A "volta" dos que foram enxotados
POR DENUNCIAR FRAUDES DE CHICO XAVIER, O SOBRINHO AMAURI FOI HUMILHADO E SOFREU AMEAÇAS DE MORTE, TRAZENDO SUSPEITAS SOBRE A FORMA COMO MORREU PREMATURAMENTE.
As pessoas se assustam quando se define Francisco Cândido Xavier como um arrivista, à maneira do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Mas saindo da zona de conforto da memória curta, quando a pessoa de Chico Xavier se limita a ser vista como personagem de contos de fadas - uma narrativa que prevalece há cerca de 45 anos - , ao retirar o véu do "bondoso médium" são revelados detalhes não muito positivos de sua trajetória.
A obsessão das pessoas em transformar Chico Xavier no "Jesus Cristo brasileiro", uma obsessão hoje envergonhada, da qual as pessoas não querem falar, têm medo de discutir e ainda evitam sectarismo - há o estranho alarde de algumas pessoas dizerem que "não são espíritas" - , faz com que a figura do "médium" não seja contestada ou, no caso de sê-lo, haja a reação de muito vitimismo e choradeiras desnecessárias.
Chico Xavier foi o tipo de pessoa que se ascendeu na vida tentando "puxar o tapete" daqueles que lhe serviram de obstáculo. Evidentemente que essa "puxada" não é aquela, convencional, do sujeito que trai um amigo e o prejudica explicitamente. A "puxada" é bem mais sutil.
O que houve é que Chico Xavier cometeu atos desonestos a partir de uma obra literária pioneira nos textos fake, o livro Parnaso de Além-Túmulo, que já começou mal oferecendo o estranho apelo sensacionalista de apresentar uma "grande diversidade de autores espirituais". Difícil não lembrar do ditado "é bom demais para ser verdade", dentro de um Brasil precário e iniciante demais para entender e desenvolver atividades paranormais, sobretudo naquele agrário 1932.
Para ser bem sucedido nesses trabalhos pioneiramente fake - que permitiram que o Brasil se tornasse receptivo a práticas de fake news, como portais do nível do Jornalivre, Terça Livre e Folha do Brasil (atual Foco do Brasil) - , Chico Xavier tinha que contar com a ajuda de parceiros para evitar ser desmascarado. E também contava com a sorte que lhe deixou impune, por ação de um juiz suplente, João Frederico Mourão Russell, que no caso Humberto de Campos simplesmente julgou o processo dos herdeiros "improcedente", em 1944.
Chico Xavier teve que "enxotar" várias pessoas, dos mais diversos tipos, "expulsos" do caminho como se fossem vira-latas. O primeiro caso foi Humberto de Campos, um caso de aberrante apropriação literária, das quais, muito provavelmente, surgiu quando Chico Xavier não gostou da desaprovação do autor maranhense à obra Parnaso de Além-Túmulo, que segundo o autor de O Brasil Anedótico ameaçava o mercado de autores vivos.
Há fortes rumores de que a cúpula da "Federação Espírita Brasileira" tinha uma animosidade com a Academia Brasileira de Letras porque os dirigentes espíritas talvez quisessem entrar na instituição acadêmica e não conseguiram. E a desaprovação de um membro da ABL, que foi Humberto, foi o gancho para Chico Xavier inventar um sonho para "pedir autorização" à suposta parceria espiritual.
No caso de Humberto de Campos, se vê que Chico Xavier cometeu uma apropriação abusiva, praticamente tratando o falecido escritor como "gato e sapato", rebaixando-o a um suposto repórter do além-túmulo, com o agravante de ser submisso à "linha editorial" do "bondoso médium", subordinado ao seu igrejismo de caráter medieval.
Com uma obra "psicográfica" muito aquém da obra original do autor maranhense - a narrativa ágil, tão conhecida em Humberto de Campos, "desapareceu" da suposta obra mediúnica - , Chico Xavier se valeu do "jeitinho brasileiro" para derrubar obstáculos, obter vantagens e praticamente virar "dono" da memória simbólica do autor maranhense.
Chico Xavier contou com um advogado habilidoso, Miguel Timponi, autor da obra chapa-branca A Psicografia Ante os Tribunais, de 1944, que permanece disponível até hoje, mesmo na Internet, do contrário de seu contraponto, a obra contestatória O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, do jornalista investigativo Attila Paes Barreto, lançado naquele mesmo ano. Seminal, o livro de Attila caiu no esquecimento, enquanto hoje se publicam livros enganosos sobre "lindas estórias" do "médium" que mais deturpou o Espiritismo no Brasil.
Com isso, o caso terminou em empate. Sempre os desfechos em cima do muro, já que, como não se pode provar coisa alguma a favor de Chico Xavier, pelo menos evita-se que se prove alguma coisa contra ele. Sempre as teorias "incertas", que para os chiquistas soa ótimo, porque equivale a uma espécie de "mistério da fé espírita", num contexto em que tudo é catolicizado no nosso "espiritismo".
