Motivos do medo de muitos brasileiros em questionar Chico Xavier
CONDENADA PELA LITERATURA ESPÍRITA ORIGINAL, A FASCINAÇÃO OBSESSIVA CONTRIBUI PARA A IDOLATRIA DE CHICO XAVIER PELA MAIORIA DOS BRASILEIROS.
Há um medo em questionar a figura de Francisco Cândido Xavier. Um medo que surge, no piloto automático, assim que aparece seu nome. Pessoas reagem, se recusando à tarefa, mesmo que ela seja em prol da Razão e da Lógica.
Neste caso, acusa-se, levianamente, a Razão e a Lógica de estarem "contaminadas pelas paixões religiosas", inventa-se um "excesso de cobrança" e mesmo quem normalmente opera com raciocínio lógico é induzido a pensar que "às vezes precisa ouvir a sabedoria dos olhos do coração".
Sim, isso mesmo. De repente, há o pretenso realismo que atribui ao coração a sobrecarga simbólica de três funções que lhe são impróprias: o raciocínio, a audição e o olhar. Só que isso não é um ato de licença poética, não se está falando de poesia nem de performance teatral. Trata-se de uma postura considerada "realista" e, pasmem, "racional", em torno de Chico Xavier.
Isso mostra o quanto idiotas os brasileiros se tornam diante desse medo de questionar Chico Xavier. E quantos terraplanistas, olavistas ou mesmo bolsonaristas não existem dentro dos "amorosos" corações chiquistas?
É muito fácil um chiquista falar mal de Jair Bolsonaro por conta do "ódio" e reprovar Olavo de Carvalho "pelos absurdos que ele defende". É muito fácil, também, falar de Sara Geromini, a reacionária ativista sob o codinome "Sara Winter", como uma "infeliz que queria promover badernas no país". E as seitas evangélicas "neopentecostais", quantos comentários lamentosos são feitos por chiquistas sectários e não-sectários?
Os "espíritas" ou mesmo os "isentões" que cortejam Chico Xavier prontamente reclamam ou "sentem pena" dos argueiros que existem nos olhos dos outros, nos ciscos dos olhos que os fazem andar pelo caminho errado, mas cujos erros são superestimados até o exagero.
Que traves não estariam cegando os olhos dos chiquistas, sectários e não-sectários, que arrepiam de temor quando se fala em questionar e investigar Chico Xavier? Sem ter consciência do que estão falando, disparam comentários viciadamente repetidos: "Crueldade... Chico, um homem tão bom...", e sem qualquer motivo ficam com o coração partido, só de imaginar alguma coisa contra o "médium".
Dissemos isso porque a Globoplay está lançando uma série sobre o suposto médium João Teixeira de Faria, intitulada "Em Nome de Deus". A série mostra como uma série de reportagens da TV Globo, incluindo revelações anunciadas no talk show Conversa Com Bial, contribuíram para desmascarar o "médium" de Abadiânia, que chegou a enganar até mesmo celebridades como Oprah Winfrey e Madonna.
A própria Globo, em muitos dos "fogos amigos" contra Chico Xavier, revelou que este blindou João de Deus em 1993, quando o goiano foi acusado de charlatanismo, exercício ilegal da Medicina e até mesmo de primeiras denúncias de assédio sexual, ainda dados timidamente. O terreno que hoje corresponde à Casa Dom Inácio de Loyola foi resultante de uma doação solicitada por Chico Xavier, em carta que, confirmadamente, mostrou a caricatura própria do "médium".
Oficialmente, a "Federação Espírita Brasileira" não reconhece João de Deus como "espírita" e alega até que o próprio goiano "admitiu isso". Mas se esquece que o vínculo com Chico Xavier é certeiro e confirmado, até porque João de Deus havia trabalhado para o "médium" mineiro durante anos, tendo sido seu aprendiz, como confirmam os fatos, em textos biográficos do goiano, quando ele ainda gozava de boa reputação. O vínculo de João de Deus a Chico Xavier foi aqui mencionado.
