"Fogos amigos" reforçam gravidade das denúncias contra Chico Xavier

FOTOS COMO ESTA, DE NEDYR MENDES DA ROCHA, MOSTRAM CHICO XAVIER MUITO ENTROSADO COM A FARSA DE OTÍLIA DIOGO, DANDO INDÍCIOS DE CUMPLICIDADE.

As pessoas têm muito medo de ver contestado o mito de Francisco Cândido Xavier, conhecido como Chico Xavier. Preferem mandar a verdade às favas, para proteger sua idolatria, e invertem a advertência kardeciana, que dizia "Melhor cair um homem do que cair uma multidão". O que se vê hoje são brasileiros preferindo que o Brasil todo caia do que cair o mito do "bondoso médium".

Perdidos, os adeptos de Chico Xavier tentam relativizar e dissimular sua idolatria. Uns se apressam em dizer que "não são espíritas". Outros, "isentões" de toda espécie. Antes chamavam Chico Xavier de "espírito de luz" e supunham que ele encerrou a reencarnação. Agora eles recuam e dizem que Chico Xavier é "imperfeito" e "endividado". Para defender o "médium", as pessoas surtam de diversas formas, não raro beirando a demência mental. É sério.

É o preço caro de se promover um ídolo religioso às custas de uma narrativa que explora as fraquezas emotivas humanas, que se tornam reféns de uma pessoa. A imagem que hoje temos de Chico Xavier, que sem fundamentação é descrito como "homem bom e simples" que "viveu só pelo próximo", foi construída pela ditadura militar e pela mídia corporativa associada (Rede Globo), de acordo com dois objetivos estratégicos:

1) Evitar que pastores eletrônicos que arrendavam espaço nas emissoras concorrentes, como Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus) e R. R. Soares (Igreja Internacional da Graça de Deus), ambos saídos da seita pentecostal Igreja Nova Vida, cresçam em popularidade, criando um contraponto "ecumênico" de Chico Xavier para atrair público, aproveitando a condição de "Catolicismo à paisana" que se concebeu o Espiritismo no Brasil;

2) Desviar a atenção do povo e evitar que figuras como o sindicalista Luís Inácio Lula da Silva se tornem populares, criando uma alternativa conservadora ao ativismo do fundador do PT, sendo essa opção conservadora representada por Chico Xavier.

Sim, Chico Xavier já surgiu anti-petista e anti-lulista, para desespero dos chamados "espíritas de esquerda", como Franklin Félix e Ana Cláudia Laurindo, que tentam juntar duas personalidades antagônicas através de uma narrativa, agradável porém bastante superficial e sem fundamentação, ligada à suposta caridade e ao suposto amor ao próximo.

Há um clima de medo e insegurança dos chiquistas que faz com que os textos que mostram lados negativos de Chico Xavier não sejam lidos. A frequência das páginas a respeito, como este blog, é baixa por este motivo. Os brasileiros, sob a desculpa esfarrapada de que a fantasia é mais agradável e esperançosa que a realidade, preferem ver em Chico Xavier uma imagem similar a de uma "fada-madrinha", dentro daquela fantasiosa perspectiva de buscar consolações vãs e tolas.

Embora as pessoas se incomodem com a associação de Chico Xavier a Jair Bolsonaro, os dois são fruto de um mesmo inconsciente coletivo e de um mesmo pano de fundo moralista. Ambos se ascenderam por arrivismo, foram beneficiados pela seletividade da Justiça, defendem valores ultraconservadores, viraram alvos de idolatria fanática e são vistos como "profetas" e "mestres" pelos seus seguidores.

Ambos também foram marcados pela fala desengonçada, pela voz horrível e pela aparência grosseira, assim como também foram acusados de manifestar problemas mentais, até pela forma de olhar e gesticular, mas também são acusados, em contrapartida, de agir com profunda esperteza. A Psicologia é complexa, e podem haver problemas psicológicos que não impedem a atuação da astúcia e da habilidade de influenciar as pessoas.