Assim, o juiz Mourão Russell decidiu não só deixar o caso em empate jurídico (mas que deu vantagem ao "médium" e à FEB, como naquele 0 a 0 que rende pontos num dos times de futebol em um campeonato), como cobrou custos advocatícios à viúva de Humberto de Campos. Ou seja, dona Catarina Vergolino de Campos não só deixou de ganhar a causa do processo que moveu como teve que pagar a conta, lembrando um dos recursos da reforma trabalhista, de cujas ideias Chico Xavier foi um surpreendente pioneiro.
E aí Chico Xavier foi informado de que o filho homônimo de Humberto de Campos, por trabalhar em televisão e, entrando em contato com um lobby de "espíritas", decidiu aderir à doutrina igrejeira brasileira. E aí armou um evento que combinou doutrinária e assistencialismo, caprichando no recurso do "bombardeio de amor", aquela pretensa afetividade que especialistas definem como um tipo perigoso de manipulação da mente de uma pessoa.
Foi em 1957 e os "espíritas" creditam o episódio como um "perdão" dos herdeiros de Humberto de Campos a Chico Xavier. Mas o que eles entendem como "confraternização", com Humberto de Campos Filho, em reação patética, chorando copiosamente diante do "bombardeio de amor" do abraço de Chico Xavier, que, fazendo um falsete, desnorteou a vítima, que não sabia se a voz sinistra era do pai ou de outra pessoa.
Nessa época, Chico Xavier, que participava de fraudes de materialização, assinando atestados tentando autentificar as farsas, e também arriscava se envolver em psicofonia, às vezes com a ajuda de outros locutores, porque o "médium" tinha limites vocais para imitar diferentes personalidades. Em reuniões "mediúnicas" em Belo Horizonte, as "psicofonias" eram forjadas com a ajuda de um locutor ou locutora em "off", que difundiam mensagens num ritual produzido com o salão em penumbra, apenas com fraca iluminação em cor, geralmente azul.
Com isso, Chico Xavier, que teria aprendido, com Antônio Wantuil de Freitas, as práticas de hipnose e o "bombardeio de amor" - nos anos 1960, ele ainda aprenderia os truques de conquistas pessoais do livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (How to Win Friends and Influence People), de Dale Carnegie, lançado no Brasil em 1958, o que seria crucial para a atual imagem "iluminada" que hoje se tem dele - , forjou afetividade familiar a Humberto de Campos Filho e o dominou pelo abraço e pelo sussurro em voz alterada.
Com isso, Chico Xavier foi longe demais no seu oportunismo, pois acabou dominando a família de Humberto de Campos, criando um perigoso precedente para falsas psicografias que conseguem convencer famílias, se não inteiras, mas parte influente das mesmas, de pretensa autenticidade, apesar de irregularidades gritantes.
AMAURI XAVIER TRATADO COMO "CACHORRO"
Nessa época, Amauri Xavier, filho de Maria Xavier, irmã do "médium", e Jacy Pena, era designado para trabalhar na mesma atividade "mediúnica" do tio Chico. Amauri iria publicar um livro com o título de Os Crusíladas, espécie de "continuação psicográfica" de Os Lusíadas, de Luís de Camões, com "novas" mensagens que reforçariam a utopia da "Pátria do Evangelho" que os "espíritas" sempre desejavam do Brasil.
No entanto, Amauri resolveu denunciar que tudo isso era uma fraude e que Chico Xavier extraía coisas de sua própria mente. Foi a partir de 1958, o que gerou um grande escândalo. A imprensa noticiou o caso e Amauri estava sofrendo ameaças de morte, de acordo com o que revelou a revista Manchete - que chamava a atenção pelo seu profissionalismo jornalístico - , além de ser alvo de campanha difamatória que incluiu acusações infundadas.
Lembramos o caso recente do negro estadunidense George Floyd, estrangulado de forma sádica pelo joelho de um policial, que gerou revoltas que popularizaram o existente movimento ativista #BlackLivesMatter, a acusação usada para a aberrante violência policial foi que Floyd teria "falsificado" uma nota de dinheiro mudando o valor com uma caneta.
Isso porque foi justamente essa uma das desculpas feitas para incriminar Amauri Xavier, há 62 anos, mas usando uma narrativa confusa - da qual até os sobrenomes eram trocados, Amauri Pena Xavier (o certo, pelos padrões brasileiros, é Amauri Xavier Pena), e atribuiu-se a uma cidade paulista um sanatório onde ele foi internado, e não nas proximidades de Sabará, na Grande BH, onde vivia - que dava a crer que Amauri "fabricava dinheiro falso".
Aumentava-se os defeitos de Amauri e inventava-se até que ele foi manipulado por um padre católico ou era apaixonado por uma jovem católica. Tudo isso através de uma campanha difamatória que era difundida até mesmo por um irritado delegado de polícia, solidário a Chico Xavier.