TRIPLA CARTEIRADA: SUPOSTOS CONTATO COM OS MORTOS, "BOMBARDEIO DE AMOR" E FILANTROPIA
Como uma pessoa de aparência considerada sem atrativos consegue exercer, em grande maioria de brasileiros, uma perigosíssima fascinação obsessiva e, por vezes, até mesmo a subjugação (que, neste caso, domina jornalistas, acadêmicos e juristas)? Não são os "lindos olhos" estrábicos do "médium" que fazem as pessoas se sentirem dominadas e seduzidas por sua pessoa.
Aí surge a reação típica dos chiquistas, sempre com uma desculpa na ponta da língua, dada também pelo piloto automático: "É o lindo exemplo de amor e caridade do médium". Só que essa narrativa se repete desde a ditadura militar e as pessoas nem se dão conta disso. Não conseguem sequer explicar que "caridade" é essa e que "lindos exemplos" são, e tudo fica nisso mesmo, em que o terreno da boataria basta para oferecer argumentações que, sem provas, garantem consenso assim na moleza.
Uma análise mais apurada se leva, todavia, a considerar que a "caridade indiscutível" de Chico Xavier teve resultados fajutos, afinal, com tanto burburinho que se fala sobre sua "vida de exclusiva dedicação ao próximo", era para, de 1932 a 2002, o Brasil ter alcançado níveis inevitáveis de desenvolvimento humano. No entanto, o nosso país nunca atingiu níveis sequer minimamente satisfatórios e, em muitos casos, perdemos até para países miseráveis da África.
Além disso, a experiência duvidosa de Luciano Huck serve para explicar como era a "caridade" de Chico Xavier, e o quanto essa suposta filantropia que garante a popularidade do "médium" era fajuta e de baixíssimos efeitos, restritos a resultados meramente paliativos.
Naquela época, não havia a imprensa alternativa para opor à narrativa oficial, trazida pela Rede Globo e corroborada pela mídia corporativa restante - principalmente o SBT, que em 2012 elegeu Chico Xavier como "o maior brasileiro de todos os tempos" e, em seguida, assumiu apoio a Michel Temer e Jair Bolsonaro - , e tínhamos uma narrativa única, monolítica, o que não é benéfico mesmo quando se trata em promover uma personalidade religiosa.
Por muito menos, Madre Teresa de Calcutá conseguiu ser denunciada pelo jornalista inglês Christopher Hitchens, e olha que ele era ateu. No entanto, se teve coragem de aceitar os questionamentos do jornalista - que, todavia, não ficou livre de ataques de seguidores da religiosa - , e isso quando Madre Teresa apenas foi acusada de menos atos negativos que Chico Xavier e por ela, na sua condição feminina, ter se situado em condição mais frágil.
Chico Xavier cometeu erros ainda mais graves do que o já gravíssimo erro de Madre Teresa deixar seus alojados nas casas das Missionárias da Caridade em condições sub-humanas. E ele era um homem, ou seja, não há qualquer razão para tamanho melindre, se houve maior facilidade da opinião pública internacional em aceitar as denúncias contra Madre Teresa de Calcutá do que a brasileira em relação às denúncias contra Chico Xavier.
Para complicar as coisas, as denúncias não chegam só de opositores "raivosos", "ressentidos com o trabalho do bem" (outro bordão chiquista), mas de gente simpática ao "médium", como Marcel Souto Maior, Suely Caldas Schubert, Nedyr Mendes da Rocha e Ana Lorym Soares, que, juntos, acabaram, por acidente, confirmamdo que Chico Xavier era um fraudador literário e um reacionário colaborador da ditadura militar.
Além da suposta caridade, outra desculpa dada a Chico Xavier para fazer as pessoas ficarem com muito medo de questioná-lo é a alegação de que ele "falava com os mortos", o que faz com que o brasileiro médio, cheio de crendices e superstições, achasse que, basta apontar um dado negativo do "médium" para um espírito reagir e assombrar o questionador. De morto, mesmo, Chico Xavier só "conversava" com a mãe e, quando muito, com o espírito de um jesuíta, Manuel da Nóbrega.