Além do mais, ambos glamourizam a morte, sendo Jair Bolsonaro o partidário da morte pela violência e pelo descaso público, como no seu desprezo às recomendações da Organização Mundial de Saúde de se prevenir contra a Covid-19, que chegou a ser descrita pelo presidente como uma "gripezinha".

No entanto, Chico Xavier não era menos macabro. Uma foto de 1935 do jornal O Globo, com o "médium" olhando de frente, apresenta um semblante pesado e assustador, mais ou menos como um ciclope, só que com dois olhos.

Ele também estaria envolto em uma maldição, na qual seus devotos sempre perdiam para a morte seus filhos jovens mais valiosos. Várias personalidades, como Augusto César Vannucci, Ana Rosa, Maurício de Souza, Nair Bello e outros eram devotos de Chico Xavier e perderam filhos na tenra idade.

Muitas pessoas, fora do establishment da Internet, se queixam de sofrerem mau agouro por seguirem o "espiritismo" de Chico Xavier. Elas reclamam de serem alvo de adversidades sem controle, vindas do nada, que as fazem desde perder oportunidades de fácil realização, que lhes escapam por um incidente repentino, até arrumarem brigas, sem querer, por conta de um debate inócuo.

Em outras palavras, as pessoas reclamam que o "espiritismo" dá azar, e, embora essa constatação faça muita gente saltar da cadeira e bradar "Mas isso é um absurdo!", ela faz muito sentido. Afinal, o "espiritismo" brasileiro se contaminou com baixas energias espirituais não porque seus membros são "imperfeitos" e "endividados", mas porque as suas bases doutrinárias adotaram a postura desonesta de acolher as ideias de Jean-Baptiste Roustaing mas fingir fidelidade a Allan Kardec.

SE AS DENÚNCIAS VÊM, MESMO SEM QUERER, DE ALIADOS, É BOM PRESTAR ATENÇÃO

A confusão mental dos seguidores e simpatizantes de Chico Xavier, mesmo os "isentos", mesmo aqueles que se autoproclamam "não-espiritas" e "ateus", faz com que eles, imaginariamente, o coloquem no "Céu", como um "espírito puro e perfeito", e depois o retirem, quando agora "admitem" que ele é "imperfeito" e "endividado" (um "endividado" em busca de "calote moral", diga-se de passagem).

A personificação do jeitinho brasileiro, dos resíduos pré-modernos do conservadorismo brasileiro, do culturalismo medíocre, das finalidades paliativas da vida e outros itens do "complexo de vira-lata" que são a doença maior dos brasileiros - que têm, ainda, a mania de argumentar demais em favor de ideias sem lógica - , manifestos em Chico Xavier, criam um círculo vicioso de visões fantasiosas, elogios cegos, atribuições sem fundamento e outras coisas igualmente tolas.

Enquanto isso, quem questiona o mito de Chico Xavier não é ouvido, por causa da cegueira e da surdez infantil dos chiquistas (inclui-se, nestes, os "isentos", "não-espíritas", supostos ateus e outros que "à distância" prestam algum apreço ao "médium"). Os chiquistas falam que sofrem de "intolerância religiosa", mas eles são os mais intolerantes à realidade dos fatos, que nem sempre mostram coisas agradáveis.

Eles tratam Chico Xavier como se ele fosse o "dono da verdade". A verdade foi privatizada, está nas mãos de Chico Xavier, enquanto a mentira foi negociada com Jair Bolsonaro, que tornou-se sócio majoritário. Mas esse maniqueísmo é falso, porque Chico Xavier se ascendeu de forma tão mentirosa quanto Jair Bolsonaro, e isso podemos ver pelos atos irregulares cometidos pelo "médium", os quais seus seguidores e mesmo os simpatizantes mais "distanciados" fazem vista grossa:

1) Chico Xavier realizou fraudes literárias, que destoavam sempre, mesmo no detalhe mais sutil, dos aspectos pessoais relacionados aos supostos autores mortos, como a disparidade de estilo e problemas caligráficos nas assinaturas "espirituais";

