Chico Xavier também tem "robôs" nas redes sociais

"PALAVRAS DE ORDEM" DE INTERNAUTA PARA QUE O "GADO DIGITAL" FAÇA SUBIR A HASHTAG "CHICO XAVIER" NO TWITTER.
A raiz conservadora e o arrivismo unem Francisco Cândido Xavier e Jair Messias Bolsonaro. O falso contraste dos dois, com o suposto "amor" de Chico Xavier e o suposto "ódio" de Jair Bolsonaro, servem para o discurso dos brasileiros médios que se repete como um disco riscado, mas que não faz sentido algum.
Sabe-se que o "odioso" Jair é muito simpático e bonachão com as pessoas, bastando apenas apoiar e concordar com o que ele fala. Jair é conhecido como o "titio do pavê" e fala como se fosse um amigo animado das conversas de botequim. Nada muito diferente em relação a Chico Xavier.
Afinal, lembremos dos comentários ríspidos de Chico Xavier, que chamou de "bobagem da grossa" a natural desconfiança dos amigos de Jair Presente quanto às supostas psicografias. Paciência, aqueles jovens conheciam e conviveram com o falecido rapaz. É uma rispidez tipicamente bolsonarista vinda do "bondoso médium".
E as manifestações de ódio contra Amauri Xavier? Ele foi vítima de campanha difamatória, de calúnias infundadas - tinha até fake news alegando que o rapaz "fabricava dinheiro falso" - , vindas do "misericordioso meio espírita", e a revista Manchete (cujo jornalismo sério surgiu como resposta aos métodos duvidosos da revista O Cruzeiro, acusada de inventar matérias sobre OVNIs e espiã russa) confirmou que o rapaz era ameaçado de morrer envenenado pelos próprios "espíritas", que se dizem "incapazes de desejarem mal sequer ao mais deplorável inimigo".
Amauri Xavier morreu de "hepatite tóxica", aparentemente porque apenas bebia demais. Só que o simples alcoolismo não mata uma pessoa na idade de 27, 28 anos, pois, para isso, é necessário um outro fator, como uso de heroína, por exemplo. No caso, ao conhecer a notícia da ameaça de morte, o falecimento de Amauri tornou-se algo suspeito, com forte indício dele ter sido assassinado, a mando dos "piedosos espíritas".
Mas, infelizmente, num país que hesita até em tirar do poder um Jair Bolsonaro que causa perplexidade no mundo inteiro, não há como reabrir o caso Amauri Xavier, por causa do lobby que o "movimento espírita" recebe de juristas, da imprensa, da comunidade acadêmica, de fazer inveja a qualquer "cacique" do PSDB.
Um "médium espírita" é um "tucano que deu certo", pode até errar gravemente que muitos põem a culpa no "espírito obsessor". Vide a facilidade com que Divaldo Franco pôde ter no caso dos comentários homofóbicos, passando por cima do escândalo que o acusou de ser "médium de direita". Ele hoje continua blindado no YouTube, no Facebook, no WhatsApp e no Twitter.

MENSAGENS COMBINADAS: A MESMÍSSIMA FÓRMULA DAS "PALAVRAS-CHAVE" EM POSTAGENS PADRONIZADAS FOI O QUE SE VIU NAS MENSAGENS QUE CARREGAVAM A HASHTAG "CHICO XAVIER" NO TWITTER. O RAPAZ DA FOTO É GERALDO LEMOS NETO, PROPAGANDISTA DA "DATA-LIMITE".
"ROBÔS ESPÍRITAS"
Quando houve a recente erupção do vulcão Krakatoa, na Indonésia, veio uma repentina histeria de internautas nas redes sociais, como o Twitter, que, toda vez em que se acumulam notícias trágicas na grande imprensa, partem para uma campanha para blindar Chico Xavier sob o pretexto da "profecia" da "data-limite", um risível processo de supostas previsões que tinha erros completamente absurdos.
Narrada pelo palestrante Geraldo Lemos Neto, mas antecipada pelo próprio "médium" em seus livros e nas declarações no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971 - portanto, não se pode acusar o Geraldo de ter feito invenções que "maculam a memória do adorado médium" - , a "profecia da data-limite" mostrava vergonhosos erros de caráter geológico e sociológico, dos quais se destacam alguns exemplos:
1) O CHILE SERIA POUPADO DE CATÁSTROFES VULCÂNICAS E SÍSMICAS QUE ATINGIRIAM O HEMISFÉRIO NORTE - Impossível. O Chile faz parte do Círculo de Fogo do Pacífico. Se explosões vulcânicas e abalos sísmicos atingissem áreas como o Sul da Itália, o Japão, a Indonésia e a Costa Oeste dos EUA (incluindo a imponente Califórnia), o Chile sofreria os mesmos fenômenos. Se a Califórnia e o Havaí desaparecerem do mapa, o Chile não teria destino diferente.