CORAÇÕEZINHOS, CRIANÇAS FAMINTAS E FANTASMAS
A ideia, portanto, é intimidadora, não bastasse o "bombardeio de amor" que Chico Xavier sempre usou para assediar e seduzir as pessoas, através de pretensos apelos de beleza e afetividade. Ou seja, há uma série de apelos visuais que fazem com que as pessoas se sintam dominadas ou intimidadas por Chico Xavier.
Temos os apelos de coraçõezinhos vermelhos, céus azuis, cenários floridos e campestres, passarinhos voando sobre flores, peixinhos fofos sob as águas do mar, próprios do "bombardeio de amor" visual, assim como apelos de afetividade - Chico Xavier se fazia "amoroso e acolhedor" com as pessoas - e de beleza simbólica, pois suas reuniões espirituais eram pontuadas de fundo musical de música erudita, para dar um tom de "relaxamento" e "superioridade melódica".
Além disso, a "carteirada" das crianças famintas é certeira. O suposto filantropo não faz caridade e talvez nem se interesse tanto por isso, mas a usa como trampolim para sua promoção pessoal. Embora os resultados sejam fajutos, usa-se um recurso psicológico semelhante ao do sequestrador, que exige benefícios sob a ameaça de matar seu refém.
No caso da pretensa caridade, o dito benfeitor não pode ser desqualificado ou desclassificado de forma alguma, pois, se caso o fosse, ele usaria como desculpa a "fome de muitas pessoas". "Vamos, me prendam, me condenem, pois aquelas crianças, aqueles velhinhos pobres, vocês estão vendo, ficarão desamparados e com fome".
O pretenso benfeitor nada faz, mas quer ser reconhecido como tal, e ele usa a fome e a miséria como carteirada para ele continuar sendo associado àquilo que não faz. Daí o grande equívoco da gente medir a caridade mais pelo prestígio do suposto benfeitor, como no caso Chico Xavier, do que pelos resultados, que, no caso do "médium", foram bastante medíocres.
E os fantasmas? Bom, a superstição de muitos em recusar-se a analisar as "psicografias" de Chico Xavier, apesar da comprovação acidental (por Schubert e Lorym) de fraudes editoriais, ou mesmo das denúncias de leitura fria e "colas" em material escrito (como as anotações e cartas, escritas por pessoas mortas quando eram vivas, e material de imprensa) para fabricar "psicografias", mesmo assim o recuo quando se vê o nome do "médium" revela um terrível melindre.
Afinal, as pessoas temem ter pesadelos com fantasmas, ouvir batidas nas portas e paredes dadas por "seres do outro mundo", daí o medo em questionar Chico Xavier, diante dessa "carteirada" sobrenatural que faz as pessoas preferirem a zona do conforto da incerteza "isenta", sem afirmar uma tese nem negá-la de fato, algo que erroneamente dá legitimidade à "obra mediúnica", como levianamente a FEB atribuiu à abstenção de escritores, no passado.
Sabe-se que nomes como Raimundo Magalhães Júnior (ou R. Magalhães Júnior), Monteiro Lobato e Apparicio Torelly (Barão de Itararé) se abstiveram, não afirmando nem negando coisa alguma sobre a "psicografia" de Chico Xavier, e a FEB usou essa abstenção como se fosse confirmar a veracidade da "obra mediúnica".
Só que "não dizer não" não significa que seja "dizer sim". Não negar não é, necessariamente, afirmar. Nenhum escritor atuou em favor de Chico Xavier, e, no máximo, houve um iludido Agrippino Grieco que, depois, se desiludiu com o "médium" no caso das supostas psicografias com Humberto de Campos. O que houve, entre esses escritores, foi apenas uma abstenção, mas no Brasil em que voto em branco dá pontos em favorito nas pesquisas, tanto faz a malandragem da FEB.
O que vemos é que uma única pessoa, como Chico Xavier, foi capaz de dominar e seduzir as pessoas de maneira tão perigosamente controladora, daí o medo das pessoas contestarem a sua figura e de pôr em descrédito a sua trajetória e obra, mesmo sendo à luz da Razão. O que faz com que Chico Xavier não seja apenas considerado um dos maiores mistificadores do Brasil, mas também um dos mais perigosos e traiçoeiros. Até nisso Chico Xavier é anti-kardeciano.
