uma homenagem à força, visando supostos interesses estratégicos sem pé nem cabeça;

4) No caso Jair Presente, a reação de Chico Xavier à desconfiança que os amigos do falecido jovem universitário tiveram com as "psicografias" foi de uma hidrofobia que muitos seguidores julgam inimaginável e inconcebível. Visivelmente irritado, o "médium" caluniou os jovens e chamou essa desconfiança de "bobagem da grossa", ofendendo quem conviveu e conhecia bem o rapaz. Mas, em nome da idolatria religiosa, os adeptos de Chico Xavier ficaram ao lado dele e corroboraram com tamanha calúnia, contrariando a imagem do "médium" de reprovar maledicências, sendo claramente maledicente neste episódio;

5) Outro episódio de maledicência de Chico Xavier é quando, diante desse espetáculo de Assistencialismo barato que fazia os pobres formarem longas filas para receber um pequeno pacote de mantimentos que se consome em dois dias - e isso levando em conta uma família de quatro pessoas; mais numerosas, as famílias pobres consomem tudo em poucas horas - , um homem resolveu voltar sucessivamente para a fila para pegar mais pacotes de mantimentos a que tinha direito. Observando isso, uma senhora comentou a suposta malandragem do miserável para Chico Xavier e este, sentado como um soberbo soberano, fez sua sorridente maledicência: "Ele está se preparando para (pagar pelo que deve n') a própria reencarnação". O "médium" se esquece de que o sujeito era um desesperado que não aceitava receber pouco sob o pretexto da "solidariedade".

6) O episódio de Amauri Xavier é ilustrativo, uma suspeita de "queima de arquivo" que já mencionamos e o caso virá à tona queiram ou não queiram os seguidores ou mesmo os simpatizantes "neutros" do "bondoso médium". Um crime com suspeitas de envenenamento, com possível mandante (o presidente da FEB Antônio Wantuil de Freitas) e um possível executor (algum membro de um "centro espírita" de Belo Horizonte, possivelmente já falecido), crime alimentado pela campanha difamatória contra o sobrinho de Chico Xavier (que não se envolveu com o crime, mas consentiu com o "sacrifício"), mostra o lado cruel da trajetória do "médium". Nem o caso Flordeliz, acusada de um assassinato ligado a uma seita neopentecostal, chega a ser tão chocante. Mas, sendo Chico Xavier, a complacência é total e irrestrita.

Chico Xavier é culpado pelos descaminhos do "espiritismo" brasileiro. Não é admissível haver meias-palavras para descrever os erros do "médium", como se fossem erros sem querer. A complacência da população chega a ser uma grande vergonha, mas como é impossível também apresentar provas do "médium" sobre uma inocência absoluta dos seus atos, bota-se a culpa em Kardec.

Para todo efeito, a Prefeitura de Uberaba cobra tributos dos moradores de Lyon, na França. Daí que veio a mentira de Uberaba como "cidade mais barata do Brasil". Talvez porque tudo agora está na conta dos lioneses. Só mesmo no Brasil é que as bagunças causadas pelos "maus alunos" do professor Rivail  é que são de responsabilidade do professor. Isso não tem um pingo de lógica. Mas o que é lógica, para um país que é o Brasil, considerado o mais ignorante do mundo, não é mesmo?