Escorraçado e desmoralizado, Amauri ainda recebeu uma resposta de um "espírita" mineiro, Henrique Rodrigues, que divulgou uma mensagem bastante odiosa, desmentindo a ideia de que os "espíritas" são incapazes de odiar até o mais odioso inimigo.
O resultado foi que Amauri Xavier foi internado em um sanatório de Sabará. Teria sido agredido na instituição, ficando internado algum tempo e depois mandado embora. Em 1961, Amauri morreu de forma suspeita, jovem demais até para os padrões médios de quem só era acusado de alcoolismo, pois ele tinha 28 anos incompletos e um alcoólatra grave normalmente morreria a partir de, em média, 40 anos de idade.
As ameaças de morte que Amauri, segundo a revista Manchete, recebeu do "meio espirita" - que se considera "incapaz de repudiar até um monstro" - , reforçam a suspeita da tragédia, criando um detalhe sombrio na trajetória de Chico Xavier, em favor do qual a FEB é suspeita de ter mandado matar o sobrinho, por conta de denúncias graves.
Essas denúncias se referem justamente às fraudes que, por acidente, a historiadora Ana Lorym Soares revelou com detalhes, sem se dar conta do gravíssimo escândalo, onde até funcionários da FEB e parentes destes e dos dirigentes "mexiam" nas supostas psicografias de Chico Xavier, num processo grosseiro e estarrecedor de modificações editoriais, indicando fraudes que deveriam causar espanto, por ser praticamente um ato de corrupção literária e crime de falsidade ideológica.
QUEVEDO E OTÍLIA DIOGO
As pessoas "escorraçadas" pelas conveniências que favoreceram Chico Xavier variam de pessoas envolvidas em fraudes até contestadores de outras religiões. Um diversificado elenco de "escorraçados" não incluiu apenas Humberto de Campos e sua viúva Catarina Vergolino de Campos - tida como "mercenária" a, supostamente, exigir grana das "psicografias" (estas tidas, oficialmente, como "destinadas ao pão dos pobres") - , mas outros personagens diferenciados.
Primeiro foi o padre católico e estudioso da paranormalidade, o espanhol radicado no Brasil, Oscar Quevedo, alvo de preconceito por conta de seu sotaque, que, assim como o sotaque estadunidense que hoje demonstra o jornalista Glenn Greenwald (que investiga os bastidores sombrios da Operação Lava Jato), solta estranhas pronúncias. A pronúncia "isso non ecziste" para "isso não existe" foi alvo de humilhantes gracejos movidos pelos detratores do Padre Quevedo.
Quevedo foi assunto de um texto rancoroso publicado em um extinto blog de 2003, de autoria de Marcos Arduin e um parceiro conhecido apenas por "Jefferson", que confirma o quanto os seguidores de Chico Xavier são bastante odiosos, não muito diferente dos bolsonaristas, apesar de, oficialmente, a imagem do "bondoso médium" estar sempre desvinculada a qualquer simbologia de ódio e intolerância.
Os católicos sofriam a intolerância dos "espíritas" que, ressentidos, amaldiçoavam os questionamentos lógicos que, a partir de Padre Quevedo, se fazia de Chico Xavier e suas obras "psicográficas" de valor e crédito bastante duvidosos, das quais soltavam aos olhos disparidades estilísticas diversas, como em Parnaso de Além-Túmulo e na série "Humberto de Campos / Irmão X".
Ver que os católicos estavam mais de acordo com os questionamentos lógicos recomendados por Allan Kardec era demais para os "espíritas", que só apreciam as atividades intelectuais quando elas não se intrometem na "seara espírita". Daí as bajulações à Ciência que enganam muita gente, que pensa que o "espiritismo" brasileiro apoia "incondicionalmente" as atividades em prol do Conhecimento.
A prova mostra que é o contrário: se a Ciência oferece risco aos dogmas da "fé espírita", ela é amaldiçoada e acusada, levianamente, de fazer "cobranças desmedidas" a "pessoas de bem" e a sucumbir às "paixões terrenas". Chico Xavier chegou mesmo a denominar como "tóxico do intelectualismo" quando a Lógica e o Bom Senso, justamente as ferramentas do Espiritismo original, põem em xeque o mito do "bondoso médium" e questionam suas atividades.
Quanto às fraudes de materialização, Chico Xavier se envolveu no caso mais aberrante, que é o das fraudes da ilusionista Otília Diogo, que dizia incorporar a religiosa Irmã Josefa, o médico Alberto Veloso e um garoto de nove anos, além de outros personagens. Com técnicas comparáveis às de um espetáculo circense, Otília foi depois denunciada e desmascarada.
A participação de Chico Xavier na fraude custou a amizade com o discípulo Waldo Vieira, que, rompendo com o "médium" em 1967, mudou-se para Foz do Iguaçu, no Paraná, onde fundou a Conscienciologia e Projeciologia, seita pseudo-científica alheia ao "espiritismo" brasileiro.