2) As "psicografias" de Chico Xavier foram manifestamente modificadas por editores da "Federação Espírita Brasileira", como se as ditas "mensagens espirituais" não tivessem valor e a decisão que prevalecesse partisse do "médium" e dos dirigentes da instituição;

3) Chico Xavier tinha formação ultraconservadora e nunca apreciou o esquerdismo. A suposta consideração ao comunismo foi uma "pegadinha" que, no fundo, pedia para que a ideologia comunista se anulasse em prol do Cristianismo medieval. Chico Xavier apoiou o golpe de 1964 e a ditadura militar, nunca se empenhou pela redemocratização do país, apoiou Fernando Collor em 1989 e estava se aproximando de Luciano Huck e Aécio Neves no final da vida.

Esses detalhes todos vieram não de supostas visões delirantes de opositores. As piores fraudes de Chico Xavier não partiram da "imaginação fértil" de "novos Quevedos" irritadiços com o "trabalho do bem" fora da "seara católica". As denúncias vieram de gente igual aos seguidores e simpatizantes de Chico Xavier, sejam os mais entusiasmados, sejam os "distanciados" e "isentos". Talvez os chiquistas, se admitirem isso, tenham que tomar água fluidificada ingerindo Rivotril.

As denúncias de fraudes literárias vieram de Suely Caldas Schubert, no livro de 1981, Testemunhas de Chico Xavier, um explícito "fogo amigo", porque mostra Chico Xavier apoiando as modificações editoriais dos livros "mediúnicos", não bastasse admitir tamanha e preocupante tarefa, de "editores na Terra" mexerem com os recados tidos como de "espíritos benfeitores".

Podemos até dizer que a compilação de Suely é uma "metralhadora amiga", tendo sido ela amiga de Chico Xavier e solidária a ele. Sem querer, ela deixou vazar as fraudes "mediúnicas", naquele livro de 1981, criando revelações que, até agora, não foram bem digeridas, mas "empurradas com a barriga" por parte de uma multidão diversificada de seguidores e simpatizantes, dos "distanciados" aos "exaltados".

O livro de Suely já surgiu dois anos depois de outro "fogo amigo", O Fotógrafo dos Espíritos, de Nedyr Mendes da Rocha, que mostra os bastidores da suposta materialização de Otília Diogo, entre 1963 e 1964. As fotos de um evento de 1964, com a participação de Chico Xavier, mostram ele bastante participativo e entusiasmado, como se estivesse por dentro do processo.

O livro de Nedyr foi publicado em 1979, nove anos após Otília Diogo ser desmascarada e a Justiça, mais uma vez, passar pano em Chico Xavier. Mas, sem querer, Nedyr apresentou provas de que o "bondoso médium", símbolo de "humildade e dedicação ao próximo", era cúmplice de uma farsa que enganou muita gente, sobretudo os "humildes" a quem muitos creem Chico Xavier ter "servido em toda sua vida".

Em 2018, as acidentais revelações trazidas por Suely Caldas Schubert foram reforçadas pela monografia da historiadora Ana Lorym Soares, que fez uma abordagem "isenta" - ou seja, por apreço "distanciado" e "imparcial" a Chico Xavier - na sua obra O livro como missão: A publicação de textos psicografados no Brasil dos anos 1940 a 1960, que, por sorte, não denunciaram um escândalo porque ninguém entendeu o sentido oculto das revelações.

Afinal, se os "editores da Terra", como Ana Lorym definiu os dirigentes da FEB envolvidos nas modificações editoriais das obras "mediúnicas" de Chico Xavier, com o consentimento, apoio e colaboração do próprio, mexeram nas "obras espirituais", infere-se duas práticas criminosas.

Uma é a confirmação das irregularidades das "psicografias" (que se revelam irregulares em comparação com o que os alegados autores mortos fizeram em vida, como um "Olavo Bilac" com sérios problemas na métrica poética), o que põe em xeque a validade das obras "espirituais", por haver a necessidade de reparos editoriais até mesmo em livros já publicados.