Há um medo em questionar a figura de Francisco Cândido Xavier. Um medo que surge, no piloto automático, assim que aparece seu nome. Pessoas reagem, se recusando à tarefa, mesmo que ela seja em prol da Razão e da Lógica.
Neste caso, acusa-se, levianamente, a Razão e a Lógica de estarem "contaminadas pelas paixões religiosas", inventa-se um "excesso de cobrança" e mesmo quem normalmente opera com raciocínio lógico é induzido a pensar que "às vezes precisa ouvir a sabedoria dos olhos do coração".
Sim, isso mesmo. De repente, há o pretenso realismo que atribui ao coração a sobrecarga simbólica de três funções que lhe são impróprias: o raciocínio, a audição e o olhar. Só que isso não é um ato de licença poética, não se está falando de poesia nem de performance teatral. Trata-se de uma postura considerada "realista" e, pasmem, "racional", em torno de Chico Xavier.
Isso mostra o quanto idiotas os brasileiros se tornam diante desse medo de questionar Chico Xavier. E quantos terraplanistas, olavistas ou mesmo bolsonaristas não existem dentro dos "amorosos" corações chiquistas?
É muito fácil um chiquista falar mal de Jair Bolsonaro por conta do "ódio" e reprovar Olavo de Carvalho "pelos absurdos que ele defende". É muito fácil, também, falar de Sara Geromini, a reacionária ativista sob o codinome "Sara Winter", como uma "infeliz que queria promover badernas no país". E as seitas evangélicas "neopentecostais", quantos comentários lamentosos são feitos por chiquistas sectários e não-sectários?
Os "espíritas" ou mesmo os "isentões" que cortejam Chico Xavier prontamente reclamam ou "sentem pena" dos argueiros que existem nos olhos dos outros, nos ciscos dos olhos que os fazem andar pelo caminho errado, mas cujos erros são superestimados até o exagero.
Que traves não estariam cegando os olhos dos chiquistas, sectários e não-sectários, que arrepiam de temor quando se fala em questionar e investigar Chico Xavier? Sem ter consciência do que estão falando, disparam comentários viciadamente repetidos: "Crueldade... Chico, um homem tão bom...", e sem qualquer motivo ficam com o coração partido, só de imaginar alguma coisa contra o "médium".
Dissemos isso porque a Globoplay está lançando uma série sobre o suposto médium João Teixeira de Faria, intitulada "Em Nome de Deus". A série mostra como uma série de reportagens da TV Globo, incluindo revelações anunciadas no talk show Conversa Com Bial, contribuíram para desmascarar o "médium" de Abadiânia, que chegou a enganar até mesmo celebridades como Oprah Winfrey e Madonna.
A própria Globo, em muitos dos "fogos amigos" contra Chico Xavier, revelou que este blindou João de Deus em 1993, quando o goiano foi acusado de charlatanismo, exercício ilegal da Medicina e até mesmo de primeiras denúncias de assédio sexual, ainda dados timidamente. O terreno que hoje corresponde à Casa Dom Inácio de Loyola foi resultante de uma doação solicitada por Chico Xavier, em carta que, confirmadamente, mostrou a caricatura própria do "médium".
Oficialmente, a "Federação Espírita Brasileira" não reconhece João de Deus como "espírita" e alega até que o próprio goiano "admitiu isso". Mas se esquece que o vínculo com Chico Xavier é certeiro e confirmado, até porque João de Deus havia trabalhado para o "médium" mineiro durante anos, tendo sido seu aprendiz, como confirmam os fatos, em textos biográficos do goiano, quando ele ainda gozava de boa reputação. O vínculo de João de Deus a Chico Xavier foi aqui mencionado.