A prova do desmascaramento de Otília Diogo se deu em matéria da revista O Cruzeiro, de 27 de julho de 1970, quando os repórteres do periódico dos Diários Associados encontraram materiais que corresponderam aos trajes usados pela farsante, que teria sido detida, liberada e, depois, sumiu em seguida.
A tese de que Chico Xavier foi enganado por Otília Diogo foi desmentida por um "fogo amigo", pois o fotógrafo do evento, Nedyr Mendes da Rocha, registrando os bastidores, mostrou o "médium" muito comunicativo, entusiasmado e apresentando detalhes do "espetáculo", como se estivesse por dentro da fraude, o que indica uma forte cumplicidade dele com a farsante.
Em época próxima, o caráter fraudulento de Chico Xavier era testado pelo famoso jornalista José Hamilton Ribeiro, da revista Realidade, na edição de novembro de 1971, quando ele solicitou uma "psicografia" de um fictício morador de São Paulo e o "médium" produziu uma "mensagem mediúnica", ignorando que o referido cidadão nunca existiu.
Apesar de tais denúncias - numa época em que um curandeiro farsante apoiado por Chico Xavier, Zé Arigó, morreu em um estranho acidente de carro, também em 1971 - , o "bondoso médium" foi salvo pelas conveniências. Otília Diogo foi "escorraçada" e nem mesmo o apoio de Chico Xavier à ditadura militar num programa de TV e a consequente condecoração da Escola Superior de Guerra (que nunca premiaria quem não colaborasse com o poder ditatorial), em 1972, desqualificou a reputação do "médium".
AJUDA DE MALCOLM MUGGERIDGE
O método Malcolm Muggeridge de "fabricar santos" tornou-se conhecido por forjar o mito de "símbolo da bondade humana" atribuído a Madre Teresa de Calcutá, desmascarada, depois, por ter deixado seus alojados do projeto Missionárias da Caridade em condições degradantes. Esse método foi usado no Brasil, através da Rede Globo, para fazer o mesmo com Chico Xavier.
A ditadura militar investiu pesado em religiões que buscassem concorrer com o Catolicismo, já que os católicos estavam, em maioria, atuando na oposição ao poder ditatorial. Foi aí que surgiram a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus e fortaleceram a Assembleia de Deus e a "Federação Espírita Brasileira", favorecidas financeiramente, como "entidades filantrópicas", para tentar enfraquecer o "subversivo" Catolicismo no Brasil.
As mesmas narrativas em torno de Madre Teresa de Calcutá foram introduzidas em Chico Xavier. Os mesmos apelos "filantrópicos", as mesmas "frases de auto-ajuda", as mesmas poses ao lado de miseráveis, com crianças pobres no colo e tudo. Até mesmo a frase "o sofrimento é a dádiva de Deus", que fez de Madre Teresa um "anjo do inferno", após denunciada por Christopher Hitchens, era defendida por Chico Xavier.
E o mito de Chico Xavier começou a crescer de maneira descontrolada, porque as circunstâncias adversas foram praticamente contornadas. Humberto de Campos, Attila Paes Barreto, Amauri Xavier, Padre Quevedo e Otília Diogo são nomes que nada têm a ver uns com os outros, por razões óbvias (no máximo, temos Quevedo acolhendo as denúncias de Amauri), mas que têm em comum o fato de terem representado obstáculos à carreira arrivista de Chico Xavier.
Desse modo, ficamos estarrecidos de como um sujeito pôde forjar sua "santidade" por diversas etapas, enxotando aqueles que representavam algum obstáculo ao seu sucesso. Pode não ser a tal puxada de tapete na concepção tradicional do termo, mas a ascensão de Chico Xavier também reflete um método ambicioso e ganancioso de arrivismo, e de certa forma passou por cima daqueles que quiseram bloquear seu caminho.
No entanto a verdade dos fatos surge e fala-se que investigações maiores a respeito de Chico Xavier - que, recentemente, é lembrado por ter blindado o suposto médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, dando-lhe uma "casa espírita" para abafar as denúncias que cercavam o suposto curandeiro desde os anos 1970 - , que podem pôr em xeque-mate o mito do "bondoso médium" que rende, até hoje, adorações em grande número de brasileiros.
Se até "fogos amigos" (como Marcel Souto Maior, Suely Caldas Schubert, Nedyr Mendes da Rocha e Ana Lorym Soares) trazem revelações soturnas sobre Chico Xavier, imagine o que questionamentos ainda mais aprofundados podem ocorrer contra o "médium". Há muita coisa escondida e não são as "lindas estórias" publicadas em livros aqui e ali que irão revelar a verdade dos fatos.
O mais grave é que, independente desses escândalos, já existe um aspecto confirmadamente negativo na obra de Chico Xavier: os seus preocupantes desvios doutrinários em relação ao Espiritismo que o "médium" é tido como seu "representante maior". É só ler O Livro dos Médiuns para cair das nuvens da adoração a Chico Xavier, porque o livro da Codificação apresenta os mais diversos aspectos negativos que, depois, foram observados na obra do "maior médium brasileiro".
