Reportagem de Realidade mostra, pelo menos, três pontos negativos em Chico Xavier



De autoria do famoso jornalista José Hamilton Ribeiro - conhecido, nas manhãs de domingo, por suas matérias do programa Globo Rural, da Rede Globo de Televisão - , a matéria "O Cérebro Anormal de Chico Xavier", publicada na edição de novembro de 1971 da revista Realidade, conhecida pelo jornalismo investigativo, notamos, pelo menos, três pontos negativos na trajetória de Francisco Cândido Xavier. Um trecho da matéria foi reproduzido na postagem anterior.

Nesses três pontos, nota-se que um deles foi trazido sem querer. Outro foi apenas despercebido e outro foi resultante de uma estratégia do próprio repórter de tentar enganar Chico Xavier, o que deu o resultado esperado e mostrou o caráter fraudulento do "médium". Vejamos os seguintes aspectos:

1) O "BOMBARDEIO DE AMOR"

A frase "Chico é dessas pessoas das quais a gente se aproxima e não quer se afastar mais. Espalha calor humano" revela não uma personalidade agradável de uma pessoa querida, o que talvez fosse a crença de Zé Hamilton, na sua boa-fé, motivado por um lobby que defendia a "bondade infinita" do "médium", como forma de tentar calar os opositores.

Essa ideia reflete, na verdade, uma técnica muito perigosa de dominação humana, a "arma letal" de Chico Xavier, que é o "bombardeio de amor", que só é considerada "positiva" aqui no Brasil, mas é considerada traiçoeira pelos mais renomados especialistas em técnicas de dominação e manipulação humanas, a partir do caso da Igreja da Unificação Cristã do Reverendo Moon (como era conhecido o evangelista coreano, que chegou a viver no Brasil, Sun Myung Moon, e era acusado de enriquecimento ilícito).

O "bombardeio de amor" é uma técnica em que pessoas seduzem outras que lhes são estranhas com simulacros de demonstrações afetivas profundas. Apelos visuais dos mais diversos, como, hoje em dia, mensagens ilustradas com belas paisagens e ídolos religiosos envoltos em desenhos de coraçõezinhos, são feitos para iludir multidões. Com um farto repertório de evocação aparente da beleza e da afetividade, atrai-se multidões como se atrai um rato colocando um queijo numa ratoeira.

Essa técnica é perigosa porque desnorteia a pessoa, que, conforme lembrou Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, pode sofrer processos obsessivos que, no caso de Chico Xavier, envolvem fascinação e subjugação. A pessoa perde sua capacidade de raciocinar, dominada pelo ídolo religioso, no caso o "médium", e se sujeita aos seus desígnios, acatando cegamente seus conselhos.

Zé Hamilton não percebeu esse propósito, e olha que a "seita Moon" estava em voga na época, 1971, e o referido reverendo chegou a viver no Brasil, na cidade de Jardim, no Mato Grosso. Anos antes, o fanático Jim Jones também morou no Brasil, em Belo Horizonte. Por que energias vibratórias fizeram eles serem atraídos pelo Brasil para instalar filiais de suas seitas religiosas?

2) TEOLOGIA DO SOFRIMENTO E CONSERVADORISMO

A mensagem "O sofrimento, filha, é uma dádiva de Deus. É com a dor que nós nos elevamos" é própria da Teologia do Sofrimento, que os "espíritas" nunca admitem seguir formalmente, mas que seguem rigorosamente, a ponto dessa corrente radical do Catolicismo da Idade Média influir mais no "espiritismo à brasileira" do que os postulados originais, kardecianos.

A Teologia do Sofrimento é uma espécie de "holocausto do bem". É uma corrente que prega o sofrimento humano como caminho para obter a graça divina. Isso já envolve uma pauta moralista ultraconservadora, que inclui atos de submissão, sacrifício e auto-censura - o sofredor é advertido a evitar reclamar da vida - , mesmo numa circunstância de desgraça gravíssima. A Teologia do Sofrimento é uma espécie de "água com açúcar" que faltou em tiranias como o nazi-fascismo.

Dentro de uma perspectiva de necropolítica - ou seja, uma política voltada a matar uma considerável parcela da população - , compreende-se que não há contraste entre a "bondosa" Teologia do Sofrimento, que Chico Xavier propagou mais do que qualquer católico de batina, e a tirania fascista, por se tornar um complemento "dócil" para as crueldades da repressão e da tortura da opressão política.

3) FRAUDES SUPOSTAMENTE MEDIÚNICAS

Dois fatos mostraram o caráter fraudulento da "psicografia" de Chico Xavier. Um episódio é o da mãe do dirigente "espírita" do Paraná, João Guignone, que Chico Xavier alegou estar espiritualmente ao lado dele. Guignone fingiu alegria, mas pensou consigo mesmo que ela continuava viva. Ao viajar de Uberaba para Curitiba, chegando à capital paranaense ele foi informado que a mãe havia acabado de morrer.

Os chiquistas, com um erro de interpretação, usam esse episódio como "confirmação" da "psicografia" de Chico Xavier, que havia "adivinhado" a morte da mãe de Guignone. Mas a lógica dos fatos mostra que foi uma fraude, semelhante a quando o "médium" supunha ter resolvido crimes que já estavam potencialmente resolvidos.

É uma tática que uma pessoa esperta tenta antecipar informações que, por si só, já sinalizam alguma hipótese. No caso das ocorrências policiais, Chico Xavier inventou "psicografias" que sinalizavam desfechos que já haviam sido considerados como hipóteses prováveis pelo inquérito policial respectivo, havendo somente a coincidência da conclusão do caso com a "mensagem psicográfica".

No caso da mãe de Guignone, ela já estava idosa e doente, e Chico Xavier apenas inventou a morte dela, que, por coincidência, ocorreu depois dessa declaração. E, além disso, não há lógica alguma de um espírito desencarnar e, imediatamente, ir ao encontro de qualquer outra pessoa, ainda mais um "médium". Depois de ter morrido, a mãe de João Guignone simplesmente ficou na erraticidade, começando a reconhecer a sua nova condição no além-túmulo.

Outro episódio foi o pedido de uma receita para um suposto Pedro Alcântara Rodrigues, morador da Rua Barão de Limeira 1327, apto. 82, São Paulo, solicitada pelo jornalista. Chico Xavier resolveu fazer uma receita não para uso de remédios, mas somente orientações espirituais. Com a caligrafia própria do "médium", a mensagem disse o seguinte: "Junto dos amigos espirituais que lhe prestam auxílio, buscaremos cooperar espiritualmente em seu favor, Jesus nos abençõe".

Só que Zé Hamilton declarou que o nome e o endereço eram fictícios: "Nem a pessoa com aquele nome, nem mesmo esse endereço existem. Eu os inventei". E imaginar que matérias investigativas como estas não se produzem mais, substituídas pelo jornalismo chapa-branca em favor da idolatria dada a um "médium". É lamentável.