TRIPLA CARTEIRADA: SUPOSTOS CONTATO COM OS MORTOS, "BOMBARDEIO DE AMOR" E FILANTROPIA
Como uma pessoa de aparência considerada sem atrativos consegue exercer, em grande maioria de brasileiros, uma perigosíssima fascinação obsessiva e, por vezes, até mesmo a subjugação (que, neste caso, domina jornalistas, acadêmicos e juristas)? Não são os "lindos olhos" estrábicos do "médium" que fazem as pessoas se sentirem dominadas e seduzidas por sua pessoa.
Aí surge a reação típica dos chiquistas, sempre com uma desculpa na ponta da língua, dada também pelo piloto automático: "É o lindo exemplo de amor e caridade do médium". Só que essa narrativa se repete desde a ditadura militar e as pessoas nem se dão conta disso. Não conseguem sequer explicar que "caridade" é essa e que "lindos exemplos" são, e tudo fica nisso mesmo, em que o terreno da boataria basta para oferecer argumentações que, sem provas, garantem consenso assim na moleza.
Uma análise mais apurada se leva, todavia, a considerar que a "caridade indiscutível" de Chico Xavier teve resultados fajutos, afinal, com tanto burburinho que se fala sobre sua "vida de exclusiva dedicação ao próximo", era para, de 1932 a 2002, o Brasil ter alcançado níveis inevitáveis de desenvolvimento humano. No entanto, o nosso país nunca atingiu níveis sequer minimamente satisfatórios e, em muitos casos, perdemos até para países miseráveis da África.
Além disso, a experiência duvidosa de Luciano Huck serve para explicar como era a "caridade" de Chico Xavier, e o quanto essa suposta filantropia que garante a popularidade do "médium" era fajuta e de baixíssimos efeitos, restritos a resultados meramente paliativos.
Naquela época, não havia a imprensa alternativa para opor à narrativa oficial, trazida pela Rede Globo e corroborada pela mídia corporativa restante - principalmente o SBT, que em 2012 elegeu Chico Xavier como "o maior brasileiro de todos os tempos" e, em seguida, assumiu apoio a Michel Temer e Jair Bolsonaro - , e tínhamos uma narrativa única, monolítica, o que não é benéfico mesmo quando se trata em promover uma personalidade religiosa.
Por muito menos, Madre Teresa de Calcutá conseguiu ser denunciada pelo jornalista inglês Christopher Hitchens, e olha que ele era ateu. No entanto, se teve coragem de aceitar os questionamentos do jornalista - que, todavia, não ficou livre de ataques de seguidores da religiosa - , e isso quando Madre Teresa apenas foi acusada de menos atos negativos que Chico Xavier e por ela, na sua condição feminina, ter se situado em condição mais frágil.
Chico Xavier cometeu erros ainda mais graves do que o já gravíssimo erro de Madre Teresa deixar seus alojados nas casas das Missionárias da Caridade em condições sub-humanas. E ele era um homem, ou seja, não há qualquer razão para tamanho melindre, se houve maior facilidade da opinião pública internacional em aceitar as denúncias contra Madre Teresa de Calcutá do que a brasileira em relação às denúncias contra Chico Xavier.
Para complicar as coisas, as denúncias não chegam só de opositores "raivosos", "ressentidos com o trabalho do bem" (outro bordão chiquista), mas de gente simpática ao "médium", como Marcel Souto Maior, Suely Caldas Schubert, Nedyr Mendes da Rocha e Ana Lorym Soares, que, juntos, acabaram, por acidente, confirmamdo que Chico Xavier era um fraudador literário e um reacionário colaborador da ditadura militar.
Além da suposta caridade, outra desculpa dada a Chico Xavier para fazer as pessoas ficarem com muito medo de questioná-lo é a alegação de que ele "falava com os mortos", o que faz com que o brasileiro médio, cheio de crendices e superstições, achasse que, basta apontar um dado negativo do "médium" para um espírito reagir e assombrar o questionador. De morto, mesmo, Chico Xavier só "conversava" com a mãe e, quando muito, com o espírito de um jesuíta, Manuel da Nóbrega.
CORAÇÕEZINHOS, CRIANÇAS FAMINTAS E FANTASMAS
A ideia, portanto, é intimidadora, não bastasse o "bombardeio de amor" que Chico Xavier sempre usou para assediar e seduzir as pessoas, através de pretensos apelos de beleza e afetividade. Ou seja, há uma série de apelos visuais que fazem com que as pessoas se sintam dominadas ou intimidadas por Chico Xavier.