As pessoas se assustam quando se define Francisco Cândido Xavier como um arrivista, à maneira do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Mas saindo da zona de conforto da memória curta, quando a pessoa de Chico Xavier se limita a ser vista como personagem de contos de fadas - uma narrativa que prevalece há cerca de 45 anos - , ao retirar o véu do "bondoso médium" são revelados detalhes não muito positivos de sua trajetória.
A obsessão das pessoas em transformar Chico Xavier no "Jesus Cristo brasileiro", uma obsessão hoje envergonhada, da qual as pessoas não querem falar, têm medo de discutir e ainda evitam sectarismo - há o estranho alarde de algumas pessoas dizerem que "não são espíritas" - , faz com que a figura do "médium" não seja contestada ou, no caso de sê-lo, haja a reação de muito vitimismo e choradeiras desnecessárias.
Chico Xavier foi o tipo de pessoa que se ascendeu na vida tentando "puxar o tapete" daqueles que lhe serviram de obstáculo. Evidentemente que essa "puxada" não é aquela, convencional, do sujeito que trai um amigo e o prejudica explicitamente. A "puxada" é bem mais sutil.
O que houve é que Chico Xavier cometeu atos desonestos a partir de uma obra literária pioneira nos textos fake, o livro Parnaso de Além-Túmulo, que já começou mal oferecendo o estranho apelo sensacionalista de apresentar uma "grande diversidade de autores espirituais". Difícil não lembrar do ditado "é bom demais para ser verdade", dentro de um Brasil precário e iniciante demais para entender e desenvolver atividades paranormais, sobretudo naquele agrário 1932.
Para ser bem sucedido nesses trabalhos pioneiramente fake - que permitiram que o Brasil se tornasse receptivo a práticas de fake news, como portais do nível do Jornalivre, Terça Livre e Folha do Brasil (atual Foco do Brasil) - , Chico Xavier tinha que contar com a ajuda de parceiros para evitar ser desmascarado. E também contava com a sorte que lhe deixou impune, por ação de um juiz suplente, João Frederico Mourão Russell, que no caso Humberto de Campos simplesmente julgou o processo dos herdeiros "improcedente", em 1944.
Chico Xavier teve que "enxotar" várias pessoas, dos mais diversos tipos, "expulsos" do caminho como se fossem vira-latas. O primeiro caso foi Humberto de Campos, um caso de aberrante apropriação literária, das quais, muito provavelmente, surgiu quando Chico Xavier não gostou da desaprovação do autor maranhense à obra Parnaso de Além-Túmulo, que segundo o autor de O Brasil Anedótico ameaçava o mercado de autores vivos.
Há fortes rumores de que a cúpula da "Federação Espírita Brasileira" tinha uma animosidade com a Academia Brasileira de Letras porque os dirigentes espíritas talvez quisessem entrar na instituição acadêmica e não conseguiram. E a desaprovação de um membro da ABL, que foi Humberto, foi o gancho para Chico Xavier inventar um sonho para "pedir autorização" à suposta parceria espiritual.
No caso de Humberto de Campos, se vê que Chico Xavier cometeu uma apropriação abusiva, praticamente tratando o falecido escritor como "gato e sapato", rebaixando-o a um suposto repórter do além-túmulo, com o agravante de ser submisso à "linha editorial" do "bondoso médium", subordinado ao seu igrejismo de caráter medieval.
Com uma obra "psicográfica" muito aquém da obra original do autor maranhense - a narrativa ágil, tão conhecida em Humberto de Campos, "desapareceu" da suposta obra mediúnica - , Chico Xavier se valeu do "jeitinho brasileiro" para derrubar obstáculos, obter vantagens e praticamente virar "dono" da memória simbólica do autor maranhense.
Chico Xavier contou com um advogado habilidoso, Miguel Timponi, autor da obra chapa-branca A Psicografia Ante os Tribunais, de 1944, que permanece disponível até hoje, mesmo na Internet, do contrário de seu contraponto, a obra contestatória O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, do jornalista investigativo Attila Paes Barreto, lançado naquele mesmo ano. Seminal, o livro de Attila caiu no esquecimento, enquanto hoje se publicam livros enganosos sobre "lindas estórias" do "médium" que mais deturpou o Espiritismo no Brasil.
Com isso, o caso terminou em empate. Sempre os desfechos em cima do muro, já que, como não se pode provar coisa alguma a favor de Chico Xavier, pelo menos evita-se que se prove alguma coisa contra ele. Sempre as teorias "incertas", que para os chiquistas soa ótimo, porque equivale a uma espécie de "mistério da fé espírita", num contexto em que tudo é catolicizado no nosso "espiritismo".