Outra é a consideração, por parte de Chico Xavier e dos dirigentes da FEB, que as "mensagens espirituais" não prestam e que o que vale é o parecer final do "médium" e da cúpula da instituição, que precisam "mexer" nas obras para torná-las "publicáveis" e "vendáveis".

Outro ponto é que o trecho reproduzido da monografia de Ana não esconde os interesses comerciais da FEB e de Chico Xavier, latentes no seu texto. Em dado momento, Ana cita que a cúpula da FEB cuidava da "parte administrativa e comercial do negócio. Era da alçada desse grupo o tratamento editorial dos textos a fim de torná-los livros aptos à manipulação e à leitura pelos consumidores".

Sim, "consumidores". Segundo diz o ditado, não existe almoço grátis, mas muita gente ainda acredita que Chico Xavier fez "voto de pobreza", renunciou ao dinheiro e o "espiritismo" brasileiro festeja o faturamento financeiro porque o dinheiro "vai todo para os pobrezinhos". Não é da natureza humana comemorar quando o dinheiro acumulado vai todo para os miseráveis. É sinal que existem enriquecimentos ilícitos, por trás dessa "euforia maior do que a festa".

E o reacionarismo de Chico Xavier? Ele veio de algum bolsonarista produtor de fake news no Twitter que usava o prestígio do "médium" em causa própria? Nada disso. Quem revelou o reacionarismo de Chico Xavier é ele mesmo, pela formação conservadora de suas raízes sociais, pelas ideias manifestas nos livros e, principalmente, pelas declarações em favor da ditadura e contra as esquerdas para um público gigantesco no Pinga Fogo da TV Tupi. Diante de uma grande audiência, não se acredita que Chico Xavier tenha feito isso "sem saber".

Quanto à condecoração dada ao "médium", em 1972, pela Escola Superior de Guerra, isso deveria chamar a atenção de todos , pois a instituição militar só premiaria aqueles que colaborariam estrategicamente em favor do regime ditatorial e Chico Xavier, não bastasse ter sido considerado um dos colaboradores, contradisse, com isso, a sua imagem "em prol dos oprimidos", estando ao lado dos opressores, que o "médium" considerava "fazerem do Brasil um reino de amor".

A revelação sobre a ESG partiu de um jornalista "isento", manifestamente solidário a Chico Xavier, chamado Marcel Souto Maior, no seu livro As Vidas de Chico Xavier. Outro "fogo amigo" que revelou um dado sombrio do "médium". Houve até mesmo uma cerimônia, com um coral de cadetes, que recebeu o "médium", que recebeu a premiação e ainda fez uma palestra no evento.

Só um imbecil não consideraria que Chico Xavier foi homenageado por prestar serviços de apoio à ditadura militar. Além disso, Chico Xavier nunca apoiou qualquer manifestação pela redemocratização do Brasil, por achar que a ditadura militar só seria extinta "pela vontade de Deus". Até o fim da vida, o "médium" se manifestou direitista até o fim, para desespero dos "espíritas de esquerda" e seu repertório de pensamentos desejosos.

E não nos esqueçamos que muitas das advertências da literatura de Allan Kardec sobre "inimigos internos" do Espiritismo se encaixam no que Chico Xavier havia feito, desde o uso de nomes ilustres e palavras bonitas para enganar e dominar a multidão até estabelecimento prévio de datas fixas para acontecimentos futuros (a tal "data-limite"). Não há como dar razão a Kardec e ignorar que as críticas se anteciparam CONTRA Chico Xavier.

Lembremos que, sendo esses aspectos negativos divulgados, sem querer, através de "fogos amigos", de gente solidária de uma forma ou de outra com Chico Xavier, isso significa que essas revelações põem em xeque a reputação do "médium", e exigem dos brasileiros o desapego total e o rompimento com sua figura, dando fim à adoração, explícita ou não (mesmo aquela disfarçada de "saudável admiração de um homem simples, imperfeito e bom"), à sua pessoa, por muita coisa negativa que ele representou ocultamente.