Temos os apelos de coraçõezinhos vermelhos, céus azuis, cenários floridos e campestres, passarinhos voando sobre flores, peixinhos fofos sob as águas do mar, próprios do "bombardeio de amor" visual, assim como apelos de afetividade - Chico Xavier se fazia "amoroso e acolhedor" com as pessoas - e de beleza simbólica, pois suas reuniões espirituais eram pontuadas de fundo musical de música erudita, para dar um tom de "relaxamento" e "superioridade melódica".
Além disso, a "carteirada" das crianças famintas é certeira. O suposto filantropo não faz caridade e talvez nem se interesse tanto por isso, mas a usa como trampolim para sua promoção pessoal. Embora os resultados sejam fajutos, usa-se um recurso psicológico semelhante ao do sequestrador, que exige benefícios sob a ameaça de matar seu refém.
No caso da pretensa caridade, o dito benfeitor não pode ser desqualificado ou desclassificado de forma alguma, pois, se caso o fosse, ele usaria como desculpa a "fome de muitas pessoas". "Vamos, me prendam, me condenem, pois aquelas crianças, aqueles velhinhos pobres, vocês estão vendo, ficarão desamparados e com fome".
O pretenso benfeitor nada faz, mas quer ser reconhecido como tal, e ele usa a fome e a miséria como carteirada para ele continuar sendo associado àquilo que não faz. Daí o grande equívoco da gente medir a caridade mais pelo prestígio do suposto benfeitor, como no caso Chico Xavier, do que pelos resultados, que, no caso do "médium", foram bastante medíocres.
E os fantasmas? Bom, a superstição de muitos em recusar-se a analisar as "psicografias" de Chico Xavier, apesar da comprovação acidental (por Schubert e Lorym) de fraudes editoriais, ou mesmo das denúncias de leitura fria e "colas" em material escrito (como as anotações e cartas, escritas por pessoas mortas quando eram vivas, e material de imprensa) para fabricar "psicografias", mesmo assim o recuo quando se vê o nome do "médium" revela um terrível melindre.
Afinal, as pessoas temem ter pesadelos com fantasmas, ouvir batidas nas portas e paredes dadas por "seres do outro mundo", daí o medo em questionar Chico Xavier, diante dessa "carteirada" sobrenatural que faz as pessoas preferirem a zona do conforto da incerteza "isenta", sem afirmar uma tese nem negá-la de fato, algo que erroneamente dá legitimidade à "obra mediúnica", como levianamente a FEB atribuiu à abstenção de escritores, no passado.
Sabe-se que nomes como Raimundo Magalhães Júnior (ou R. Magalhães Júnior), Monteiro Lobato e Apparicio Torelly (Barão de Itararé) se abstiveram, não afirmando nem negando coisa alguma sobre a "psicografia" de Chico Xavier, e a FEB usou essa abstenção como se fosse confirmar a veracidade da "obra mediúnica".
Só que "não dizer não" não significa que seja "dizer sim". Não negar não é, necessariamente, afirmar. Nenhum escritor atuou em favor de Chico Xavier, e, no máximo, houve um iludido Agrippino Grieco que, depois, se desiludiu com o "médium" no caso das supostas psicografias com Humberto de Campos. O que houve, entre esses escritores, foi apenas uma abstenção, mas no Brasil em que voto em branco dá pontos em favorito nas pesquisas, tanto faz a malandragem da FEB.
O que vemos é que uma única pessoa, como Chico Xavier, foi capaz de dominar e seduzir as pessoas de maneira tão perigosamente controladora, daí o medo das pessoas contestarem a sua figura e de pôr em descrédito a sua trajetória e obra, mesmo sendo à luz da Razão. O que faz com que Chico Xavier não seja apenas considerado um dos maiores mistificadores do Brasil, mas também um dos mais perigosos e traiçoeiros. Até nisso Chico Xavier é anti-kardeciano.