2) ESLAVOS SE REFUGIARIAM NO NORDESTE BRASILEIRO - Além disso ser arriscado para os povos eslavos, que morreriam com o choque térmico do calor nordestino, Chico Xavier cometeu uma burrice: afinal, na época em que o "médium" nasceu, os povos eslavos já realizavam sua migração para o Brasil, e as regiões escolhidas foram o Sul do Brasil e o interior de São Paulo, de condições climáticas próximas ao dos países eslavos, como Polônia e a antiga Iugoslávia.
3) ESTADUNIDENSES SE REFUGIARIAM NA AMAZÔNIA - Extrema burrice sociológica atribuir que, numa catástrofe "prevista" por Chico Xavier no caso do Velho Mundo ignorar os "apelos pela fraternidade cristã" (condição em jogo na "profecia da data-limite"), os sobreviventes de uma catástrofe que fosse destruir os EUA iriam se refugiar na Amazônia, povoando as cidades nos Estados do Acre, Pará e Amazonas. Impossível, porque são as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo (ou Curitiba e Belo Horizonte) que apresentam as mesmas condições sociológicas dos EUA.
Por afinidade de sintonias, o nome "Chico Xavier" sobe nas redes sociais toda vez que há acúmulo de más notícias, porque estas redes são redutos para fake news, fanatismo religioso e moralismo conservador, este oculto até em certas mentes supostamente progressistas, como nos autoproclamados "espíritas de esquerda" que cortejam o "médium" que mais defendeu a ditadura militar e que, se vivesse em 2018, teria apoiado Bolsonaro (sim, Chico Xavier apoiaria Jair Bolsonaro em 2018).
E quem imagina que não há "robôs", ou os "fakes do bem" que blindariam Chico Xavier, uma boa prova disso é o padrão praticamente único da pessoa adotar a mesma narrativa, que foi "surpreendido" pelas "palavras-chave" lançadas na Internet, separadas por um travessão: "data-limite", "Chico Xavier", "coronavírus", "Krakatoa".
Havia duas linhas de ação dos "robôs", essa narrativa de "ser surpreendido por tais palavras-chave" ou fazer comentários rápidos sobre "data-limite" e "Chico Xavier", uma ação combinada por um grupo pequeno de internautas que, no caso de Jair Bolsonaro, já são conhecidos por combinar a multiplicação artificial de mensagens sob uma mesma palavra ou expressão de interesse bastante estratégico.
Afinal, foi justamente esse artifício que garantiu a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, através do "disparo de fake news", através de manipulação de palavras-chave diversas, tanto a favor da campanha do "capitão", quanto na produção de mensagens depreciativas relacionadas ao rival do segundo turno da corrida presidencial, Fernando Haddad, do PT.
Portanto, são duas linhas de produção de mensagens dos "robôs", a seguir:
1) Um mesmo padrão de mensagens que remetem um suposto espanto em relação a palavras-chave como "krakatoa", "coronavirus", "data-limite" e "Chico Xavier". Pouco importam as variações - provavelmente combinadas pelos internautas - , até porque o próprio Chico Xavier, quando fazia seus plágios (com a ajuda, conforme teve que admitir, por acidente, a historiadora Ana Lorym Soares, de dirigentes da "Federação Espírita Brasileira"), tinha o cuidado de alterar levemente os textos;
2) Comentários curtos baseados em clichês do tipo "estamos chegando na data-limite, será que vai ficar melhor ou pior?", ditos em frases ainda mais simplórias, sempre carregando, juntas, as hashtags #datalimite e #ChicoXavier, ou simplesmente o nome "Chico Xavier" como normalmente se escreve.
A consulta no Twitter mostra a ação inicial desses "robôs" que, depois, "puxam" a adesão de outros internautas, de maneira bastante similar ao que se foi feito, em relação a Jair Bolsonaro, na campanha de 2018 em que, com todas as advertências, no Brasil e no mundo, o então presidenciável conseguisse vantagem crescente, tratado, nas redes sociais, como se fosse um "nobel da Paz".
Havia até gente "pedindo" para fazer a expressão "Chico Xavier" subir nos trend topics (lista dos assuntos mais vistos no Twitter), como quem ordena o "gado digital" a usar uma palavra-chave para ela se tornar, artificialmente, um grande destaque.
Por outro lado, da mesma forma com que, inicialmente, "robôs" lançavam fake news padronizados em favor de Bolsonaro, também foram feitas mensagens padronizadas em favor de Chico Xavier, criando uma falsa popularidade que acabava chamando a atenção de mais gente, diante dessa propaganda enganosa que usava o "método Josef Göebbels" de multiplicação de mensagens.
Quase ninguém, em verdade, fez campanha em favor de Chico Xavier. São apenas mensagens vagas e, fora elas, uma meia-dúzia de beatos que falam sempre dos mesmos clichês de "caridade". Mas nada que pudesse chamar a atenção de uma pessoa supostamente tida como iluminada, pois as alegações são igualmente superficiais e em quantidade pequena. A maioria apenas reproduzia, como determina as regras do "gado digital", os artifícios para fazer Chico Xavier, comparado com Bolsonaro pelo arrivismo e reacionarismo, estar entre os trend topics do Twitter.