Assim, o juiz Mourão Russell decidiu não só deixar o caso em empate jurídico (mas que deu vantagem ao "médium" e à FEB, como naquele 0 a 0 que rende pontos num dos times de futebol em um campeonato), como cobrou custos advocatícios à viúva de Humberto de Campos. Ou seja, dona Catarina Vergolino de Campos não só deixou de ganhar a causa do processo que moveu como teve que pagar a conta, lembrando um dos recursos da reforma trabalhista, de cujas ideias Chico Xavier foi um surpreendente pioneiro.
E aí Chico Xavier foi informado de que o filho homônimo de Humberto de Campos, por trabalhar em televisão e, entrando em contato com um lobby de "espíritas", decidiu aderir à doutrina igrejeira brasileira. E aí armou um evento que combinou doutrinária e assistencialismo, caprichando no recurso do "bombardeio de amor", aquela pretensa afetividade que especialistas definem como um tipo perigoso de manipulação da mente de uma pessoa.
Foi em 1957 e os "espíritas" creditam o episódio como um "perdão" dos herdeiros de Humberto de Campos a Chico Xavier. Mas o que eles entendem como "confraternização", com Humberto de Campos Filho, em reação patética, chorando copiosamente diante do "bombardeio de amor" do abraço de Chico Xavier, que, fazendo um falsete, desnorteou a vítima, que não sabia se a voz sinistra era do pai ou de outra pessoa.
Nessa época, Chico Xavier, que participava de fraudes de materialização, assinando atestados tentando autentificar as farsas, e também arriscava se envolver em psicofonia, às vezes com a ajuda de outros locutores, porque o "médium" tinha limites vocais para imitar diferentes personalidades. Em reuniões "mediúnicas" em Belo Horizonte, as "psicofonias" eram forjadas com a ajuda de um locutor ou locutora em "off", que difundiam mensagens num ritual produzido com o salão em penumbra, apenas com fraca iluminação em cor, geralmente azul.
Com isso, Chico Xavier, que teria aprendido, com Antônio Wantuil de Freitas, as práticas de hipnose e o "bombardeio de amor" - nos anos 1960, ele ainda aprenderia os truques de conquistas pessoais do livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (How to Win Friends and Influence People), de Dale Carnegie, lançado no Brasil em 1958, o que seria crucial para a atual imagem "iluminada" que hoje se tem dele - , forjou afetividade familiar a Humberto de Campos Filho e o dominou pelo abraço e pelo sussurro em voz alterada.
Com isso, Chico Xavier foi longe demais no seu oportunismo, pois acabou dominando a família de Humberto de Campos, criando um perigoso precedente para falsas psicografias que conseguem convencer famílias, se não inteiras, mas parte influente das mesmas, de pretensa autenticidade, apesar de irregularidades gritantes.
AMAURI XAVIER TRATADO COMO "CACHORRO"
Nessa época, Amauri Xavier, filho de Maria Xavier, irmã do "médium", e Jacy Pena, era designado para trabalhar na mesma atividade "mediúnica" do tio Chico. Amauri iria publicar um livro com o título de Os Crusíladas, espécie de "continuação psicográfica" de Os Lusíadas, de Luís de Camões, com "novas" mensagens que reforçariam a utopia da "Pátria do Evangelho" que os "espíritas" sempre desejavam do Brasil.
No entanto, Amauri resolveu denunciar que tudo isso era uma fraude e que Chico Xavier extraía coisas de sua própria mente. Foi a partir de 1958, o que gerou um grande escândalo. A imprensa noticiou o caso e Amauri estava sofrendo ameaças de morte, de acordo com o que revelou a revista Manchete - que chamava a atenção pelo seu profissionalismo jornalístico - , além de ser alvo de campanha difamatória que incluiu acusações infundadas.
Lembramos o caso recente do negro estadunidense George Floyd, estrangulado de forma sádica pelo joelho de um policial, que gerou revoltas que popularizaram o existente movimento ativista #BlackLivesMatter, a acusação usada para a aberrante violência policial foi que Floyd teria "falsificado" uma nota de dinheiro mudando o valor com uma caneta.
Isso porque foi justamente essa uma das desculpas feitas para incriminar Amauri Xavier, há 62 anos, mas usando uma narrativa confusa - da qual até os sobrenomes eram trocados, Amauri Pena Xavier (o certo, pelos padrões brasileiros, é Amauri Xavier Pena), e atribuiu-se a uma cidade paulista um sanatório onde ele foi internado, e não nas proximidades de Sabará, na Grande BH, onde vivia - que dava a crer que Amauri "fabricava dinheiro falso".
Aumentava-se os defeitos de Amauri e inventava-se até que ele foi manipulado por um padre católico ou era apaixonado por uma jovem católica. Tudo isso através de uma campanha difamatória que era difundida até mesmo por um irritado delegado de polícia, solidário a Chico Xavier.
Escorraçado e desmoralizado, Amauri ainda recebeu uma resposta de um "espírita" mineiro, Henrique Rodrigues, que divulgou uma mensagem bastante odiosa, desmentindo a ideia de que os "espíritas" são incapazes de odiar até o mais odioso inimigo.
O resultado foi que Amauri Xavier foi internado em um sanatório de Sabará. Teria sido agredido na instituição, ficando internado algum tempo e depois mandado embora. Em 1961, Amauri morreu de forma suspeita, jovem demais até para os padrões médios de quem só era acusado de alcoolismo, pois ele tinha 28 anos incompletos e um alcoólatra grave normalmente morreria a partir de, em média, 40 anos de idade.
As ameaças de morte que Amauri, segundo a revista Manchete, recebeu do "meio espirita" - que se considera "incapaz de repudiar até um monstro" - , reforçam a suspeita da tragédia, criando um detalhe sombrio na trajetória de Chico Xavier, em favor do qual a FEB é suspeita de ter mandado matar o sobrinho, por conta de denúncias graves.
Essas denúncias se referem justamente às fraudes que, por acidente, a historiadora Ana Lorym Soares revelou com detalhes, sem se dar conta do gravíssimo escândalo, onde até funcionários da FEB e parentes destes e dos dirigentes "mexiam" nas supostas psicografias de Chico Xavier, num processo grosseiro e estarrecedor de modificações editoriais, indicando fraudes que deveriam causar espanto, por ser praticamente um ato de corrupção literária e crime de falsidade ideológica.
QUEVEDO E OTÍLIA DIOGO
As pessoas "escorraçadas" pelas conveniências que favoreceram Chico Xavier variam de pessoas envolvidas em fraudes até contestadores de outras religiões. Um diversificado elenco de "escorraçados" não incluiu apenas Humberto de Campos e sua viúva Catarina Vergolino de Campos - tida como "mercenária" a, supostamente, exigir grana das "psicografias" (estas tidas, oficialmente, como "destinadas ao pão dos pobres") - , mas outros personagens diferenciados.
Primeiro foi o padre católico e estudioso da paranormalidade, o espanhol radicado no Brasil, Oscar Quevedo, alvo de preconceito por conta de seu sotaque, que, assim como o sotaque estadunidense que hoje demonstra o jornalista Glenn Greenwald (que investiga os bastidores sombrios da Operação Lava Jato), solta estranhas pronúncias. A pronúncia "isso non ecziste" para "isso não existe" foi alvo de humilhantes gracejos movidos pelos detratores do Padre Quevedo.
Quevedo foi assunto de um texto rancoroso publicado em um extinto blog de 2003, de autoria de Marcos Arduin e um parceiro conhecido apenas por "Jefferson", que confirma o quanto os seguidores de Chico Xavier são bastante odiosos, não muito diferente dos bolsonaristas, apesar de, oficialmente, a imagem do "bondoso médium" estar sempre desvinculada a qualquer simbologia de ódio e intolerância.
Os católicos sofriam a intolerância dos "espíritas" que, ressentidos, amaldiçoavam os questionamentos lógicos que, a partir de Padre Quevedo, se fazia de Chico Xavier e suas obras "psicográficas" de valor e crédito bastante duvidosos, das quais soltavam aos olhos disparidades estilísticas diversas, como em Parnaso de Além-Túmulo e na série "Humberto de Campos / Irmão X".
Ver que os católicos estavam mais de acordo com os questionamentos lógicos recomendados por Allan Kardec era demais para os "espíritas", que só apreciam as atividades intelectuais quando elas não se intrometem na "seara espírita". Daí as bajulações à Ciência que enganam muita gente, que pensa que o "espiritismo" brasileiro apoia "incondicionalmente" as atividades em prol do Conhecimento.
A prova mostra que é o contrário: se a Ciência oferece risco aos dogmas da "fé espírita", ela é amaldiçoada e acusada, levianamente, de fazer "cobranças desmedidas" a "pessoas de bem" e a sucumbir às "paixões terrenas". Chico Xavier chegou mesmo a denominar como "tóxico do intelectualismo" quando a Lógica e o Bom Senso, justamente as ferramentas do Espiritismo original, põem em xeque o mito do "bondoso médium" e questionam suas atividades.
Quanto às fraudes de materialização, Chico Xavier se envolveu no caso mais aberrante, que é o das fraudes da ilusionista Otília Diogo, que dizia incorporar a religiosa Irmã Josefa, o médico Alberto Veloso e um garoto de nove anos, além de outros personagens. Com técnicas comparáveis às de um espetáculo circense, Otília foi depois denunciada e desmascarada.
A participação de Chico Xavier na fraude custou a amizade com o discípulo Waldo Vieira, que, rompendo com o "médium" em 1967, mudou-se para Foz do Iguaçu, no Paraná, onde fundou a Conscienciologia e Projeciologia, seita pseudo-científica alheia ao "espiritismo" brasileiro.
A prova do desmascaramento de Otília Diogo se deu em matéria da revista O Cruzeiro, de 27 de julho de 1970, quando os repórteres do periódico dos Diários Associados encontraram materiais que corresponderam aos trajes usados pela farsante, que teria sido detida, liberada e, depois, sumiu em seguida.
A tese de que Chico Xavier foi enganado por Otília Diogo foi desmentida por um "fogo amigo", pois o fotógrafo do evento, Nedyr Mendes da Rocha, registrando os bastidores, mostrou o "médium" muito comunicativo, entusiasmado e apresentando detalhes do "espetáculo", como se estivesse por dentro da fraude, o que indica uma forte cumplicidade dele com a farsante.
Em época próxima, o caráter fraudulento de Chico Xavier era testado pelo famoso jornalista José Hamilton Ribeiro, da revista Realidade, na edição de novembro de 1971, quando ele solicitou uma "psicografia" de um fictício morador de São Paulo e o "médium" produziu uma "mensagem mediúnica", ignorando que o referido cidadão nunca existiu.
Apesar de tais denúncias - numa época em que um curandeiro farsante apoiado por Chico Xavier, Zé Arigó, morreu em um estranho acidente de carro, também em 1971 - , o "bondoso médium" foi salvo pelas conveniências. Otília Diogo foi "escorraçada" e nem mesmo o apoio de Chico Xavier à ditadura militar num programa de TV e a consequente condecoração da Escola Superior de Guerra (que nunca premiaria quem não colaborasse com o poder ditatorial), em 1972, desqualificou a reputação do "médium".
AJUDA DE MALCOLM MUGGERIDGE
O método Malcolm Muggeridge de "fabricar santos" tornou-se conhecido por forjar o mito de "símbolo da bondade humana" atribuído a Madre Teresa de Calcutá, desmascarada, depois, por ter deixado seus alojados do projeto Missionárias da Caridade em condições degradantes. Esse método foi usado no Brasil, através da Rede Globo, para fazer o mesmo com Chico Xavier.
A ditadura militar investiu pesado em religiões que buscassem concorrer com o Catolicismo, já que os católicos estavam, em maioria, atuando na oposição ao poder ditatorial. Foi aí que surgiram a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus e fortaleceram a Assembleia de Deus e a "Federação Espírita Brasileira", favorecidas financeiramente, como "entidades filantrópicas", para tentar enfraquecer o "subversivo" Catolicismo no Brasil.
As mesmas narrativas em torno de Madre Teresa de Calcutá foram introduzidas em Chico Xavier. Os mesmos apelos "filantrópicos", as mesmas "frases de auto-ajuda", as mesmas poses ao lado de miseráveis, com crianças pobres no colo e tudo. Até mesmo a frase "o sofrimento é a dádiva de Deus", que fez de Madre Teresa um "anjo do inferno", após denunciada por Christopher Hitchens, era defendida por Chico Xavier.
E o mito de Chico Xavier começou a crescer de maneira descontrolada, porque as circunstâncias adversas foram praticamente contornadas. Humberto de Campos, Attila Paes Barreto, Amauri Xavier, Padre Quevedo e Otília Diogo são nomes que nada têm a ver uns com os outros, por razões óbvias (no máximo, temos Quevedo acolhendo as denúncias de Amauri), mas que têm em comum o fato de terem representado obstáculos à carreira arrivista de Chico Xavier.
Desse modo, ficamos estarrecidos de como um sujeito pôde forjar sua "santidade" por diversas etapas, enxotando aqueles que representavam algum obstáculo ao seu sucesso. Pode não ser a tal puxada de tapete na concepção tradicional do termo, mas a ascensão de Chico Xavier também reflete um método ambicioso e ganancioso de arrivismo, e de certa forma passou por cima daqueles que quiseram bloquear seu caminho.
No entanto a verdade dos fatos surge e fala-se que investigações maiores a respeito de Chico Xavier - que, recentemente, é lembrado por ter blindado o suposto médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, dando-lhe uma "casa espírita" para abafar as denúncias que cercavam o suposto curandeiro desde os anos 1970 - , que podem pôr em xeque-mate o mito do "bondoso médium" que rende, até hoje, adorações em grande número de brasileiros.
Se até "fogos amigos" (como Marcel Souto Maior, Suely Caldas Schubert, Nedyr Mendes da Rocha e Ana Lorym Soares) trazem revelações soturnas sobre Chico Xavier, imagine o que questionamentos ainda mais aprofundados podem ocorrer contra o "médium". Há muita coisa escondida e não são as "lindas estórias" publicadas em livros aqui e ali que irão revelar a verdade dos fatos.
O mais grave é que, independente desses escândalos, já existe um aspecto confirmadamente negativo na obra de Chico Xavier: os seus preocupantes desvios doutrinários em relação ao Espiritismo que o "médium" é tido como seu "representante maior". É só ler O Livro dos Médiuns para cair das nuvens da adoração a Chico Xavier, porque o livro da Codificação apresenta os mais diversos aspectos negativos que, depois, foram observados na obra do "maior médium brasileiro".